Fechei os olhos tentando manter o foco,
Mas um sorriso ganhou meus lábios secos,
Passei a língua desejei a todo custo apagar o gosto,
Mas, algo me fez embaçar meu pensamento,
Não consegui conter as lembranças de outrora,
Abaixei a cabeça para dentro de mim mesma,
Um coração pulsou forte nesta hora, era o meu,
Meu coração batia incessante, quisera gritar algo,
Esboçar o que sentia escapar por entre meus dedos,
A memória dos seus cabelos negros encaracolados,
A maciez que ainda se presenciava em cada afago,
Um calor percorria a estremecer meu corpo,
Uma lembrança me tomava de mim e levava para outro lugar,
Outra história, outros tempos, esquecido para os outros,
Mas jamais apagado dentro de tudo que eu sentia,
Algo me guiava ao meu primeiro encontro,
Um beijo tocava meus lábios vagaroso e fugaz,
Do tipo que te intimida e te faz desejar nunca mais repetir,
Até que certo dia, certos olhos te despertam outra vez,
Desta vez mais intenso e mais ousado, com aquele quê de não
resistir,
O amor que parecia tão intimidador, agora estava predatório,
Do tipo que rasga a roupagem da alma, deixando-a nua,
Faz cair em ruínas todo aquele medo do inseguro,
Quebra as muralhas nas carícias em que desliza até a alma,
De repente o foco já não está em si mesma, mas no outro,
Neste instante não há falhas nem limites, tudo é permitido,
Fiquei em pé, em silêncio tentei abafar a reides do vento,
Eu não queria me permitir viajar no tempo e traguear as
lembranças,
Sabe quando um amor já começa errado, quando só o que se
quer é esquecer,
Evitar a todo custo, embora no meu caso não tenha sido dessa
forma,
Eu não tinha todas as respostas comigo naquele instante,
Nesta hora, pensei em tantas coisas das quais não tinha
conhecimento,
As quais, de fato, nunca me importei tanto, mas agora
pareciam vir à tona,
Tomar-me pela mão até me afastar dos meus próprios sentimentos,
Não era a primeira vez que as lembranças vinham me tocar,
Mesmo nunca tendo tentado afastá-las, não significava que
não sofria,
Por dentro me sentia sangrar, esvair até ver-me escorada em
uma muralha,
Uma muralha de pedra que eu mesma erguia ao meu redor,
Aquilo não me fazia maior, talvez até mesmo não me ajudasse
em nada,
Mas me feria em desmedida, até levar-me a ausência das
lágrimas,
Atingir aquele ponto em que você já acha não ter mais o que
chorar,
Não que tenha perdido seus sentimentos, mas vê-se vaga e
incerta,
Mas sempre que o vento acaricia o meu rosto eu ainda posso sentir o seu carinho,
Os afagos que um dia foram meus e que sua ausência ao invés de
libertar,
Apenas me aprisiona em mim mesma, a despeito de não me esvaziar
do amor,
Neste instante, outra pessoa vinha em minha memória,
E eu via-me arrisca entre o que sentia e o que me feria por
dentro,
Duas forças pesavam dentro de mim me deixando trôpega,
Era difícil decidir que passos poderia dar naquele momento,
Tudo o que eu sentia pesava em mim e naquela hora eu era
tudo, menos fria,
O silêncio estendeu-se por um tempo, enquanto o vento seguia
seu caminho,
Eu continuava estagnada no mesmo lugar a contar os passos,
Tudo de repente havia ganhado um peso demasiado para carregar
sozinha,
Continuasse a viver de lembranças como poderia seguir o
destino?
A abertura que o vento fez em minhas lembranças soavam a
insegurança,
Remexiam em um passado que embora distante insistia em me alcançar,
Será que eu teria mesmo que me prender a tudo que existiu um
dia?
Será que foi tão bom a ponto de me fazer jogar uma âncora
entre aquelas águas,
E mergulhar fundo sem ter ideia ou medida do que estaria a
fazer agora?
Eu pude ser qualquer coisa na minha vida, mas jamais fui
fria feito uma pedra,
Então por que me permitia estagnar sempre que as lembranças
vinham?
Embora não necessite condenar ao esquecimento por que me
permitir prender ainda?
Fui menos do que sou porque ousei amar um dia?
Errar por amor faz do meu erro algo maior do que errar por
ganância?
Entre o passional e o interesseiro o que deverá prevalecer
sobre a razão?
Posso estar errada, mas se a ideia for da alma então prefiro
usar o coração,
Então, errar por amor torna tudo mais aceitável ou torna a
ideia intragável?
Ser traída por quem jura em falso com certeza parece mais intolerável,
Com isso devo entender que é melhor afastar-me do amor
Por medo do que poderá vir depois? Apegar-me a frieza para
resistir ao coração ferido?
Aquela velha história do você me feriu, mas também saiu magoado?
Qual é o maior erro: o que entrega a alma ou o que jura
ignorância?
Ah, eu feri por amor, porém, condeno-me a nunca ser perdoado,
Para todo o sempre o imperdoável, aquele que fez o que
podia,
Mas sempre decide retornar ao passado e achar que poderia
muda-lo?
Estando você na mesma história, tempo e ideias, por que
teria sido melhor agora?
Caro viajante do tempo, que tal se localizar no agora?
Sentei-me naquele chão de grama e decidi pôr as ideias no
lugar,
Pensar um pouco, não o bastante para me julgar fria,
Nem tão pouco para me considerar frívola,
Encontrando-me bem localizada, não perderia a cabeça: agiria.
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