quinta-feira, 27 de março de 2025

Roda de Mate

- ai, Marli, que linda
A Line vestida pra ir
Na aula.
Indagou a cunhada,
Para a outra,
Se referindo a sobrinha.

- ah, ela é linda sim.
A mãe respondeu,
Toda orgulhosa,
Vendo os dois irmãozinhos
Indo pra aula,
Mochilinha nas costas,
Esperando o ônibus.

- mas que tamanho ela veste?
Indagou a cunhada.
- ah, tamanho evidente.
A outra respondeu,
Virou pro lado
E encheu outra cuia
De chimarrão e serviu
Pra cunhada.

- como assim?
As duas sorriram.
- ah, de longe olha pra ela
E vê que é,
Olha só as perninhas dela,
Desfilando parece adulta.

A mãe doida para ver
A filha crescida e mais forte
Para ajudar nos serviços da casa.
- e as roupas da Edir serve?

A tia indagou,
Pois sempre trazia roupas
Suas e das filhas,
As já usadas,
Para doar pra menina
De treze anos.

- ah, não. Já usa
As do tio.
A mãe respondeu,
Pegou a cuia do chimarrão
E encheu de volta
Para tomar.

- não sei como a Edir de trinta anos
É tão pequena,
E usa roupas tão pequenas.
A Line não.
Do tamanho que ela é,
Ela usa.
As duas riram muito.

Até aquela de colocar
Embaixo do boné
Pra segurar não serviu
Pra menina.

Mesmo assim, ela se esforçou
Vestiu e usou sobre o nariz
Na parte em que a aba
Do boné não cobre o sol.

A tia ficou quieta e insegura,
Depois de cuia na mão,
Alguns goles para restabelecer
O autocontrole,
Confidenciou:
Aí Marli aquela era de pôr
Na perna da Edir
Pra ir na baladinha...

Azar teve a Line,
Que não sabia
O modo de uso,
Mas ficou top,
Nos outros dias todas
As garotas usaram
Da mesma maneira
Que ela.
(As outras já tinham
Em casa e em uso).

A Ruína do Templo

Entre o povo,
Iniciou a construção
Do melhor templo.

Cada família doou
O que tinha de recursos
Sem que, com isso,
Prejudicasse seu sustento.

Enquanto, isto,
O povo se reunia na praça,
Lendo o Alcorão e rezando,
Todas as noites.

A cada noite iam pessoas diferentes,
Algumas iam todos os dias.
Em família, abraçados
E unidos rezando.

Não tardou,
Com a ajuda de todos
O templo ficou pronto,
As orações foram
Transferidas para lá,
Contudo, outros continuaram
Indo até a praça.

Sebastião, no templo,
Gostou de um homem,
Ele cobrava por sexo,
Pois estava carente de alimento.

Sebastião, transou com ele,
Beijou sua boca,
Pagou a dinheiro.

Outros sabendo
Do ocorrido,
Feriram suas esposas,
E imitaram Sebastião.

Este homem, Horschide,
Não conseguiu emprego,
Mas tirou sustento
De sua família através de sexo.

O Alcorão rejeitou este ato.
Sebastião arrancou a página
Que dizia isto,
E guardou no bolso.

Seguiu-se a leitura.
A esposa de Sebastião,
Rosadesfokhada,
Soube do ato dele,
Sentiu repúdio,
Procurou no Alcorão
Uma forma de defender-se,
Nada viu.

Mas tratou de vir antes
De todos no templo,
E falar de Sebastião
Para todos que pôde.

Alguns rejeitaram a atitude
E não procederam assim,
Outros buscaram está forma de vida.
O prostíbulo foi erguido
Em três dias.

O templo ganhou adeptos
Dentro e fora,
E sexo em seus compartimentos,
E em suas paredes.

Zendara ouviu os gemidos,
Encerrou a leitura
E foi verificar o que era,
Encontrou Seu Fenveito,
Com duas das leituras mais
Assíduas.

Começaram a um fuxicar
Da vida do outro,
Houve muito o que falar.
Vendo o comércio fechado,
E todo povo no templo
Em oração,
Alguns se desviaram.

Um quebrou a porta a
Socos e chutes,
E outros que passaram
Ajudaram a roubar.

Viram moças indo a igreja,
E as cercaram.
Estupraram-nas,
Com violência,
Ameaças e morte.

Mas, o Alcorão
Nunca deixou de ser lido,
E discutido em família.
Algumas se reuniram lá
E escreveram músicas
Com desejos e agradecimento para Allah.

Outros foram escolhidos
Para cantar,
E outros para os instrumentos.
Sebastião tocava a sanfona.

Seu filho,
Criança e leitor de doze anos
Cantava.
Allah é bom,
Allah é bom,
Allah é bom e perdoador,
Ele guia o oprimido,
Salva o compassivo,
E descarta o violento.

Allah é bom,
Allah é perdoador,
Allah é misericordioso,
Allah nos abraça
Em seu amor,
Allah, mora conosco?

Aqui é sua casa.
Allah vive em nós,
Allah, querido,
Bondoso e perdoador.

Dona Genaire,
Passou pela vizinha
Leiturista do templo,
E a viu com pouca roupa
Para o inverno rigoroso,
Ela a ignorou,
Dentro da igreja sentou longe,
Falou tudo que pôde.

Sobrando roupas no armário,
Dona Genaire a pôs no fogo,
E algumas levou até o templo,
Com uma lista de família necessitadas,
Leu todos os nomes,
E depois doou,
Sorrindo na frente de todos.

Para o bom ato,
Nada melhor que o público
Para dar credibilidade,
E expor o necessitado,
A espera da piedade dos outros,
E de suas benevolências
Através do fornecimento
De algum meio para o sustento.

Casa família de lá,
Reuniu doações,
E trouxe listas,
Mesmo a do Vanquireo,
Que só tinha um casaco
E dividia entre a esposa
E dois filhos.

Doações reunidas
Dentro da igreja,
Em frente ao altar,
Nomes lindos,
Gente chorando,
Outros com vergonha,
Muitos agradecendo,
E poucos ajudando com
Os volumes de doações.

Certa vez,
O filho de Sebastião
Não quis ir rezar.

Naquela noite estranha,
Uma estranha vontade dominou
A vontade de muitas pessoas,
Algumas esparsas entre a família,
Outras a família inteira,
E não foram rezar.

Iniciada a leitura,
Os corações ficaram tristes,
Mas não sabiam porquê,
Não foram até lá.

Nesta noite
Houve um barulho terrível,
A igreja começou a ruir,
O povo começou a olhar
De um para o outro,
E o melhor dentre eles,
Eram as prostitutas,
Vestidas em suas roupas
Sugestivas,
E Dona Marcira que bateu
Em todos ali
Por ciúmes das garotas,
Já que transou com cada um
Dos presentes no decurso
De seus trinta e oito anos.

Sentou-se ela lá atrás,
E de lá apontava o dedo,
Dizia um nome,
E mandava chinelada.
A igreja berrou
Como se ganhasse vida,
E os Alcorão suaram
Na mão de cada um,
Parecia chorar.

Quando foram fugir
Do barulho intenso,
Tijolos desceram do céu,
E impediam passagem,
Os mais corajosos
Juntaram os Alcorão
E jogaram contra os tijolos.

Os tijolos moveram-se
E se tornaram anjos de fogo,
Anjos da morte,
Abriram suas bocas e
Relataram: morte.

Todo o povo tremeu,
Correu,
E começou a matar um ao outro,
E a parede iniciou a se partir,
Então, tentaram seduzir
Os anjos,
E apedreja-los com os Alcorão,
Mas os anjos eram imunes,
Não deixaram um único sair dali.

Eles os chamaram de deuses,
Alegaram que iriam adora-los,
Alguns prostraram-se
Para os anjos da morte.

Mas não houve movimento
Nenhum deles,
“Mentirosos vocês só adoram
Vossas paixões”.

E nisto o templo ruiu,
Caiu todo o teto
Sobre eles,
Caíram as paredes
E soterrou todos.

Declarações Pela Cidade

Quando a rainha
Se apaixonou,
Todo povo soube.
Até o Gilben.

Houve nisto
Poemas declarados
E imprevistos.
Presentes amigos
E familiares,
Todos homens.

Teve aquele que não compreendeu
Que se tratava de amor,
Houve aquele que a odiou,
E aquele que acreditou
Que era para ele.

Este aceitou o primeiro convite,
Sem saber de quem se tratava,
Marcou encontro a beira mar,
As escondidas,
Sem ir buscar,
Cada um chegava lá
Por si próprio.

Por ato de vontade,
Ele levou flores,
E foi todo bonitão.
Chegou lá
E encontrou a garota,
Odiou.

Não era a outra?
Jogou as flores no mar,
Não a cumprimentou
Nem nada.
A garota se irritou,
Empurrou ele na água
E se foi.

O bonitão não sabia nadar,
Afundou e não voltou mais.
Ela usava vestido pesado
E comprido,
Se o usasse na água
Iria afundar devido ao peso,
Foi obrigada a tirar,
Pois viu que o garota não emergiria
Até a superfície.

Retirou,
Soltou no chão e mergulhou,
O encontrou no fundo
Da água,
Puxou e o levou
Até a beirada da calçada.
Lá houve o beijo,
Por quê não?

Um tórrido beijo quente,
Entre um rapaz de sobretudo
Preto e todo vestido,
E uma garota nua.
Houve nisto sinal de respeito,
Ele não tentou força-la
A nada.

Então, tornaram-se para ela
Namorados
E para ele, não sei.
Porquê a outra continuou
A escrever,
Comprou o mercado
E algumas casas da vizinhança
E cobriu com o nome do rapaz,
Handy, te amo.

Teve Handy te amo por todo lugar.
Sabia- se se tratar do apelido do
Garoto que ela amava.
Mas houve aquele para quem
Este era um nome.
Seu próprio nome.

Passou a sair com todas que via
Desde que soubessem a escrever.
Saiu com uma, duas, três e quatro
Por noite.
No décimo mês,
Já não andava ou sentava
De tantas dores musculares,
Decidiu revisar
Passou a questionar
Com quem saia
Seus nomes,
Famílias e por fim,
Cansou-se,
Foi logo indagando
Quem estava escrevendo
As declarações todas.

Todo dia surgia nova,
Aonde ia tinha outra.
Soube que foi nenhuma.
Nenhuma daquelas com quem saiu.
Ficou irritado
E cansou de namorar
Todas que conhecia
Apenas para ser cobiçado.

Também, não aguentava
Fugir das que conhecia,
E esconder uma da outra,
Que ele,
Bom,
Ele tinha mais de um relacionamento
Ao mesmo tempo,
Aliás, bem mais.

Foi o dia,
Que a garota conseguiu
O encontro com o Handy,
Houve obrigada por vir
Em todo lugar.
Eu te amo, Handy.
Obrigada por vir.

Gostei de estarmos juntos.
Foi um susto geral,
Existia o Handy
E deu certo o relacionamento,
Mas o Handy nunca surgiu,
E nem a garota das declarações.

Houve um burburinho geral
De quem poderia ter escrito
Aquilo tudo,
Um sentimentalismo evidente,
Um amor irrepreensível,
Depois, tentaram descobrir
Se Handy era masculino
Ou feminino.

Nenhum rosto se destacava,
E o amor correu solto.
Nenhum casal exatamente junto
Muito menos sem amor.
Logo nisto,
Nova mensagem:
Ok amor, eu te espero.

Te amo,
Será a melhor noite.
Pronto,
Ninguém mais dormiu,
Homem casado perdeu o sono,
E houve mulher casada
Que arrumou desculpa e saiu.

Para onde?
Será que Handy era codinome?
Algum código secreto,
Então, se tratava de qualquer casado.
Houve guerra na família,
Criança puxada pelo pai,
Puxada pela mãe.

E Handy, iria ou foi?
Girson, pegou o helicóptero
E sobrevoou a cidade,
Nisto foi óbvio,
Entre tantos encontros,
Ninguém encontrou Handy
Nem se desencontrou,
Então, se tratava de outra cidade.

Houve Handy eu te amo
Gritado de helicóptero,
Passagens pras vizinhanças
Adquiridas,
E povo fugindo,
E povo procurando.

Aí, Handy encontrou Aline
Ali mesmo na cidade,
Ao lado do mercado dela,
Onde ela morava
E a pediu em namoro.

Fogo Tentador

Uma voz emergiu
Por entre as nuvens,
Anunciando ao povo
Que se prostrassem,
Conhecessem o Alcorão,
E andassem em concordância.

Lá do céu,
Via-se perfeitamente
Aquela cidade que unia
Duas cidades,
Dois povos.

Todos se prostraram,
Houve reunião com data marcada
Para leitura de trechos
E discussão de como praticar,
E medidas respectivas
Para buscar recuperar o erro.

Destas medidas,
Nenhum do povo seria abandonado,
Os olhos de Allah são limpos
E possuem boa visão,
Nada se escapou de seu olhar.

Houve no povo
Aquele que escolheu mentir
E preferiu o erro.
Este entrou através da escada
De sua residência
Em sua própria casa.

Encontrou sua boa esposa,
Fazendo o almoço no fogão,
Levantou seu vestido,
Acariciou suas nádegas
E foi para o quarto.

Fechou a porta.
Lá na cama,
Estava sua própria filha,
De dois anos,
Dormindo feito um anjo,
Usava um vestido,
E uma fralda,
Pois era ainda bebê,
Não continha a urina
Ou a merda.

Ele deitou ao seu lado,
Sentindo-se renovado
Por ser pai de uma criatura
Tão linda e indefesa.

Então, levou sua mão
Por baixo do vestido,
E tocou suas partes íntimas,
Isto lhes resultou uma ereção,
Ele virou-se mais para ela,
Ergueu o vestido
E beijou sua barriga,
Cheirosa e fresquinha.

Retirou sua fralda,
Levou sua mão ao próprio pênis,
E subitamente, gozou.
Sentiu um orgasmo
Com sua própria filha.

A mãe, agora lavava a louça,
Ouvia-se o barulho
Proveniente de panelas sujas.
Ela estava quieta,
Queira demais,
Ele sentiu-se um menino.

Suor escorreu por seu rosto,
Molhou sua camisa,
Ele era jovem,
Já não tinha mais trinta anos,
Era um bebê,
Mas, um bebê grandioso.

Olhou para a menina
De volta,
Retirou sua fralda,
Deixou suas partes íntimas
Expostas,
Soprou sobre elas,
Elas eram convidativas,
Cuspiu entre seus lábios.

Sofreu outra ereção,
Não resistiu a tentação,
Ergueu-se sobre ela,
Agora, ele sentiu-se soberano,
Pegou seu pênis
E esfregou nela,
Sua genitália pulsante,
Quente e roseada,
Houve um barulho
E uma explosão,
Outro orgasmo.

Allah, viu tudo.
Seus olhos são perfeitos,
E ele discordou disto.
Chamou a esposa
E exigiu atitudes dela.

A esposa empurrou a porta,
Estava trancada,
Seguindo seu coração
Ela empreitou força
E abriu-a.

Encontrou seu esposo lá,
Sobre a filha,
De roupa,
Mas em posição incomum.
Pigarreou.

Mas tudo estava feito.
Ela correu para pegar a criança,
A ergueu nos braços,
O empurrou.

Ele se levantou,
Guardou o pênis,
E lhe soqueou o rosto,
Bateu muito forte,
Agora ele era um poderoso.

Ele havia se tiver tido
Com a brincadeira,
Não iria parar.

Ela caiu com a criança
Nos braços,
Ele bateu em sua cabeça,
Ela chorou.
Ele a pegou pelo pescoço,
Estancou o choro.

Só lágrimas escorriam
Por sua cara,
Nenhum soluço,
Nenhum suspiro.
Dor estampava-a,
Ela abraçou a filha.

A guardou em seus braços,
Ele bateu mais e mais forte,
Seus ossos gritariam,
Mas, ossos não falam.
Ele levou a perna,
E lhe bateu com o pé,
Em plena sua cabeça.

Ela caiu imóvel,
Com a criança no colo,
A criança chorava.
Ele saiu para fora,
Juntou a comida,
E saiu.

Retirou toda a comida,
Mesmo a não cozida.
Quando voltou
Ela havia se levantado
Para procurar comida,
Não havia nada.

Nisto correram-se os dias,
Ambas sem comer,
Ela retornou ao hábito
De amamentar.

Ele sempre voltava,
A noite enquanto ela dormia
Desmaiada de fome,
Ele procurava a criança,
Não parou.

Depois disto,
Lhe roubou toda a roupa
A deixando nua,
Então, abriu a porta
Que até ali ficava trancada,
E lhe deu comida.

Pouca comida.
Ela ficou magra e esquálida,
A criança despendeu seus ossos,
Ele era trabalhador honesto,
Todo sábado ele escolhia
Uma tora do Alcorão para ler
E discutir,
Era homem respeitado
No povo.

Ela mulher honesta,
Respeitosa do marido,
Não trabalhava,
Seu ofício consistia
Em cuidar da limpeza da casa.
Cuidar dele,
Fazer por ele todo o melhor.

Como iria sair para fora nua,
E apenas com palavras
Para contar os atos
De homem tão respeitado?
Allah viu lá do céu.
E gritou.

Que todo povo fosse embora.
Ela foi condenada a ficar.
Ocorre,
Que o povo pecador também
Não iria,
Mas aquele marido
Não se julgava pecador.

Ela chorou com seu filho.
Ajoelhou-se em frente a sua escada,
Com a criança agora aos
Cinco anos no colo.
O povo foi,
Deixou poeira e desgosto.

Ela aprendeu a trabalhar
E sobreviver.
Fez uma fogueira
Em frente a sua casa
Por medo
E nunca parou de manter
O fogo aceso.

Juntou o Alcorão sujo
De teia de aranha,
Limpou-o,
E aprendeu a ler.
Sentou ao lado do fogo,
E leu toda vez,
Sem importar-se com o dia.

Um dia o fogo
Deixou de fazer fumaça,
E sua labareda
Nunca apagou-se.
Ela desejou um homem,
Um bom homem
Em casa dia de sua vida.

Allah a viu do céu.
Se apiedou.
Diz-se que ele a guiou
A aprender a ler.
Passou um ano,
De labareda, leitura e trabalho.

De repente,
A labareda se partiu em duas,
Saiu de lá caminhando
Um lindo homem,
Forte másculo e nu.

Ela sentiu medo,
Se agachou e abraçou a filha.
Ele era feito do fogo.
Vermelho marrom feito o fogo.

Ele queimava,
O fogo se estendia sobre ele
Feito roupa o cobrindo,
Feito cabelo percorrendo
Sua coluna.

Ele tocou ela nos ombros,
Ela sentiu segurança,
Precisava de um homem,
Mas nunca sentiu maior medo.

A criança se levantou
De meio aos seus braços
E correu.
Quando a menina o olhou,
Não o viu nu.

Só viu o fogo queima-lo,
Devorar suas partes,
Sem fumaça,
Ou produzir dor.
Então, ela ajoelhou-se,
Pegou as mãos da mãe,
E falou.

Contou seus medos,
Relatou suas dores
E gritou a falta da mãe.
A casa olhar ela chorou,
A cada frase gritou.
Sentiu tudo de volta.
Relembrar faz doer.

O homem permaneceu
Com a mão no ombro
Da mãe.
Depois de ouvir tudo
E soluçar suas dores,
A mãe se sentiu forte
Outra vez,
Agora lhe era permitido
Expressar suas dores.

Munindo-se de seu amor
Pela filha,
Ela levantou-se,
E o homem não a soltou,
Nisto, ela virou-se
Para trás,
Não sentiu medo
De deixar a filha
Fora de seu olhar
Por poucos segundos.

Viu o homem
Pelos olhos da filha
A arder e queimar,
Então, um amor súbito a tomou.
Ela retornou a olhar,
E ele parou de queimar,
O fogo tornou-se cabelos,
E cobriu seu corpo nu.

Ela sorriu,
Ele era absolutamente perfeito.
Ela foi para dentro de casa,
Juntou um lençol,
O costurou e o entregou.

Ele vestiu-se,
Foi tirar lenha,
Trouxe carne,
Comprou mantimentos
Ao vender a lenha.

O estranho de tudo isto
Que se alastrou
Pelo povo pecador que ficou,
É que ele não permitia
A ninguém aproxima-se.

Se alguém tentava
Toca-lo
Ele queimava.
E queimava desde a mão
Da pessoa,
Até sua boca
Conforme lhe falassem.

Sem mover-se
Ou esforço.
Simplesmente, queimava.
Queimaram-se olhos,
Derreteram até os rostos.

Algumas mulheres não entendiam
O desejo,
E ter seus olhos queimados
Não bastava.
Enquanto houvesse face,
Havia a tentação e o desejo.

Queimaram-se criança.
Ele não tinha culpa,
Foi algo que veio daquele fogo.
Uma espécie de amor puro
Por aquela mulher e filha.

Então, ele vendeu a lenha,
Comprou comida e voltou.
Chegou a escada de casa
E chorou,
Chorou muito.

Sentiu medo de perder a mulher,
Ele sentia-se em fogo
Ao vê-la.
Ver a menina de seis anos
O apiedava e um calor o invadia,
Ele não queria perde-las.

Chorou e gritou
Para que não chegasse perto,
Mas, ambas ficaram surdas
E correram até ele,
O abraçaram e nenhum fogo
Os tocou,
Nem mesmo a fogueira
Que ardia viva e sem fumaça.

Então, ele ergueu
A menina em seus ombros,
E beijou a boca da mulher.
Não houve fogo.

Um homem passava por lá,
Riu de seu amor,
E desejou toca-lo
E queimou enquanto ria.
Queimou por completo,
Até o chão em que pisou.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Aproveitador

Eu cheguei tarde,
Em casa,
Soltei a mala
Do lado da porta,
Encontrei Aline no banheiro.

Oh, Aline, oh.
Você estava sangrando,
Havia sangue
Em toda parte,
Oh, Aline, oh.
Você estava sentada
No azulejo,
Eu disse
Oh, Aline, oh.

Você olhou e disse
Um aborto.
Eu me sentei atrás
De você,
Te apertei entre meus braços,
Oh, Aline, oh,
Nosso filho se foi.

Te escapa assim,
De forma tão simples,
Oh, Aline, oh.
Você acha que há culpa,
Minha ou sua?
Oh, Aline, oh.

Eu não deveria ter viajado,
Por quê me demorei,
Por Deus,
Parece que você sabe.
Ela ligou o chuveiro,
Sentou outra vez,
Deixou a água cair
E levar o bebê,
Oh, Aline, oh.

Eu estava com outra,
Me perdoa.
Isto lhes custou,
Me custou.
Eu fui um burro,
Não presto, tchau.

Ela deixou a água
Molhar seus cabelos negros,
Eu me voltei,
A vi chorar
E disfarçar no chuveiro,
Aline, oh.

Me desculpa,
Eu menti pra você,
Isso nos custou nosso bebê,
Por quê fui um rolo,
Um idiota com você,
Oh, Aline, oh.

Por quê?
Por quê?
Querida minha,
Eu levei a outra comigo,
Te deixei sozinha,
Traí você,
Fui falso no que sentia,
Perdi nosso bebê,
Não me vejo recuperar,
Não sei o que fazer,
Oh, Aline, oh.

Isto te custou teu cu,
Que droga,
Eu vi aquele cara sair,
Que merda,
Ele estava feliz,
Nem eu fora
Fiquei tanto assim.

Que droga,
Ele te meteu tanto,
Que porra,
Por quê eu saí para meter?
Ah, Nosso bebê,
Nosso bebê.

Aline, oh.
Está cuidando de cuidar
De proteger,
Que droga,
Perdão,
Eu falhei,
Ah, estou de joelhos
Abraçado a você,
Não posso te deixar,
Cara,
Veja nosso filho escorrer,
Ele se foi,
Restou eu e você.

Oh, Aline, oh.
Eu soube que você deu o cu,
Eu soube do custo,
Eu sabia o resultado,
Eu deixei ir a merda,
Querida, eu fiz isto
De nosso filho escorrer.
Oh, Aline, oh.

Eu saí com outra,
Traí você,
Te deixei sozinha,
Eu falhei em te proteger,
Agora você está em sangue,
E nosso filho se vai para o ralo.
Oh, Aline, oh.

O que eu fiz para você?
Me perdoa, eu falhei,
Oh, Aline, oh.
Eu te pego no colo,
Ergo na água do chuveiro,
Você parece me perdoar,
Tão frágil em meus braços,
Eu me vejo vacilar,
Oh, Aline, oh.

Desculpa minha urgência,
Mas gostaria de transar,
E poxa,
Você é a que eu sei amar,
Vou te meter agora,
Entre nosso filho
A escoar e está água a derramar,
Oh, Aline, oh.

Você sofre agora,
Amanhã vai passar,
Eu vou te cuidar,
Eu posso ficar,
Eu posso estar,
Oh, Aline, oh.

Nosso filho
Não vai poder ficar...
Te beijo agora
Como não faria com outra,
Oh, Aline, oh,
Um filho
E um traidor,
O outro,
Oh, Aline, oh.
O aproveitador.

Socado Na Traseira Dela

Oh, ninguém se importa
Em ter um carro
Socado no rabo,
Até que o carro a socar
Seja o seu.

Oh, maldita avenida,
Sempre corrida e lotada,
Encontrei Aline,
Ela decidiu dirigir devagar,
Eu disse garota,
Aumenta a marcha,
Pisa no talo,
Ou viu passar.

Ela me ignorou cara,
Pensa Aline,
Olhou pelo retrovisor,
Tirou a franja dos olhos,
E faltou só parar,
Eu fui com tudo,
Meti na traseira dela.

Depois senti pena,
Destruí,
Entre lá dentro em quinta,
Ela estava próximo a faixa
De pedestres,
Bem quando a Tânia foi passar,
Ela roçou na garota,
Fez uma manchinha
Naquela perna branca
E magrela.

A garota correu,
De tão devagar
Que estávamos,
Mas, também,
Eu levei Aline alguns
Metros arrastada,
Dentro, cara,
Dentro,
Metido,
Socado no carro dela.

O que a Tânia tinha que passar?
Não pode ver faixa
Já pensa que precisa atravessar?
Agora são dois carros
Para concertar,
Eu disse
Aline, o certo é você pagar
Toda a conta,
Garota você manja
Nos paranauê de ir devagar.

E você Miguelito,
O que tem a dizer?
-Cara, eu só tava olhando.

Oh, Aline, Oh

Oh, ninguém se preocupou
Com aquele trajeto
Da BR 282,
Até que Aline se acidentou,
Oh, eu lembro
De tê-la retirado
Das ferragens,
Ela estava presa
Dentro do carro,
A metros do caminhão
Que provocou tudo.

Oh, eu conheço Aline,
Ela dirige muito bem,
Jamais teria errado
A marcha,
Ou andado em alta velocidade.

Oh, eu fui um dos primeiros
A chegar naquele maldito lugar,
Ainda quando estava lá,
O caminhão pegou fogo
E o fogo atingiu-a,
Só um pouco,
Ele feriu seu rosto a valer,
Oh, você não a reconheceria,
Ela mudou,
Oh, Aline, oh.

Ela teve a perna decepada,
Suas pernas grossas
E lindas,
Foram estilhaçadas,
Oh, baby,
De uma nada sobrou.

Eu fugi com ela nas costas,
Aline em chamas,
Eu louco e tenso,
Do motorista do caminhão
Eu nem sei,
Só sei que o fogo se alastrou,
Tocou a mata da margem
E correu para as proximidades,
Oh, Aline, Oh.

Eu imagino
Que o caminhão vinha
Muito rápido,
Não venceu fazer a curva,
E tombou,
Nisto a levou,
Oh, veja a foto no jornal,
Sobre o acidente,
Oh, ela foi aquela garota legal,
Que ajudava todo mundo,
Que parecia até próxima demais.

Oh, ela está sofrendo,
Seu rosto se deformou,
Não se reconhece
Único traço do que foi,
Oh, aquele caminhão
Foi prepotente,
Eu acho que o motorista
Nem dirigir soube.

Oh, ela chora
E diz: me matou.
Se olha no espelho,
E cai em lágrimas.
Oh, ela reza para Deus
Pedindo que a leve,
Não, Aline, não.

Será que o cinto
De segurança não ajudou?
Oh, como eu queria ter chegado
A tempo,
De alguma maneira
Ter impedindo tudo.

Oh, veja lá na curva da BR 282,
Há vidro quebrado,
Sangue coagulado seco,
Riscos amarelos no asfalto
É a tinta do carro dela,
E sinais de pneus freados,
Oh, Aline tentou,
Ela foi forte lutou.
Oh, Aline, oh.

Ela não usa drogas,
Não usa álcool,
Oh, maldito caminhão,
Enorme e carregado,
Por pouco não a esmaga,
Por sorte
Apenas a retirou da pista,
Oh, Aline tenta lutar, oh.

Não se suporta
No que se tornou,
Não se vê realizada
Por estar viva,
Oh, ajudem Aline, oh,
Ela precisa pensar diferente,
Eu preciso a proteger.

Eu plantei flores
Lá na margem,
Chuvas de ouro,
E uma outra amarela
Parecida com ipês,
Oh, lembrem-se dela,
Tenham boas ideias,
Foi a perda de um carro
E mais nada,
Ela está viva,
O motorista do caminhão
Se perdeu,
Foi enterrado,
O que sobrou dele,
Estava a trabalho.

A carga se perdeu,
Acho que era leite,
Se consumiu,
Evaporou.

Liberdade Para Viver

Não são poucas coisas Que fazem minha vida Se assemelhar a uma novela, Com roteiro escrito Por mais estranhas a eu, E o pio...