Sentia-se ferida por dentro, lágrimas vazavam incontidas,
Um aperto no fundo do peito, algo queimava sua alma,
Seus olhos sobressaltados não aceitavam as investidas,
Com frequência rítmica sentia um vazio toma-la de si mesma,
O homem que um dia jurou amar ela por toda a vida,
Estava duro, ereto, impassível, prendia-se sobre ela,
Mesmo ante suas reclamações recusava-se a soltá-la,
Esmagava seus pensamentos, tomava-a de tudo que foi outrora,
Tão duro e triste é ser submetida ao vigor da força bruta,
De quem um dia, apenas jurou ama-la com toda a alma,
Traída pelas costas, condenada a esvaziar-se de si mesma,
Presa, dilacerada pelo peso de quem tanto a quis um dia,
No seio do seu peito tinha tudo menos carícias,
No ventre do seu coração não haveria amanhecer para aquele
dia,
Ele invadia a sua frente, prendendo-a, sugando sua boca,
Derretendo sobre ela um amor que não detinha,
Jamais cumpriu com nenhuma das promessas feitas,
Esqueceu que precisava conquistar para se conservar,
Lágrimas escorriam do seu olhar, sentia suas pernas trêmulas,
Queria resistir, mas como falar para quem não ouvia?
Nos sonhos de uma noite as sombras vieram se assenhorar,
Não sobrou nada, nem um momento que quisesse guardar,
Ele chegou em sua vida tão depressa, mas era vagaroso na
partida,
As horas escorriam vagarosas, os ponteiros se recusavam a
passar,
Ela fechava os olhos e calada se entregava as carícias,
Entre beijos e promessas indesejadas, se perdia, incrédula,
Havia algo dentro dela que se recusava a abrir sua alma,
Chegada a hora de falar tudo que sentia dentro de si mesma,
Ela se fechava, calava-se, ele passava um dedo para
acariciar suas formas,
Investia sobre ela até abri-la, contornava seus desejos até
encontrá-la,
Não importava em que lugar ela pudesse estar,
Ele sempre a buscava, com um dedo sobre a sua boca,
Extraía seus segredos, mesmo que em palavras cuspidas,
Ele a dizia que ela estava presa em histórias românticas,
Deveria soltar-se daquilo, se esquivar e viver a vida,
Mas, dentro dela, algo a impedia e este algo não tinha fala,
Pois, por mais que se esforçasse ninguém parecia acreditar,
Sua parte na história de si mesma, ninguém queria aceitar,
Eram indiferentes sobre o que se passava dentro dela,
E muito mais com relação ao pranto sofrido por sua alma,
Seus protestos não tinham vida para nenhuma das pessoas,
Só o que as importava eram suas vontades falseadas,
Em desejos que ela nunca sequer sonhou em apoiar,
Muito menos participar, recusava-se a ser protagonista,
Em uma história que não tinha por objetivo amar,
As palavras cuspidas sobre ela, eram rejeitadas com veemência,
Mãos limpas ou água fria eram incapazes de limpa-la,
Tratava-se de uma pressão investida contra si mesma,
Da qual ela urgia por ser libertada,
Mãos que prendem não sabem abraçar,
Amor que pune não merece ser considerado em sua vida,
A porta que gostava tanto de deixar trancada e silenciada,
Agora rangia para fora, estava escancarada para a rua,
Todos pareciam ouvi-la, mas ninguém que passava dava a
mínima,
Suas feições tão bem maquiadas agora corroíam-se feito
madeira,
Uma mínima faísca e ela sentia-se queimar por inteira,
Consumida em um misto de dor e raiva que ninguém mais via,
Suas pernas recusavam a obedecê-la, desabituada e suando em
abundancia,
Sentia-se seca por dentro, caindo em queda livre no vazio de
si mesma,
Via escorrer pelos dedos suas chances de amar algum dia,
Puxou um cigarro, inerte e prendeu-o em sua mão em concha,
Queria esconder-se até esvair-se por trás de sua fumaça,
Queria ter força para poder quebra-lo até não restar nada,
Mas tanto ela quanto sua força, tudo parecia falhar agora,
E escapar ileso depois de saciar-se na maciez contida em sua
boca,
Quisesse ela ou não, estava presa a aquilo que sentia,
Como uma pedra imóvel naquele lugar, sem se mexer nem nada,
Fosse ele homem o suficiente para ouvi-la, não a deixaria
dessa forma,
Não abusaria dos seus sentimentos nem ignoraria sua fala,
Mas ela havia cansado de bater os punhos cerrados contra a
porta,
De escorrer por ela até se ver em nada, nem a sombra do que
foi um dia,
Será que a compreensão do que dizia nunca chegaria a ser
ouvida,
Será que ele nunca daria ouvidos ao que ela sussurrava,
Tateava sobre ele em tentativa inútil de apenas ser
entendida,
Era tão difícil assim cumprir com as promessas e juras
apaixonadas,
Apenas dar atenção ao que ela buscava para si mesma, ao que
acreditava
Pernas afastadas, posição ereta, olhos para longe, em algum
lugar,
Deixou de importar o destino da mulher que foi violada,
Agora, ela seguiria seus propósitos com os próprios passos,
se distanciaria.
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