domingo, 24 de agosto de 2025

Sistema de Vozes 3

Jhonatan completou dezenove anos
E levava na bagagem
Um boletim de primeiro ano
Da faculdade de direito
Com notas excelentes,
E menções honrosas,
Isto era o bastante
Para sustentar a vontade
De sua mãe em manter
Seus gastos.
Cansado da vida
Em que na sala era professor
Decidiu assumir um emprego,
Lá acostumou-se com o nome
De Tomé,
No primeiro dia já ganhou
Abono e aumento salarial.
No segundo passou
Mais tempo tomando café
E conversando com o chefe
Do que teve em horário
De trabalho.
Suas noites passaram
A ser regadas a bebidas alcoólicas,
Em certo dia, acordou
Deitado na grama
Tomando sereno
Com sua boca aberta para
O céu da manhã
Da praça municipal,
Não fez ideia como foi parar lá,
Mas, em cada momento de
Sua vida a cadeira de rodas
Era fator fundamental.
Nem um de seus amigos
Desconfiou de gastos,
Excesso de trabalho,
Ou notas baixas
Sempre que fora do sistema
De vozes,
Jhonatan era um doente de poliomielite,
Um rapaz de saúde debilitada
E movimentos quase nulos.
No que se referia ao sistema
De vozes,
Jhonatan esforçou-se na biblioteca
Para ler o máximo possível,
E adquirir o máximo de informações
Que pudesse,
Se considerou desde os oito anos
Como excelente ator,
E as ideias dos livros
Apenas lhe contribuíam.
Com o tempo de curso
De direito adaptou-se a um bar,
Lá havia um rapaz interessante,
De dono do local,
Em pouco tempo Jhonatan
O definiu por Richard,
Um primo distante dele.
No sistema de vozes,
O adaptou a está história
E mais: criou uma irmã morta
Para o rapaz,
E lhe acrescentou que ele era
Cantor e violeiro,
Tão depressa o rapaz se adaptou
Mais ainda Jhonatan se felicitou.
De outra partida,
O agora primo Richard
Compôs uma música
Para a irmã perdida:
“ saudade da irmã
Que um dia foi para longe,
Deixou saudades,
Levou minha felicidade,
Tão cedo casou-se,
Tão logo construiu sua vida
Escolheu para ela
Outra cidade,
Não me disse adeus
Na despedida,
Eu não toleraria a distância,
Mas, tão mais forte
Que eu foi está garota,
Me deu um abraço
Enquanto eu ainda dormia,
E foi-se para longe
A linda menina,
De seus cabelos dourados
Sinto o cheiro e a sedosidade,
Acordo e digo
Volte minha irmã,
Retorne,
Me prometa
Não vá mais para tão distante.”
Jhonatan aplaudiu
A música,
Levou para outro bar
E gravou imediatamente
Através do sistema,
Logo, ao retornar com a fita cassete
Em mãos para o bar do primo
Não pode disfarçar a felicidade:
- veja primo,
Ouça a música que faz sucesso,
Me sinto tão feliz
Ao escutar
Que parece até que te ouço.
O rapaz desceu do palco,
Foi até o cadeirante,
Pegou a fita,
Reconheceu a letra
E soube que, realmente,
Não era sua composição,
Era de sua irmã
Que o buscava.
De início sua mente recusou
A ideia,
Contudo, logo passou
A esperar pelo retorno desta.
Pegou seu violão,
Subiu ao palco e cantou,
Lágrimas lhe cobriam a face.
Outro amigo, Jean o acompanhou.
Três meses após,
Jhonatan encontrou
Um novo sujeito
E se adaptou ao seu jeito,
O trouxe para o local
Para dono do bar,
Nisto trocou toda a mobília,
Pendurou discos,
Trouxe livros,
E as músicas se abriram
Para o público todas as noites.
Agora eram dois cantores,
O primo Richard e Jean.
Jean tinha uma irmã Melindra,
Ela tinha doze anos,
Em cada noite de bebedeira
Jhonatan abandonava a cadeira
De rodas e invadia
Um quarto diferente,
As vezes de Richard,
Outras vezes de Jean,
E depois de Sandro.
Ele gostava de fazer sexo,
Tinha prazer em mudar
De parceiros
E nunca desejou ser reconhecido,
Chegava as escuras,
Sempre caminhando,
Quase sempre embriagado,
Sempre movido
Por seu sistema de vozes.
Sua postura de ator
Era perfeita,
Sempre que ele era Tomé,
Usava sotaque e palavras diferentes,
Até caminhava perfeitamente
E abandonava muletas
E a amada cadeira de rodas.
Melindra tinha cabelos escuros
Mas, Jhonatan a convenceu
De mudar a cor para loiro
Para acompanhar a irmã
Do primo Richard.
Ela tinha cabelos até a altura
Dos seios,
Era magra,
Recém completou doze anos,
Porém, cometeu o erro
De engravidar.
Jhonatan não sonhava
Em ser pai,
As escuras se nomeou Richard,
Jean ou Sandro,
Nunca foi Jhonatan
E poucas vezes foi Tomé.
Tanto Jean quanto Richard
Disputaram a irmã,
Ambos a reconheciam
De tal maneira,
Os dois cantavam para ela,
Tiraram fotografias juntos,
Bebiam até adormecer
Para felicitarem sua companhia.
Logo, nos primeiros meses
Da gravidez,
Ambos desconfiaram de estarem
Invadindo o quarto dela,
E de fazerem sexo com ela,
Contudo, em poucas noites,
Ambos acordaram nus
Ao lado dela também nua.
Sandro nunca desconfiou,
Noticiada a gravidez
Todos se ocultaram,
Com olhos baixos
E sorrisos tristes nos rostos,
Mas a bebida outra vez prevaleceu.
A menina sentiu medo,
Tentou abortar no jardim
E morreu sangrando.
Jhonatan a viu,
A escondeu atrás das roseiras,
Pegou um de seus bonecos
De tecido,
Fez maquiagem perfeita nele,
E marcou encontro
Com os três no bar
Conforme costume,
Porém, tarde da madrugada.
Escolheu estarem apenas eles,
Num piscar de luz,
O boneco foi solto numa cadeira
Próximo a mesa deles,
Todos aproximaram-se,
Pareciam acreditar em Deus,
Fielmente,
Fizeram o jogo da garrafa
E uma voz que vinha do boneco
Informou que Melindra
Estava morta no jardim.
Estarrecidos,
Continuaram a beber
Como se a luz do dia
Fosse desmistificar
O que quer que fosse,
Porém, Jhonatan cansou
Da mesmice das bebedeiras
E pôs fogo no boneco,
Com todos adormecidos
Sobre a mesa alcoolizados.

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