segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Fecho a Porta Atrás de Mim

 

Depois de dar cinquenta passos,

Ele vira-se e discute algo,

Seus olhos estão espertos,

E o porte altivo,


Eis que levanta o queixo,

A pose? De orgulho,

- Não, não gosto disso.

Você levanta o tom de voz comigo,


Me perdoa não mereço isso.

Então, num impulso,

Ela se aproxima diz algo baixo,

Quase inaudível,


Ele ri debochado,

A curtos passos de distância,

Ergue o rosto segura o olhar fixo,

E no olhar leva o soco,


Meio que a esmo e imperto,

Porém, atinge-o no queixo,

Usando entre o segundo e terceiro dedo,

-Qual é o motivo disso?


-Me perdoa, preferi não levantar o dedo...

-Você me atingiu com um soco, isso?

-Sim, sou frágil mas sou capaz de te socar.

-Ah, é. E... está doendo,


Ele ri com a mão no queixo e sai,

Se afasta, parece rir mesmo sem gostar,

Algum tempo passa e olha de soslaio para trás,

Se volta num ímpeto,


E o sorriso que contemplo é lindo.

-Você me bateu é isso?

-Sim, e... foi na frente de todo mundo,

Eu meio que me aproximo,


Insegura e tremula e outra coisa,

Sei lá,

Penso se devo ajuda-lo,

Esta avermelhado,


Busco um lenço no bolso.

-Ah, você ainda usa lenço?

Ele fala em alta voz e ri com gosto,

Se afasta feliz e satisfeito,


Eu fico sem entender o que houve...

-O momento que eu vi você chorar,

Eu digo isso e levo um pé a frente,

Rodopio ele sobre o dedo,


Para frente e para trás e para os lados,

O outro eu deixo parado.

Talvez eu tivesse uma pergunta,

A sinto no rubor da minha face,


Mas não tive tempo algum para fazê-la,

O primeiro soco a gente nunca esquece,

O corredor dava para uma passagem transversal,

Ele sumiu por entre a multidão,


Eu fiquei lá e estaria até agora,

Ali se ofereciam dois caminhos,

Ele pegou o da direita e foi embora: a saída,

Qual deles eu deveria seguir?


Lembrei que tinha aula e fiquei ali,

Embora a esquerda e direita fossem ambas – tentadoras,

Como se orientar naquele labirinto negro?

As luzes estavam quase apagadas,


Contava-se mais com a luz do dia,

E o sol havia a pouco ido embora,

Nuvens encobriam os tempos daquela hora,

Esse labirinto, como o digo,


Tem um fio,

Este é seu declive,

Seguir o declive é partir para a rua,

Seguir estrada acima quem sabe dê em nada...


Para mim daria e para ele?

Deixou de estudar e pronto,

Agora, é capaz de alegar que a culpa é minha,

Corro para a sala e fecho a porta atrás de mim,


Deixo as dúvidas lá fora,

Mais tarde, quem sabe possa ajuda-lo,

Por ora me basta a honra satisfeita!


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