segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Por Um Beijo

Confesso que me olho no espelho e pigarreio,

-Sim, estou agora a me enganar.

Acredito que estou no caminho certo,

E sigo adiante, o que faria diferente?


É será uma pena caso eu não esteja,

Eu entendo e acredito assumir o risco,

Embora aos vinte e poucos anos,

Não se possa dizer ter certeza de alguma coisa,


Por quê?

Uma brisa fria sopra contra o meu rosto quando saio,

-Sim, amor. Estou chorando.

Imagino que onde ele estiver ele saiba disso.


Ignoro o pensamento e persisto,

Não há lágrimas fora de mim,

Guardo todas comigo,

Talvez, algum ele tome conhecimento,


Quem sabe isso nunca interesse.

Esse perigo é grande,

Mas o risco de recuar sempre se fez maior,

Será que se eu voltar atrás eu o encontro?


Lá atrás deixei o vazio de uma casa oca,

Não há nada além de momentos,

Continuei avançando.

Em pensamento escrevo algo,


Erro as letras e distorço as palavras,

Eu gosto de como o seu nome se forma de diversas formas,

Continuei, veja bem, tem seu feitio,

Seu feitio não está nos rostos que vejo,


Espero que você possa entender, algum dia,

Eu olho para os lados,

Busco rir e disfarço,

Você acredita que estou a procura-lo?


Pois é, os outros tem certeza disso.

Então, por que não estamos juntos,

Eu não saberia dizer o motivo,

Bem, o sete vem em mente e vira oito,


Infinito – o eterno de um beijo...

Felizmente há dentro de mim uma lanterna,

Movida a bateria e outras coisas recarregáveis,

Eu não diria que esta luz tem vida inteira,


Tudo um dia se acaba,

Se o vejo, me perdoa, agora o vejo mal,

A janela esta embaçada, mas meu coração acelera

-Não, morena, não é ele...


-Quem?

-Não aquele que você finge: o outro.

Abro a boca para dizer então você sabe,

Ele simplesmente me olha sério e arredio,


É como se perguntasse: por favor, tem como isso?

Então, engulo o choro no riso,

Me engasgo e busco o assunto,

Acredito que estou falando,


Mas percebo muito tempo depois que não,

Até a música do rádio é desligada.

Levo um susto quando percebo ele ri,

Percebe isso,


Chego a pensar que sabe o que faz.

Me sinto longe, mesclada as trevas de algum lugar,

Não vivo o novo apenas repito,

Ele percebe isso,


Eu vejo na forma como dirige pelas ruas,

Deus me livre cruzar por você,

Ou Jesus me ajude que cruze,

Quando percebo estou com as mãos em prece,


Ele se irrita e muda totalmente o trajeto,

-Vamos para outro lugar!

Eu não pergunto para onde já não sabia de antemão a rota,

Talvez, agora estejamos mais distantes,


Ele para o carro em meio a rua,

Pessoas se assustam e buzinam,

Ele vira para trás,

Sinto medo: será que irá pegar uma arma,


Eu disfarço e busco o assunto,

-Será que ele te perseguiria?

-Como, quem e por quê?

... É como se ele dissesse:


É hoje você é minha... e segue,

Eu não, nem sei mesmo aonde estou.

Encosto-me na parede do carro,

A porta abre-se,


Tento me jogar eu acho,

Mas ele é mais rápido, um carro passa,

Eu rio, imagino que fosse você,

Ele me segura,


Retornamos a algum trajeto ou algo do tipo...

-O que é isso?

Me pergunto em tom alto,

Não tenho resposta,


Talvez ninguém a tenha.

Não compreendo – me respondo,

Ele ri, gosta deste jogo,

Os homens em ronda poderiam ouvir-nos,


Mas este que está comigo não,

Olho e não vejo nada,

Consultamo-nos um ao outro com o olhar...

-Então, eu to metendo na buceta dele agora,


Meus olhos embaçam de lágrimas

Eu já não vejo nada,

Nem sei se estou ali,

Preferia mesmo não estar,


-Você gosta tanto dele tanto assim?

Os olhos dele que estavam marejados,

Agora escorrem,

O queixo treme e a boca cai,


Mas não, não fala nada.

E eu, ainda tenho que beijar sua boca.

Fecho os olhos desejo morrer,

Finjo que estou noutro lugar,


Em outra coisa,

Em minha cabeça formo uma imagem,

Eu sei me perdoa, você não está.

-Você é de comer chorando eu digo,


Mais para mim que para qualquer outra pessoa.

-Você é uma buceta que vale um homem,

Ele fala com orgulho eu acho,

Eu entendo e entendo bem,


Talvez, em algum lugar você me espere...

(Com este será mais fácil)

Eu digo para mim de olhos fechados,

Não quero abrir, mas olho, preciso ver que... existo?


-Então, me traga ele.

Eu digo e levo um tapa no rosto,

Me defendo.

Embora não revide.


 

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