sábado, 2 de janeiro de 2021

Declaração no Jornal

Em 2016, o sangue manchava as páginas dos jornais,

E a capa gozadora, exibia os restos do que sobrara,

Pessoas insanas recebiam tudo que liam, sem se ater,

Já nem se surpreendiam com tanta barbárie,

E eu, sentado em minha escrivaninha esperava uma ligação,

Em um dia normal de primavera, me assaltava o coração,

 

O fato de amar tanto minha namorada, mas nos vermos tão pouco,

Foram poucos os momentos vividos juntos, mas os guardaria comigo,

Seus olhos, seu cheiro, seu gosto, ainda estavam em meu corpo,

A saudade, insatisfeita, tentava agarrar-se a distância em tentativa

Inútil de me fazer esquecer, dizia ela que onde um dia houve o amor

Restaria apenas um vazio, pois tudo de bom ali, ela consumiria,

 

Eu me negava a todo custo a este sentimento de angústia,

Ferir de morte onde um dia existiu algo tão bom,

Não seria tolerável, não quando a questão referente fosse amor,

É certo que amar a distância é frio, as vezes chega a machucar,

Mas há tantos que convivem no mesmo ambiente e nunca

Chegam a estabelecer uma fala profunda que dirá dividir a vida,

 

Apesar de habitarem o mesmo ambiente, vivem divididos,

Quatro pés perambulantes por suas casas frias e vazias,

Eu, porém, estava carregado por mim mesmo, sozinho, dois únicos passos,

Mas sentia-me preenchido eu havia amado, por um momento sublime

Que poderia recompensar uma vida toda sem ninguém,

Todavia, a maneira tolerável como as pessoas contemplavam

Aquelas notícias cada vez mais indigestas, me dava desgosto,

 

Nessa hora, eu ansiava pelo gosto dos seus lábios macios,

Pelo momento em que a tive em meus braços, bem apertados,

Como se quisesse mantê-la comigo por toda a vida,

Eu não poderia me acostumar com toda aquela barbárie,

Tendo jurado a ela, que a protegeria, que para sempre a amaria,

O amor pedia passagem em uma estrada onde perambulavam

 

Pessoas vazias, feito fantasmas, isso não parecia chamar-se vida,

Mas ninguém parecia se importar com isso,

Será que aquela a quem tanto amei também havia se encaixado nisso?

Estaria, ela, em negação ao seu direito de existir de forma digna?

Havia posto em cinco tábuas de madeira seu coração outrora apaixonado,

E agora o selava, sobrepondo uma tábua sobre ele, como se o dissesse: não ame!

 

E ainda o tivesse adornado com um laço negro,

Aquele mesmo que ela usava para adornar seus cabelos,

Aquele que eu adorava remover antes de provar os lábios que tanto me faziam falta,

Queira Deus que não tivesse o enterrado a sete palmos,

A partir do instante em que se torna apenas um corpo errante,

Condenado a meramente perambular sobre a existência,

Ainda haveria algo a ser feito pelo que se chama vida?

 

Espero que, tendo ela desistido de nós, já que nunca me chamou de volta,

Ao menos tivesse deixado descrito o endereço de onde poderia encontrá-la,

Eu escavaria o que fosse necessário apenas para tê-la de volta,

Espero não estar desejando muito, mas um corpo sem vida não me bastaria,

Do contrário eu poderia me entregar a qualquer uma,

Estivesse onde estivesse seu coração, eu juro: o buscaria!

 

Os anos haviam transcorrido como a enxurrada que passa sobre a terra,

Aquela passageira que a toca a superfície, mas não chega ao núcleo,

Ela, porém, quando me abraçou, quando me permitiu sonhar,

Foi além, e me levou junto, todos os olhos que eu contemplara sem ela,

Estavam perdidos em vazios distantes demais, inalcançáveis talvez,

Ela não, tivera sido tão próxima, tão frágil, tão minha, ainda podia senti-la,

 

Jamais seria possível esquecer, seria um tolo se pensasse diferente,

Sozinha, em um canto, agora feliz, concordava a saudade,

Parecia que ela havia desistido de me ver sofrer,

Eu paguei um preço caro por estes anos em que me mantive longe,

Mas, mais caro era o preço daqueles seres perambulantes lá fora,

O amor se espalhou por mim como o sangue em minha alma,

 

E agora a desejava de volta, quem poderia resistir a um pedido assim?

Eu sabia que tudo que vivi possuía suma importância,

Eu sentia que as lembranças me traziam uma falta desmedida,

Eu merecia tê-la de volta, apenas um instante apenas,

Minha velha jaqueta jeans estava pendurada na cadeira a minhas costas,

No bolso um bilhetinho onde guardei o endereço dela,

 

Peguei-a, vesti e saí pela mesma porta onde tantas vezes entramos juntos,

Quando encontrá-la iria dizer o quanto a amava, o quanto estes anos sem ela

Foram difíceis e desestimulantes, é certo que guardei na memória o caminho,

Mas o bilhetinho continha a letra dela, seu jeito e eu parecia ouvi-la falar,

Percorri a distância que nos separava com uma rapidez premeditada,

Mentir não era uma opção, me declararia e imploraria a ela por sua sinceridade,

Caso ainda estivesse em seu coração, ela seria sincera, me diria a verdade,

 

Tivesse me esquecido no decorrer destes anos, eu pediria uma oportunidade,

Não queria negar-me há felicidade, a amar e ser amado novamente,

Minhas intenções eram as melhores, meu sentimento o mais íntegro,

Sempre fui verdadeiro, até encontrei tempo para aprender a cozinhar,

Isso não seria uma qualidade a se desprezar, era o que ela me dizia,

Eu a entendi, a distância que nos separou agora virava poeira,

 

Tão ínfima, que seria carregada pelo menor vento,

Mas apagaria também nossos passos,

Aqueles em que vivemos separados um do outro,

Como se dissesse que o que passou não faria diferença,

Estaríamos juntos o que poderia importar mais que isso?

Se a distância me ensinou algo, foi ama-la sobremaneira,

 

Parei a distância de poucos metros, passei em uma relojoaria e comprei um anel,

Pedi ao síndico do condomínio, ele me relatou ouvi-la chorar em noites insones,

Disse que nunca soube de que ela tenha amado alguém,

Mas que ouviu de outras bocas, sobre relatos esparsos de certo homem,

Ele nunca soube a identidade, ela sempre soube ser bastante reservada,

Mas, em suas horas vagas gostava de folhear o jornal local,

 

Eu, então, fiz-lhe uma declaração relatando sobre a saudade,

Sobre o choro abafado pelo travesseiro, sobre perambular pela noite,

A busca-la por todos os cantos, onde imaginaria estar, até dormir no volante,

Com o carro estacionado em qualquer local incerto, sobre

O quanto sonhei com sua visita, o quanto ainda lembro de tudo

Como se fosse ontem e o quanto a amo para todo o sempre,

 

Solicitei informações sobre se ainda me amava, se ainda me queria,

Coloquei meu número a vista para que pudesse ligar,

O amor que um dia a entreguei, relatei: estava guardado,

Seguro dentro de mim, ela poderia buscar as informações que quisesse,

Não obteria outra, eu a amei e nunca me permiti, nem um instante,


Esquece-la, gostaria de ao menos um sinal para saber se isso era importante,

Aguardava qualquer gesto seu para reclamar-me para sua vida,

Caso ela não aparecesse até as três horas daquela tarde,

Eu bateria a sua porta, com flores, bombons, o vinho que ela gostava e o anel...

Feliz Ano Novo

 

O Feliz Ano Novo coloriu o céu do verão de 2014,

Nos mais variados tons e formas, as estrelas se apagaram,

Apenas naquele instante para 15 minutos depois, retornarem,

Sólidas, resistentes e ainda mais bonitas naquele céu de janeiro,

Na calçada da rua, eu contemplava a moça mais bonita que já vi,

Ela estava abrigada por paredes sólidas de pedra fria e austera,

 

De uma construção que se erguia rumo ao céus de 2015,

Posicionava-se junto a janela de vidro, frágil e bela,

Eu sentia que ela sonhava com algo diferente do que vivia,

Pareceu-me um convite para tira-la daquele lugar,

Por mais estranho que possa parecer, eu desejei abraça-la logo ao alvorecer,

Fechei os olhos e desejei aos céus que a fizessem descer,

 

Sair daquela espécie de pedestal, para permitir-se viver,

Eu poderia ama-la por uma vida inteira, e assim me comprometi fazer,

Prometer amor para uma vida toda fica mais fácil quando se está longe,

E até então, nunca tive a oportunidade de me aproximar,

Mas jurei para mim mesmo, que me aproximaria, escolheria as palavras certas

E por tudo que é mais sagrado, a conquistaria,

 

Faria dela minha esposa, a mãe dos meus filhos, minha rainha,

Embora tenha planejado a melhor das serenatas,

Fiz da melhor maneira que poderia, porém ela negou-se a me amar,

Disse que apesar de não estar com outro alguém,

Também não queria se envolver seriamente com ninguém,

Desejava passar algum tempo sozinha, para conhecer a si mesma,

 

No entanto, apesar de prometer que aceitaria sua decisão de bom grado,

Eu nunca desisti do amor que tanto mexeu comigo,

E meses depois, a avistei em um bar tomando cerveja com um estranho,

Naquele instante me senti ferido,

Como se uma descarga de um raio descesse sobre mim,

Entrei no local, pedi uma bebida, não lembro ao certo qual era,

Mas recordo perfeitamente de ela descer por minha boca feito veneno,

 

O veneno se espalha rápido nos corações apaixonados,

Principalmente naqueles que amaram em demasia e não foram correspondidos,

Sangue e ódio ferviam em mim feito algo que eu não conseguiria controlar,

Rumei ao beco da esquina, sentei na calçada, não resisti, me entreguei as lágrimas,

Um jovem vendo meu tormento me ofereceu uma arma a preço baixo,

Estava municiada, quente e metálica feito o veneno a correr em minhas veias,

 

Ainda consigo me recordar daquele momento fatídico do início do ano,

Eu poderia fingir que nunca me apaixonei e assim, virar a esquina e voltar para casa,

Poderia usar toda a minha força e tomar inúmeras alternativas,

Mas nem uma me pareceu mais atraente que esta...

Ali mesmo, sentado, me embriaguei, bebi como se nunca mais fosse ver a luz do dia,

Não me parecia digno viver sozinho depois de ter amado tanto,

 

Entregar meus sentimentos com toda a alma e receber só desaforo em troca,

Eu a amei muito mais que podia, por Deus talvez até mais do que ela merecia,

Eu trocaria todos os meus dias futuros por um único beijo da sua boca,

Mas ela sempre esteve fora do meu alcance, nunca me pertenceria,

Se for para amar sem ser amado eu preferiria um beijo embebido em ácido,

Em que seria condenado a desfalecer aos poucos, quente e úmido,

 

Estatelado dos seus braços, ferido de morte por dentro,

Lembro da forma como ela olhou em meus olhos, apesar de não dizer nada,

Eu senti dentro de mim o quanto me amava, pude ler isso em sua boca,

Em um sussurro emudecido pela timidez da sua fala macia,

Eu me comprometi tanto, dei tudo de mim, fiz tudo que podia,

E agora chegava um estranho qualquer e a tirava de mim, sem razão,

 

Pagava tudo de melhor para ela, parecia esfregar dinheiro na minha cara,

Como se dissesse que eu nunca a tive por outro motivo que falta de emoção,

Eu não merecia isso, diante do tanto que a amava isso tinha nome: traição,

Ela não me pertencia eu sabia disso, mas seus sorrisos eram abusivos ao que eu sentia,

Minha jaqueta de couro, a mesma que comprei para vê-la,

Agora continha uma arma guardada em seu bolso,

 

No mesmo lugar em que já esteve o anel que eu a daria,

O anel que comprei usando todo o dinheiro que havia economizado,

Centavo por centavo e nunca me arrependi disso, pois sabia que ela valia,

Agora o anel estava no bolso esquerdo, as coisas mudaram dentro de mim,

Decidi retornar, contempla-la de longe, como sempre fiz diuturnamente,

Nunca mais consegui dormir uma única noite sem que a visse,

Sem admirá-la, sem querer trazê-la para perto de mim,

 

Me tirando dos meus devaneios, como se desanuviasse os meus sonhos,

Trouxesse um mínimo de lucidez a um coração atormentado pelo desamor,

Uma mulher surgiu na minha frente adentrando no local vendendo flores,

Ele comprou uma para ela, ela sorriu como se aquilo fosse tudo que mais desejasse,

 

Lágrimas molharam minha face quando recordei das 200 que ela recusou,

Nem se dignou a recebe-las, jogou todas de uma vez na lixeira,

Minhas economias, todo o amor que eu sentia, tudo caiu por terra,

Ele sorria e agora a beijava, isso era demais para o meu coração aguentar,

Ele batia, soluçava, ecoava em mim, não poderia resistir a esta dor tão frívola,

Eu ainda guardava no bolso a carta que havia feito para ela, a qual ela nem quis ver,

 

Peguei, olhei-a, rabisquei, talvez, minhas últimas palavras,

Dizem que tanto os assassinos quanto os suicidas vão para o inferno,

Inferno era ver tanto amor que eu tinha dentro do meu peito,

Escorrendo pelos vazios da minha alma, formando possas na terra fria,

Saquei a arma, não teria como fugir do que sentia: puxei o gatilho...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Bilhetinho

 

Eu caí em meio a calçada, dois pares de olhos arregalados

Me olharam de soslaio, levantei, bati a poeira da roupa e segui,

Meus joelhos arranhados foram reparados por dois olhos famintos,

De uma moça que me estendeu um lenço com o qual pude secar o sangue,

Eu sorri de forma melancólica, me senti envergonhado, insípido,

Parecia que os lábios dela tinham algo que me atraiam,

 

Me sentei sobre aquele banco verde da calçada, ela sorriu agitada,

Seu hálito quente sobre o meu rosto, tinha um gosto que eu desejava,

Depois ela, se ajoelhou ao meu lado e me ajudou a limpar o machucado,

Não soube o que dizer quando a vi beijar minha perna com um carinho

Quase materno, um sentimento puro que me deixou fascinado,

Eu teria dito a ela que estava apaixonado, se pudesse admitir isso para mim mesmo,

 

Lembro-me com os olhos incertos e distantes, talvez pudesse dizer com saudade,

Do momento em que ela se levantou com um sorriso radiante,

E correu os dedos deliciosamente sobre minha calça,

Repousando um beijo na minha testa, depois disse que eu iria ficar bem

E seguiu seu caminho perdendo-se para longe no horizonte,

Mesmo quando ela se afastou, meu carinho parecia irromper pela multidão,

E alcança-la, mesmo quando meus olhos não a avistavam mais,

Por mais longe que pudesse estar, senti que a alcançaria...

 

Naquele momento, eu não consegui pensar direito, tudo parecia estranho,

Mas a saudade queixosa que agora me aprisiona às lembranças,

Me implora para que eu tivesse tomado outra atitude, não a permitisse se afastar,

Penso comigo mesmo, que eu poderia ter dito algo, mas não confesso isso a ninguém,

Não lembrei de pegar seu número de telefone, nem ao menos pedi seu nome,

Feito um bobo, ainda sorri ao vê-la afastar-se,

Não sabia que naquele dia perdia alguém importante,

 

Alguém que eu guardaria comigo para o restante da minha vida,

É certo que há instantes eternos e que não precisam repetir-se

E há também aqueles que se prolongam no tempo,

Os quais se roga a Deus para que nunca tivessem nem ao menos começado,

O tempo é para uns o que não é para outros,

Tivesse percebido a oportunidade naquela bendita hora, teria a aproveitado,

Ela também poderia ter ficado, poderia ter tomado uma atitude diferente,

 

Ao invés de colocar-se em pé, olhar-me nos olhos e ainda beijar-me

Daquela forma gentil, quase materna, o que eu poderia ter feito?

Eu estava rasgado, sangrando, envergonhado, teria chorado não pela dor

Mas pelo constrangimento diante do fato, mas com muito custo

Engoli as lágrimas de uma a uma e fiquei parado feito um tolo,

A contemplar aquela moça sorridente que se desprendia em carinhos,

 

Os dias correram tranquilos, eu até consegui sorrir daquilo,

Embora, após uma semana eu ainda sentia os olhos dela presos em mim,

Fixos como se estivessem a me vigiar, a me atrair de alguma forma,

Eu não soube o que fazer, nunca senti algo assim,

Como foi cair feito um inconsequente esparramado no chão daquela cidade,

Só Deus em sua infinita bondade e sabedoria conseguiria responder,

 

Mas o bom disso tudo é que ela estava lá, e quando todos riram, ela me amparou,

Não teria como esquecer algo assim tão belo, inusitado e na falta de palavras

A gente se contenta em apenas sentir, em permitir que as coisas aconteçam,

Não há como se programar o destino, não é como um relógio que se põe para despertar,

As coisas acontecem na hora exata em que tudo deveria acontecer,

O fato é que contemplar a decoração pascalina que adornava a cidade,

Não deixava menos dolorosa a saudade que me acompanhava nas horas vagas,

 

O vento trazia algumas folhas secas para o vidro molhado da janela,

Ali dentro ninguém tinha conhecimento da saudade que me abraçava,

Decidi colocar minhas roupas para lavar na lavadora,

Recolhi todas, desde as que estavam esparramadas pelo chão,

Até as que havia deixado no cesto da lavanderia,

Ao revirar os bolsos para ver se não havia algum documento,

Por algum equívoco ali esquecido, encontrei um bilhetinho,

Bastante surrado, a alguns dias esquecido ali dentro,

 

Vez que o inusitado ocorreu de forma mágica aos meus olhos,

No bilhetinho estava rabiscado um número de telefone,

Estremeci de felicidade, é certo que estava um pouco apagado,

O último número eu não conseguia identificar se era um o ou um 8,

Mas, como toda a tentativa é válida eu iria me agarrar a isso,

E torcer para que fosse o número da moça,

 

Na primeira vez que liguei um homem atendeu, conversei um pouco,

Vi que era engano, não deveria se tratar da mesma pessoa,

Na outra tentativa, ninguém atendia, fiquei intrigado,

Mas nem por um instante me permiti desistir, aquele era apenas o início,

E eu iria até o final, dois dias de tentativas esparsas e inesitosas,

Uma voz melodiosa e feminina sorridente atendeu,

 

Perguntei seu nome e puxei assunto, vi que se tratava da moça

Que eu havia conhecido, me senti muito feliz, nada estava perdido,

Conversamos por horas consecutivas, e depois marcamos um encontro,

Cheguei 15 minutos adiantado, não sou tolerante a atrasos,

Nem ela era, percebi ao ver seu carro dobrando a esquina minutos após.

Belo Casal

Pendurei a placa de não perturbe na porta do quarto,

Fechei-a com um movimento silencioso,

Minha namorada me esperava do lado de dentro,

Sobre a cama eu havia posto rosas brancas,

No chão pétalas diversificadas e coloridas,

 

Eu nutria um amor por ela por anos seguidos,

E agora estudávamos juntos,

Tivemos a oportunidade de nos conhecer de maneira mais profunda,

Primeiro fizemos um trabalho escolar em dupla,

Depois combinamos um filme no cinema,

 

E agora finalmente nosso primeiro encontro privado,

Deitamos sobre a cama, falamos de sonhos,

Trocamos carícias apaixonadas, ela me confessou

Que nutria por mim sentimentos desde muito tempo,

E que, chegou a reprovar em uma matéria para estarmos juntos,

 

Repetir um ano no colegial parecia algo imaturo,

Mas foi prodigioso por me permitir estar neste instante ao seu lado,

Dividíamos um chocolate quente, lá fora a neve caía sobre a terra molhada,

Aqui dentro com as janelas fechadas, apenas podia se avistar o frio

Que, a esta hora, mantinha distância segura de nós dois,

 

A escolha do filme foi o momento mais difícil,

Haviam tantas opções, eu gostava de ação ela de romance,

Precisávamos encontrar algo que contentasse a nós dois,

Decidimos por uma saga reconhecida entre os jovens,

Um romance épico que retratava a história de um amor juvenil,

 

Em que o casal sofria e sofria, mas ao final, sorte teve o amor,

Por permitir que o casal ficasse juntos,

Claro que este fato se referia a um roteiro pronto,

Estabelecido pela mente de algum escritor,

Ou sabe-se se lá como defini-lo,

 

Mas o sabido é que o amor deve prevalecer,

Este pelo menos foi nosso consenso,

Com um beijo deitamos na cama abraçados para assistir o famoso filme,

Do qual havia tanto falatório nos corredores da escola,

Que ambos já parecíamos conhece-lo,

 

Claro que o filme nem ao menos era baseado em fatos reais,

Deveria estar distante demais da realidade atual,

Mas quem sabe pudesse oferecer uma ideia de como dirigir-se

No instante em que se decide que se ama alguém para sempre,

E das maneiras em que se pode convencer este alguém a acreditar nisso,

 

E nas formas possíveis de se entregar ao amor,

Viver uma vida toda com alguém merecia respaldo,

Sonhar um sonho a dois merecia abrigo de ambos,

Entre a pipoca e o desenvolver da trama,

Olharam-se e deram seu primeiro beijo,

 

Com um sorriso tímido voltaram-se para o filme,

De forma meia desatenta, ela pegou o celular

E aproveitou para registrar o momento em uma foto,

Postou na internet, com legenda poética...

Alô

Ele estava irreconhecível e inegavelmente apaixonado,

Contudo, até as 21 horas da noite de domingo

De certo dia de dezembro, ninguém sabia disso,

Ele mesmo demorou-se a aceitar o fato,

 

Então, pegou seu telefone e discou um número conhecido,

Não saberia digitar nem um outro número,

Mas aquele ele havia gravado com esmero e carinho,

Jamais esquecia os encontros românticos que tiveram,

 

Por ela, ele arriscaria perder tudo, família, dinheiro, etc,

Mas negar-se a tocar em seu corpo, beijar os seus lábios,

Isso com toda a certeza, nunca faria, a amava,

Jamais permitiria que alguém os distanciasse,

 

Colocava ela em um valor elevado em que jamais colocou outra,

Ela era perfeita, encantadora, sabia dominar o seu redor com maestria,

E ele aceitava suas imposições, curvava-se as suas objeções,

Os amigos haviam lhe dito que ele jamais a conquistaria,

 

Que ele jamais teria a chance de tê-la ao seu lado,

Que nem ao menos uma cerveja sua ela aceitaria,

Perderam a aposta, ela aceitou e fez ainda mais que isso,

Conquistou seu amor, seu carinho, sua admiração,

 

E agora, poderia admitir que ganhou seu coração,

Ao primeiro toque, ele lembrou-se que se negou a tirar fotos,

Não queria ver-se em imagens, não por estar junto dela,

Mas por necessidade de desapego,

 

Lembrava-se do quanto estava sofrendo, do quanto se sentia ínfimo,

E da forma como ela o envolvia em seu abraço,

E o fazia sentir-se digno, com autoestima elevada, sorriso no rosto...

No segundo toque, sentiu medo de que não fosse atender,

 

Então, pegou-se a imaginar o que ela estaria fazendo naquele instante,

No terceiro toque, sentou-se no sofá, pegou o controle da televisão,

E ligou-a em um canal qualquer, achou que queria assistir a um filme,

No quarto toque, pensou que ela teria reconhecido seu número,

 

E por estar ocupada ligaria em outra ocasião,

Quando pensou em desistir da ligação, assim que afastou o celular da orelha,

A uma distância segura entre o rosto e a mão,

“Alô”, ouviu-a dizer do outro lado da linha,

 

Ele sorriu contente, respondendo o alô

E convidando-a para dar uma volta na cidade,

Disse que estava sem nada para fazer e que... sentia saudade.

Linha do Horizonte

Dentro dos limites do amor, a saudade tomou tamanha precisão,

Que quem lhe abandonou por completo foi a razão,

Claro que este quem, no passado tivera nome e sobrenome,

Mas neste instante não merecia mais que chamar-se saudade,

Deveria estar dirigindo rápido demais, as lembranças margeavam sua estrada,

Em cada local em que haviam estado ou simplesmente passado juntos,

 

Parecia estar desenhado em sua memória tudo que viveram,

Até aquela flor a beira da estrada lembrava seu primeiro beijo,

O dia em que ela, olhou-a encantada, com um sorriso de fazer inveja ao brilho da lua,

E que ele, sem pensar em nada estacionou no meio da estrada,

E a colheu, ela tinha a cor amarela, lembrava os olhos dela quando estava triste,

Ele a posicionou atrás da orelha, recostada em seu cabelo,

 

Com uma carícia em seu rosto dizendo-a, que a tristeza que um dia sentiu,

Pertenceria apenas ao passado a partir daquele instante,

Pois agora quem estaria ao seu lado para seguirem seus destinos juntos, seria ele,

E prometeu contemplando profundamente o seu olhar,

Jamais a deixaria, todo o sofrimento que ela viveu no passado,

Nunca mais se repetiria enquanto estivesse em seu querer e poder,

 

Mas caberia apenas a ela apagar a dor do passado e seguir um novo rumo,

É fato que ferimentos doem, mas prender-se a eles,

Somente para ver-se sangrar é no mínimo desmedido,

Assim como a pele pode ser reconstruída, a alma também,

Só depende do querer e da vontade de ambas as partes,

Ela o beijou sôfrega e apaixonadamente, de forma ávida,

 

Ele sorriu contente, sentia-se orgulhoso por tudo que disse

E acreditou naquele momento único em que permitiu-se sonhar,

Que, não sabia muito sobre ela, mas o que sabia era o suficiente

Para ama-la com toda a alma, ele também havia sofrido,

Errar é humano, mas o que sentia por ela é que era desmedido,

Profundo o suficiente para deseja-la para sempre em seu destino,

 

Seguiu para a casa dela, deixou-a no portão com um abraço e um beijo,

Ela sabia seu número poderia entrar em contato quando quisesse,

Mas, por algum motivo desconhecido nunca havia ligado,

Talvez, o tivesse esquecido, dado pouca atenção as suas palavras,

Subjugado seus sentimentos, ele deixaria as coisas esfriarem,

Assim como se apagam as chamas das velas,

 

Também, apagam-se as brasas de uma fogueira e assim é o amor,

Ele preferia acreditar, desta feita, que assim como apaixonou-se esqueceria,

Se ela o tivesse amado, retornaria o seu chamado,

Às vezes, entregam-se os sonhos mas nem sempre se é correspondido,

Ele disse tudo que sentia, neste ponto não havia falhado,

Ela parecia estar apegada a um passado sofrido,

 

Que em seu ver estava distante demais para ser revivido,

Mas o que ele poderia fazer para mudar o pensamento de quem se nega?

Palavras, gestos, nada iria adiantar, a decisão era apenas sua,

Mas ele continuaria a ama-la, prometeu seu amor, então resistiria,

Aumentou o volume do rádio, deixou a música dirigi-lo,

A sua frente estava um horizonte pronto para ser descoberto.

Cerveja na Mão

 

A primeira e a última parada deles foi naquela estrada,

Ele estava dirigindo ouvindo música com a moça de carona,

Ambos cantavam animados, falavam sobre planos,

Contando histórias sobre os seus passados, com certo brilho nos olhos,

 

Cervejas geladas corriam por suas mãos,

De uma forma tímida, mas decidida ela passou os dedos sobre o vestido,

Foi impossível não ter prestado a atenção, ele sorriu com incontida emoção,

Ao trocar a marcha ele desviou a posição da sua mão,

 

Direcionando sobre a dela que estava solta sobre o vestido,

Ela mudou a posição da mão envolvendo a dele em um gesto de carinho,

Agarraram-se com tanta força que era impossível negar a atração,

Bem pudera, a lua estava linda, realmente não havia como resistir,

 

Para contraste o céu estava pontilhado de estrelas,

Como os dedos da moça que agarrava-se a ele como se o chamasse,

Com evidencia de desejar um contato mais próximo,

Feito um pedido de certa forma místico de estabelecer contato,

 

De conhecerem-se um ao outro de maneira mais profunda,

Foi isso o que demonstrou a troca de olhares de ambos,

Então, ele diminuiu a marcha e parou o carro ali na estrada,

Aproveitando a penumbra que as árvores que margeavam o local faziam,

 

As estrelas logo acima deles, as árvores ao redor, os animais noturnos,

A música do Iron Maden ao fundo, seus lábios trêmulos,

Desligou a chave da ignição e virou-se para ela, com um estender do braço direito,

Tocando entre os seus cabelos e sua orelha, puxando-a para perto,

 

Com uma carícia em seu rosto, ela retribuiu o gesto, e o beijo aconteceu

De maneira prazerosa, provocativa e profunda, as carícias esquentaram o clima,

Saíram para fora do carro, ao horizonte brilhava a lua,

Ali no capô eles aproveitaram algum tempo, abraçados,

Tudo aconteceu de maneira perfeita e espontânea,

 

Uma brisa fria da madrugada soprou arrepiando a pele,

Apesar da recusa da moça em aceitar o casaco que ele vestia,

Ele gentilmente, tirou-o e o envolveu sobre o corpo dela, ela sorriu contente,

Abraçando-o, para protege-lo do frio que a ele era de menor intensidade,

 

Assim repetia ele, em busca de convence-la, beijaram-se mais uma vez,

De maneira quente e profunda, exalando um calor que aqueceria a distâncias,

E que, de fato, encurtava a distância dos sentimentos que poderia haver entre eles,

Por sorte, eles ainda tinham cervejas para aproveitarem o momento,

 

Por tempo suficiente até que a manhã os encontrasse,

Aquele local, parecia pertencer a algum fazendeiro, era distante

E não havia habitantes por perto, então estavam seguros para divertirem-se,

Conforme fosse de suas vontades, em razão da vastidão da mata,

 

Não havia como determinar o que havia por detrás das árvores,

Mas de fato, aquele lugar era perfeito para embalar uma noite romântica,

E até determinar os sonhos de um futuro bom, com planos a dois,

Mas, infelizmente, para a infelicidade da moça,

 

Ela já havia se apaixonado a algum tempo, por um determinado homem casado,

E desta relação resultou um filho em seu ventre, que agora mexia-se pedindo abrigo,

Ela não deu ouvidos, sentia-se sozinha, queria sentir-se abrigada, ou algo neste sentido,

E quando se deu conta estava vivendo o sonho a dois que sempre desejou,

 

Ele, porém, não. Mas ao invés de puxar o gatilho de forma rápida e eficiente,

Ele quebrou a garrafa sobre o carro e decidiu cortar a garganta da moça

Com o que havia sobrado, estraçalhando sua garganta sem direito a perguntas

Ou respostas, com um movimento rápido e um gesto instintivo ela jogou-se para a mata,

 

Abrigando-se nela, a tentativa de matá-la falhou, ele teria que procurá-la,

Encontrá-la e destruí-la com as próprias mãos, a caçada havia começado,

Ela seria sua presa mais preciosa, o valor que cobrou valia o sabor da caçada,

Esperou um instante para fazer suspense,

Queria que ela se posicionasse a uma distância segura,

 

Pegou o revolver, municiou-o e a caçada logo chegaria ao fim,

A lua escondeu-se por detrás das nuvens, isso anuviou o seu olhar,

Mas, de fato a situação estava dentro dos limites da razão,

E isso não daria outro rumo aos acontecimentos, daria?

A Plantação de Pêra e Maracujá

Os pais de Pitelmario Fizeram uma linda plantação, Araram o campo, Jogaram adubo, Molharam a terra, Então, plantaram pêras...