sábado, 30 de agosto de 2025

O Que Sobrou do Nosso Amor

“Seus filhos são os mais perfeitos.”
Disse a mãe,
Olhando ambos os bebês
Serem trocados as fraldas,
Enquanto Saionara amamentava
Um por vez.
“Obrigada mãe,
Guardam seu sorriso “.
Saionara respondeu.
“Eu discordo tanto
De você ter sido mãe solteira.”
Esmeralda falou.
Saionara ergueu o olhar
Para a irmã que estava
Parada olhando em frente ao roupeiro,
E sentou-se sobre a cama
Para amamentar
Com mais calma.
“Você sabe Esmeralda
Que não tive escolha”.
Saionara respondeu,
Voltando o olhar para os filhos.
“Teve sim,
Deveriam ter se protegido,
Tentado evitar...”
Esmeralda continuou
E logo se viu calada pois
Marieb pegou o bebê
Que estava sobre a cama
No colo e o levou até
Os braços de Esmeralda
Lhe alcançando a criança.
“Logo Cristal chega
Com Eric.”
Os olhos de Saionara
Lacrimejaram
E instintivamente
Ela puxou o bebê para o colo
Quase o apertando
Enquanto ele amamentava.
Ela ficou triste ao perder
Eric,
Foi seu momento mais horrível,
Estar grávida lhe deu forças
Para encarar o erro
De tê-lo amado.
Logo ele iniciou o namoro
Com sua própria irmã
Sidineia.
Nunca quis saber dela,
Nem percebeu a gravidez
Ou prestou qualquer auxílio.
“Eu preferiria que ela
Não visse os filhos,
Mãe, você sabe da minha dor...”
“Por quê?”
Uma voz masculina
E reconhecida indagou
Da porta do quarto.
Eric estava ali,
Parado e já fazia algum tempo,
Saionara sentiu sua presença,
Ela jamais deixaria
Que ele chegasse despercebido,
Antes por ama-la,
Depois pelo ódio que sentiu
Ao vê-lo com a própria irmã.
Saionara caiu da escada,
Sofreu sangramento
E a gravidez não foi nada fácil,
Passou muito tempo no hospital,
Teve que se afastar do trabalho,
Ficou enclausurada
Sem poder sair,
Espairecer ou vê-lo.
A verdade é que durante
A gravidez sentiu extrema saudade,
Sentiu como se os filhos
Buscassem o pai,
Desejassem ouvir sua voz,
Soubessem que ele
Não estava perto
E precisassem dele
Mesmo dentro no útero,
Iniciando sua formação.
“por quê?”
Ela indagou com a voz rouca,
Olhando incrédula
Para a porta.
“Sua mãe ligou para Sidineia
E me falou da gravidez.”
Eric entrou no quarto
Com um pacote de presente
Em mãos,
Então, viu ambos os meninos
E sobressaltou o coração,
Seus olhos denunciaram carinho,
E algo de reconhecimento.
“São meus”.
Ele disse, imediatamente.
Ela manteve o contato visual,
Seus lábios tremeram,
O choro correu pela face,
E o bebê olhou para Eric
Levantando a mão
Enquanto sugava o peito
Da mãe.
“Ele... O chamou”.
Ela disse, incrédula.
Ambos os filhos eram muito
Calmos e quietos
Nunca buscaram contato,
Pareceram realmente reconhecer ele.
Naturalmente, Sidineia
Chegou até a porta,
Buscou o braço de Eric
E o beijou no rosto
Em representação de carinho.
“Amor o que há?”
Ela indagou
Então olhou para as crianças
Se eriçou e deu um passo
Para trás
Como se tivesse sido agredida.
“São... Crianças!”
Sidineia concluiu boquiaberta.
“São meus filhos,
Nasceram está manhã.”
Respondeu Saionara.
“Oh, sem pai?”
Ela alfinetou.
Saionara simplesmente
A olhou com raiva e medo
E calou-se a olhar o filho,
Que sorriu.
Eric ajoelhou-se
E beijou o bebê no rosto,
Rapidamente ele dormiu,
Saionara o soltou no berço
E Esmeralda lhe entregou
O outro para o aleitamento.
“São tão lindos,
Parecem tanto comigo”.
Eric disse.
Saionara voltou a sentar
Sobre a cama.
Ficando muito próxima a ele.
“Eu a perdoaria
Se fossem meus
E você tivesse ocultado.”
Ele continuou
Ainda ajoelhado
Ao lado da cama.
Depois ele estendeu
Os braços para sobre
Os lençóis baixou a cabeça
Sobre as mãos e chorou.
“Você me deixou por minha irmã,
Você preferiu a juventude
E lascívia dela,
Não teria como serem
Seus filhos “.
Saionara defendeu-se.
Neste instante,
Ela nutria ódio
Por Eric,
Uma espécie de ciúmes
Incontrolável e remorso
Por toda a dor que passou
Sozinha.
“Ora, você não é mulher
Para ter filhos sem pai.”
Ele disse.
“E então todo homem
Que não presta
Precisa ser você?”
“De quem seria
Se não seu, Eric?”
Interveio Marieb.
“Mamãe?”
Gritaram Esmeralda e Sidineia
Em uníssono.
Saionara simplesmente
Se retraiu.
“Saiam todos do quarto,
As crianças estão dormindo.”
Ela respondeu rígida.
Eric secou as lágrimas,
Olhou profundamente
Para o rosto de Saionara
E pegou no braço de Sidineia
Se afastando
Com ela para fora do quarto.
Saionara se sentiu em paz,
Esmeralda permaneceu
Com ela,
Pegou sua mão
E ajoelhou-se ao lado
Da cama.
Olhando firme para ela.
“Eu não vi você com outro,
Minha irmã.”
Respondeu Esmeralda.
“Foram um ano e três meses,
Eu lembro,
Você marcou no calendário
Do roupeiro,
E rabiscou cada dia que o viu
Por ser especial...
Não merecia ter ganhado
Este fim tão triste.
Ela disse,
Com os olhos chorosos.
“Quando se é mãe
Nenhum fim é triste.”
Saionara respondeu.
“Ele dormiu com nós três,
Somos irmãs,
Penso agora que foi um erro.”
Saionara abraçou
A irmã com uma mão,
O bebê fechou os olhos
Para dormir.
“Isso ocorreu no passado
Esmeralda, hoje ele está
Namorando com nossa irmã
Mais nova,
Ela é imatura,
Mas eles estão felizes”.
Saionara continuou.
“Você não entende Saionara,
Nestes sete meses
Em que estão juntos
Sidineia abortou muitas vezes,
Eric a odeia,
Contudo, mamãe o impediu
De deixá-la.”
Esmeralda suspirou,
Depois continuou:
“Você sabe como ela é,
Traiu ele com muitos homens
E nunca soube
Nem quem seria o pai
Dos abortos.”
“Oh, Esmeralda,
Que situação horrível,
Não quero saber disso.”
Saionara soltou
O bebê sobre a cama
E deitou ao seu lado
Para vê-lo dormir.
Realmente, se Eric
Tomou conhecimento dos abortos,
Ele deve ter nutrido muito ódio
Pois ele sempre foi categórico
Quanto a rejeitar a ideia.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Polícia e Tiro

Sirenes, buzinas ou apitos
Não avisaram
Que uma guerra
Havia iniciado no país inteiro.
A televisão foi cancelada
Por ordem do governo,
O rádio foi interceptado
Por ordem do exército,
As cartas chegavam abertas,
Depois escassas,
Então, nunca mais chegaram.
Contudo, viaturas policiais
Acordaram cedo
Ou nem dormiram com seus
Fuzis em punho,
Passaram na rua da cidade pobre
E distribuíram tiros.
Os trabalhadores daquele local
Já não os interessava mais,
O estado em que viviam,
Suas capacidades, necessidades,
Nada mais sobre aquelas
Pessoas lhes diziam interesse.
Sentaram nas janelas
De seus carros
E dispararam contra as residências
De pessoas honestas
Que dormiam a espera
Do amanhecer para saírem
Trabalhar e ganhar seu
Sustento honesto.
Não houve distinção
Entre o ladrão,
O traficante, o assassino
Ou o trabalhador,
 Simplesmente municiaram
Suas armas e disparam
Como se fosse um treinamento.
O pai de Luciane correu
Até seu roupeiro,
Pegou seu revolver,
Carregou e saiu vestindo a calça
Para fora do quarto
Verificar o que havia,
Se estavam todos vivos,
Se se tratava de roubo.
Fosse o que fosse,
Ele queria a sobrevivência
De sua família,
Se precisasse pagar algum drogado
Vagabundo para não ser ferido,
Não seria a primeira vez
Que pagaria,
Se precisasse de dinheiro
Para pagar o silêncio
E respeito de alguma viatura,
Pagaria.
Era homem honesto.
Abriu a porta,
Quatro policiais estavam
Logo na sua frente,
Vendo seu rosto
Sorriram para ele
Em seus uniformes limpos,
E atiraram.
Maicon caiu morto.
De arma em punho,
Incapaz de defender-se,
Proibido de proteger-se.
Era a polícia.
Sim.
A polícia vestiu-se
Para matar
E não escolheu vítima,
Quis apenas ver sangue.
Depois de mata-lo
Os policiais seguiram
Atirando contra janelas,
Portas e rostos.
Trocaram de lugares
Conforme cansavam o braço,
E nem paravam a viatura.
Logo cedo,
Abasteceram com o dinheiro
Do povo aquele carro,
Usavam armas pagas
Pelo povo trabalhador,
Hoje decidiram atirar
Contra os mesmos,
Já não serviam mais,
Eram indigentes,
O país decidiu matar,
Declarou guerra,
Antes disso,
Era treinamento,
Agora tinha motivo sério,
Porém, o território não mudou,
Nem as caras,
Gente pobre,
Honesta,
Com contas para pagar,
Com trabalho a fazer.
A morte de Maicon salvou
Seu pai de morrer,
Ele não foi um dos alvos
Mortos com tiros contra a vidraça.
Porém, logo vieram os caças,
Atiraram também,
O pegaram dormindo
Poucos dias depois,
O cenário tornou-se de desgraça,
Tinha gente morta
Para todo o lado,
As pessoas tinham medo
De levarem seus entes
Para enterrar no cemitério,
Tinham medo de sair de casa,
Buscar socorro.
Os policiais não escolhiam
Horário para invadir
As casas em busca de sexo,
O corpo morto de vovó Alfredo
Não escapou,
Sua neta de doze anos
Também não,
Sua filha de trinta
Muito menos.
Os moradores
Passaram a sobreviver
Do trabalho exercido
Na região,
Não havia transporte
Para locomover.
A prostituição
Se tornou pública.
Samanta de doze anos
Escondia-se
Com seu urso de pelúcia,
Tomava banho de roupa,
Escondia-se embaixo
Do cobertor para vestir-se,
Mas o soldado que a mantinha
Viva cansou dela.
Certa vez, a viu na janela,
Com o urso abraçado
Ao peito,
Levantou a arma em sua direção
E atirou,
Perfurou o vidro da janela,
O urso e seu peito.
Sua mãe ao retornar
Para casa a encontrou
Morta no chão de estilhaços,
Retirou o cinto da cintura
Prendeu na janela
E enforcou-se lá mesmo.
O policial retornou
E viu seu corpo balançar
Na parede da casa,
Ergueu a arma
E disparou até cansar os dedos.
Corpos envelhecem,
Almas não se compram,
Nem o gato sobreviveu,
Nem o telhado,
Ou os carros.
Bomba, explosivos e balas
Do brincar do tiro ao alvo.

Eu amo, Eu amo

Eu amo,
Eu amo,
Pam Pam,
Eu amo este menino,
Pam Pam,
Este adorável menino,
Pam Pam,
Amo seu pelinho pretinho,
Pam Pam,
Deste adorável gatinho
Pam Pam.
Eu amo,
Eu amo,
Amo este adorável irmãozinho
Pam Pam,
De pelinho bem branquinho
Pam Pam,
Meu adorável coelhinho,
Pam Pam.
Eu amo,
Eu amo,
Pam Pam,
Amo este garotinha
Pam Pam
De pelinho preto e branco,
Adorável coelhinha
Pam Pam,
Minha querida amiguinha,
Pam Pam
Eu amo,
Eu amo
Por isso
Divido com ela
Minha comidinha,
Pam Pam,
Dou a ela meu leitinho
Pam Pam,
Adoráveis amiguinhos
Pam Pam
Eu amo,
Eu amo.

domingo, 24 de agosto de 2025

Rádionovela da Vida Real

Jhonatan aproveitou
Sua destreza com o teatro
E iniciou um trabalho em rádio,
Para fazer rádionovela,
Com base no seu sistema de vozes,
Que há tanto tempo desenvolvia.
Sua atuação era simples,
Basicamente, juntar seu trabalho
De escuta nas diversas casas
E famílias que fez
E transmitir em horário real.
Desistiu da faculdade
Para investir completamente
Na carreira de ator,
Encontrou um homem
Com aparência e personalidade
Similar a dele
E o pôs na comunicação televisiva.
O trabalho de ator
Foi simples embora
Pouco lucrativo,
Decidiu investir em ser diretor,
Frequentou locais de atores,
Bares com frequentadores famosos,
E logo conheceu a todos
Que desejou.
Com sua atuação na televisão
Através de um preposto,
E por ventura, dele mesmo,
E sua atuação na rádio,
Ele obteve muitos resultados
Positivos.
Investiu em assassinato,
As causas das mortes comuns
Foram enforcamento,
E ingestão de remédios,
Optou por mortes mais singelas.
Destes assassinatos
Que cometeu ao transmitir
As vidas destas pessoas
Para todo e qualquer ouvinte
Ele tornou-se dono do bairro,
Depois de outro bairro
E por fim da cidade inteira.
Nunca desistiu de sua carreira,
Fez bonecos de pano e papel
Para substituir muitas famílias,
Ele gostava de passear
Pelas ruas e avistar os bonecos
Nas janelas,
Sentados nas varandas,
E em locais visíveis.
Algumas casas
Ele alugou para obter
Ganhou financeiro,
Redesenhou cada morador,
Controlou de perto suas vidas,
Suas vozes,
Histórias que ouviam,
Coisas em que acreditavam
E atitudes que teriam.
Seu ator fez sucesso,
Contudo, se Jhonatan
Fosse depender financeiramente
Desta carreira morreria de fome.
A fome bateu há muito tempo
Na carreira artística,
Atores famosos se entregaram
A bebida e faziam qualquer trabalho
Por dinheiro fácil
E alimento,
Na maioria não mexiam esforços
Ou se esquivavam de cometer
Os mais diversos crimes.
Jhonatan predominou
Na escolha através de uma
Produtora famosa
De quem seria contratado
E o valor recebido,
Em cada história ele atuava
Como ator principal.
No fim, foi contratado
Para produtor.
Seu estúdio deu vida
Aos seus bonecos,
Enjoou de seu dublê ator
E o inutilizou.
Agora a história da vizinhança
Ganhou amplitude,
Passou a constituir filme,
Seria transmitida em vídeo
Para o mundo,
Junto a rostos ele juntou
Fotografias, cartas e áudios.
Os bonecos foram de valia,
Mas, eventualmente ele contratava
Seus dublês de pessoas reais,
Trabalho minucioso e rentável.
Ao chegar ao centro do estado,
Alugou um local,
Ele iria pagar o aluguel
Através de seu dublê ator,
Lá haviam vários quartos
Onde ele colocou todos
Os atores que desejou,
E também uma linda garota.
Invadir seus quartos
Foi simples,
Passar despercebido também.
Ao final do mês,
Sua cadeira de rodas
Esbarrou nas pernas
Do dono do estabelecimento
E o derrubou da escada.
A casa funcionava
Como pensão destes atores,
Bar e boate de venda de sexo.
O trabalho de ator
Ficou quase que para a eventualidade.
Isto lhe dava prazer,
Apresentar seu dom
Para a escrita,
Para a invenção e atuação.

Sistema de Vozes 3

Jhonatan completou dezenove anos
E levava na bagagem
Um boletim de primeiro ano
Da faculdade de direito
Com notas excelentes,
E menções honrosas,
Isto era o bastante
Para sustentar a vontade
De sua mãe em manter
Seus gastos.
Cansado da vida
Em que na sala era professor
Decidiu assumir um emprego,
Lá acostumou-se com o nome
De Tomé,
No primeiro dia já ganhou
Abono e aumento salarial.
No segundo passou
Mais tempo tomando café
E conversando com o chefe
Do que teve em horário
De trabalho.
Suas noites passaram
A ser regadas a bebidas alcoólicas,
Em certo dia, acordou
Deitado na grama
Tomando sereno
Com sua boca aberta para
O céu da manhã
Da praça municipal,
Não fez ideia como foi parar lá,
Mas, em cada momento de
Sua vida a cadeira de rodas
Era fator fundamental.
Nem um de seus amigos
Desconfiou de gastos,
Excesso de trabalho,
Ou notas baixas
Sempre que fora do sistema
De vozes,
Jhonatan era um doente de poliomielite,
Um rapaz de saúde debilitada
E movimentos quase nulos.
No que se referia ao sistema
De vozes,
Jhonatan esforçou-se na biblioteca
Para ler o máximo possível,
E adquirir o máximo de informações
Que pudesse,
Se considerou desde os oito anos
Como excelente ator,
E as ideias dos livros
Apenas lhe contribuíam.
Com o tempo de curso
De direito adaptou-se a um bar,
Lá havia um rapaz interessante,
De dono do local,
Em pouco tempo Jhonatan
O definiu por Richard,
Um primo distante dele.
No sistema de vozes,
O adaptou a está história
E mais: criou uma irmã morta
Para o rapaz,
E lhe acrescentou que ele era
Cantor e violeiro,
Tão depressa o rapaz se adaptou
Mais ainda Jhonatan se felicitou.
De outra partida,
O agora primo Richard
Compôs uma música
Para a irmã perdida:
“ saudade da irmã
Que um dia foi para longe,
Deixou saudades,
Levou minha felicidade,
Tão cedo casou-se,
Tão logo construiu sua vida
Escolheu para ela
Outra cidade,
Não me disse adeus
Na despedida,
Eu não toleraria a distância,
Mas, tão mais forte
Que eu foi está garota,
Me deu um abraço
Enquanto eu ainda dormia,
E foi-se para longe
A linda menina,
De seus cabelos dourados
Sinto o cheiro e a sedosidade,
Acordo e digo
Volte minha irmã,
Retorne,
Me prometa
Não vá mais para tão distante.”
Jhonatan aplaudiu
A música,
Levou para outro bar
E gravou imediatamente
Através do sistema,
Logo, ao retornar com a fita cassete
Em mãos para o bar do primo
Não pode disfarçar a felicidade:
- veja primo,
Ouça a música que faz sucesso,
Me sinto tão feliz
Ao escutar
Que parece até que te ouço.
O rapaz desceu do palco,
Foi até o cadeirante,
Pegou a fita,
Reconheceu a letra
E soube que, realmente,
Não era sua composição,
Era de sua irmã
Que o buscava.
De início sua mente recusou
A ideia,
Contudo, logo passou
A esperar pelo retorno desta.
Pegou seu violão,
Subiu ao palco e cantou,
Lágrimas lhe cobriam a face.
Outro amigo, Jean o acompanhou.
Três meses após,
Jhonatan encontrou
Um novo sujeito
E se adaptou ao seu jeito,
O trouxe para o local
Para dono do bar,
Nisto trocou toda a mobília,
Pendurou discos,
Trouxe livros,
E as músicas se abriram
Para o público todas as noites.
Agora eram dois cantores,
O primo Richard e Jean.
Jean tinha uma irmã Melindra,
Ela tinha doze anos,
Em cada noite de bebedeira
Jhonatan abandonava a cadeira
De rodas e invadia
Um quarto diferente,
As vezes de Richard,
Outras vezes de Jean,
E depois de Sandro.
Ele gostava de fazer sexo,
Tinha prazer em mudar
De parceiros
E nunca desejou ser reconhecido,
Chegava as escuras,
Sempre caminhando,
Quase sempre embriagado,
Sempre movido
Por seu sistema de vozes.
Sua postura de ator
Era perfeita,
Sempre que ele era Tomé,
Usava sotaque e palavras diferentes,
Até caminhava perfeitamente
E abandonava muletas
E a amada cadeira de rodas.
Melindra tinha cabelos escuros
Mas, Jhonatan a convenceu
De mudar a cor para loiro
Para acompanhar a irmã
Do primo Richard.
Ela tinha cabelos até a altura
Dos seios,
Era magra,
Recém completou doze anos,
Porém, cometeu o erro
De engravidar.
Jhonatan não sonhava
Em ser pai,
As escuras se nomeou Richard,
Jean ou Sandro,
Nunca foi Jhonatan
E poucas vezes foi Tomé.
Tanto Jean quanto Richard
Disputaram a irmã,
Ambos a reconheciam
De tal maneira,
Os dois cantavam para ela,
Tiraram fotografias juntos,
Bebiam até adormecer
Para felicitarem sua companhia.
Logo, nos primeiros meses
Da gravidez,
Ambos desconfiaram de estarem
Invadindo o quarto dela,
E de fazerem sexo com ela,
Contudo, em poucas noites,
Ambos acordaram nus
Ao lado dela também nua.
Sandro nunca desconfiou,
Noticiada a gravidez
Todos se ocultaram,
Com olhos baixos
E sorrisos tristes nos rostos,
Mas a bebida outra vez prevaleceu.
A menina sentiu medo,
Tentou abortar no jardim
E morreu sangrando.
Jhonatan a viu,
A escondeu atrás das roseiras,
Pegou um de seus bonecos
De tecido,
Fez maquiagem perfeita nele,
E marcou encontro
Com os três no bar
Conforme costume,
Porém, tarde da madrugada.
Escolheu estarem apenas eles,
Num piscar de luz,
O boneco foi solto numa cadeira
Próximo a mesa deles,
Todos aproximaram-se,
Pareciam acreditar em Deus,
Fielmente,
Fizeram o jogo da garrafa
E uma voz que vinha do boneco
Informou que Melindra
Estava morta no jardim.
Estarrecidos,
Continuaram a beber
Como se a luz do dia
Fosse desmistificar
O que quer que fosse,
Porém, Jhonatan cansou
Da mesmice das bebedeiras
E pôs fogo no boneco,
Com todos adormecidos
Sobre a mesa alcoolizados.
A vida de ator de Jhonatan 
Lhe dizia Olá.

sábado, 23 de agosto de 2025

No Acorde da Voz

Nos corredores escolares
Jhonatan gostou de Richard,
Embora de salas diversas,
Não tardou,
Gean soltou um peido
Dentro da sala,
E Jhonatan forçou um arroto
Fingindo ter saído dele
O barulho.
Todos riram,
Ele fez rosto triste
E pediu para trocar de sala.
Na outra sala,
Jhonatan fez amizade
Com Richard,
Próximo ao banheiro
Sentiu dificuldade
Para tomar água,
Vez que a cadeira de rodas
Não alcançava o bebedouro,
Richard tirou o copo
E lhe serviu água,
Foi gentil e amigável.
No dia seguinte,
Richard o ajudou no banheiro
A defecar e urinar,
Ele foi gentil ao segurar
Seu pênis
E limpar sua bunda.
Após o uso das vozes,
Richard tinha aula de educação física,
Contudo, Jhonatan o fechou
Dentro do banheiro,
Deixou a cadeira de rodas,
No escuro fez sexo com ele.
Encerrado o ato,
Voltou a cadeira de rodas
E o encontrou em prantos,
Sentado nas escadarias
Da escola,
Lá Jhonatan foi seu amigo
E confidente.
Não tardou,
Jhonatan soube tudo
Sobre a vida particular de Richard,
Viu fotografias
E conheceu histórias antigas,
Em seu quarto Jhonatan
Fez mais que o uso das vozes,
Treinou teatro,
Construiu bonecos
Usando tecido e papel escolar,
Bonecos idênticos a fotos,
Com direito a vozes originais.
Richard se viu fechado
Em ambiente escuro
Diversas vezes,
Jhonatan se tornou amigo íntimo.
Meses após isso,
Jhonatan se tornou seu primo
Com uma facilidade inacreditável,
Rumo a casa de Richard,
Jhonatan contou histórias
Sobre o avô de Richard
Falecido a anos.
Com o uso das vozes,
Ele assustou os pais de Richard,
Que apoiou-se num violão,
Na beira mar,
Jhonatan invadiu o quarto
Da mãe de Richard,
Fez seu pai acreditar
Que era o garoto.
Depois disso,
Conheceu a empregada
Da casa,
E também a forçou sexualmente
Nas madrugadas
Que dividia entre uma mulher
E outra.
Sempre usando sua cadeira
De rodas ele acabava sendo
Eximido de qualquer denúncia
Ou desconfiança.
Usava preservativos
Que ele espalhava pela casa
Nas proximidades do quarto
De Richard
Para que o pai encontrasse.
Certa vez, ele encheu os bonecos
Que costurou e os soltou
Na varanda,
Lá o pai de Richard
Acreditou que conversava
Com seus falecidos pais,
E Richard mais tarde, também.
A pedido dos avós
Richard escolheu dormir abraçado
A ambos na beira do mar,
Jhonatan pôs neles querosene,
E enquanto o garoto dormia,
Ele chegou e ateou fogo,
De dentro das chamas
Richard gritava,
Implorava por socorro,
Mas, foi incapaz de sair
Pois Jhonatan forçou o braço
Contra o fogo
Encontrou o peito do garoto
E arrancou seu coração
Depois o jogou no mar.
Sua irmã,
Juçara desconfiou da morte
Do irmão,
O pai de Richard se irritou
Com o garoto que não quis
Mais que cantar e tocar violão
Trancado dentro do galpão.
Envergonhado por suas atitudes
Seu pai o mandou embora,
Escondido na moita,
Jhonatan sorriu,
O boneco de Richard era escorraçado da própria casa,
Agora a propriedade
Poderia ser dele,
O sobrinho afastado da família Dervint.
Não tardou,
Jhonatan encontrou Juçara
No banho,
Nua, de cabelos loiros
Caídos até o ombro.
Ela desistiu resistir,
Mesmo quando ouviu
O irmão Richard tocando
Violão do lado de fora
Da janela de seu quarto,
Cantando para ela
Lhe convidando a ir nadar no mar.
Deitada nua na areia,
Juçara desejou resistir
A Jhonatan,
Contudo, ele aproveitou-se
De ela estar de costas
Para o mar,
De barriga para a areia,
Chegou por trás dela,
A imobilizou e fez sexo
Com ela,
Depois disso,
Ninguém teve notícias dela
Outra vez.
Mas, quem aproxima-se
Daquele mar jura ouvir
Richard cantar
E chamar de algum lugar
Próximo a areia:
Saudade
Que não sei expressar,
Saudade
Que não sei falar
Queria dizer te amo
Queria agradecer sua voz,
Queria estar de volta,
Queria abraçar minha família,
Mas, me perdi,
Por entre as ondas,
Me perdi,
Tão próximo ao mar,
Eu caí,
Errei em te deixar,
Errei ao levantar a voz,
Errei quando não podia confiar,
Estou longe agora,
Vou custar a voltar,
Talvez, nunca você possa me escutar,
Mas, senti saudades,
Saudade de vocês.
Restaram na propriedade
O casarão de frente ao mar,
Os preservativos contendo porra,
De um garoto bem aventurado,
Uma mãe e um pai,
Pelos filhos abandonados.
Jhonatan correu até ambos,
De cadeira de rodas,
Rosto baixo,
Olhar entristecido,
Encontrou cada um
Dos preservativos
Os deu de comida aos peixes,
Convidou seus amados tios
Recém conhecidos para nadar,
Usou o canto do filho,
O acorde seu violão,
A voz da filha a chamar,
As batidas de seu coração:
O casal de mãos dadas
Entrou na água
E andaram cada vez mais
Para o fundo,
Seus filhos os chamavam,
Enquanto a longa distância
Nas profundezas do mar
Um boneco feito de papel
Acenava feito um marinheiro
Que não sabe afundar.

Sistema de Vozes

De bengala em mãos,
Jonathan subiu a colina,
Lá do alto,
Muito acima das rochas,
Naquele local plaino
Cheio de grama e flores,
Ele gostava de ficar lá.
Dia após dia
Fazia o caminho
A passos lentos,
Seus doze anos
Lhe davam a liberdade
Que precisava para isso.
Porém, um senhor de setenta anos
Teimava em fazer este caminho,
Pelo hábito da atitude,
Não tardou encontraram-se,
E pior,
Logo os horários de ambos
Passaram a coincidir.
Certo.
Jonathan odiou o avô.
Em meados de seus oito anos,
Tomou gosto por fazer sexo,
Sua vizinha,
Uma menina de dez anos
O auxiliou na atitude,
Certa vez veio a sua casa
A passeio,
Logo entrou no seu quarto
Para brincar de trenzinho,
Depois disso,
Pegou alguns livros do colégio
E os leu para ele,
Sem aviso Jonathan
Baixou o livro que Bianca
Lia de suas mãos
Até seu colo
E lhe depositou um beijo,
Depois, deitaram no tapete
E passaram a reconhecer
O corpo um do outro.
Ele desgostou disso,
Precisava de dinheiro
Para manter seus chicletes
E a coleção de gibs,
Com isto,
Aproveitar o sono de seu avô,
Em seu quarto,
Na cadeira de balanço
Enquanto Jonathan lia
Para ele foi mais prático.
O velho idoso dormiu,
Ele retirou o pênis
Do velho de dentro da calça,
Beijou e sentou nele,
Depois acordou o velho
Aos prantos e gritos:
- avô, avô, avô.
Este grito lhes deu vantagens
E muitos valores.
Contudo, aquele senhor idoso
Lhe lembrava o avô,
E agora cismava de ser
Mais rápido em subir,
Mais prático em descer
E não tinha bengalas:
- que ironia da vida,
Hein filho.
Logo você deixa a bengala?
Jhonatan irritou-se
Com o comentário.
Acreditou que o velho
Não tinha direitos
Sobre a atitude dele,
Muito menos o de julgar
Seu estado de saúde,
Num impulso subiu a frente
Do velho,
Resvalou numa rocha
E jogou a bengala para trás.
Certeiro.
Ao olhar para trás,
Com um grito de espanto
O velho sumiu de vista,
Jhonatan concluiu
Que cair de altura tão grande
Deveria ser uma morte horrível.
Mas não conseguiu
Conter o riso ao concluir:
Outra vez o velho
Foi mais rápido que ele.
Desta vez, Jonathan subiu
E tardou a descer,
No retorno não encontrou
O velho,
E nunca mais o viu.
Jhonatan comprou um sistema
De comunicação com o dinheiro
Que ganhou do avô,
Neste sistema
Ele podia ouvir tudo
O que estivesse ligado a ele,
E falar através daquilo
Sem estar numa ligação
Ou ser reconhecido,
Nem seria descoberto.
Aproveitou-se disso,
E virou cadeirante,
Agora Jhonatan tinha dificuldade
De locomoção,
Ganhou uma cadeira de rodas,
E com elas todas as regalias
Provenientes a um deficiente.
Podia falar o que quisesse,
Chorar poucas lágrimas
E ganhar tudo que quisesse.
Era melhor que transar
Com o avô,
Afinal, ao tomar está atitude
Com a mãe ele irritou-se,
Sofreu um ataque de nervos
E desmaiou sobre a cama.
Foi inconclusivo,
Mas, ele ganhou carro
E motorista para conduzi-lo
Até o colégio.
Ele marcou o encontro
Com a própria mãe
No quarto dela,
Sem saber quem era,
Ela o esperou nua
Sobre a própria cama,
Ele chegou de cadeira
De rodas,
Abriu a porta,
Entrou, saiu de cadeira
E subiu sobre o corpo dela.
Ela iria gritar,
Mas, ele pôs a mão sobre
Sua boca,
Talvez, ela fosse reclamar
Mas ele foi até seu quarto
Usou o sistema de vozes,
E disse que foi sonho,
Então, se posicionou
Atrás da cortina da janela,
Caído da cadeira de rodas,
Mijado e defecado.
Ao sair do quarto
Ela o encontrou assim,
Imóvel aos prantos,
Sem poder tomar banho,
Ou sair do lugar:
-Filho, que houve?
Ela indagou.
Indo ao seu amparo.
- cai da cadeira,
Eu achei ter ouvido gritos,
Então, sai do meu quarto
E vim até a janela
Para ver se vinham da rua,
Nisto resvalei no meu suor
Da cadeira de rodas,
E cai de cara no chão.
Ele respondeu chorando.
- minha vida,
Você caiu aí?
Há muito tempo?
Ela Indagou.
Estendendo os braços
Para ele,
Seu cabelo escuro cacheado
Cobriu seu rosto
E o tocou.
Ele tinha um cheiro bom,
Ela era refrescante.
-sim,
Até me mijei de medo,
E fiz cocô nas calças.
Ele respondeu,
Estendendo a mão
Para o seu rosto,
Tocou em seus lábios,
Ela teve um sobressalto,
Tentou se afastar
Segurando o filho
Nos braços.
Então, o soltou,
Ele caiu feito um fardo
Pesado contra o assoalho.
-ai.
Faz tempo que estou aqui,
Eu sou um fraco,
Não posso tomar banho,
Não posso beber água,
Não posso ir ao banheiro...
Ele falou chorando.
Levantou a mão
E passou sobre o vestido
Da mãe,
Tocando levemente seus seios.
Ela sobressaltou-se,
Abaixou-se e o pegou:
- sim, filho.
Você ficou assim,
Com poliomielite.
Eva o ergueu no colo,
Depois o soltou sobre
A cadeira com dificuldade:
- eu tive um pesadelo horrível.
Ela disse,
Acariciando o rosto do filho.
Jhonatan sorriu,
Tocou em seus dedos
E os apertou:
-preciso que você seja forte,
Eu estou inválido,
Preciso de você.
Ele disse.
Eva o conduziu até o banheiro,
Tirou sua roupa
E lhe deu banho.
Aos doze ele não precisava
Tomar banho sozinho,
Nem secar o corpo
Ou vestir a roupa,
Tinha a mãe inteira ao seu dispor.
No colégio ele era
O centro das atenções,
Considerado algum tipo de anjo,
Sempre com as piadas engraçadas
E o sorriso gentil.
Por vezes, marcava encontros
No banheiro,
Chegava sorrateiro,
Saia da cadeira de rodas,
E fazia sexo com meninos,
Principalmente,
Ele gostava de sexo anal.
Depois, ele usava o sistema
De vozes e falava sobre suas dificuldades
Em ser cadeirante,
E os dissabores que a doença
Lhe acarretou.
Era dono da piedade de cada olhar,
Todavia, não gostou
Do olhar de um padre
Certa vez,
Usou o sistema de vozes
Com ele,
O convenceu a ser professor dele:
- o olho não se satisfaz
Em ver,
Nem o ouvido
Em escutar.
O padre falou em sala
De aula,
Referindo-se sobre a existência
De Deus e sua bondade.
- tire os olhos do visível,
E se volte ao invisível.
O padre encerrou.
O invisível era ele e sua voz,
Ninguém suspeitava disso,
Deus estava humano
E muito próximo.
Até aí às aulas
Corriam perfeitamente,
O problema foi o dia
Em que o padre decidiu
Dizer que era de Florença,
Alegar que falava italiano
E dizer a Jhonatan:
- pássaros voam para muito longe,
Algum dia você pode fazer isso,
E chegar até a Itália.
Jhonatan irritou-se
E não soube disfarçar,
Como ele poderia dizer
Que seu vôo distante
Seria para a Itália,
O lugar de onde o padre viera?
Foi exagero do padre
Acreditar que Jhonatan
Pudesse sonhar
Com qualquer coisa
Que proviesse dele.
Através do sistema de vozes
Jhonatan marcou um encontro
Com ele para a frente da sala,
Próximo as escadas,
Ao terminar a aula,
Jhonatan saiu
E o viu em pé,
Isto lhe custou ter de levantar
Da cadeira de rodas
E empurra-lo escada abaixo.
Aqui as vozes da memória
Se apagam para sempre.
O Franciscano se fora.

No Amanhã

Você ainda Me amara amanhã? Quando minha fala Cansar-se de falar E passarmos a nos Conhecer pelo olhar? Você ainda me a...