Ela passou ambas as mãos por entre os cabelos em atitude dramática,
Olhos encharcados de lágrimas, coração cambaleante,
Pernas bambas, sôfrega, ela sofria e não sabia mais
disfarçar,
Tentava de todas as formas se esquivar, seguir adiante,
Mas era como se sempre algo se colocasse em seu caminho,
Um sujeito que se definia homem, ele tinha um nome,
Mas ela preferia defini-lo por um número, seria o último...
Sabe aquele soldado que marcha na contramão dos seus
sentimentos,
Aquele que acha que pode ferir com uma mão e acariciar com a
outra?
Pois bem, ela havia cansado desse sentimento falso,
Agora havia baixado a guarda e empunhado uma espada,
Suas mãos cansadas pelo trabalho árduo,
Agora haviam tirado as luvas, o tocaria no rosto com suas
mãos nuas,
Porém, ele nunca mais voltaria a ser o mesmo,
Se ele feria usando a força ela o feriria da mesma forma,
porém com carícias,
Quem foi que disse que uma mulher precisa se despir da
feminilidade
Para alcançar os fins que deseja para si mesma?
Principalmente quando este fim imediato é a sua própria segurança?
Quem foi que disse que sua voz precisa ecoar em espaços
vazios
Entre prantos e angústia para que ela finalmente seja
ouvida?
Usaria o cérebro, calçaria um salto alto, seguiria ereta por
seu caminho,
Se entre os vãos do destino fosse necessário descalçar o
salto,
Que não fosse por muito tempo, apenas pelo suficiente
Para furar o pneu do carro dele, quebrar o espelho em que
via-se refletido,
Aquela imagem que ele criou e que só existia para si mesmo,
Perfurar o vidro do carro para com um sopro fazê-lo em
estilhaços,
Mas um pouco antes disso, ou no espaço por entre esses atos,
Crava-lo em meio a sua testa, abandonando-o naquele banco:
ferido,
Talvez, fugisse de lá descalça, acreditaria que ao final de
tudo isso,
Já teria ocupado os dois saltos e talvez os teria estragado,
Um ficaria cravado nele, um pouco acima de onde a feria,
O outro, entre as quebraduras do carro, em meio aos
estilhaços,
Quando tudo estoura dentro de um ser humano,
A gente se sente bem pondo o sentimento para fora,
Ela sentia-se ferida, de alma nua havia se entregado,
Mesmo assim, ousou machuca-la, abusar do que sentia,
Ela que procurava manter-se o melhor que podia,
Agora via-se diminuída e insegura,
De olhos baixos buscando conter as lágrimas,
Dor a qual ele não sentia, muito menos entenderia,
Apegava-se a desculpas vazias para esvazia-la de si mesma,
Sua dor parecia preencher seu ego machista,
Ela exasperava a voz, aos prantos: não era ouvida,
Na frente dela ele fingia assentir com a cabeça,
Apenas em gestos para que não houvessem testemunhas,
Como se temesse ser ouvido e com isso estar comprometido,
Mas seus olhos, sempre estava muito distantes dela,
Em algum lugar muito alto onde nunca poderia alcançar,
Como se acreditasse ser dono do destino dela, o forjando,
Ele fingia uma seriedade sobre os assuntos que ela falava,
Porém, não reagia em acordo ao que ela dizia e sentia,
A aproximava de uma forma, a rejeitava de outras,
Como se ela não tivesse vida, fosse uma boneca de pano,
A qual se cansa de decorar a casa e passa a secar o suor do
rosto,
Jogada na lama, diminuída até sentir-se um nada,
Sem direito a contar com um nome ou uma boa honra,
Não passava de: a usada da forma que lhe convinha,
Ela suspirava, sem saber como reagir a tudo que via,
Erguia a cabeça e o encarava, procurava-o no fundo da alma,
Que diferença faria isso agora? Agora que ela havia perdido
as respostas,
Agora que se sentia feito a cachorrinha que a dondoca se cansou
E jogou para fora, exposta a tudo que viesse contra ela,
Sozinha, sem direito a uma fala que fosse ouvida,
Chorosa, por entre os cantos das sobras em que foi colocada,
Testa franzida pelo tempo que passou tão depressa,
Ou pela ausência do sorriso tão encantador de outrora?
Tentava se apegar a algo, precisava raciocinar, manter as
ideias no lugar,
Talvez precisasse pedir ajuda, mas quem poderia abriga-la,
justo agora?
Ele descontava nela as ausências de si mesmo,
Era vazio, mas apenas por isso precisava esvazia-la?
Ela não entendia muito sobre muita coisa,
Mas acreditava que merecia mais que isso,
Promessas em falso não sustentam corações apaixonados,
Ele ofereceu amizade, ela precisava disso, então aceitou,
Mas em nenhum instante no caminho ele deixou de olhar para o
lado,
Mesmo junto a ela, o seu redor sempre pareceu mais
importante,
Principalmente no que tange as moças que passavam na
calçada,
Se ela era melhor que as outras, isso ele nunca soube
demonstrar,
Ao contrário, sempre a fez acreditar que ela era pequena
demais,
No entanto, ela forjou um sorriso largo e estendeu a mão,
Se ele desejava sua amizade, ela aceitaria, por que não?
Não sabia ela, em que enrascada estava se colocando,
Mas talvez, sabendo, não tivesse escolha, a intenção dele
era outra,
Sempre foi, diminuí-la com atitudes infundadas, até não restar
nada dela,
Ela tentou se esquivar, se colocar de lado, com um sorriso
torto,
Ele fingiu não a entender, recusou-se a cuidar dela, a
protege-la,
Mas nunca se cansou de feri-la de todas as formas que
encontrou no caminho,
Não tivesse a força de uma pedra nos punhos a apedrejaria,
Mas, como de fato o tinha, não levou mais que uma mão aberta
em sua cara,
E com a ajuda de alguns vizinhos, ele fingiu não poder
evitar o resto,
Ele podia ter todas as intenções com relação a ela, mas
nenhuma era amar,
Os dedos que se prendiam entre os dela, agora estavam
estampados em seu rosto,
A força que a fez aceitar sua aproximação jurando proteção,
Agora feriam-na, rasgavam sua emoção até afugentá-la do
próprio coração,
Havia um código secreto vagando pelos cantos daquela cidade,
Feri-la até que ele viesse em seu cavalo branco resplandecente,
Ela deveria espera-lo? Em uma tentativa inútil de indagação,
Ele recusou ajuda, dizendo-lhe expressamente que não,
“Você pode cuidar disso sozinha mocinha, você é esperta,
Eu tenho outras ideias, em nenhuma você se encaixa”,
Então, havia alguma ideia pairando naquela cabeça vazia?
Os olhos dela se colocaram fixos na direção do destino,
Olhos altivos, sinceros e atentos... e opostos.