terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Separados Dentro de Casa


Ela o amava com toda a alma, mas algo não estava certo,

Algo dentro dela se recusava a aquela situação tensa,

O silêncio parecia tão sólido e tangível como o beijo esquecido,

Tentava conversar, se esforçar, entender o que se passava,

Mas os carinhos haviam escapado pelos vãos dos dedos,

O beijo havia perdido o gosto há muito tempo atrás,

 

Era como se o amor que um dia sentiram um pelo outro

Houvesse se acabado da mesma forma que começou,

Do nada, caindo no vazio que os separava um do outro,

Se perdendo nas lacunas da ausência do diálogo,

Os sonhos estavam mortos, o coração pulsava ao contrário,

O relógio pesava com seus ponteiros, parado no tempo,

 

Por mais que procurasse algo para falar não havia assunto,

Se em algum tempo tiveram, hoje não tinham mais nada em comum,

Nem um ponto em que pudessem se complementar,

Mesmo a cumplicidade de outrora, se um dia houve, estava extinta,

A dor de ver tudo que esforçou-se para dar certo se acabar,

Era dolorida, dilacerava sua alma, ela caía em lágrimas,

 

Mas, mesmo que estivesse ao seu lado, ele não a ouvia,

Mesmo que ela fizesse todo o esforço possível para falar,

Ele não a interpretava, nunca havia conseguido entende-la,

Seus instintos sempre falavam mais alto, mesmo à custa do sentimento,

Mesmo que para isso precisasse passar por cima de tudo,

Sujeito imaturo ela o definia, mas o convívio forçado feria,

Ela teria que juntar suas forças, tomar coragem e ir embora,

 

“Sobre terem se amado algum dia, acho que mudamos”,

Ela fez esforço para falar, não obteve êxito, ele não deu ouvidos,

“Como podemos ter caído neste percalço odioso?

Ver tudo que fomos e sonhamos olhar-nos através do espelho,

A contemplar-nos, como se nos visse do avesso,

Como se estivesse a rir dos nossos rostos sombrios?

 

Como se daquele tempo tivesse restado apenas o reflexo,

Isso me leva a pensar um pouco, um instante ao menos,

Será que um dia realmente chegamos a acreditar naquilo,

Nas juras, nas promessas, não sei quanto a você, mas a meu ver,

Tudo foi em falso, uma espécie de jogada do destino,

Em que acreditamos nos sair bem e hoje, cá estamos...”

 

Ele estava absorto na cerveja em seu copo,

Não objetou em nada, se ouviu algo não demonstrou,

Ela levou a mão impaciente ao rosto, esfregou-a no cabelo,

Depois soltou-a em um gesto de impaciência sobre o sofá,

 

Com um menear de cabeça percebeu que não tinha pelo que lutar,

Estava tudo acabado entre eles, e da forma como se encaminhava,

Nunca havia chegado a começar, quando uma relação não passa de uma ideia,

Não é posta em prática ela é tão nula quanto uma declaração nunca confessada,

 

Eles nunca estiveram em sintonia, nunca estabeleceram parceria,

Pareciam estranhos vagando por entre os cantos da casa fria,

Não havia confiança, entre as paredes, as mentiras ganhavam forma,

Nunca chegaram a serem confessadas diretamente por suas bocas,

E se o foram, ninguém fez questão de assimilar, não fazia mais sentido,

Fingirem comprometimento um com o outro estando separados,

 

A união entre duas pessoas nunca foi questão de formalidade,

Poderia ser resumido simplesmente como acordo de vontades,

Mas nesta relação, tudo teve alta voz, menos a vontade,

Escolheram traçar um caminho e embarcaram no primeiro trem,

Destino incerto, não tinha como ter outro ponto final,

Isso, de certa forma, reproduzia um alívio dentro dela,

 

Tornaria sua partida um pouco mais fácil, sem aquele gosto da derrota,

Já era difícil o bastante encarar os rostos bisbilhoteiros da vizinhança,

Mas uma pergunta ainda gritava em sua cabeça, insegura,

Se ele não sentia mais nada, por que a prendia daquela forma?

Por que ficava estagnado, como se desejasse controla-la?

Qual era o efeito daquele amor bandido, que não fazia nada além de ferir?

Seria o medo, seria assim tão difícil o temível fim?

 

Pensando bem, uma pergunta levava a outra, e todas, sem respostas,

Mas de algum modo teria que terminar, alguém teria que tomar a atitude,

Dizem que aquele que diz a frase final é quem carrega a culpa,

E ela sentia-se disposta a correr este risco e pagar a consequência,

Certa ou errada, não insistiria mais no sentimento que acabou a tempos,

E apenas prolongava uma ausência costumeira, o hábito do ostentar,

 

Para que quando perguntassem sobre o casamento pudessem falar,

“Está tudo bem conosco, quanto aos filhos está dentro dos planos”,

Não havia ligação alguma entre eles, tudo era forçado e doentio,

Nem um contato, a comida posta sobre a mesa não preenchia o vazio

Experimentando no vão da cama, abrigados em cobertas separadas,

Separados em suas cabeças, mas agarrados a quê? Uma ideia?

 

A ideia de que o que Deus uniu o homem não separa?

Que união é essa apregoada? A ideia de que o amor é o menor ingrediente,

De que o que dois jovens fazem na adolescência deve durar para sempre,

E a maturidade, a vivencia em suas mentes não conta para nada,

Quando foi que a conveniência se tornou fator principal para manter um casal?

Homem Caído


Como um homem que deseja acordar, desesperado,

Por descobrir que não estava dentro de um sonho,

Mas sim, encontrava-se preso em um pesadelo,

Sentia os dentes cerrados e o suor escorrendo pelo rosto,

Desejou se secar, mas suas mãos estavam inertes,

Seus punhos estavam fechados como se estivesse preso,

 

Por mais que desejasse soltar seus dedos, eles se negavam,

Algo muito forte se sobrepunha a ele, sem que pudesse resistir,

Desejou apenas recuperar o controle, queria interferir,

Dentro dele, agarrada a aquela espécie de irrealismo,

Escorria algo pegajoso com o efeito de raiva e desgosto,

Sentia-se fracassado, caído em solo frio e escorregadio,

Uma dor causticante sufocava-o em si mesmo,

 

Sentia-se cair em um vazio prestes a consumi-lo,

Em algum ponto do caminho em que havia traçado,

Ele perdeu não apenas a altitude, mas também sua força,

Seu coração batia na garganta, sufocando sua fala,

Nada parecia responder as suas necessidades,

Preso em si mesmo, caindo sem piedade, o que seria dele?

 

Ele negava-se a assimilar os últimos minutos,

Recusava-se a cair em si mesmo, esmagado,

Traído pelas costas por um erro de segundos,

Ousou confiar em quem não merecia,

Ou talvez, induzido a acreditar que o erro era dele,

O que importava a culpa quando se está com a cara suja,

Ferido por palavras cuspidas que agora escorriam nele,

 

Como se livraria da sensação ou apagaria o desgosto?

Com a garganta cheia de ódio e o coração frio de sentimento,

Achava que jamais esqueceria este dia, este fato atípico,

Sentia-se descer sem ter onde se segurar, prostrado de joelhos,

Um dedo indicador estava grudado em seus lábios,

Desejava calá-lo, silenciar sua voz sem justificar o motivo?

Ele ainda podia sentir o gosto, posicionado feito um tolo,

 

Não se sentia mais o homem de poucos momentos atrás,

Os ponteiros do relógio estavam presos a aquele tempo,

Cada segundo era tragado para dentro do vazio de sua alma,

Inundando-o, escorrendo por entre os seus dedos feridos,

Saliva e alguma outra coisa queria gritar sua ofensa,

Mas como faria se estava com a boca cheia de angústia?

 

Teria que tomar cuidado com as palavras proferidas,

Elas poderiam não serem tão bem interpretadas,

Agora a vergonha estava estampada em sua cara,

Escorria feito suor por entre suas entranhas,

Queria nunca ter estado naquele lugar, nunca mesmo,

Queria voltar para o calor do abraço da sua mãe,

Queria poder soltar suas mãos, ao menos um pouco,

Mas uma força esmagadora o colocou de cara no piso frio,

 

O pânico e o choque em sua mente sugeriam silêncio,

Do lado de fora, ele podia ouvir que uma mulher gritava,

Mas ele não tentou, não fez nenhum esboço,

Dentro dele, ele sabia que berrava para ser ouvido,

Mas, apenas o sussurro de um gemido pairava ao seu ouvido,

Prisioneiro da sua dor, cooperava com o gosto amargo do silêncio,

 

Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo,

Sonhou em amar um dia, agora estava estilhaçado,

Fosse ao menos de vidro poderia defender-se,

Mas ele sentia, infelizmente sentia tudo,

Via-se cair no espaço do inseguro, tentou ficar rígido, ereto, mas fracassou,

Não pertencia mais a si mesmo, estava em frangalhos tudo que um dia foi,

Sonhos pelo avesso, passos em falso, objetivos perdidos,

Aonde? Em algum lugar no atalho em que pegou no seu caminho,

 

A culpa ele fez questão de tomar para si mesmo,

A quem mais pertenceria? Ferido de dentro para fora,

De fora para dentro, a este movimento ele nunca foi adepto,

Apunhalar pelas costas, calar a voz em sua garganta?

Sentia como se um ferro quente o atingisse em cheio,

Penetrando sua mente, rasgando-o ao meio,

 

Fez um esforço máximo para recuperar o controle,

Jamais cairia no choro, era um grande homem,

Mas neste instante, estava imóvel, jogado contra a parede,

Com investidas irônicas a cercearem sua liberdade,

 

De tudo que foi um dia, nada restou, nem a sombra,

Sentia o pânico dominando suas alternativas,

Fechando-o naquele tormento pesaroso e sem hora para acabar,

Nem um ruído como resposta, por trás de si, um gemido,

 

Já não era mais nada estava destruído, suas pernas abriram-se tremulas,

Ele não conseguiu conter o peso, caiu de quatro ferindo o rosto,

Um sopro saiu dos seus lábios inseguro, sentia falta de ar,

Estava tudo acabado, a força que o mantinha se afastou um pouco,

Ele continuou ali no chão, incapaz de levantar a cara do solo,

A força que o prendia, afrouxou-se, estava livre, poderia sair daquele estado,

Apenas mais um pouco, disse para si mesmo, logo caiu em silêncio.

Mulher Partindo...

 

Sentia-se ferida por dentro, lágrimas vazavam incontidas,

Um aperto no fundo do peito, algo queimava sua alma,

Seus olhos sobressaltados não aceitavam as investidas,

Com frequência rítmica sentia um vazio toma-la de si mesma,

O homem que um dia jurou amar ela por toda a vida,

Estava duro, ereto, impassível, prendia-se sobre ela,

 

Mesmo ante suas reclamações recusava-se a soltá-la,

Esmagava seus pensamentos, tomava-a de tudo que foi outrora,

Tão duro e triste é ser submetida ao vigor da força bruta,

De quem um dia, apenas jurou ama-la com toda a alma,

 

Traída pelas costas, condenada a esvaziar-se de si mesma,

Presa, dilacerada pelo peso de quem tanto a quis um dia,

No seio do seu peito tinha tudo menos carícias,

No ventre do seu coração não haveria amanhecer para aquele dia,

 

Ele invadia a sua frente, prendendo-a, sugando sua boca,

Derretendo sobre ela um amor que não detinha,

Jamais cumpriu com nenhuma das promessas feitas,

Esqueceu que precisava conquistar para se conservar,

Lágrimas escorriam do seu olhar, sentia suas pernas trêmulas,

Queria resistir, mas como falar para quem não ouvia?

 

Nos sonhos de uma noite as sombras vieram se assenhorar,

Não sobrou nada, nem um momento que quisesse guardar,

Ele chegou em sua vida tão depressa, mas era vagaroso na partida,

As horas escorriam vagarosas, os ponteiros se recusavam a passar,

Ela fechava os olhos e calada se entregava as carícias,

Entre beijos e promessas indesejadas, se perdia, incrédula,

 

Havia algo dentro dela que se recusava a abrir sua alma,

Chegada a hora de falar tudo que sentia dentro de si mesma,

Ela se fechava, calava-se, ele passava um dedo para acariciar suas formas,

Investia sobre ela até abri-la, contornava seus desejos até encontrá-la,

Não importava em que lugar ela pudesse estar,

Ele sempre a buscava, com um dedo sobre a sua boca,

Extraía seus segredos, mesmo que em palavras cuspidas,

 

Ele a dizia que ela estava presa em histórias românticas,

Deveria soltar-se daquilo, se esquivar e viver a vida,

Mas, dentro dela, algo a impedia e este algo não tinha fala,

Pois, por mais que se esforçasse ninguém parecia acreditar,

Sua parte na história de si mesma, ninguém queria aceitar,

Eram indiferentes sobre o que se passava dentro dela,

 

E muito mais com relação ao pranto sofrido por sua alma,

Seus protestos não tinham vida para nenhuma das pessoas,

Só o que as importava eram suas vontades falseadas,

Em desejos que ela nunca sequer sonhou em apoiar,

Muito menos participar, recusava-se a ser protagonista,

Em uma história que não tinha por objetivo amar,

 

As palavras cuspidas sobre ela, eram rejeitadas com veemência,

Mãos limpas ou água fria eram incapazes de limpa-la,

Tratava-se de uma pressão investida contra si mesma,

Da qual ela urgia por ser libertada,

Mãos que prendem não sabem abraçar,

Amor que pune não merece ser considerado em sua vida,

A porta que gostava tanto de deixar trancada e silenciada,

 

Agora rangia para fora, estava escancarada para a rua,

Todos pareciam ouvi-la, mas ninguém que passava dava a mínima,

Suas feições tão bem maquiadas agora corroíam-se feito madeira,

Uma mínima faísca e ela sentia-se queimar por inteira,

Consumida em um misto de dor e raiva que ninguém mais via,

Suas pernas recusavam a obedecê-la, desabituada e suando em abundancia,

Sentia-se seca por dentro, caindo em queda livre no vazio de si mesma,

 

Via escorrer pelos dedos suas chances de amar algum dia,

Puxou um cigarro, inerte e prendeu-o em sua mão em concha,

Queria esconder-se até esvair-se por trás de sua fumaça,

Queria ter força para poder quebra-lo até não restar nada,

Mas tanto ela quanto sua força, tudo parecia falhar agora,

E escapar ileso depois de saciar-se na maciez contida em sua boca,

 

Quisesse ela ou não, estava presa a aquilo que sentia,

Como uma pedra imóvel naquele lugar, sem se mexer nem nada,

Fosse ele homem o suficiente para ouvi-la, não a deixaria dessa forma,

Não abusaria dos seus sentimentos nem ignoraria sua fala,

Mas ela havia cansado de bater os punhos cerrados contra a porta,

De escorrer por ela até se ver em nada, nem a sombra do que foi um dia,

 

Será que a compreensão do que dizia nunca chegaria a ser ouvida,

Será que ele nunca daria ouvidos ao que ela sussurrava,

Tateava sobre ele em tentativa inútil de apenas ser entendida,

Era tão difícil assim cumprir com as promessas e juras apaixonadas,

 

Apenas dar atenção ao que ela buscava para si mesma, ao que acreditava

Pernas afastadas, posição ereta, olhos para longe, em algum lugar,

Deixou de importar o destino da mulher que foi violada,

Agora, ela seguiria seus propósitos com os próprios passos, se distanciaria.

As Lágrimas de Uma Mulher

 

Acordou se sentindo vazia, algo escorria entre os seus dedos,

Sentia estremecer suas pernas, um sonho quebrado agora a feria,

O beijo do amor tão sonhado ressoou aos seus ouvidos, do avesso,

Quem diria que um dia a menina iria acordar e não seria mais a mesma,

Olhou seu reflexo no espelho, olhos escuros, o medo estava escancarado,

Gritava algo forte dentro dela, uma frase inaudível aos ouvidos das outras pessoas,

 

Ela rompeu o lacre do batom vermelho, deixou sua ponta exposta,

Mas dessa vez o destino não eram os seus lábios, era outro,

Ergueu-se com um pouco de custo, colocou-se ereta, diante de si mesma,

Em letras garrafais deixou seu recado naquele espelho intacto,

Sorriu diante disso, mas não gostou do que viu, era inercia demais ao que sentia,

Fechou a mão em punho, mas não foi boba, tirou a roupa, com cuidado,

 

Olhou para ela, havia um vestígio de sangue nela, mas permanecia intacta,

Isso mexeu com sua raiva, pôs uma gota de orvalho nas sombras dos seus olhos,

Decidiu se atentar, enrolou a roupa em sua mão, como uma toca,

Com um único movimento deu um muro no espelho, agora ferido,

Ele rompia-se, mas não se espalhava, parecia dar credito a sua escrita,

Pegou o que sobrou do batom e avermelhou seus lábios macios,

 

Com força, dureza, e uma certa brutalidade, uma gota de sangue emergia,

Uma lágrima insegura moveu-se pelos contornos do seu rosto,

Quente e desejosa, será que queria fragiliza-la naquela hora?

Limpou-a com um dos dedos, o do meio, ergueu-se em seu salto,

Deixou um beijo no espelho, logo abaixo da sua frese, a sua marca,

Havia passado ali, sofrido um bocado, mas havia resistido,

 

Jogou o que sobrou do batom vermelho no chão ao lado de um pedaço da unha,

Havia quebrado ela, lembra que disse que ela amordaçou a mão, naquele minuto,

Logo que a desenrolou da sua roupa ou antes um pouco, quebrou-a,

Quem se importaria agora? Nada dentro dela mais estava inteiro,

Mas um rumor de sonhos tomou sua lembrança, abraçando-a,

Respirou forte, se encheu de coragem e caminhou a passos largos,

 

Sem razão para permanecer ali, se pôs para fora daquele lugar,

Atrás de si um telefone tocava impiedoso, dentro dela gritava alto: medo,

Havia denunciado, acreditava nisso, alguém levaria a sério as suas pistas?

Sem poder contar com testemunha alguma, em quem dariam crédito?

É mesmo justa a balança e cegos os olhos da justiça?

Ou procurariam meios para acobertarem bandidos engravatados?

 

Ela, olhou para trás, sombras terríveis pareciam acompanha-la,

Suspirou, lembrou de ter tirado a gravada, prendendo-a em seu pescoço,

Estava morto o homem que a feriu com ferro quente, violando-a,

Encontrou o destino certo, enterrado nas unhas ao forçar o abraço,

Tirou o batom da sua boca, manchou sua roupa, não sobreviveu para contar,

Tão inerte ficou o homem que a tocou sem uma gota de amor,

 

Não teve direito a lágrimas, não teve direito a piedade, seria enterrado,

Com o coração tão rígido quanto ficou seu corpo ao tocá-la,

Será que ele teria família, o que pensariam ao encontra-lo desvalido?

Se o concedessem um minuto de silêncio, um lugar no fundo da terra,

Talvez pudessem ver no semblante do seu rosto, morto por ter ferido,

Prazer misturado com desgosto, o gosto do arrependimento em sua boca,

 

O gigante que se levantou para ferir, estava atravessado entre os travesseiros,

Ela seguia, com os olhos apertados pelo medo do que se estenderia,

Ele era um homem bonito, bem-apessoado, deveria ter seus parceiros,

Poderia ser repreendida, quem acreditaria na versão da moça desconhecida?

Talvez, ele tivesse traçado um caminho em que acobertou seus passos,

Ela precisava ficar esperta, tinha sonhos em que acreditar,

 

Precisava proteger a si mesma, mais até do que aos outros,

Matou por ela, porque ela merecia ser protegida, ser amada,

Que direito tinha ele de colocar-se sobre ela e ainda ferir seu rosto?

Nunca esqueceria a sensação de sentir sua alma vazar, esvaziando-a,

Seus dedos terem que acariciar quem a prendia com um abraço,

 

Sentir sua maquiagem borrar escorrendo por sua boca,

Ferindo-a pelo desgosto do eu te amo proferido em falso,

Que outra forma usaria para manter-se viva, reagir de forma segura?

Teve que proferir seu nome, beijar lábios quentes e vítreos,

De que outra forma resumiria o beijo debruçado sobre si mesma?

O peso dos seus sentimentos agora esmagava seu peito,

 

Sacudidelas a tomavam de si mesma, e a tiravam de lá,

Imaginou se poderia dormir direito, ainda no vazio do seu quarto,

Mas agora, já não sabia mais o que pensar ou em que se agarrar,

A solidão foi desejada como alguém que deseja o infinito,

Tirou o salto, de pés descalços, seguiu até o final da rua,

Desejou não ser reconhecida, mas alguém precisava denunciar o fato,

 

Não disse muito, apenas o suficiente para motivar sua conduta,

Não seria encontrada, não merecia este resultado tão odioso,

Este homem que voou alto demais agora caia por terra,

Não merecia menos que isso, alguém tinha que identificar seu rosto,

Sem chances de escapar, preso dentro do vazio que fez nela,

Sobre aquele sangue que escorreu dela, aquele ele não teve direito...

Vai Por Meio da Fé?


A sua frente corações vagos, perdidos em seus mundos,

Dentro de si mesmo, um mundo de sonhos,

Pronto para ser percorrido, reconhecido de canto a canto,

A espera de um sinal, um olhar que o faça despertar,

Uma palavra ao menos, para que possa acreditar,

Um sonho ao seu dispor para que possa buscar,

E em nome do amor, se entregar de corpo e alma,

 

Apesar da distorção ente o que dizia e o que fazia,

Ele ainda acreditava que amaria um dia,

Que seria digno de conhecer alguém que o despertasse,

Que quebrasse o encanto em que se colocou sozinho,

Pobre rapaz, acreditava que para conhecer o amor,

Precisava ser salvo de algum lugar onde se colocou,

 

Perdido em suas ideias surreais, preso a promessas vazias,

Aquelas que ele repetia noite a dentro, à espera do beijo,

Aquele beijo sonhado descrito em histórias infantis,

Cujo final é sempre o mesmo: feliz, mas ele sentia isso?

 

Não, acabava de provar do próprio veneno, fez do mundo,

Um local perigoso e incerto, de sonhos ao avesso,

Quando acreditou fazer dos outros seus bonecos,

Querido menino, apenas crianças brincam com brinquedos,

Você não se acha um pouco crecidinho para este jogo?

 

Acorde e desperte desta redoma em que você se colocou,

Acredita por acaso que alguma princesa irá te salvar,

Arriscar tudo, lutar contra todos? Em qual histórias você está?

Nas que eu conheço são as menininhas que são salvas,

Mas querido, sinto informar, todas as menininhas estão crescidas,

E agora, estão a salvar a si próprias, vai continuar aí a esperar?

 

Desliga este seu piloto automático, e começa a dar as cartas,

Isso mesmo, remova a máscara, deixe a cara a mostra,

Acaso acredita que conseguira se esconder por toda a vida?

Se esquivar destas suas crenças bobas em que só você acredita,

Fecha esta sua boca sempre à espera do beijo do amor,

E abre-a para soltar a voz em busca de algo valioso,

 

Sei lá, que tal lutar pela própria vida, que tal passar a valorizar,

Se julga o mestre de tudo, acha que domina a magia do amar,

Mas preso, aí onde você se encontra, não consegue mais que fugir,

Esquivar-se dos resultados de suas próprias ações, desacovarde-se,

 

Você não está aí preso por acreditar no amor, em qual amor?

Este o qual você vulgariza, ridiculariza, calma rapaz,

Será que este seu caminho está correto?

O que você deseja conquistar?

 

Você realmente acredita que poderá fugir dos resultados do que você faz?

A soma das suas contas sempre resulta em você e este seu umbigo,

Sente-se preso em quê, alguém te impede de mudar de ideia,

Estás a ferir e acredita que sairá ileso, amando cada minuto,

Ferindo a todos, condenando a si mesmo, espalhando o pânico,

 

Deseja colher o quê? Lágrimas em troca de carinho?

Beijo frio para corresponder aos seus vazios? Parabéns você é capa dos jornais,

E agora, destruiu a todos, isso te faz bem, te faz melhor que antes,

Se coloca acima de todos, mas realmente você tem valor para alguém?

 

Que bom, diminua a princesa, tome o lugar dela, roube a corroa,

Quem sabe você conquiste o amor que tanto espera,

Sente-se tão bem por oferecer as costas a quem te aprecia,

Dentro de ti não te aperta algo como, por exemplo, uma alma?

Não saí nada de dentro de você, como se fossem lágrimas?

 

Cuidado esta sua segurança pode se romper algum dia,

Espero que, aí então, algo possa resistir dentro do seu peito,

Em ti pulsa algo que possa ser definido como sentimento,

Ou estas a preencher seus vazios com o dedo indicador,

Ao seu redor caem todos, menos você, que bom,

 

Que há aí em seu corpo que o faça sobre-humano,

Há algo em você que mereça mais credito que os outros?

Espero que sua resposta tenha sido o seu cérebro,

Acha-se grande demais, pequeno de menos,

 

O que pesa entre os vãos dos seus dedos, algum machucado?

Caminha ereto pelo caminho tortuoso, cuidado,

De repente possa ser um pouco perigoso,

Muitas princesas falharam nestes mesmos passos,

 

Espero que você esteja medindo sua cautela, rompendo-se,

Quebrando seus tabus, rompendo seus medos, você pensou em quê?

Estas suas mãos abertas estão em busca de abraços?

De serem acolhidas por todos, até mesmo por os estranhos, cuidado,

 

Caminho tortuoso a frente, esteja preparado,

Não busque pisar nos outros para não ser pisoteado,

Mas ainda assim, o será, esteja preparado, queira se encontrar,

Não busque ser salvo pela princesa pois ela pode estar ocupada.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Mulher Sozinha

 


Ela o amava com toda a alma, despia-se de tudo por ele,

Seus medos, seus segredos, em seu amor não pairava limite,

Apaixonou-se feito uma boba e entregou-se por completo,

Ao aproximar-se a triste surpresa, o sujeito era casado,

Tinha outra família, porém jurava que a amava com atenção,

Prometeu cuidar dela, entregar-lhe da alma ao coração,

 

Ela sentia-se incerta, nem sempre se sabe o caminho a seguir,

Sentia-se frágil, era como se houvesse um complô contra ela,

Queria viver, ela dizia, queria entregar-se, permitir-se sentir,

Mas sentia-se perseguida por ele, por todo canto e em todo lugar,

Lá ele estava, ou alguém que o recordava, ela caía com medo,

Como esconder-se entre os becos quando se é perseguida com esmero?

 

Ele forçava o sentimento, ela não tinha destino certo,

Então, ele pareceu a saída ideal, um soldado armado no seu encalço,

Havia amor em tudo isso, em algum lugar haveria, ela estava certa disso,

Porém, o relógio nunca permitiu parar seus ponteiros,

Ela via-se velha, insegura, seu rosto e seu corpo seguiam as horas,

Não havia tempo para pensar ou meios para escapar, estava presa,

 

Algemas invisíveis fechavam-se sobre seus pulsos, segurando-a,

Apesar de não haverem tantos Eus Te Amos, os atos diziam o contrário,

Ele escolhia alguns dias especiais na semana em que por poucas horas seria dela,

O restante do tempo, pertencia a sua família, com direito a bloqueio de chamada,

Troca de número, enfim, distância de tudo que havia prometido um dia,

Ela, tinha o coração frágil, sentia-se sedenta por amar e ser amada,

Se apegava a qualquer promessa, se entregava a qualquer coisa,

 

Em suas noites mal dormidas, vencia o desespero e o procurava no trabalho,

Às vezes, ele atendia suas chamadas, depois de muitas tentativas,

Com seus sorrisos travessos, e ainda alegava não estar,

Sempre com seu bom-humor reconhecido, você rezou para dormir noite passada?

- “Sim, - respondia ela, insegura, amedrontada, - inclusive rezei pela manhã,

Posso perder tudo, menos a fé que um dia possa me ouvir e fazer algo por mim”

 

Lágrimas molhavam seus olhos, via esvair suas forças e depois, tudo partir,

Pois é moça, rezou pouco seu namorado acabou de sair, foi para casa...

As lembranças das perseguições que sofria, das vezes em que era violada,

Vinham em sua cabeça e a prendiam, em algemas frias e doloridas,

 

“Seu namorado está com a mulher dele e você aí sozinha,”

Ela entendeu o recado, estava na rua, desamparada,

Ainda não havia chegado sua hora... mais tarde talvez, se ele disponibilizasse a agenda,

Nem uma palavra de confiança, nada em que pudesse se apegar,

Por Deus, não deveria ser sonho mas sim pesadelo amar assim, mas como poderia escapar?

 

Um dia, ela ousou falar de filhos, num momento em que estavam fazendo amor,

Ele sorriu, de forma companheira, foi sincero como deveria ter sido,

“Eu estarei ao seu lado em tudo que for preciso, mas nunca serei o pai do seu filho,

Porém, no instante em que você estiver na sala de parto eu estarei lá, segurando sua mão,”

Ela estremeceu, não sabia mais o que fazer, sentia descompassar o coração,

 

Não era uma promessa de ficarem juntos, mas como ela se envolveria com outro?

Estava presa pela alma, amordaçada, como poderia falar sobre seus sonhos,

Em quem confiar se ele pertencia a outra, era casado, que mundo louco,

 

Amar tanto alguém que por você não se importa nem um pouco,

Ela lembrava-se perfeitamente da época em que a deram uma surra,

De tantas brigas que teve com sua família, tendo ele como motivo,

E onde ele estava naquela hora, com outra, possivelmente em sua cama,

Se estava distante demais dela, por que mantê-la como uma espécie de refém?

O que havia na cabeça dele, acaso se julgava no direito de possuir um harém?

 

Sem posicionamento quanto aos costumes,

Até porque na época em que estavam juntos,

O próprio direito abria respaldo para este tipo de relação,

Permitindo que eles andassem juntos por onde quisessem,

De mãos dadas se fosse sua vontade, mas nunca houve essa questão,

 

Estava amando sozinha, via-o olhar para todas as mulheres, em cada esquina,

A própria esposa chegara a confidenciar, que uma só nunca lhe bastou,

Por Deus, ela não compreendia o que para ele abrangia a definição do amor?

 

Um dia o pai dele lhe falou que ele havia mudado por ela,

Pediu para conversarem, ela levou como uma ameaça,

O que mais poderia ser, ela era sozinha, como iria se defender?

Essas histórias sobre amantes é bastante complexa,

Sempre se quer defender apenas o direito da esposa,

Ninguém ousa reconhecer quem é o sujeito que procura a outra,

 

A menina que havia sido no passado agora estava muito distante,

Via-se presa ao que sentia, escorregadia por medo de pisar em falso,

Lá na favela onde habitava ela precisava de socorro, quem poderia ampara-la?

 

É certo que ele escolheu a pessoa certa quando foi busca-la,

Que chances ela teria de defesa? Ele tinha propriedades, era bem sucedido,

Poderia trancar qualquer oportunidade de êxito na vida dela,

Poderia, inclusive, ceifar sua vida sem satisfação alguma,

Tinha a arma, a munição, até mesmo álibi, que chances ela teria?

 

As ameaças ao seu redor eram uma constante, como ela poderia escapar?

Lembrava de ter falado com ele sobre ameaças de estupros,

E de que sua resposta foi que ela deveria cooperar, sem tentar escapar,

Do contrário poderia perder não apenas os sentidos, mas a própria vida,

 

Vida? Sobre qual vida ele se referia? Aquele caminho de mão dupla que ela seguia,

Que não importava por onde andasse nunca levaria a lugar algum,

Condenada as grades do próprio coração, por amar de forma desmedida,

Agora a fecharia em si mesma, para ver tudo cair em ruínas, até mesmo ela,

 

Ela clamou por justiça, mas no caminho da escola, o avistou com outra,

Ela procurou ganhar a própria vida, mas no caminho do trabalho,

Ele estava com outra, ainda mais bonita, dentro do carro em que se amaram,

 

Ele abria portas para ela, ela queria acreditar nisso, mas de outra forma,

A batia na cara com toda a força, uma promessa e um tapa com toda raiva,

Burra, ele a identificava; seca, ele a definia; ela não era nada,

Nem mesmo a sombra do que foi um dia, como poderia lutar por si mesma,

Se estava amarrada, tendo que jurar amor em troca da sua vida,

Que covardia, tentar conquistar sem intenção nenhuma de amar,

 

No instante em que o sentimento vazava, ele lhe dava remédio,

Após algum tempo, a abraçava por trás, sem chance alguma de fuga,

Ela seria somente sua a partir de agora, ele fez quentão de mantê-la,

Frouxa o bastante para não configurar cadeia,

Apertada o suficiente para não empreender em fuga,

 

Como pertence-lo em maior medida, propriedade com direito a identificação,

A outra: a reconheciam, ninguém: a definiam; fechada no próprio coração,

O piloto automático estava ligado, devia-se agradecer por isso,

Faça-o se puder, em que lugar estamos, qual será nosso destino?

Um Homem Sozinho

 


Sim, compreendo, disse ele ao vê-la dar de ombros,

Com os olhos seguros como quem dizia, não sinto nada,

Ele sentia seu coração partir-se em mil pedaços,

Condenação prematura ao fracasso, sem lágrimas,

Quem iria permitir-se chorar a uma hora daquelas,

Ela tocou aquele trinco gelado, como deveriam estar seus lábios,

 

De que outra forma estaria a boca que quebrou suas promessas,

Que juntou todos os seus sonhos, pôs na mala e disse: vou embora,

A mesma boca quente que dissera eu te amo, agora estava fria,

E ainda assim, ele desejava toca-la, apenas mais uma vez dizia,

Ela parou um pouco, olhou adiante, talvez fosse se virar,

Ainda brilhava uma esperança em sua alma, ela não o deixaria...

 

Então, ela ficou um pouco mais de lado, ele pode contempla-la,

Lembrar de cada abraço, da forma como dormiam juntos,

Juntou todas as suas forças e olhou no fundo dos olhos dela,

Não encontrou nada, confidenciou-se com seus olhos assustados,

Não encontrou seus momentos felizes, as juras apaixonadas,

O esforço que ele fez para que ficassem juntos, inseguro,

 

Foi como ele se sentiu, com um frio a percorrer a espinha,

Afundou-se na poltrona, não ousaria levantar-se, como poderia,

Suas forças esvaíram-se de suas veias e estavam todas nela,

Por mais que se esforçasse não conseguia acreditar na frieza que via,

Ir embora, negar-se a tudo, com um dar de ombros sair de suas vidas,

Nem mesmo um pedido de desculpas, mas também naquela altura,

 

Quem acreditaria em qualquer palavra que ela fosse falar,

Se colocava em um pedestal, quem iria alcança-la?

Lembrou dos últimos dias, de quantas vezes ela ficava vazia,

Como se fugisse dali e fosse parar em algum outro lugar,

Mas agora estava abastecida, roubara suas forças,

Deveria ser o bastante para sair para sempre, até nunca,

 

Ele quis dizer a ela, mas não teve a chance, ela já não os pertencia,

Será que algum dia havia se entregado mesmo a este amor?

Ela fazia tantas cobranças, nada nunca fora o suficiente, nada a preenchia,

Então de uma hora para outra, de forma desmedida, ela ficou cheia,

Será que pretendia escrever uma historinha, fazê-lo de idiota,

Cansar da vida lá fora, como sempre se cansava de tudo e ainda querer ser recebida de volta?

 

Ela olhou para o chão, para as flores desenhadas em suas unhas,

Ele se sobressaltou de emoção, será que agora ela o veria?

Estagnado, imóvel, cansado de lutar sozinho, agora ele sofria,

Não desejava que ela o visse daquela forma, uma lágrima teimosa,

Brilhou em seu olhar, e ousou ficar ali parada, será que queria gesticular?

Desejava chamar a atenção dela, e agora, se ela o olhasse, como esconderia?

 

Mas ela não olhou, continuou da forma que estava, segura em si mesma,

Naquele instante ele soube que nada abalaria a sua confiança,

Ela havia sido esculpida em pedra e assim ela permaneceria,

Abriu a porta, inquieta, gemeu como se estivesse a avisar sobre sua saída,

Os lábios dele estremeceram, ela o olharia, ao fecha-la,

Falaria alguma coisa qualquer que pudesse guardar,

Já que levava no fundo falso da sua mala, os sonhos de uma vida,

 

Mas não, ela não emitiu nenhum som, nenhum aviso, nada mesmo,

Seu rosto agora era uma máscara de maquiagem, o dele, uma ausência,

Ausência de um lugar para abrigar os sonhos perdidos, talvez, concertá-los?

Será que se ela fosse tão longe, ele de alguma forma poderia recriar,

Feito uma mágica, tudo aquilo que sonhou um dia, e que ela carregou para fora?

 

Tocou em seu braço pedindo abrigo, quando queria extraí-lo,

E conseguiu o segredo dos seus sonhos, traçou um caminho,

Tirou-os de dentro dele dando vida de um a um, ao seu jeito,

Depois, cansou-se, pegou sua mala e seguiu outro caminho,

Ele levou a mão em concha e secou o suor do rosto molhado,

Embebido em um pranto inseguro, de quem estava sozinho,

 

Preso naquela poltrona, inseguro quanto a tudo, inclusive a si mesmo,

Desejou acender um cigarro, tragá-lo, até algo preenchê-lo,

Até que a fumaça subisse aos céus e escondesse seus olhos,

A partir daquele instante, ele se negaria aos sentimentos,

Errou uma vez, depois duas, não queria errar de novo,

Era grotesco demais ser abandonado por quem mais amou,

 

Ver todas as juras ditas, silenciarem dentro de si mesmo,

Ecoarem dentro do vazio crescente do seu peito, morte premeditada,

Como ele fora um tolo ao ousar falar de sonhos em alta voz,

Agora a cada vez que saísse daquela poltrona os veria retornar na sua cara,

E quando ousasse sorrir, feliz por recordar os bons momentos,

Se veria sozinho, não haveria nada em que pudesse se confortar,

 

Até mesmo os segredos silenciados seriam jogados contra o seu rosto,

Sentia seu sorriso desfazendo-se, não haveria nada em que se agarrar?

Agora que todos conheciam sobre o amor em que ousou acreditar,

Receberia apenas o eco no instante em que todos estivessem a recordar,

Talvez, com alguma intervenção divina alguém tivesse acreditado nele,

E quem sabe, passasse por sua porta a devolver-lhe o que foi tirado,

 

Sobraria algo de bom de tudo aquilo, não sobraria?

Talvez, dela, nunca mais tivesse notícias, ela era decidida,

Por que voltaria, depois de abandoná-lo, usurpando suas forças?

Mas, ele queria, ao menos por um pouco, se agarrar as memórias,

Desejou, naquela hora, que ao menos isso não fosse tirado,

Seria difícil receber dos seus sonhos, apenas o eco jogado em seu rosto.

Casada por Acaso

O término do namoro Levou Ana ao dezenove Pote de dez litros de sorvete, Já conhecia todos os sabores, Brincava com as cores...