Porém, devemos investir neste ponto,
Ele não sabia o quanto a amava,
Essa ideia embora assustadora,
Lhe era plausível e peculiar,
Mil pensamentos entre tormentos,
Entre as escadas em que caminhava,
E se alguém tivesse perguntado onde estava,
Talvez, ele pensasse para responder,
Teria respondido: entre as trevas,
Em qualquer lugar onde ela não estava,
Nisso, seu extinto servia bem,
Estar longe, era de fato a salvação possível,
Somente a palidez das poças de água suja onde estava,
Denunciavam algo a respeito do lugar,
Lá a luz parecia brilhar sutilmente,
Parecia abrir margens para um outro espaço,
Um lugar em que pensava estar agora,
Porém, distante, muito distante,
A lua não tardaria a declinar,
Em pouco tempo o sol ressurgiria,
Assim é que é,
A luz que se ofusca não tarda a voltar,
Porém, o que não possui lua some,
Assim é e todos sabem.
Se as sombras predominam, por sorte,
A morte é rápida,
Havia uma luz que queria enxergar,
Esta luz pertencia a ela,
Seu olhar, era tudo que mais queria,
Ocorre nele a submersão instantânea,
Neles há morte lenta – um sepultamento,
Se vejo-o não quero outra coisa,
A não ser me ver neles e me indagar como estou,
Acho que gosto da forma como ela me vê,
Da maneira como me sinto acolhido,
Imagino estar sentindo aquele ponto em que não se
descrê,
Um lodo aos seus pés,
Onde se cai sem perceber e a morte lhe acode a
garganta;
De um lado a areia quente e derradeira,
Do outro a terra fresca e ressequida,
Imagina que estar ali dentro deve ser como em um vazio profundo,
De lá com certeza se grita e ninguém ouve,
Triste tormento,
Estar preso onde ninguém o socorre,
Retorce-se, esmaga-se os dentes,
Algo o puxa para perto e este perto não tem limites,
Apenas cai-se nele e se vê consumir-se,
Debate-se até agonizar entre dor e imprecisões,
Mas, ao menos ali dentro tem-se a certeza:
- Sim, minha querida: seu olhar me importa!
Perdido por esta cidade enorme,
Não consigo ver nela mais que escombros,
Lugar onde não se sabe de nada,
Sob a luz ofuscante do luar tudo se perde,
Mesmo a lua sobre sua cabeça parece não estar,
Há um frio que envolve,
E este frio parece ser perigoso,
Desconfia dele,
Por qualquer motivo escreve um número de telefone,
Joga-o sobre a calçada,
Por entre todo este lodo,
Ele não se importa que este número se perda,
Muito menos que seja encontrado,
Diriam-no: ele o oferece!
Diria ele: e quem se importa?
Lá muito distante,
Um olhar se acorda e parece brilhar,
Mais intenso que o luar do escuro da noite,
Mais ameno que pudesse ofuscar-lhe!