Toda a certeza que um beijo pode dar,
Ela tinha.
O batom rasurado na boca,
O abraço confortável.
O cheiro que percorria a roupa,
A sensação de continuar a estar.
Dirá a promessa,
Com olhos fechados,
Bocas entrelaçadas,
Braços e corpos colados.
É certo
Pra sonhar acordada não precisa muita coisa.
Ele disse:
-querida, peitos grandes
E um pouco de inteligência.
Com o coração aos saltos
E olhar em prantos
Ela podia ver que não era pedir muito
Se entregar a alguém,
Transformar costumes,
Mudar roupas e usar um decote.
Pareceu pouco até ela chegar a janela,
Expor o colo branco e brilhoso,
E despertar da rua mil olhares.
Não, um decote não é para mulheres solitárias,
Seria?
Ser cobiçada…
Reagir com cautela para não ser emburrecida.
Mas aquele beijo não seria facilmente esquecido,
Certo que não poderia,
Frente a isso,
Melhor o decotinho.
Um salto nos pés ou uma rasteirinha?
Colocar a primeira perna fora da porta,
Depois a segunda…
Exigir, então, um vestido… curto?
Curto será o diálogo com o primeiro
Que elogiar de forma estúpida…
Dolorido será o tapa que está porvir,
Melhor caberia unhas pintadas…
Saio da janela.
Pinto as unhas…
Bem melhor. Melhor.
Será que olhares podem ser perversos?
Amedrontar, ferir, cobiçar
Ou mais que isso?
Tipo… estuprar?
Já li sobre isso.
Ferir a distância…
Um arrepio percorre a espinha,
Meus pelos eriçados mexem o vestido curto.
Puxo ele para o joelho,
Sem sucesso.
Mas o beijo nunca esquecido
Mais longe de ser esquecido ficava.
Trêmula a boca e aquecia o rosto,
E aquele roseado percorria a face,
Ah, saudade.
Está é a diferença.
A distância fere uma boca
Faz esquecer a outra?
Um beijo desses faz de uma moça livre escrava,
O decote exige.
Mas a boca que cobra
Beija tão bem.
Tome a parte suas exigências:
Belo decote e um pouco de inteligência.
Seria muito pedir sua companhia?
Estás duas coisas juntas exigem sua força,
Agora não se trata de lembrar uma boca
Ansiar por um beijo,
Preciso te-lo perto!
Liberdade para se dispor,
Escrava de tudo que sente,
Necessitar um beijo,
Do calor que faz arrepiar a pele…
Sentisse vontade de beijar antes
Ou ao menos tivesse querido estar perto de outro,
Mas antes dele,
Nenhum outro.
Como pode?
Agora exige decote!
Há nuvens em céus como os de hoje,
Seios expostos molham-se com facilidade,
Aí por Deus como controlo o tremular das pernas?
A vontade de me deixar consumir por tudo que sinto!
Decote, seios fartos a saltar da roupa…
Mamilos entumecidos ante a sua boca,
Ansia desmedida e evidente!
Ah, molhar-me de chuva quem dera.
Volto-me a mim com cautela,
A cor fica bem em minha unha,
Modifico-me por aquele que amo,
A gargalhada faz falhar a fala,
Sem saber porque lembro tanto,
Nem o que me faz quero-lo desta forma.
Penso se seios caem fora da roupa,
Ou se sabem escapar a olhares por si próprios.
Estes meus que se virem,
Se dobrem e desdobre,
Procurem eles seus próprios jeitos,
Aí o beijo. Aí o beijo.
Preciso dele.