terça-feira, 26 de janeiro de 2021

As Lágrimas de Uma Mulher

 

Acordou se sentindo vazia, algo escorria entre os seus dedos,

Sentia estremecer suas pernas, um sonho quebrado agora a feria,

O beijo do amor tão sonhado ressoou aos seus ouvidos, do avesso,

Quem diria que um dia a menina iria acordar e não seria mais a mesma,

Olhou seu reflexo no espelho, olhos escuros, o medo estava escancarado,

Gritava algo forte dentro dela, uma frase inaudível aos ouvidos das outras pessoas,

 

Ela rompeu o lacre do batom vermelho, deixou sua ponta exposta,

Mas dessa vez o destino não eram os seus lábios, era outro,

Ergueu-se com um pouco de custo, colocou-se ereta, diante de si mesma,

Em letras garrafais deixou seu recado naquele espelho intacto,

Sorriu diante disso, mas não gostou do que viu, era inercia demais ao que sentia,

Fechou a mão em punho, mas não foi boba, tirou a roupa, com cuidado,

 

Olhou para ela, havia um vestígio de sangue nela, mas permanecia intacta,

Isso mexeu com sua raiva, pôs uma gota de orvalho nas sombras dos seus olhos,

Decidiu se atentar, enrolou a roupa em sua mão, como uma toca,

Com um único movimento deu um muro no espelho, agora ferido,

Ele rompia-se, mas não se espalhava, parecia dar credito a sua escrita,

Pegou o que sobrou do batom e avermelhou seus lábios macios,

 

Com força, dureza, e uma certa brutalidade, uma gota de sangue emergia,

Uma lágrima insegura moveu-se pelos contornos do seu rosto,

Quente e desejosa, será que queria fragiliza-la naquela hora?

Limpou-a com um dos dedos, o do meio, ergueu-se em seu salto,

Deixou um beijo no espelho, logo abaixo da sua frese, a sua marca,

Havia passado ali, sofrido um bocado, mas havia resistido,

 

Jogou o que sobrou do batom vermelho no chão ao lado de um pedaço da unha,

Havia quebrado ela, lembra que disse que ela amordaçou a mão, naquele minuto,

Logo que a desenrolou da sua roupa ou antes um pouco, quebrou-a,

Quem se importaria agora? Nada dentro dela mais estava inteiro,

Mas um rumor de sonhos tomou sua lembrança, abraçando-a,

Respirou forte, se encheu de coragem e caminhou a passos largos,

 

Sem razão para permanecer ali, se pôs para fora daquele lugar,

Atrás de si um telefone tocava impiedoso, dentro dela gritava alto: medo,

Havia denunciado, acreditava nisso, alguém levaria a sério as suas pistas?

Sem poder contar com testemunha alguma, em quem dariam crédito?

É mesmo justa a balança e cegos os olhos da justiça?

Ou procurariam meios para acobertarem bandidos engravatados?

 

Ela, olhou para trás, sombras terríveis pareciam acompanha-la,

Suspirou, lembrou de ter tirado a gravada, prendendo-a em seu pescoço,

Estava morto o homem que a feriu com ferro quente, violando-a,

Encontrou o destino certo, enterrado nas unhas ao forçar o abraço,

Tirou o batom da sua boca, manchou sua roupa, não sobreviveu para contar,

Tão inerte ficou o homem que a tocou sem uma gota de amor,

 

Não teve direito a lágrimas, não teve direito a piedade, seria enterrado,

Com o coração tão rígido quanto ficou seu corpo ao tocá-la,

Será que ele teria família, o que pensariam ao encontra-lo desvalido?

Se o concedessem um minuto de silêncio, um lugar no fundo da terra,

Talvez pudessem ver no semblante do seu rosto, morto por ter ferido,

Prazer misturado com desgosto, o gosto do arrependimento em sua boca,

 

O gigante que se levantou para ferir, estava atravessado entre os travesseiros,

Ela seguia, com os olhos apertados pelo medo do que se estenderia,

Ele era um homem bonito, bem-apessoado, deveria ter seus parceiros,

Poderia ser repreendida, quem acreditaria na versão da moça desconhecida?

Talvez, ele tivesse traçado um caminho em que acobertou seus passos,

Ela precisava ficar esperta, tinha sonhos em que acreditar,

 

Precisava proteger a si mesma, mais até do que aos outros,

Matou por ela, porque ela merecia ser protegida, ser amada,

Que direito tinha ele de colocar-se sobre ela e ainda ferir seu rosto?

Nunca esqueceria a sensação de sentir sua alma vazar, esvaziando-a,

Seus dedos terem que acariciar quem a prendia com um abraço,

 

Sentir sua maquiagem borrar escorrendo por sua boca,

Ferindo-a pelo desgosto do eu te amo proferido em falso,

Que outra forma usaria para manter-se viva, reagir de forma segura?

Teve que proferir seu nome, beijar lábios quentes e vítreos,

De que outra forma resumiria o beijo debruçado sobre si mesma?

O peso dos seus sentimentos agora esmagava seu peito,

 

Sacudidelas a tomavam de si mesma, e a tiravam de lá,

Imaginou se poderia dormir direito, ainda no vazio do seu quarto,

Mas agora, já não sabia mais o que pensar ou em que se agarrar,

A solidão foi desejada como alguém que deseja o infinito,

Tirou o salto, de pés descalços, seguiu até o final da rua,

Desejou não ser reconhecida, mas alguém precisava denunciar o fato,

 

Não disse muito, apenas o suficiente para motivar sua conduta,

Não seria encontrada, não merecia este resultado tão odioso,

Este homem que voou alto demais agora caia por terra,

Não merecia menos que isso, alguém tinha que identificar seu rosto,

Sem chances de escapar, preso dentro do vazio que fez nela,

Sobre aquele sangue que escorreu dela, aquele ele não teve direito...

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