quarta-feira, 2 de julho de 2025

Alvo Localizado

Quem encontrar o Corsa
Rosa bordô no final
Do morro em que ele caiu,
Vendo o estado em que ficou,
Jamais imaginara o que houve.
O fato de ele,
Ter escolhido cair,
Exatamente,
Dentro daquele cemitério,
Diante das ruínas
Que causou auxilia
No finalismo da história,
“Ninguem saber a razão
De ele se encontrar
Onde se encontra.”
O rosto deformado
Do condutor
Nada acrescentará
Para que busquem a razão
Do que será considerado
Puro acidente.
O fato de ter cavado
A própria cova
Ao cair justamente
Dentro do cemitério
Destruindo jazidas, túmulos
E espalhado ossos
Para todo o lado,
Auxilia em muito
No rumor que irá circundar
O fim daquele condutor:
“desvairado, destruidor
De memórias familiares”.
Patrick, olhou da beira
Do asfalto,
Logo antes da vala
Cujo gramado foi arrancado
Quando o carro caiu,
Deixando um rastro
De terra e barro a mostra,
E bateu palmas.
No fim de onde sua vista
Conseguia perfeitamente ver
Estava o Corsa,
Mergulhado dentro de um túmulo.
Ele riu consigo mesmo,
Nunca foi tão perfeito.
Pegou no volante de sua moto,
Subiu nela,
Colocou o capacete
E saiu feroz,
Fazendo curvas sobre o asfalto,
Suado de geada do inverno,
Que ainda derretia.
Deu uma última olhada
Pelo retrovisor,
Não havia nada,
Testemunha nenhuma
Que retrataria o que houve.
Ele fez a curva
Que o desviava de poder ver
O local onde planejou tudo
E executou,
Uma última vista
Lhe permitiu ver
O morro de árvores e pedras
Onde se escondeu
Para esperar e encerrar este caso.
Logo as seis da manhã,
Chegou ao local escolhido
Para executar sua intenção:
A curva logo acima do cemitério
Da cidadezinha simples
Do Sul do Brasil.
Próximo ao final do asfalto,
Desceu da motocicleta,
Olhou para o ponto previsto,
Encontrando pedras para
Proteger seu corpo
E árvores para camufla-lo,
Subiu.
Segurou firme
No volante da moto,
E a empurrou usando
A força dos seus braços.
Chegado na metade do caminho,
Retirou um facão
De dentro de uma caixa preta,
Cortou alguns ramos,
A escorou numa árvore,
E pôs os ramos sobre ela.
Vendo-a totalmente escondida,
Retirou a caixa preta
Que estava amarrada nela,
Subiu mais para cima,
Encontrou a pedra,
O chão úmido de inverno,
As árvores postas
Conforme sempre foram,
Se ajoelhou no chão,
Retirou a arma de dentro da caixa,
E se colocou de bruços.
Ali a visão era perfeita
Para o asfalto,
Límpido e a derreter a geada,
Logo o Corsa bordô
Que desejava passaria
Calmamente por ela,
E Elton nunca estaria mais
Pronto que estava agora.
Arma em punho,
Olho no alvo,
Elton observava o tráfego,
O sol da manhã batia
Contra o para-brisa
Dando um instante de cegueira
Ao condutor do veículo,
Seria o instante mais preciso.
Elton beijou delicadamente
A coronha do rifle
Que segurava com as mãos firmes,
Sentiu o cheiro do metal
Subir de suas mãos até a narina,
Tão frios a congelar os dedos,
E o calor da coronha
Que o roçava a face,
Como se fosse uma carícia
De tão quente
E convidativa.
Há muitos anos
Que a arma foi escolhida
Como a melhor amiga,
Embora ele não falasse
Sobre o assunto,
Sabia que não a substituiria.
Silenciosa, precisa e finalista,
A tudo ela resolve,
“Da seu jeito”.
Companheira inseparável.
Sorrindo,
Mordendo a coronha
Do rifle,
Ele avistou Leocir
Iniciando a curva
Onde ele se encontrava,
Tão próximo
A poucos metros sobre o asfalto.
Ele desviou milímetros
O rifle para frente,
Afastando-o de sua boca,
Provando o gosto
Que o desfecho lhe provocava,
Sentimento de liberdade,
E finitude.
Então, pôs o dedo
Sobre o gatilho,
Puxou o gatilho com um click
E o soltou no mesmo instante:
“ tra”.
Fez a bala quando
Estourou o para-brisa de Leocir,
E encontrou seu crânio.
Sangue voou para o vidro,
Um leve espasmo
De dor e medo
Ganhou o rosto dele,
E retirou suas mãos
Do volante.
O carro desviou no mesmo
Instante de sua rota,
E alcançou o fim da rodovia,
Passou pelo gramado
Como se derrapasse,
Entrou para o relevo de terra
Que havia,
Correu um pouco mais
E alcançou o cemitério.
Derrubando casas de mortos,
Carregando consigo jazigos
E encontrando um para si próprio,
Onde afundou e ficou preso.
Com uma roda totalmente dentro,
E outras duas balançando
Ao vento,
Enquanto a quarta tocava
O chão e uma sepultura.
Ossos se espalharam
Por toda parte,
Elton sorriu,
Guardou o rifle na caixa preta,
Se levantou,
Limpou a roupa que usava,
Pegou a motocicleta
Logo a frente,
E pôs-se sobre o asfalto.
Não havia barulho
Exceto o do carro que
Mantinha os faróis acesos,
E despertava o alarme.
Não havia testemunha,
Apenas ele, a moto, o rifle
E Leocir dentro da cova.

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