Aos vinte e quatro anos,
Cursar o quarto período
Da faculdade de direito,
Não é o sonho de todos.
Mas era de Fernanda,
E ela se esmerou por isso,
Seis anos de casamento,
Lhe davam o estímulo
E o impulso de que precisava,
Para acordar às sete da manhã,
Tomar um café rápido
E correr para o ponto de ônibus.
As oito precisava estar
No centro da cidade,
Há aproximados vinte quilômetros
De seu bairro de zona rural,
Iniciava o trabalho as oito
E meia.
Seguia o curso de vender
Roupas até às onze e meia,
Depois retornava as treze e trinta
E seguia até o horário das seis,
Instante em que pegava
O lanche rápido
E se dirigia ao terminal de lotação,
Com destino a faculdade,
Localizada distante do centro,
Uma hora de viagem.
Iniciada às aulas às sete e meia,
Seguia até às dez e meia,
De lá ela pegava outro ônibus,
Seguia até o terminal,
Então, pegava outro e ia até
Sua casa,
Isto demorava em torno de
Duas horas de viagem.
Sobrava pouco tempo
Para o esposo,
Ela sonhava em ser mãe,
Contudo, os finais de semana
De bebedeira dele
Não a estimulava.
No sábado ela trabalhava
Até às cinco e meia,
Tinha apenas a noite
Para estudar,
Por as ideias em ordem,
Ler um livro para reforço
De conteúdo,
E o domingo.
Aos finais de semana
Ela gostava de estar em família,
Comer bolo na sogra,
Tirar frutas no pomar
Dos pais.
O esposo era distante
Desta rotina,
Gostava de jogatinas de baralho,
Bebidas intensas
E risos altos.
Eles tinham uma casa,
Para iniciar a construção,
Fizeram um financiamento,
Que era para ser quitado
Em questão de dois anos,
Foram-se seis anos
Empregados neste intuito,
Todos fracassados.
Um dia,
A mãe ligou pela manhã
Para Fernanda
Em seu trabalho,
Ela se esforçou para atender,
Era proibido discutir
Assuntos particulares
Naquele ambiente,
Alegavam que distraia
Das vendas e decaia o percentual produtivo da vendedora.
Fernanda soube
Que sua mãe
Queria separar-se do seu pai
E escolhia a casa dela
Para morada.
Não bastou que Fernanda
Pouco convivia com o esposo,
Agora, na casa minúscula,
Queria vir, também, a mãe.
O salário de ambos,
Fernanda e Gustavo
Era pouco,
Após vinte e quatro anos
De casamento Jacinta
Decidia por separar-se
E não entendia
Que seria um encargo
Na casa da filha.
A noite, Gustavo a trouxe,
Fernanda quase morreu
Antes a ideia,
Agora o sexo era compartilhado,
Casa gemido,
Cada metida dentro da vagina
Era ouvido no quarto ao lado
Por sua mãe,
Quem gostaria de algo
Assim relacionado?
O relacionamento se complicou,
Cada vez que Gustavo
Quis transar Fernanda se desviou,
Ela se preocupava se sua mãe
Chegaria e pegaria os dois
Em flagrante
Ou como encararia a ideia
De dar de cara com a filha
Transando?!
Era uma ideia estranha
E desestimulante,
Nunca Fernanda viu os pais
Beijarem-se ou trocarem carinhos
Em sua frente,
Não de maneira tão aberta,
Agora, ela, Fernanda,
Teria que retirar o véu
Que cobria a existência do “ato sexo”.
Não era um filho,
Como geralmente ocorre,
Também não era a mãe
Com o esposo,
Mas, mostrar-se em momentos
Íntimos para a mãe?
Lhe soava descabido.
Ela acreditava
Que não conseguiria
Mais encarar a mãe
No outro dia,
Depois de ter feito o ato,
Que frente a mãe
Lhe causou repulsa.
A mãe lhe desferiu
Um tapa na cara,
Suas unhas compridas
Lhe feriram o rosto.
Fernanda cuspiu
Contra o rosto da mãe,
A mãe empreitou na sua direção,
Pareceu querer lhe abraçar,
Fernanda a odiou,
Sem medir o ato
Levou a mão contra a face da mãe,
- você deixou meu pai sozinho
E agora eu a odeio!
Depois, pegou sua bolsa
E saiu para fora da casa minúscula,
Não quis voltar,
Odiou a casa e tudo a sua volta.
Pediu ajuda a uma colega
De trabalho,
Foi dormir na casa dela,
Deixou a mãe com o esposo,
Que convivessem,
Se aturassem o quanto pudessem,
Ela sobrecarregou-se
Da ideia de a mãe abandonar
A família,
De ela ter de atura-la
No mesmo ambiente em que vivia,
Em sua própria família.
-Tudo misturou-se Virgínia.
A família dela,
Que é meu pai,
É minha família.
Mas eu e o Gustavo
Éramos outra família,
Agora eu não entendo,
Não quero pagar o preço
De separa-los.
A amiga a abraçou
Para conter seu pranto.
- eu abdiquei de ter filhos
Por algo maior que isso,
Agora, quase no meio
Da faculdade e tudo parece
Tão pequeno...
Fernanda reclamou.
A amiga, sentada na escada interna
Da loja de roupas,
Acariciou seus cabelos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário