Eu pensei que o desejava de volta,
Dei de ombros a chacoalhar a cabeça,
Como forma de me livrar desta ideia
Que a tempos estava fixa em minha alma,
Eu sei que dei o meu melhor quanto ao nosso amor,
Mas ele decidiu ir embora, que atitude poderia ter tomado?
Embora repetisse mil vezes que a culpa não foi minha,
Meu coração batia descompassado a repetir que era,
As vezes, eu podia sentir seus lábios a me beijar na testa,
Me sentia estremecer com o toque dos seus dedos em minha
pele,
A me fazer relaxar, depois de uma noite de prazer com uma
massagem,
Ele sempre terminava cada toque em mim com um beijo,
Na mão, no rosto, nos lábios... de relance, admitia: sentia
saudade,
Mas apesar de todo o amor que sentia, eu sabia que não
passava de utopia,
O tipo de sonho que se tem a noite sem pretensão de realiza-lo
pela manhã,
Aquele que só serve para acalento de noites frias e mal
dormidas,
O verdadeiro amor é aquele que se deseja com os olhos bem
abertos,
Era o que eu repetia para mim mesma, na tentativa de
esquivar-me disso,
Embora tenha chorado algumas horas depois, mas não devido a
isso,
Lembro de ter me emocionado devido a letra de uma música,
Eu já havia sofrido muito por amor, me negaria a chorar mais
pelo mesmo motivo,
Por um instante, ao imaginar uma foto nossa em um quadro
branco,
Eu cheguei a gostar do tempo em que passamos juntos,
E ouso dizer que desejei, por uma fração de segundos tê-lo
de volta,
Contudo, eu sabia que ele estava longe demais para lembrar
de nós,
Por que é que se entregaria a lembranças tão antigas?
Fosse amor o que sentimos ele teria voltado muito tempo
antes,
Diga-se de passagem: nem teria partido para tão longe quanto
está agora,
A imagem parecia envelhecida, as lembranças aparentavam
estar apagadas,
Mas o que existiu entre nós, apesar de tudo isso: resistia,
Quase acrescentei as lembranças: talvez nunca seriam
esquecidas,
Ainda podia recordar o instante em que seu carro dobrou a
esquina,
Um nó na garganta me confidenciou que talvez nunca mais o
veria,
Que importa isso, quando se ama por um instante o qual vale lembrar
por uma vida?
É claro que com o passar do tempo as lembranças se tornaram
apáticas,
Apesar de parecer se perderem no vão do tempo, ainda era de
valia mantê-las guardadas,
Pelo menos era o que repetia comigo sempre que parecia ouvir
sua voz ao meu lado,
Como se nada no mundo fosse forte o suficiente para
mantermo-nos separados,
Entre os anos de 1999 e 2005, as lembranças foram tudo que
mantive comigo,
Depois disso decidi revelar aquele filme antigo que mantinha
guardado,
Aquele em que registramos os momentos em que passamos
juntos,
Percebi que tive razão ao registrar cada instante do nosso frutífero
outono,
Não tinha tanta necessidade em ver as fotos, as lembranças
ainda eram reconfortantes,
Mas confesso, que a cada imagem tudo retornava com mais
força que antes,
Bastou o primeiro click, para que as lágrimas me consumissem
em saudade,
A distância pareceu ter fortalecido o que vivemos, tornando
mais importante
O que na época eu pude jurar, jamais seria amor, nem duraria
e de fato não durou,
Mas aquela sensação reconfortante de ter alguém nunca se
desfez,
Talvez algum dia ele também recordasse de tudo que vivemos,
Todavia, ele poderia também ter restaurado sua vida junto a
outra pessoa,
Lembro de tê-lo contemplado no fundo dos seus olhos,
Não consegui encontrar algo em que me basear para
restabelecer
O que algum dia podemos ter sentido um pelo outro,
Aqueles momentos serviram de sovina para que eu pudesse
traçar um caminho,
Me reerguer, saber me posicionar, me encontrar como ser
humano,
É difícil percorrer qualquer caminho sem ter uma mão em que se
segurar,
Mas não me permitiria ficar presa a isso, o que passou,
passou: não mudaria,
É certo que nada foi em vão, mas tudo tem um ponto e também,
uma vírgula,
Então guardei aquelas fotos de volta, não precisaria de
imagens para reavivar lembranças,
Que se apossavam e me fazem companhia pelo tempo que eu as
permita,
Fechei o álbum de fotos, e as guardei, talvez em algum
momento pudessem ser importantes,
Naquele instante, não o eram.
Com os lábios comprimidos desejei apagar a lembrança dos
beijos,
Mas o amor pulsava em minhas veias de forma persistente,
Como se cada lembrança guardasse em si um gatilho sem
entrave,
Prestes a disparar a qualquer momento,
Com um soluço preso na garganta a saudade ousava
choramingar,
“Não esqueça, não apague tudo que um dia foi tão lindo”,
Eu ainda ouvia sua fala macia, ainda o desejava talvez, mais
que nunca,
Amei-o muito para me desfazer das fotos, iria guarda-las,
Pelo tempo que fosse necessário, mas não o suficiente para
prender-me a elas,
Seu olhar de despedida era demasiado difícil de ser
esquecido,
Havia um misto de angústia, carinho e algo que não consegui
decifrar,
Isso reconfortava minhas lembranças e o trazia de volta,
Puxei os lábios para o lado direito, revelando covinhas nos
cantos da boca,
Ali, foi o lugar onde ele depositou seus beijos, quem sabe:
seus sonhos,
Eu não me prenderia, nem alimentaria esperanças quanto a
isso,
Essas lembranças pertenceriam somente a nós,
Mas algo me dizia que as mesmas percorreriam quilômetros,
E com isso, talvez, chegassem até ele, permitindo-o
lembrar-se,
E isso consolava a saudade que me invadia, ele esqueceu e eu,
também?!