sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Lembranças Atreladas a Imagens

 

Eu pensei que o desejava de volta,

Dei de ombros a chacoalhar a cabeça,

Como forma de me livrar desta ideia

Que a tempos estava fixa em minha alma,

Eu sei que dei o meu melhor quanto ao nosso amor,

Mas ele decidiu ir embora, que atitude poderia ter tomado?

 

Embora repetisse mil vezes que a culpa não foi minha,

Meu coração batia descompassado a repetir que era,

As vezes, eu podia sentir seus lábios a me beijar na testa,

Me sentia estremecer com o toque dos seus dedos em minha pele,

A me fazer relaxar, depois de uma noite de prazer com uma massagem,

Ele sempre terminava cada toque em mim com um beijo,

 

Na mão, no rosto, nos lábios... de relance, admitia: sentia saudade,

Mas apesar de todo o amor que sentia, eu sabia que não passava de utopia,

O tipo de sonho que se tem a noite sem pretensão de realiza-lo pela manhã,

Aquele que só serve para acalento de noites frias e mal dormidas,

O verdadeiro amor é aquele que se deseja com os olhos bem abertos,

Era o que eu repetia para mim mesma, na tentativa de esquivar-me disso,

 

Embora tenha chorado algumas horas depois, mas não devido a isso,

Lembro de ter me emocionado devido a letra de uma música,

Eu já havia sofrido muito por amor, me negaria a chorar mais pelo mesmo motivo,

Por um instante, ao imaginar uma foto nossa em um quadro branco,

Eu cheguei a gostar do tempo em que passamos juntos,

E ouso dizer que desejei, por uma fração de segundos tê-lo de volta,

 

Contudo, eu sabia que ele estava longe demais para lembrar de nós,

Por que é que se entregaria a lembranças tão antigas?

Fosse amor o que sentimos ele teria voltado muito tempo antes,

Diga-se de passagem: nem teria partido para tão longe quanto está agora,

A imagem parecia envelhecida, as lembranças aparentavam estar apagadas,

Mas o que existiu entre nós, apesar de tudo isso: resistia,

 

Quase acrescentei as lembranças: talvez nunca seriam esquecidas,

Ainda podia recordar o instante em que seu carro dobrou a esquina,

Um nó na garganta me confidenciou que talvez nunca mais o veria,

Que importa isso, quando se ama por um instante o qual vale lembrar por uma vida?

É claro que com o passar do tempo as lembranças se tornaram apáticas,

Apesar de parecer se perderem no vão do tempo, ainda era de valia mantê-las guardadas,

 

Pelo menos era o que repetia comigo sempre que parecia ouvir sua voz ao meu lado,

Como se nada no mundo fosse forte o suficiente para mantermo-nos separados,

Entre os anos de 1999 e 2005, as lembranças foram tudo que mantive comigo,

Depois disso decidi revelar aquele filme antigo que mantinha guardado,

Aquele em que registramos os momentos em que passamos juntos,

Percebi que tive razão ao registrar cada instante do nosso frutífero outono,

 

Não tinha tanta necessidade em ver as fotos, as lembranças ainda eram reconfortantes,

Mas confesso, que a cada imagem tudo retornava com mais força que antes,

Bastou o primeiro click, para que as lágrimas me consumissem em saudade,

A distância pareceu ter fortalecido o que vivemos, tornando mais importante

O que na época eu pude jurar, jamais seria amor, nem duraria e de fato não durou,

Mas aquela sensação reconfortante de ter alguém nunca se desfez,

 

Talvez algum dia ele também recordasse de tudo que vivemos,

Todavia, ele poderia também ter restaurado sua vida junto a outra pessoa,

Lembro de tê-lo contemplado no fundo dos seus olhos,

Não consegui encontrar algo em que me basear para restabelecer

O que algum dia podemos ter sentido um pelo outro,

Aqueles momentos serviram de sovina para que eu pudesse traçar um caminho,

 

Me reerguer, saber me posicionar, me encontrar como ser humano,

É difícil percorrer qualquer caminho sem ter uma mão em que se segurar,

Mas não me permitiria ficar presa a isso, o que passou, passou: não mudaria,

É certo que nada foi em vão, mas tudo tem um ponto e também, uma vírgula,

Então guardei aquelas fotos de volta, não precisaria de imagens para reavivar lembranças,

Que se apossavam e me fazem companhia pelo tempo que eu as permita,

 

Fechei o álbum de fotos, e as guardei, talvez em algum momento pudessem ser importantes,

Naquele instante, não o eram.

Com os lábios comprimidos desejei apagar a lembrança dos beijos,

Mas o amor pulsava em minhas veias de forma persistente,

Como se cada lembrança guardasse em si um gatilho sem entrave,

Prestes a disparar a qualquer momento,

 

Com um soluço preso na garganta a saudade ousava choramingar,

“Não esqueça, não apague tudo que um dia foi tão lindo”,

Eu ainda ouvia sua fala macia, ainda o desejava talvez, mais que nunca,

Amei-o muito para me desfazer das fotos, iria guarda-las,

Pelo tempo que fosse necessário, mas não o suficiente para prender-me a elas,

Seu olhar de despedida era demasiado difícil de ser esquecido,

Havia um misto de angústia, carinho e algo que não consegui decifrar,

 

Isso reconfortava minhas lembranças e o trazia de volta,

Puxei os lábios para o lado direito, revelando covinhas nos cantos da boca,

Ali, foi o lugar onde ele depositou seus beijos, quem sabe: seus sonhos,

Eu não me prenderia, nem alimentaria esperanças quanto a isso,

Essas lembranças pertenceriam somente a nós,

Mas algo me dizia que as mesmas percorreriam quilômetros,

E com isso, talvez, chegassem até ele, permitindo-o lembrar-se,

E isso consolava a saudade que me invadia, ele esqueceu e eu, também?!

Ponto e Vírgula

 

Em uma noite de setembro, acordei com um nome em mente,

Sentei-me na cama desconcertada, sem entender o por quê,

Dobrei os joelhos, os abracei e lágrimas molharam meu rosto,

De forma enigmática e descompassada, mesmo sem conseguir entender,

Sentia que algo estava a me sufocar, uma dor aguda implorava para ser ouvida,

 

Aquela dor que gritava alto, me fazia sentir que precisava fazer algo,

Ela me feria de morte de dentro para fora, mas eu não conseguia dizer nada,

Só chorava, as palavras se acumulavam na minha garganta,

Mas a voz apesar de ecoar dentro da alma, não saia de forma alguma,

 

Apenas meus soluços me abraçavam naquela hora,

E as lágrimas que escorriam feito a chuva a encharcar a terra fria,

Vã tentativa de me extrair daquele lugar, onde sentia me faltar o ar para respirar,

Sôfrega, trêmula, perdi todas as minhas forças tombando feito uma muralha

 

Que acabava de se desmanchar sobre a minha cama vazia,

Tossia descompassada, queria externar o que sentia,

Mas não conseguia dizer ou fazer nada, parecia que nada mais me preencheria,

Com lágrimas quentes a me percorrer, a me fazer companhia,

Sentia derreter o frio que me percorria em tremulas ondas,

Naquela hora mesmo se eu fosse de pedra, teria cedido,

Nada conseguiria aplacar a dor daquele momento incerto e estranho,

 

Era algo que acalentava, mas não bastava, faltava alguma coisa,

Algo não parecia certo, algo dentro de mim gritava, ansiava: socorro,

Sentia me afogar em um choro sem vida, que enquanto me percorria,

Também me feria, salgava a pele como se eu já não me pertencesse,

 

Desejei fugir, mas minhas forças haviam se esvaído,

Desejei gritar, mas não sabia o que falar, com que palavras poderia expressar?

Parecia que algo dentro de mim estava perdido em algum lugar,

Eu queria buscar, senti que me faria falta, mas aonde estaria?


Nem sabia do que se tratava, que nome era aquele que ecoava para se pronunciar,

Quem ou o quê, desejava com tanta urgência me tomar de mim mesma?

Eu não saberia precisar, mas poderia afirmar com certeza aquela dor era desmedida,

Eu me sentia ferida, sangrava uma dor infinita, insone e atormentadora,

 

Como explicar algo que não se entende? Como externar o vazio que cresce

Dentro da gente, e mesmo sem ter forma nos toma por inteira,

Nos consome, sem nome ou forma, todas as maneiras que eu usava

Para externar aquela dor profunda, dolorida, apenas pareciam me sugar

 

Daquele lugar, externando um vazio que me consumia ali fora,

Eu não conseguia entender o vazio que havia em mim,

Agora, mesmo externo e sem forma estaria a me consumir?

Existiria alguma forma para fugir? Fugir do que nem se sabe identificar,

 

Gritos dentro de mim ensurdeciam minha voz, a voz que me feria a alma, me castigava,

Não havia perdão, ela gritava em mim, ecoava por dentro, mas não tomava forma,

Como algo poderia ferir sem distinguir-se? Como eu poderia me defender

Se nem ao menos entender o por quê? Eu teria rezado, implorado a algo maior

 

Que eu, Deus, anjos ou coisas assim, mas o que poderia dizer?

Que estava a sofrer sem motivos aparentes?

Que mesmo o meu sorriso de felicidade parecia inconsequente?

Sorte a minha estar com a janela aberta, pude contemplar a escuridão da noite,

 

Ela parecia me entender, dentro dela tudo que o dia brindava com a vida,

Se perdia, não havia nada a sua frente, e no céu pequenos estiletes brilhavam,

As estrelas, fossem elas lágrimas estariam a derramar-se pelo chão,

Mas eram frias, acredito eu, sem vida, apenas refletiam o que podia ser um coração,

 

Talvez sentissem alguma pena das pessoas que como eu estariam a vagar sem rumo certo,

Como se demarcassem um destino ou um caminho que pudesse ser seguido,

Quem sabe, acreditavam os românticos poderiam escrever destinos,

Encontros entre corações vazios como se quisessem preenche-los,

 

Mas para qualquer destino ou para acalentar qualquer forma de convicção,

Ainda havia a lua, as vezes perdida, as vezes pela metade, as vezes plena,

Dizem as más línguas que ela é gelada, e que se derrete pela terra,

Mas isso somente quando o sol a toca, há quem acredite que esteja apaixonada,

 

Eu prefiro acreditar que ela gosta de refletir a esperança,

Mostrar para a escuridão da noite que ela também pode afastá-la,

Que mesmo na ausência do dia, a vida ainda brilha serena pela madrugada,

Mas isso é uma outra história, deixo aqui um ponto e vírgula para quem quiser termina-la.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Homem Absorto em Pensamentos

 

Mas ele não conseguiu esquecer aquele beijo,

Selado em um abraço entre juras de esquecimento,

Aquela moça ainda era a razão dos seus sonhos,

E sobre suas noites insones? Ela também era o motivo,

Mais do que seria bom para quem desejava esquecer,

Descobriu isso, após sua quarta cerveja de certa noite,

 

De fato, a ausência da lua naquele instante também não contribuía,

Amor era a palavra que sempre usaria para defini-la,

Amor em se doar e amor em desejar receber de volta,

Isso o fez se apaixonar a primeira vista por ela,

Mas achou que seria insuficiente para desejar ficar,

Ele tinha tantos sonhos que pareciam se ofuscar

Ante o brilho daquele olhar de estrela da manhã,

 

Mas, fosse agora manhã, ele sabia teria se apagado,

Feito a estrela que apontaram no infinito

Em certa noite de verão em que, deitados na grama do quintal,

Juraram um para o outro: amor eterno, com a estrela para testemunha,

A estrela não foi escolhida de forma aleatória, jamais fariam isso,

Ele olhava para a sua alma brilhando no fundo dos seus olhos,

E pode ver que ela também brilhava no firmamento,

Desta feita, apenas apontou a ela até onde alcançava seu encanto,

 

Ela sorriu para ele em contento, sentiu-se satisfeita,

E isso, o fez ama-la mais ainda, mais do que acreditou que conseguiria,

Ele a amou, de fato e jurou: não foi pouco,

Porém, algo o alertava para não arriscar-se tanto ao amor,

É certo que entre eles havia muita urgência despendida em beijos,

As carícias pareciam derreter os medos desconhecidos,

 

Mas, de alguma forma, ele se perdia e se via se afastar,

Mesmo com o coração doendo e os passos incertos,

Em seu íntimo algo o gritava para não se arriscar,

Ela também receava, o olhava com olhos sérios,

Talvez até assustados, e ele não sabia o que fazer na hora,

Poderia até admitir que sim, teve medo,

 

Mas quando a sentia em seu abraço, pensava:

Não era exatamente isso, mas não conseguia se expressar,

As palavras pareciam entalar na garganta de maneira

Que apenas o doce dos seus beijos poderia desata-las,

Como se fossem um nó a calar a fala, emudecer as palavras,

Mesmo agora era demasiado difícil entender e pior ainda explicar,

 

Lembrava de ter acariciado o rosto dela com a mão em concha,

Isso lhe valeu um sorriso, mas a sentia distraída,

Era como se ela se negasse a se entregar ao amor que sentiam,

Confessava-se que isso o deixa intrigado, até hoje perdido em pensamentos,

Talvez pudesse considerar que isso se chamava saudade,

Mas de que o adiantaria agora que ela estava tão distante?

 

Recordava, também de ela ter retribuído a carícia ofertada,

Lembrava com um sorriso o jeito meigo como ela o tocou,

Se tornou notório que não conseguiria esquecer, nem se permitiria,

Sempre que olhava o seu redor, podia vê-la, e as vezes até senti-la,

Se ela o amasse lutaria por seu amor é o que repetia para si mesmo,

Se ela tivesse sentido amor estaria neste instante ao seu lado,

 

Mas ainda lembrava de ela ter se despedido com um até logo,

Talvez isso fosse uma promessa de um futuro bom,

Será mesmo? Deveria ele se prender a isso? Parecia tão pouco...

Ele sorriu, apesar do pensamento soar tolo, produziu certo alívio,

Vagou um pouco com o olhar no infinito,

Procurou por sua estrela, mas ela parecia ter se desprendido,

 

Pode lembrar do momento em que levantou seu queixo,

Fitando-a dentro dos seus olhos e depois para o alto,

Disfarçou ter visto um brilho de lágrimas brilhar no canto

Dos seus olhos inebriados como se vagassem pela noite,

Um brilho sutil feito de pequenos diamantes,

Contudo, não deu tanta atenção se ali ela estava triste,

No céu ela não estaria, acreditou e deitou de costas,

Como se também estivesse a vagar pelas sombras,

 

Poderia ter dito que a amava, poderia ter falado muitas coisas,

Mas se permitiu o silêncio, ela o abraçou e se despediu,

Ele continuou onde estava, no mesmo lugar de agora,

Não confidenciou que a amava, nem faria isso em qualquer outro instante,

Ela nunca disse nada sobre o amar também,

Mas quando sentiu sua falta, quando procurou por ela,

Quando procurou nos céus por aquela estrela,

 

Uma lágrima se perdeu em sua face, ela não estava mais lá,

Havia partido para outro lugar, talvez nunca mais a poderia avistar,

Nem adeus chegou a falar, simplesmente não disse nada,

Porém, não se deixaria abalar, falou o suficiente,

Nada além do que sua alma o permitiu dizer...

 

Cada qual é dono dos seus atos e escolhas, por que teria ele que se revoltar?

Lembrava que ela o abraçou e ele a abraçou de volta,

Um abraço forte, amigo, cumplice, que ela retribuiu da mesma forma,

Porque aquela estrela estaria sempre a testemunhar,

Estaria sempre a lembrar, a trazê-la de volta...

Mas, desta vez, não estava e acreditou: nunca mais estaria.

Homem Triste

 

Parados na estação de ônibus,

Destinos cruzados pelo acaso,

Um beijo aconteceu sob a luz do ocaso,

Ao ritmo em que o sol se escondia no poente,

Eu me despedia de quem amaria para sempre,

Restou um beijo em um acenar, então apenas um olhar,

 

Segui meu caminho com o coração apertado,

Encontrei o amor em um acaso e em instantes

Me vi longe, distante, coração desesperado,

Não me permitiria chorar por tão pequeno entrave,

Estaria a apenas doze horas de distância,

Poderia voltar e encontra-la à minha espera,

 

Pensei nisso por duas horas seguidas,

De forma insistente, como se o amor pulsasse

Seu beijo e seu abraço em minha alma,

Com batidas insistentes em minha mente,

Sentia seu cheiro sobre minha camisa,

Seu olhar ainda me tocava a arrepiar a tez,

 

Naquele momento fui tomado por uma certeza,

Nada faria com que eu a pudesse esquecer,

Me permiti olhar para trás, apenas um piscar de olhos,

Sabia com alguma certeza que não entendia por que,

Que ela me retribuía da mesma forma, com o mesmo ardor,

Seria fácil retornar, seria bom toma-la em meu abraço,

 

Porém, algo me sugeria para seguir adiante,

Um doce sopro ao meu ouvido, pedia: siga,

Com um sorriso eu assenti e disse: me espere,

Minha mãe sempre me disse que o amor sabia

Retribuir a todos que provavam o seu gosto,

Tive certeza disso logo que cruzei com seus olhos,

Embora também soubesse, toda ação retrata uma reação,

 

Com um dar de ombros e um falso ignorar,

Eu senti que as lágrimas molhavam seu rosto,

Apenas uma ou outra, mas sabia que podia tê-la magoado,

Talvez, devesse fazer o retorno, por que teria que ir embora?

Tinha uma vida lá fora, uma vida que conheci antes dela,

Contudo seu beijo mudou minha forma de ver a vida,

 

Senti minhas certezas estremecerem ante a luz do seu olhar,

Tudo estava estrategicamente pragmático,

Tinha uma carreira, um trabalho a ser feito,

Deveria mudar tudo apenas por um amor romântico?

Sequei uma lágrima do meu rosto, surpreso,

O ônibus parou em uma estação, seria este o momento

Em que se larga tudo para viver um sonho?

 

Não conseguia pensar direito, ante a imagem dos seus olhos,

Quem iria conseguir? Sentia aquele amor me sufocar,

Seria saudade este sentimento que a procura por todos os lados?

Precisava resistir se eu quisesse seguir com a vida que tinha,

Se existisse mesmo amor, ela me esperaria pelo tempo

Que fosse necessário até que as coisas pudessem se ajeitar,

 

Se eu pudesse evitar a dor da partida, é certo que evitaria,

Ou estaria a fugir deste sentimento por medo do desconhecido?

Não saberia responder, quando senti que me pediria para ficar

Eu, simplesmente, baixei os olhos e os levantei para o infinito,

O ônibus deu partida, e eu senti que ela ainda estava lá,

Poderia jurar que estava a vê-la, ainda a me esperar,

Confesso que estranhei a convicção dela quanto a este sentimento,

Não queria admitir, mas também senti o mesmo,

 

No céu pontilhavam-se as estrelas, o luar havia fugido,

Deveria estar lá, ao seu lado, a ilumina-la,

Odiaria imagina-la sozinha, entregue ao acaso,

Eu possuía uma vida antes daquele beijo,

Precisava dar seguimento a ela, por que me contrapor?

Não seria um amor de verão que mudaria meu destino,

Tudo estava planejado, por que deveria negar-me a isso?

 

Mas algo dentro de mim soluçava, aos prantos,

Aquele verão ficaria marcado para sempre em minha vida,

E eu apenas pedia para que o universo

Também nos mantivesse juntos nas lembranças dela,

Não fosse o tempo ter dado prosseguimento aos seus segundos,

Eu ainda estaria lá, segurando-a apertado em meus braços,

 

...Enlaçamos nossas mãos, feito dois jovens enamorados,

Resisti com toda a força ao impulso de nunca a soltar,

Foi com lástima que vi nossos dedos a se desenlaçar,

Seu calor permaneceu, seu cheiro... ainda o sinto...

Levei a mão aos meus lábios a beijei com certa dor,

Senti como se ela ainda estivesse em meu íntimo,

 

E sabia que do meu peito nunca sairia,

Se nossos caminhos se desencontraram, seria por pouco tempo,

Eu voltaria, não lhe prometi isso com palavras,

Mas nossos gestos bastariam para mantermo-nos unidos,

O menino realista que nunca se entregou ao amor,


Permitia-se admitir, estava apaixonado pela menina que deixou a espera-lo,

O homem decidido de outrora, havia entrado naquele ônibus,

Sem porta alguma para bater, sentou-se e cruzou os braços,

Tentando levar consigo a lembrança daquela que amou tanto.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Saudade de Quem se Ama

 

Seus olhos refletiam o sol do fim da tarde,

Apesar da tentativa inútil de esquecer,

Ele soube, nunca estaria ao seu alcance,

O vento sul soprou suave, a arrepiar a pele,

Não aceitava admitir, mas em sua mente

Ecoava de forma tímida a insistente saudade,

 

Ele já havia amado, mas quando pensava nesta moça,

Algo diferente parecia abraça-lo, em um enlace

Que parecia que nunca iria desistir de chamar seu nome,

Isso tinha nome: amor, era o que repetia o sol a sua frente,

Embora tenha dado de ombros para este sentimento,

Nunca pensou que ficaria preso a ele devido a um beijo,

 

Já havia sido traído de inúmeras maneiras,

Mas encontra-la camuflada em um beijo sedento,

Nunca havia passado por seus sonhos ou pensamentos,

Soubesse de antemão, teria evitado tal momento,

A todo custo, mesmo que a custo do próprio destino,

Teria mudado a direção, traçado outro caminho,

De que valia tanto amor se não tinha a quem entrega-lo?

 

Embora, à tardinha lhe permitisse deixar o coração sereno,

Seus olhos estavam sempre atentos a qualquer movimento,

Ele jurava a si mesmo, tratar-se de mero desalinho,

Mas seus olhos sempre sonharam com seu retorno,

Às vezes, seus braços se abriam como se quisesse parar o tempo,

Dar outra direção ao vento, mas na verdade, fechava seus olhos

Com um pedido do coração, abraça-la, envolve-la em seus carinhos,

 

Ainda usava o mesmo perfume que ela havia lhe presenteado,

Quem sabe, o abraçar do vento a levaria seu cheiro,

Como lembrete ou testemunho do quão forte era seu amor,

Esperava que ela ainda se importasse e mais que isso,

Que o esperasse, ansiasse pelo abrigo do seu abraço desvelador,

Aquele em que ele ainda a mantinha guardado para si mesmo,

 

Sonhos são estímulos para passos apaixonados, mesmo os fadigados,

Aqueles que costumasse definir, sofridos pela dor de quem se foi,

Sobre os quais espera-se, de alguma forma convicta: seu retorno,

Estou preso a um beijo e uma carícia no lado direito do rosto,

Que seria de mim caso ela me abrigasse em seu corpo,

Me permitindo ama-la sem medida, a entregar-me por inteiro?

 

Será que uma única noite seria o bastante para demonstrar o quanto a amo?

Será que o que senti de forma tão profunda para mim,

Também a tocou com o mesmo carinho que vi refletir no escuro dos seus olhos?

De fato sobre isso ela não disse nada, apenas me sorriu

Isso foi o bastante para que eu a guardasse com todo o amor do mundo,

Palavras não definiriam todo o prazer que senti naquele momento,

De repente, pude entender o seu silêncio...

 

Seus olhos encantadores, possuíam um brilho quase felino,

Do tipo que sabe a hora de acariciar sem perder a graça e seus desvelos,

Mesmo de longe, senti como se ela me penetrasse a alma,

Cruzando nosso destino, ignorando providencia divina,

Ou qualquer outra coisa que tentasse se opor,

Com certeza, jamais sentiria todo aquele sentimento,

 

Os olhos dele lacrimejaram diante das lembranças,

Admirou-se por cada uma delas, pois traziam fragmentos de sua amada,

Através dos quais, poderia reaviva-la nos seus braços a cada hora,

Mesmo não a tendo consigo, ainda poderia recordar,

Essa era sua forma de mantê-la ao seu lado, mesmo que ninguém soubesse,

Ainda a amaria o suficiente para não admitir desprende-la de sua memória,

 

Se ela escolheu outro lugar para viver, ele iria respeitar,

Mas quanto ao que viveram a ninguém seria permitido encabular,

Se no caminho em que se vive, deixa-se suas próprias marcas,

Por que é que em seu coração deveria apagar quem se ama?

De dentro do seu peito seu coração sorriu moldando seus lábios,

Trazendo um brilho doce e meigo para dentro dos seus olhos,

 

O homem apaixonado que foi capaz de viver momentos plenos,

Não se renderia a opiniões desfavoráveis de quem nunca, nem ao menos,

Provou o gosto de uma carícia dengosa em seu próprio rosto,

Ou foi brindado com a oportunidade de um beijo amoroso,

O sol estava baixando, um risco de luz aguçava o outro lado,

Do lado de cá, um homem descortinava seus olhos inebriados,

 

Cantarolava baixinho algo somente para os seus ouvidos,

Com um sorriso gentil que libertava todo o sentimento

Que sentia no coração, sempre soube que seria capaz de amar,

Agora, permitia-se dar vazão a esta emoção que o arrebatava

Ganhando vida nos seus gestos, na sua forma de ver a vida,

No seu agir do dia-a-dia, como se tudo que guardou escapasse

E mesmo sem asas: voasse, e em sussurros dissesse seu nome,

 

Tentou se preparar para o que o futuro lhe reservaria,

Mas desta vez, teria sempre seu melhor sorriso para ofertar,

Do lugar em que ela pudesse estar, ele tinha certeza,

Ela o reconheceria e de lá o retribuiria, pois assim é com quem se ama,

Sentia-se vivo, nunca mais se permitiria conter o que sentiria.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A Te Contemplar

Vou escrever sobre algo que aprendi

Em tenra adolescência, em meados de 99,

Sentei-me na janela contemplar a tardinha que partia

De braços dados com o sol, a se pôr no horizonte,

 

Ursinho do lado esquerdo, cabeça recostada no batente,

Mas meus olhos estavam adiante, um tanto, distantes,

Há instantes na vida em que a gente fecha os olhos e pensa:

Que seja para todo o sempre,

E este possuía tudo para realmente o ser,

O céu ganhou um colorido especial, um misto de cores vibrantes,

 

O mato a minha frente estremecia, encantado,

As folhas dançavam no ritmo mais bonito,

Mas o sol disfarçava-se em forjada indiferença,

Escondendo-se por detrás da sua cortina de fagulhas,

Em dissimulado desleixo como se dissesse “irei embora,

Mas, por favor, apenas agora, não sinta minha falta”,

 

Pouco a pouco, se deitava para além de algum lugar,

Tentativa vã de que o calor oferecido de si mesmo

Se perdesse por entre as flores, a terra, as árvores,

Restando para consolo pequenos pontinhos no firmamento,

Queira Deus que colocasse uma vírgula naquele céu de dezembro,

Desejei por profundo capricho, mas o que estava perfeito,

 

Estendeu-se feito meia luz sobre a terra, tocando-a,

Como se mãos febris afastassem o véu da noite,

De forma sutil, em meu íntimo eu soube: o sol sorria,

Então levantei os olhos um pouco mais para o alto,

E pude avistar o motivo: a lua brilhava em vírgula,

Com aquele seu meio sorriso de mãos em concha,

 

“Estou aqui disse ela, não a deixarei sozinha,

Haja vista necessitar que o sol me observe a espera,

Eu me prontifico a desenhar uma vírgula na linha do tempo,

Para que você possa seguir o destino que te espera,

Não permita-se ficar por longo espaço nos braços do medo,

Com seu sorriso sincero não haverá empecilhos que te prenda”,

 

Senti ela me sussurrar na brisa fresca que envolvia minha alma em êxtase,

E me inundava em profunda alegria, nunca sentida e que desejei reviver

A cada dia, senti que tudo com que sempre sonhei desde menina,

Estava ao alcance da minha mão, conforme eu desejasse, acreditasse,

Se mesmo o escuro da noite se rende em reverencia a lua,

Eu decidi que acreditaria em meus sonhos e mais: lutaria por eles,

 

Decidi que caminhar olhando para o chão seria um tanto inapropriado,

Se os ladrilhos da lua estavam no céu eu andaria por seu brilho espelhado,

Olhos sempre adiante, sorriso nos lábios, o coração a guiar-me feito amuleto,

Percebi que a realidade é criada pelos olhos de quem a vê,

Porque, não existem pessoas iguais, nem destinos imperfeitos,

Tudo está colocado de forma astuta, desenlace através do qual tudo se resolve,

 

Não me permitiria caminhar de olhos fechados, cega para o meu redor,

Se a lua me presenteava com seu brilho, eu aceitaria de bom grado,

Eu sonhava alto, acreditava na força que a vida em si possuía,

E mesmo vindo outros tempos, de guerra disfarçada pela ganância,

Eu guardaria a certeza: continuaria a acreditar e a buscar outros tempos,

Se a lua colocava uma virgula, eu me comprometeria: seguiria...

 

É claro que diante da imensidão do mundo, me senti trêmula,

Insegura, há tempos em que, acredito, mesmo a lua estremeceria,

Me reservei, coração firme, mãos hábeis, afastei as luvas e toquei,

De forma decida, entreguei em uma carícia, no amor que exalava

Muito mais de mim do que cheguei a acreditar que buscava,

Naquele instante, não desejei mais do que ser retribuída,

 

A ninguém é dado perder-se para ser encontrada,

E meu coração falava alto demais para não ser ouvido;

Eu buscaria, percorreria a distância que fosse necessária,

Diante de tudo que o céu irradiava eu não me permitiria vagar feito objeto,

Se a própria lua se curvava, porque eu me privaria de ser humana?

Eu amava de forma intensa demais para me estagnar ao nada,

 

Entre percalços e tropeços eu me permitia, a partir daquela hora,

Dez e trinta da noite até as horas futuras,

Amar no volume máximo que podia, nunca me calar para o que sentisse,

A certeza da lua refletia em minha alma, e eu a reproduziria,

Se o mundo se calou para a sua voz imaculada,

Eu a falaria, se a luz que fez o mundo girar, agora o escondia,

 

Por que eu deveria me calar se ainda o via, e mais, o sentia...

Não conseguiria negar-me ao impulso de buscar uma saída,

Enquanto houvesse algo bom em que acreditar,

Mesmo que absorto em certo lugar, eu desvendaria,

Mas, por enquanto, me permitiria mais algumas horas

De pura contemplação, afinal, a lua estava a me olhar,

Olhei para o relógio de horas adiante: lá estava ela...

 

domingo, 20 de dezembro de 2020

Noite as Escuras

 

Eu seguia caminho ao sul de certo lugar,

Uma nuvem de poeira me fez calar,

Piscar e em seguida parar de olhos fechados,

O vento parecia estar desalinhado dos meus planos,

Virei-me por dois pequenos minutos,

Permiti-me pensar um pouco sobre o assunto,

 

Foi quando o vento cessou, eu me admirei por isso,

Depois de tudo revisto, parecia ser adequado dar prosseguimento no feito,

Quando se acredita em algo de verdade,

Sabe-se que até o impossível é capaz de prover o alcance,

Mas, talvez não no outono, nem mesmo no inverno de 1999,

Com um pingo de sorte, talvez ocorresse um pouco antes,

 

Quem sabe, na vontade que a Deus pertence...em instantes;

Observei a nuvem de poeira levantar-se para o firmamento,

A brisa soprou em meu rosto de forma refrescante,

Deixando o chão em que eu pisava nitidamente limpo,

Levantei os olhos para o horizonte, sorriso radiante,

Os pássaros brincavam ao meu redor, felizes e absortos,

 

Sorri diante disso, dessa vez com uma ponta de incerteza,

Parecia-me, naquele instante, que para seguir teria que abdicar de algo,

Eu possuía muitos sonhos, se não lutasse por eles, perderia de qualquer forma,

Mas, logo mais adiante, só Deus poderia prever o que me esperaria,

E depois, ainda mais a frente, não havia visão que me precavesse do futuro,

Andar com olhos incertos me parecia demasiadamente vago,

 

Estendi a mão para o alto buscando um pressagio, um aviso sobre algo,

Porém, não permiti em nenhum segundo que o medo me parasse,

Apesar de a cada distância percorrida algo deixar meu instinto intrigado,

Eu confiava que tudo daria certo, precisava seguir o roteiro,

Que eu mesma me permiti escrever quando desejei sonhar a alguns anos atrás,

Nada passava despercebido, tudo era envolto por uma espécie de relevância,

 

Sobre aquele manto que tentava camuflar os acontecimentos ao meu redor,

Eu desejei, com toda a intensidade, desvendar, retirar, deixa-lo as margens,

Não me pareceu correto que o meu redor se apresentasse tão incerto,

Naquele mesmo dia, meus olhos tinham outro significado, então, na calada da noite,

Eu ainda parecia vagar, mas na verdade, já não eram expectativas que me moviam,

Mas uma força muito maior, meus dedos compunham roteiros feito uma espada flamejante,

 

Mas ao invés de desejar queimar ou ceifar vidas como em pensamento do que é comum,

Eu transcrevia a verdade dando vida as linhas de um caderno qualquer,

Guardado comigo como um amuleto, que talvez, algum dia pudesse fazer sentido,

Quando a notícia ganhasse as páginas de algum jornal da cidade traçado em linhas de sangue,

Mesmo que em última instância, aberto, desvendado aos olhos de algum tribunal,

Selado pelo compromisso de uma jura temerária a Deus de dizer a verdade,

 

Algo me instruía para o fato de que ao traçar aquele trajeto perdido e distante de tudo,

Eu teria, em algum momento, que pesar meu itinerário na balança da justiça,

Se fosse o caso, depois de confessar a Deus todos os meus pecados

E obter sua remissão, sempre guardei comigo esta certeza,

Conforme rezava minha antiga Vózinha, que Deus a tempos a guardava ao seu lado,

Eu sempre estaria protegida e abrigada de todo o mal a se estender no meu panorama,

 

Até aquele momento, não havia nenhum impasse, nada que pudesse me fazer desistir,

Nenhum preço seria alto o suficiente para deixar de lutar por uma vida em dignidade,

Quando se luta por o que se deseja, há cinquenta por cento de chances de se conseguir,

Porém, suas chances mudam para zero quando, no caminho, se desiste,

Eu precisava de um lugar para me abrigar, aquela cidade me pareceu um bom lugar,

Haviam muitos recintos em que eu esperava ser bem recebida,

 

O suor escorreu por meu rosto embebendo o sorriso dos meus lábios,

Precisava relaxar, tomar um banho gelado, talvez, ouvir algo

Diferente do barulho dos meus passos que, agora, ecoavam pela calçada malfeita,

Tudo ali era desenhado em um estilo rústico,

Naquela hora da noite, parecia ter parado no tempo,

Como se a vida estivesse se cansado e fugido dali para algum outro ponto,

 

Como um símile de um filme antigo de faroeste,

Localizada a oeste do estado em que havia sido construída,

Haviam muitos segredos por entre aquelas paredes,

Algo dentro de mim gritava estas palavras e eu ansiava para que fossem ouvidas,

Até quando desejariam calar-se diante da verdade,

Espalhada, desenhada em cada estrutura, em cada rosto daquelas pessoas?

 

Se alguém acreditou algum dia que fosse me parar, eu tive certeza,

No primeiro passo que pus naquele chão estendido em um tapete negro,

Não iriam e acredito que, a essa altura, se tivessem um mínimo de astúcia,

Já teriam desistido e quem sabe, empreitado em fuga para um outro caminho,

Gravei cada nome, tracei cada perfil e tive certeza, a justiça os encontraria,

O que eu queria dizer era: nada poderia ser mantido em segredo por muito tempo,

 

Deitei na cama por mim escolhida, fechei as janelas, pensei comigo:

Vá pela sombra o sol costuma ofuscar a visão, até mesmo a noturna,

Acredite, naquele instante em que você se detém para contemplar o firmamento,

Ele fica lá, a espreita, a te desvendar de algum lugar incerto e não sabido,

Ardiloso, adora se esconder em fagulhas celestes, até mesmo na lua apaixonada,

Há quem acredite que ele blefa com a lua somente para derrete-la,

Há quem prefira a hipótese de que ele esteja a corteja-la...

Em breve, quem sabe, isso possa ser esclarecido, algum dia.

A Plantação de Pêra e Maracujá

Os pais de Pitelmario Fizeram uma linda plantação, Araram o campo, Jogaram adubo, Molharam a terra, Então, plantaram pêras...