terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Homem Caído


Como um homem que deseja acordar, desesperado,

Por descobrir que não estava dentro de um sonho,

Mas sim, encontrava-se preso em um pesadelo,

Sentia os dentes cerrados e o suor escorrendo pelo rosto,

Desejou se secar, mas suas mãos estavam inertes,

Seus punhos estavam fechados como se estivesse preso,

 

Por mais que desejasse soltar seus dedos, eles se negavam,

Algo muito forte se sobrepunha a ele, sem que pudesse resistir,

Desejou apenas recuperar o controle, queria interferir,

Dentro dele, agarrada a aquela espécie de irrealismo,

Escorria algo pegajoso com o efeito de raiva e desgosto,

Sentia-se fracassado, caído em solo frio e escorregadio,

Uma dor causticante sufocava-o em si mesmo,

 

Sentia-se cair em um vazio prestes a consumi-lo,

Em algum ponto do caminho em que havia traçado,

Ele perdeu não apenas a altitude, mas também sua força,

Seu coração batia na garganta, sufocando sua fala,

Nada parecia responder as suas necessidades,

Preso em si mesmo, caindo sem piedade, o que seria dele?

 

Ele negava-se a assimilar os últimos minutos,

Recusava-se a cair em si mesmo, esmagado,

Traído pelas costas por um erro de segundos,

Ousou confiar em quem não merecia,

Ou talvez, induzido a acreditar que o erro era dele,

O que importava a culpa quando se está com a cara suja,

Ferido por palavras cuspidas que agora escorriam nele,

 

Como se livraria da sensação ou apagaria o desgosto?

Com a garganta cheia de ódio e o coração frio de sentimento,

Achava que jamais esqueceria este dia, este fato atípico,

Sentia-se descer sem ter onde se segurar, prostrado de joelhos,

Um dedo indicador estava grudado em seus lábios,

Desejava calá-lo, silenciar sua voz sem justificar o motivo?

Ele ainda podia sentir o gosto, posicionado feito um tolo,

 

Não se sentia mais o homem de poucos momentos atrás,

Os ponteiros do relógio estavam presos a aquele tempo,

Cada segundo era tragado para dentro do vazio de sua alma,

Inundando-o, escorrendo por entre os seus dedos feridos,

Saliva e alguma outra coisa queria gritar sua ofensa,

Mas como faria se estava com a boca cheia de angústia?

 

Teria que tomar cuidado com as palavras proferidas,

Elas poderiam não serem tão bem interpretadas,

Agora a vergonha estava estampada em sua cara,

Escorria feito suor por entre suas entranhas,

Queria nunca ter estado naquele lugar, nunca mesmo,

Queria voltar para o calor do abraço da sua mãe,

Queria poder soltar suas mãos, ao menos um pouco,

Mas uma força esmagadora o colocou de cara no piso frio,

 

O pânico e o choque em sua mente sugeriam silêncio,

Do lado de fora, ele podia ouvir que uma mulher gritava,

Mas ele não tentou, não fez nenhum esboço,

Dentro dele, ele sabia que berrava para ser ouvido,

Mas, apenas o sussurro de um gemido pairava ao seu ouvido,

Prisioneiro da sua dor, cooperava com o gosto amargo do silêncio,

 

Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo,

Sonhou em amar um dia, agora estava estilhaçado,

Fosse ao menos de vidro poderia defender-se,

Mas ele sentia, infelizmente sentia tudo,

Via-se cair no espaço do inseguro, tentou ficar rígido, ereto, mas fracassou,

Não pertencia mais a si mesmo, estava em frangalhos tudo que um dia foi,

Sonhos pelo avesso, passos em falso, objetivos perdidos,

Aonde? Em algum lugar no atalho em que pegou no seu caminho,

 

A culpa ele fez questão de tomar para si mesmo,

A quem mais pertenceria? Ferido de dentro para fora,

De fora para dentro, a este movimento ele nunca foi adepto,

Apunhalar pelas costas, calar a voz em sua garganta?

Sentia como se um ferro quente o atingisse em cheio,

Penetrando sua mente, rasgando-o ao meio,

 

Fez um esforço máximo para recuperar o controle,

Jamais cairia no choro, era um grande homem,

Mas neste instante, estava imóvel, jogado contra a parede,

Com investidas irônicas a cercearem sua liberdade,

 

De tudo que foi um dia, nada restou, nem a sombra,

Sentia o pânico dominando suas alternativas,

Fechando-o naquele tormento pesaroso e sem hora para acabar,

Nem um ruído como resposta, por trás de si, um gemido,

 

Já não era mais nada estava destruído, suas pernas abriram-se tremulas,

Ele não conseguiu conter o peso, caiu de quatro ferindo o rosto,

Um sopro saiu dos seus lábios inseguro, sentia falta de ar,

Estava tudo acabado, a força que o mantinha se afastou um pouco,

Ele continuou ali no chão, incapaz de levantar a cara do solo,

A força que o prendia, afrouxou-se, estava livre, poderia sair daquele estado,

Apenas mais um pouco, disse para si mesmo, logo caiu em silêncio.

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