De bengala em mãos,
Jonathan subiu a colina,
Lá do alto,
Muito acima das rochas,
Naquele local plaino
Cheio de grama e flores,
Ele gostava de ficar lá.
Dia após dia
Fazia o caminho
A passos lentos,
Seus doze anos
Lhe davam a liberdade
Que precisava para isso.
Porém, um senhor de setenta anos
Teimava em fazer este caminho,
Pelo hábito da atitude,
Não tardou encontraram-se,
E pior,
Logo os horários de ambos
Passaram a coincidir.
Certo.
Jonathan odiou o avô.
Em meados de seus oito anos,
Tomou gosto por fazer sexo,
Sua vizinha,
Uma menina de dez anos
O auxiliou na atitude,
Certa vez veio a sua casa
A passeio,
Logo entrou no seu quarto
Para brincar de trenzinho,
Depois disso,
Pegou alguns livros do colégio
E os leu para ele,
Sem aviso Jonathan
Baixou o livro que Bianca
Lia de suas mãos
Até seu colo
E lhe depositou um beijo,
Depois, deitaram no tapete
E passaram a reconhecer
O corpo um do outro.
Ele desgostou disso,
Precisava de dinheiro
Para manter seus chicletes
E a coleção de gibs,
Com isto,
Aproveitar o sono de seu avô,
Em seu quarto,
Na cadeira de balanço
Enquanto Jonathan lia
Para ele foi mais prático.
O velho idoso dormiu,
Ele retirou o pênis
Do velho de dentro da calça,
Beijou e sentou nele,
Depois acordou o velho
Aos prantos e gritos:
- avô, avô, avô.
Este grito lhes deu vantagens
E muitos valores.
Contudo, aquele senhor idoso
Lhe lembrava o avô,
E agora cismava de ser
Mais rápido em subir,
Mais prático em descer
E não tinha bengalas:
- que ironia da vida,
Hein filho.
Logo você deixa a bengala?
Jhonatan irritou-se
Com o comentário.
Acreditou que o velho
Não tinha direitos
Sobre a atitude dele,
Muito menos o de julgar
Seu estado de saúde,
Num impulso subiu a frente
Do velho,
Resvalou numa rocha
E jogou a bengala para trás.
Certeiro.
Ao olhar para trás,
Com um grito de espanto
O velho sumiu de vista,
Jhonatan concluiu
Que cair de altura tão grande
Deveria ser uma morte horrível.
Mas não conseguiu
Conter o riso ao concluir:
Outra vez o velho
Foi mais rápido que ele.
Desta vez, Jonathan subiu
E tardou a descer,
No retorno não encontrou
O velho,
E nunca mais o viu.
Jhonatan comprou um sistema
De comunicação com o dinheiro
Que ganhou do avô,
Neste sistema
Ele podia ouvir tudo
O que estivesse ligado a ele,
E falar através daquilo
Sem estar numa ligação
Ou ser reconhecido,
Nem seria descoberto.
Aproveitou-se disso,
E virou cadeirante,
Agora Jhonatan tinha dificuldade
De locomoção,
Ganhou uma cadeira de rodas,
E com elas todas as regalias
Provenientes a um deficiente.
Podia falar o que quisesse,
Chorar poucas lágrimas
E ganhar tudo que quisesse.
Era melhor que transar
Com o avô,
Afinal, ao tomar está atitude
Com a mãe ele irritou-se,
Sofreu um ataque de nervos
E desmaiou sobre a cama.
Foi inconclusivo,
Mas, ele ganhou carro
E motorista para conduzi-lo
Até o colégio.
Ele marcou o encontro
Com a própria mãe
No quarto dela,
Sem saber quem era,
Ela o esperou nua
Sobre a própria cama,
Ele chegou de cadeira
De rodas,
Abriu a porta,
Entrou, saiu de cadeira
E subiu sobre o corpo dela.
Ela iria gritar,
Mas, ele pôs a mão sobre
Sua boca,
Talvez, ela fosse reclamar
Mas ele foi até seu quarto
Usou o sistema de vozes,
E disse que foi sonho,
Então, se posicionou
Atrás da cortina da janela,
Caído da cadeira de rodas,
Mijado e defecado.
Ao sair do quarto
Ela o encontrou assim,
Imóvel aos prantos,
Sem poder tomar banho,
Ou sair do lugar:
-Filho, que houve?
Ela indagou.
Indo ao seu amparo.
- cai da cadeira,
Eu achei ter ouvido gritos,
Então, sai do meu quarto
E vim até a janela
Para ver se vinham da rua,
Nisto resvalei no meu suor
Da cadeira de rodas,
E cai de cara no chão.
Ele respondeu chorando.
- minha vida,
Você caiu aí?
Há muito tempo?
Ela Indagou.
Estendendo os braços
Para ele,
Seu cabelo escuro cacheado
Cobriu seu rosto
E o tocou.
Ele tinha um cheiro bom,
Ela era refrescante.
-sim,
Até me mijei de medo,
E fiz cocô nas calças.
Ele respondeu,
Estendendo a mão
Para o seu rosto,
Tocou em seus lábios,
Ela teve um sobressalto,
Tentou se afastar
Segurando o filho
Nos braços.
Então, o soltou,
Ele caiu feito um fardo
Pesado contra o assoalho.
-ai.
Faz tempo que estou aqui,
Eu sou um fraco,
Não posso tomar banho,
Não posso beber água,
Não posso ir ao banheiro...
Ele falou chorando.
Levantou a mão
E passou sobre o vestido
Da mãe,
Tocando levemente seus seios.
Ela sobressaltou-se,
Abaixou-se e o pegou:
- sim, filho.
Você ficou assim,
Com poliomielite.
Eva o ergueu no colo,
Depois o soltou sobre
A cadeira com dificuldade:
- eu tive um pesadelo horrível.
Ela disse,
Acariciando o rosto do filho.
Jhonatan sorriu,
Tocou em seus dedos
E os apertou:
-preciso que você seja forte,
Eu estou inválido,
Preciso de você.
Ele disse.
Eva o conduziu até o banheiro,
Tirou sua roupa
E lhe deu banho.
Aos doze ele não precisava
Tomar banho sozinho,
Nem secar o corpo
Ou vestir a roupa,
Tinha a mãe inteira ao seu dispor.
No colégio ele era
O centro das atenções,
Considerado algum tipo de anjo,
Sempre com as piadas engraçadas
E o sorriso gentil.
Por vezes, marcava encontros
No banheiro,
Chegava sorrateiro,
Saia da cadeira de rodas,
E fazia sexo com meninos,
Principalmente,
Ele gostava de sexo anal.
Depois, ele usava o sistema
De vozes e falava sobre suas dificuldades
Em ser cadeirante,
E os dissabores que a doença
Lhe acarretou.
Era dono da piedade de cada olhar,
Todavia, não gostou
Do olhar de um padre
Certa vez,
Usou o sistema de vozes
Com ele,
O convenceu a ser professor dele:
- o olho não se satisfaz
Em ver,
Nem o ouvido
Em escutar.
O padre falou em sala
De aula,
Referindo-se sobre a existência
De Deus e sua bondade.
- tire os olhos do visível,
E se volte ao invisível.
O padre encerrou.
O invisível era ele e sua voz,
Ninguém suspeitava disso,
Deus estava humano
E muito próximo.
Até aí às aulas
Corriam perfeitamente,
O problema foi o dia
Em que o padre decidiu
Dizer que era de Florença,
Alegar que falava italiano
E dizer a Jhonatan:
- pássaros voam para muito longe,
Algum dia você pode fazer isso,
E chegar até a Itália.
Jhonatan irritou-se
E não soube disfarçar,
Como ele poderia dizer
Que seu vôo distante
Seria para a Itália,
O lugar de onde o padre viera?
Foi exagero do padre
Acreditar que Jhonatan
Pudesse sonhar
Com qualquer coisa
Que proviesse dele.
Através do sistema de vozes
Jhonatan marcou um encontro
Com ele para a frente da sala,
Próximo as escadas,
Ao terminar a aula,
Jhonatan saiu
E o viu em pé,
Isto lhe custou ter de levantar
Da cadeira de rodas
E empurra-lo escada abaixo.
Aqui as vozes da memória
Se apagam para sempre.
O Franciscano se fora.
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