segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Mulher Sozinha

 


Ela o amava com toda a alma, despia-se de tudo por ele,

Seus medos, seus segredos, em seu amor não pairava limite,

Apaixonou-se feito uma boba e entregou-se por completo,

Ao aproximar-se a triste surpresa, o sujeito era casado,

Tinha outra família, porém jurava que a amava com atenção,

Prometeu cuidar dela, entregar-lhe da alma ao coração,

 

Ela sentia-se incerta, nem sempre se sabe o caminho a seguir,

Sentia-se frágil, era como se houvesse um complô contra ela,

Queria viver, ela dizia, queria entregar-se, permitir-se sentir,

Mas sentia-se perseguida por ele, por todo canto e em todo lugar,

Lá ele estava, ou alguém que o recordava, ela caía com medo,

Como esconder-se entre os becos quando se é perseguida com esmero?

 

Ele forçava o sentimento, ela não tinha destino certo,

Então, ele pareceu a saída ideal, um soldado armado no seu encalço,

Havia amor em tudo isso, em algum lugar haveria, ela estava certa disso,

Porém, o relógio nunca permitiu parar seus ponteiros,

Ela via-se velha, insegura, seu rosto e seu corpo seguiam as horas,

Não havia tempo para pensar ou meios para escapar, estava presa,

 

Algemas invisíveis fechavam-se sobre seus pulsos, segurando-a,

Apesar de não haverem tantos Eus Te Amos, os atos diziam o contrário,

Ele escolhia alguns dias especiais na semana em que por poucas horas seria dela,

O restante do tempo, pertencia a sua família, com direito a bloqueio de chamada,

Troca de número, enfim, distância de tudo que havia prometido um dia,

Ela, tinha o coração frágil, sentia-se sedenta por amar e ser amada,

Se apegava a qualquer promessa, se entregava a qualquer coisa,

 

Em suas noites mal dormidas, vencia o desespero e o procurava no trabalho,

Às vezes, ele atendia suas chamadas, depois de muitas tentativas,

Com seus sorrisos travessos, e ainda alegava não estar,

Sempre com seu bom-humor reconhecido, você rezou para dormir noite passada?

- “Sim, - respondia ela, insegura, amedrontada, - inclusive rezei pela manhã,

Posso perder tudo, menos a fé que um dia possa me ouvir e fazer algo por mim”

 

Lágrimas molhavam seus olhos, via esvair suas forças e depois, tudo partir,

Pois é moça, rezou pouco seu namorado acabou de sair, foi para casa...

As lembranças das perseguições que sofria, das vezes em que era violada,

Vinham em sua cabeça e a prendiam, em algemas frias e doloridas,

 

“Seu namorado está com a mulher dele e você aí sozinha,”

Ela entendeu o recado, estava na rua, desamparada,

Ainda não havia chegado sua hora... mais tarde talvez, se ele disponibilizasse a agenda,

Nem uma palavra de confiança, nada em que pudesse se apegar,

Por Deus, não deveria ser sonho mas sim pesadelo amar assim, mas como poderia escapar?

 

Um dia, ela ousou falar de filhos, num momento em que estavam fazendo amor,

Ele sorriu, de forma companheira, foi sincero como deveria ter sido,

“Eu estarei ao seu lado em tudo que for preciso, mas nunca serei o pai do seu filho,

Porém, no instante em que você estiver na sala de parto eu estarei lá, segurando sua mão,”

Ela estremeceu, não sabia mais o que fazer, sentia descompassar o coração,

 

Não era uma promessa de ficarem juntos, mas como ela se envolveria com outro?

Estava presa pela alma, amordaçada, como poderia falar sobre seus sonhos,

Em quem confiar se ele pertencia a outra, era casado, que mundo louco,

 

Amar tanto alguém que por você não se importa nem um pouco,

Ela lembrava-se perfeitamente da época em que a deram uma surra,

De tantas brigas que teve com sua família, tendo ele como motivo,

E onde ele estava naquela hora, com outra, possivelmente em sua cama,

Se estava distante demais dela, por que mantê-la como uma espécie de refém?

O que havia na cabeça dele, acaso se julgava no direito de possuir um harém?

 

Sem posicionamento quanto aos costumes,

Até porque na época em que estavam juntos,

O próprio direito abria respaldo para este tipo de relação,

Permitindo que eles andassem juntos por onde quisessem,

De mãos dadas se fosse sua vontade, mas nunca houve essa questão,

 

Estava amando sozinha, via-o olhar para todas as mulheres, em cada esquina,

A própria esposa chegara a confidenciar, que uma só nunca lhe bastou,

Por Deus, ela não compreendia o que para ele abrangia a definição do amor?

 

Um dia o pai dele lhe falou que ele havia mudado por ela,

Pediu para conversarem, ela levou como uma ameaça,

O que mais poderia ser, ela era sozinha, como iria se defender?

Essas histórias sobre amantes é bastante complexa,

Sempre se quer defender apenas o direito da esposa,

Ninguém ousa reconhecer quem é o sujeito que procura a outra,

 

A menina que havia sido no passado agora estava muito distante,

Via-se presa ao que sentia, escorregadia por medo de pisar em falso,

Lá na favela onde habitava ela precisava de socorro, quem poderia ampara-la?

 

É certo que ele escolheu a pessoa certa quando foi busca-la,

Que chances ela teria de defesa? Ele tinha propriedades, era bem sucedido,

Poderia trancar qualquer oportunidade de êxito na vida dela,

Poderia, inclusive, ceifar sua vida sem satisfação alguma,

Tinha a arma, a munição, até mesmo álibi, que chances ela teria?

 

As ameaças ao seu redor eram uma constante, como ela poderia escapar?

Lembrava de ter falado com ele sobre ameaças de estupros,

E de que sua resposta foi que ela deveria cooperar, sem tentar escapar,

Do contrário poderia perder não apenas os sentidos, mas a própria vida,

 

Vida? Sobre qual vida ele se referia? Aquele caminho de mão dupla que ela seguia,

Que não importava por onde andasse nunca levaria a lugar algum,

Condenada as grades do próprio coração, por amar de forma desmedida,

Agora a fecharia em si mesma, para ver tudo cair em ruínas, até mesmo ela,

 

Ela clamou por justiça, mas no caminho da escola, o avistou com outra,

Ela procurou ganhar a própria vida, mas no caminho do trabalho,

Ele estava com outra, ainda mais bonita, dentro do carro em que se amaram,

 

Ele abria portas para ela, ela queria acreditar nisso, mas de outra forma,

A batia na cara com toda a força, uma promessa e um tapa com toda raiva,

Burra, ele a identificava; seca, ele a definia; ela não era nada,

Nem mesmo a sombra do que foi um dia, como poderia lutar por si mesma,

Se estava amarrada, tendo que jurar amor em troca da sua vida,

Que covardia, tentar conquistar sem intenção nenhuma de amar,

 

No instante em que o sentimento vazava, ele lhe dava remédio,

Após algum tempo, a abraçava por trás, sem chance alguma de fuga,

Ela seria somente sua a partir de agora, ele fez quentão de mantê-la,

Frouxa o bastante para não configurar cadeia,

Apertada o suficiente para não empreender em fuga,

 

Como pertence-lo em maior medida, propriedade com direito a identificação,

A outra: a reconheciam, ninguém: a definiam; fechada no próprio coração,

O piloto automático estava ligado, devia-se agradecer por isso,

Faça-o se puder, em que lugar estamos, qual será nosso destino?

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