quinta-feira, 27 de março de 2025

Fogo Tentador

Uma voz emergiu
Por entre as nuvens,
Anunciando ao povo
Que se prostrassem,
Conhecessem o Alcorão,
E andassem em concordância.

Lá do céu,
Via-se perfeitamente
Aquela cidade que unia
Duas cidades,
Dois povos.

Todos se prostraram,
Houve reunião com data marcada
Para leitura de trechos
E discussão de como praticar,
E medidas respectivas
Para buscar recuperar o erro.

Destas medidas,
Nenhum do povo seria abandonado,
Os olhos de Allah são limpos
E possuem boa visão,
Nada se escapou de seu olhar.

Houve no povo
Aquele que escolheu mentir
E preferiu o erro.
Este entrou através da escada
De sua residência
Em sua própria casa.

Encontrou sua boa esposa,
Fazendo o almoço no fogão,
Levantou seu vestido,
Acariciou suas nádegas
E foi para o quarto.

Fechou a porta.
Lá na cama,
Estava sua própria filha,
De dois anos,
Dormindo feito um anjo,
Usava um vestido,
E uma fralda,
Pois era ainda bebê,
Não continha a urina
Ou a merda.

Ele deitou ao seu lado,
Sentindo-se renovado
Por ser pai de uma criatura
Tão linda e indefesa.

Então, levou sua mão
Por baixo do vestido,
E tocou suas partes íntimas,
Isto lhes resultou uma ereção,
Ele virou-se mais para ela,
Ergueu o vestido
E beijou sua barriga,
Cheirosa e fresquinha.

Retirou sua fralda,
Levou sua mão ao próprio pênis,
E subitamente, gozou.
Sentiu um orgasmo
Com sua própria filha.

A mãe, agora lavava a louça,
Ouvia-se o barulho
Proveniente de panelas sujas.
Ela estava quieta,
Queira demais,
Ele sentiu-se um menino.

Suor escorreu por seu rosto,
Molhou sua camisa,
Ele era jovem,
Já não tinha mais trinta anos,
Era um bebê,
Mas, um bebê grandioso.

Olhou para a menina
De volta,
Retirou sua fralda,
Deixou suas partes íntimas
Expostas,
Soprou sobre elas,
Elas eram convidativas,
Cuspiu entre seus lábios.

Sofreu outra ereção,
Não resistiu a tentação,
Ergueu-se sobre ela,
Agora, ele sentiu-se soberano,
Pegou seu pênis
E esfregou nela,
Sua genitália pulsante,
Quente e roseada,
Houve um barulho
E uma explosão,
Outro orgasmo.

Allah, viu tudo.
Seus olhos são perfeitos,
E ele discordou disto.
Chamou a esposa
E exigiu atitudes dela.

A esposa empurrou a porta,
Estava trancada,
Seguindo seu coração
Ela empreitou força
E abriu-a.

Encontrou seu esposo lá,
Sobre a filha,
De roupa,
Mas em posição incomum.
Pigarreou.

Mas tudo estava feito.
Ela correu para pegar a criança,
A ergueu nos braços,
O empurrou.

Ele se levantou,
Guardou o pênis,
E lhe soqueou o rosto,
Bateu muito forte,
Agora ele era um poderoso.

Ele havia se tiver tido
Com a brincadeira,
Não iria parar.

Ela caiu com a criança
Nos braços,
Ele bateu em sua cabeça,
Ela chorou.
Ele a pegou pelo pescoço,
Estancou o choro.

Só lágrimas escorriam
Por sua cara,
Nenhum soluço,
Nenhum suspiro.
Dor estampava-a,
Ela abraçou a filha.

A guardou em seus braços,
Ele bateu mais e mais forte,
Seus ossos gritariam,
Mas, ossos não falam.
Ele levou a perna,
E lhe bateu com o pé,
Em plena sua cabeça.

Ela caiu imóvel,
Com a criança no colo,
A criança chorava.
Ele saiu para fora,
Juntou a comida,
E saiu.

Retirou toda a comida,
Mesmo a não cozida.
Quando voltou
Ela havia se levantado
Para procurar comida,
Não havia nada.

Nisto correram-se os dias,
Ambas sem comer,
Ela retornou ao hábito
De amamentar.

Ele sempre voltava,
A noite enquanto ela dormia
Desmaiada de fome,
Ele procurava a criança,
Não parou.

Depois disto,
Lhe roubou toda a roupa
A deixando nua,
Então, abriu a porta
Que até ali ficava trancada,
E lhe deu comida.

Pouca comida.
Ela ficou magra e esquálida,
A criança despendeu seus ossos,
Ele era trabalhador honesto,
Todo sábado ele escolhia
Uma tora do Alcorão para ler
E discutir,
Era homem respeitado
No povo.

Ela mulher honesta,
Respeitosa do marido,
Não trabalhava,
Seu ofício consistia
Em cuidar da limpeza da casa.
Cuidar dele,
Fazer por ele todo o melhor.

Como iria sair para fora nua,
E apenas com palavras
Para contar os atos
De homem tão respeitado?
Allah viu lá do céu.
E gritou.

Que todo povo fosse embora.
Ela foi condenada a ficar.
Ocorre,
Que o povo pecador também
Não iria,
Mas aquele marido
Não se julgava pecador.

Ela chorou com seu filho.
Ajoelhou-se em frente a sua escada,
Com a criança agora aos
Cinco anos no colo.
O povo foi,
Deixou poeira e desgosto.

Ela aprendeu a trabalhar
E sobreviver.
Fez uma fogueira
Em frente a sua casa
Por medo
E nunca parou de manter
O fogo aceso.

Juntou o Alcorão sujo
De teia de aranha,
Limpou-o,
E aprendeu a ler.
Sentou ao lado do fogo,
E leu toda vez,
Sem importar-se com o dia.

Um dia o fogo
Deixou de fazer fumaça,
E sua labareda
Nunca apagou-se.
Ela desejou um homem,
Um bom homem
Em casa dia de sua vida.

Allah a viu do céu.
Se apiedou.
Diz-se que ele a guiou
A aprender a ler.
Passou um ano,
De labareda, leitura e trabalho.

De repente,
A labareda se partiu em duas,
Saiu de lá caminhando
Um lindo homem,
Forte másculo e nu.

Ela sentiu medo,
Se agachou e abraçou a filha.
Ele era feito do fogo.
Vermelho marrom feito o fogo.

Ele queimava,
O fogo se estendia sobre ele
Feito roupa o cobrindo,
Feito cabelo percorrendo
Sua coluna.

Ele tocou ela nos ombros,
Ela sentiu segurança,
Precisava de um homem,
Mas nunca sentiu maior medo.

A criança se levantou
De meio aos seus braços
E correu.
Quando a menina o olhou,
Não o viu nu.

Só viu o fogo queima-lo,
Devorar suas partes,
Sem fumaça,
Ou produzir dor.
Então, ela ajoelhou-se,
Pegou as mãos da mãe,
E falou.

Contou seus medos,
Relatou suas dores
E gritou a falta da mãe.
A casa olhar ela chorou,
A cada frase gritou.
Sentiu tudo de volta.
Relembrar faz doer.

O homem permaneceu
Com a mão no ombro
Da mãe.
Depois de ouvir tudo
E soluçar suas dores,
A mãe se sentiu forte
Outra vez,
Agora lhe era permitido
Expressar suas dores.

Munindo-se de seu amor
Pela filha,
Ela levantou-se,
E o homem não a soltou,
Nisto, ela virou-se
Para trás,
Não sentiu medo
De deixar a filha
Fora de seu olhar
Por poucos segundos.

Viu o homem
Pelos olhos da filha
A arder e queimar,
Então, um amor súbito a tomou.
Ela retornou a olhar,
E ele parou de queimar,
O fogo tornou-se cabelos,
E cobriu seu corpo nu.

Ela sorriu,
Ele era absolutamente perfeito.
Ela foi para dentro de casa,
Juntou um lençol,
O costurou e o entregou.

Ele vestiu-se,
Foi tirar lenha,
Trouxe carne,
Comprou mantimentos
Ao vender a lenha.

O estranho de tudo isto
Que se alastrou
Pelo povo pecador que ficou,
É que ele não permitia
A ninguém aproxima-se.

Se alguém tentava
Toca-lo
Ele queimava.
E queimava desde a mão
Da pessoa,
Até sua boca
Conforme lhe falassem.

Sem mover-se
Ou esforço.
Simplesmente, queimava.
Queimaram-se olhos,
Derreteram até os rostos.

Algumas mulheres não entendiam
O desejo,
E ter seus olhos queimados
Não bastava.
Enquanto houvesse face,
Havia a tentação e o desejo.

Queimaram-se criança.
Ele não tinha culpa,
Foi algo que veio daquele fogo.
Uma espécie de amor puro
Por aquela mulher e filha.

Então, ele vendeu a lenha,
Comprou comida e voltou.
Chegou a escada de casa
E chorou,
Chorou muito.

Sentiu medo de perder a mulher,
Ele sentia-se em fogo
Ao vê-la.
Ver a menina de seis anos
O apiedava e um calor o invadia,
Ele não queria perde-las.

Chorou e gritou
Para que não chegasse perto,
Mas, ambas ficaram surdas
E correram até ele,
O abraçaram e nenhum fogo
Os tocou,
Nem mesmo a fogueira
Que ardia viva e sem fumaça.

Então, ele ergueu
A menina em seus ombros,
E beijou a boca da mulher.
Não houve fogo.

Um homem passava por lá,
Riu de seu amor,
E desejou toca-lo
E queimou enquanto ria.
Queimou por completo,
Até o chão em que pisou.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Aproveitador

Eu cheguei tarde,
Em casa,
Soltei a mala
Do lado da porta,
Encontrei Aline no banheiro.

Oh, Aline, oh.
Você estava sangrando,
Havia sangue
Em toda parte,
Oh, Aline, oh.
Você estava sentada
No azulejo,
Eu disse
Oh, Aline, oh.

Você olhou e disse
Um aborto.
Eu me sentei atrás
De você,
Te apertei entre meus braços,
Oh, Aline, oh,
Nosso filho se foi.

Te escapa assim,
De forma tão simples,
Oh, Aline, oh.
Você acha que há culpa,
Minha ou sua?
Oh, Aline, oh.

Eu não deveria ter viajado,
Por quê me demorei,
Por Deus,
Parece que você sabe.
Ela ligou o chuveiro,
Sentou outra vez,
Deixou a água cair
E levar o bebê,
Oh, Aline, oh.

Eu estava com outra,
Me perdoa.
Isto lhes custou,
Me custou.
Eu fui um burro,
Não presto, tchau.

Ela deixou a água
Molhar seus cabelos negros,
Eu me voltei,
A vi chorar
E disfarçar no chuveiro,
Aline, oh.

Me desculpa,
Eu menti pra você,
Isso nos custou nosso bebê,
Por quê fui um rolo,
Um idiota com você,
Oh, Aline, oh.

Por quê?
Por quê?
Querida minha,
Eu levei a outra comigo,
Te deixei sozinha,
Traí você,
Fui falso no que sentia,
Perdi nosso bebê,
Não me vejo recuperar,
Não sei o que fazer,
Oh, Aline, oh.

Isto te custou teu cu,
Que droga,
Eu vi aquele cara sair,
Que merda,
Ele estava feliz,
Nem eu fora
Fiquei tanto assim.

Que droga,
Ele te meteu tanto,
Que porra,
Por quê eu saí para meter?
Ah, Nosso bebê,
Nosso bebê.

Aline, oh.
Está cuidando de cuidar
De proteger,
Que droga,
Perdão,
Eu falhei,
Ah, estou de joelhos
Abraçado a você,
Não posso te deixar,
Cara,
Veja nosso filho escorrer,
Ele se foi,
Restou eu e você.

Oh, Aline, oh.
Eu soube que você deu o cu,
Eu soube do custo,
Eu sabia o resultado,
Eu deixei ir a merda,
Querida, eu fiz isto
De nosso filho escorrer.
Oh, Aline, oh.

Eu saí com outra,
Traí você,
Te deixei sozinha,
Eu falhei em te proteger,
Agora você está em sangue,
E nosso filho se vai para o ralo.
Oh, Aline, oh.

O que eu fiz para você?
Me perdoa, eu falhei,
Oh, Aline, oh.
Eu te pego no colo,
Ergo na água do chuveiro,
Você parece me perdoar,
Tão frágil em meus braços,
Eu me vejo vacilar,
Oh, Aline, oh.

Desculpa minha urgência,
Mas gostaria de transar,
E poxa,
Você é a que eu sei amar,
Vou te meter agora,
Entre nosso filho
A escoar e está água a derramar,
Oh, Aline, oh.

Você sofre agora,
Amanhã vai passar,
Eu vou te cuidar,
Eu posso ficar,
Eu posso estar,
Oh, Aline, oh.

Nosso filho
Não vai poder ficar...
Te beijo agora
Como não faria com outra,
Oh, Aline, oh,
Um filho
E um traidor,
O outro,
Oh, Aline, oh.
O aproveitador.

Socado Na Traseira Dela

Oh, ninguém se importa
Em ter um carro
Socado no rabo,
Até que o carro a socar
Seja o seu.

Oh, maldita avenida,
Sempre corrida e lotada,
Encontrei Aline,
Ela decidiu dirigir devagar,
Eu disse garota,
Aumenta a marcha,
Pisa no talo,
Ou viu passar.

Ela me ignorou cara,
Pensa Aline,
Olhou pelo retrovisor,
Tirou a franja dos olhos,
E faltou só parar,
Eu fui com tudo,
Meti na traseira dela.

Depois senti pena,
Destruí,
Entre lá dentro em quinta,
Ela estava próximo a faixa
De pedestres,
Bem quando a Tânia foi passar,
Ela roçou na garota,
Fez uma manchinha
Naquela perna branca
E magrela.

A garota correu,
De tão devagar
Que estávamos,
Mas, também,
Eu levei Aline alguns
Metros arrastada,
Dentro, cara,
Dentro,
Metido,
Socado no carro dela.

O que a Tânia tinha que passar?
Não pode ver faixa
Já pensa que precisa atravessar?
Agora são dois carros
Para concertar,
Eu disse
Aline, o certo é você pagar
Toda a conta,
Garota você manja
Nos paranauê de ir devagar.

E você Miguelito,
O que tem a dizer?
-Cara, eu só tava olhando.

Oh, Aline, Oh

Oh, ninguém se preocupou
Com aquele trajeto
Da BR 282,
Até que Aline se acidentou,
Oh, eu lembro
De tê-la retirado
Das ferragens,
Ela estava presa
Dentro do carro,
A metros do caminhão
Que provocou tudo.

Oh, eu conheço Aline,
Ela dirige muito bem,
Jamais teria errado
A marcha,
Ou andado em alta velocidade.

Oh, eu fui um dos primeiros
A chegar naquele maldito lugar,
Ainda quando estava lá,
O caminhão pegou fogo
E o fogo atingiu-a,
Só um pouco,
Ele feriu seu rosto a valer,
Oh, você não a reconheceria,
Ela mudou,
Oh, Aline, oh.

Ela teve a perna decepada,
Suas pernas grossas
E lindas,
Foram estilhaçadas,
Oh, baby,
De uma nada sobrou.

Eu fugi com ela nas costas,
Aline em chamas,
Eu louco e tenso,
Do motorista do caminhão
Eu nem sei,
Só sei que o fogo se alastrou,
Tocou a mata da margem
E correu para as proximidades,
Oh, Aline, Oh.

Eu imagino
Que o caminhão vinha
Muito rápido,
Não venceu fazer a curva,
E tombou,
Nisto a levou,
Oh, veja a foto no jornal,
Sobre o acidente,
Oh, ela foi aquela garota legal,
Que ajudava todo mundo,
Que parecia até próxima demais.

Oh, ela está sofrendo,
Seu rosto se deformou,
Não se reconhece
Único traço do que foi,
Oh, aquele caminhão
Foi prepotente,
Eu acho que o motorista
Nem dirigir soube.

Oh, ela chora
E diz: me matou.
Se olha no espelho,
E cai em lágrimas.
Oh, ela reza para Deus
Pedindo que a leve,
Não, Aline, não.

Será que o cinto
De segurança não ajudou?
Oh, como eu queria ter chegado
A tempo,
De alguma maneira
Ter impedindo tudo.

Oh, veja lá na curva da BR 282,
Há vidro quebrado,
Sangue coagulado seco,
Riscos amarelos no asfalto
É a tinta do carro dela,
E sinais de pneus freados,
Oh, Aline tentou,
Ela foi forte lutou.
Oh, Aline, oh.

Ela não usa drogas,
Não usa álcool,
Oh, maldito caminhão,
Enorme e carregado,
Por pouco não a esmaga,
Por sorte
Apenas a retirou da pista,
Oh, Aline tenta lutar, oh.

Não se suporta
No que se tornou,
Não se vê realizada
Por estar viva,
Oh, ajudem Aline, oh,
Ela precisa pensar diferente,
Eu preciso a proteger.

Eu plantei flores
Lá na margem,
Chuvas de ouro,
E uma outra amarela
Parecida com ipês,
Oh, lembrem-se dela,
Tenham boas ideias,
Foi a perda de um carro
E mais nada,
Ela está viva,
O motorista do caminhão
Se perdeu,
Foi enterrado,
O que sobrou dele,
Estava a trabalho.

A carga se perdeu,
Acho que era leite,
Se consumiu,
Evaporou.

Estou em Buscas

Bem,
Ninguém nunca se
Importou com Aline,
Até a noite
Em que ela bebeu
Um pouco,
Pegou as chaves do carro,
De salto alto,
Dirigiu,
Derrubou o portão,
E foi,
Noites após isso,
O carro eu encontrei,
Logo ali,
Próximo a ponte,
Eu não soube dizer
Se houve neblina
Ou talvez chuva,
Mas eu abri a porta,
Não havia nada lá.

Não tinha indícios dela,
Seu salto favorito,
Apenas o carro capotou,
Eu acho,
Porquê estava destruído
E nada dela,
Sua bolsa,
Que quando entrou
O policial lá em casa indagar
Sobre ela,
 Eu repensei
Sobre se ela realmente
A usava.

Sozinha,
De salto
E sem dinheiro
A perambular pela estrada,
Oh, eu busco por Aline,
Se você a ver,
Talvez possa me indicar,
A polícia está preocupada,
Eu lhe sinto falta,
Cadê Aline,
Onde estará?

Eu lembro que ela usava
Calça preta de couro,
Ela estava embriagada,
Só um pouco,
Agora me parece tanto
Que eu deveria tê-la
Impedido de sair,
Mas chamei o Luizinho,
E ele constatou
Que estragou bastante o portão,
Então, lhe pareceu
Que eu não poderia tê-la impedido.

Eu encontrei maconha
No carro,
Só alguns cigarros,
Alguns usados,
E nenhuma garrafa,
De rua a rua,
Esquina por esquina
Eu busco por Aline,
Será que ela entrou naquele bar?

Será que agora trabalha
Na boate da qual
Tanto falava?
Eu busco por Aline,
Oh, você pode me avisar
Se acaso encontra-la?

Um salto não leva
Uma mulher tão longe,
Leva?
Que droga de boate,
Bem, me dirigirei para lá...

Se você vê-la,
Me avise.
Olhe, logo ontem,
Uma noite
Antes disto tudo,
Ela passou a maquininha
No cabelo,
E restou só a franja,
No mais ela tem 1,60 metros,
E é magra,
Come bastante,
Gosta de muita água.

Oh, me avisem,
Eu busco por Aline,
Talvez a encontrem,
Me avisem sobre Aline.

Seus olhos são castanhos,
Ficam muito frios
Quando estão com medo,
Ela tem lábios grossos
E eles tremem quando
Ela sente frio.

A Casa da Mãe

O pior olhar do mundo,
Aquele pelo qual
Nenhum filho quer ser alvo
É o de sua mãe o julgando
Independente.

Não,
Nós não gostamos
De fazer nosso próprio café,
Muito menos de sermos
Capazes de cortar o pão.

Está coisa de trabalhar fora,
Morar sozinho,
Trabalhar todo dia,
Tudo isto, mamãe,
Não se iluda,
Ninguém quer.

Não há sentimento
Mais triste
Do que o do filho
Que vai visitar a mãe
Cedinho para barganhar
Desde o café,
E a mãe o considera
Adulto o bastante
Para cozinhar o próprio almoço.

Não mãe,
A gente mal quer
Baixar o volume da tv
No controle remoto,
Sim.

Nós gostamos de tomar
Banho na sua casa
E não na nossa,
E não queremos,
De forma alguma
Secar o chão molhado.

A gente gosta
Da sua cervejinha gelada
Pendurada na porta
Da geladeira,
Mas a senhora não poderia
Servir-nos?

Depois de sentar no sofá da sala,
Tudo o que queremos
É a antiga cobertinha quente
Sobre as pernas,
O ventilador brincando com
Os cabelos,
E a cervejinha servida,
Pois, em única coisa
A senhora está certa:
Nos tornamos adultos,
Podemos beber todas!

Mas, mãe,
Não insista com a história
De cada um limpar
A própria bagunça...

Também, não fique tão irritada
A ponto de querer bater-nos,
Disto, queremos independência.
No mais,
Considere o café,
O pão quentinho
E a mortadela no queijo
Derretido.

Ok.
Dirigir o carro
Nós dirigimos bem,
Mas também,
Não queremos leva-la
Por aí,
Considere o ficar em casa,
E curtir o sofá
E por favor,
Sem chingão,
Muito menos berros mamãe,
Queremos nos libertar
Das más impressões.

Sono

Contam três dias
Sem dormir,
Meus olhos inchados,
Não me deixam
Eu me sentir bem.
Eu sinto medo,
Tenho medo de fechar
Meus olhos
E alguém pegar minha mão,
Tenho medo de o toque
Ser quente,
Eu acordar
E me assustar com o rosto.

Eu não me coloco
Numa balança,
Não é questão de peso,
Ou compatibilidade,
Mas engordei
Muitos quilos,
E me vejo super diferente.

Eu não me reconheço,
Cada vez que passo
Pelo espelho,
Eu me olho por muito tempo.

Não reconheço
Este corpo que vejo.
Flácido e grande,
É como se tudo
Em mim despencasse,
Meus seios estão crescendo,
Minha bunda está enorme,
E ela dança muito bem
O funk.

Mas no mais,
É como se minha gordura
Fosse saltitante,
Meus músculos doem,
Caramba estou muito
Depois dos trinta anos.

E garota,
Eu odeio tudo que vejo,
Eu desejo mil vezes estar sozinha,
Acordar e não ver nada
Além de mim mesma.
Ora, eu estou chateada.

Eu compro roupa em um dia,
No outro fugiu o tamanho,
E eu sei que foi
Quando capturei
Todas aquelas frutas,
E comi feito louca.

Mas, na verdade
Garota do espelho,
Eu gostaria de estar aqui com alguém,
Deitada nesta cama,
Sentindo um abraço,
E transando por todo tempo.

Eu odeio contar o tempo
Para vê-lo,
Economizar nas horas
Quando ele está,
E pensar:
Será que sou legal para ele?

E quando ao outro
Que está bem mais comigo,
Eu nem queria estar,
Mas não posso fugir,
Isto não é questão de peso,
Aí eu caio em mim,
E como um outro pouco,
Lambo minha imagem
Refletida neste objeto,
Repouso a testa
Sobre o que seria meu peito,
E fico:
É ruim demais estar deste jeito.

Aperto,
Aperto,
E aperto,
O carinha que estou afim
Disse: cuidado garota
Para não se ferir,
Há coisas simples que
São de morte.

Eu sorrio,
Procuro dormir,
Canso de estar aqui,
O dinheiro está contado,
Eu não suporto as despesas,
Eu não posso ter tudo que gosto,
Ou estar onde quero.

Ah,
Aquele garoto do passado?
O que me rejeitou
E todas sabem:
Ele se impõe a estar,
Eu me sinto cansada,
Aí ele impõe a outra presença.

Mas paga a passagem
Do garoto que estou paquerando,
Isto é bom,
Preparo um café,
Esquento o chá,
Um gole,
E outro.

De certo,
Não estou tão gorda.
Mas queria que este peso
Sobre minhas pálpebras
Me ajudassem
A pegar no sono.

Sim

Celio estava dirigindo Compassivo o seu Vectra branco, Escolheu aquele carro Para levá-lo Ao seu próprio casamento, No in...