sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Ponto e Vírgula

 

Em uma noite de setembro, acordei com um nome em mente,

Sentei-me na cama desconcertada, sem entender o por quê,

Dobrei os joelhos, os abracei e lágrimas molharam meu rosto,

De forma enigmática e descompassada, mesmo sem conseguir entender,

Sentia que algo estava a me sufocar, uma dor aguda implorava para ser ouvida,

 

Aquela dor que gritava alto, me fazia sentir que precisava fazer algo,

Ela me feria de morte de dentro para fora, mas eu não conseguia dizer nada,

Só chorava, as palavras se acumulavam na minha garganta,

Mas a voz apesar de ecoar dentro da alma, não saia de forma alguma,

 

Apenas meus soluços me abraçavam naquela hora,

E as lágrimas que escorriam feito a chuva a encharcar a terra fria,

Vã tentativa de me extrair daquele lugar, onde sentia me faltar o ar para respirar,

Sôfrega, trêmula, perdi todas as minhas forças tombando feito uma muralha

 

Que acabava de se desmanchar sobre a minha cama vazia,

Tossia descompassada, queria externar o que sentia,

Mas não conseguia dizer ou fazer nada, parecia que nada mais me preencheria,

Com lágrimas quentes a me percorrer, a me fazer companhia,

Sentia derreter o frio que me percorria em tremulas ondas,

Naquela hora mesmo se eu fosse de pedra, teria cedido,

Nada conseguiria aplacar a dor daquele momento incerto e estranho,

 

Era algo que acalentava, mas não bastava, faltava alguma coisa,

Algo não parecia certo, algo dentro de mim gritava, ansiava: socorro,

Sentia me afogar em um choro sem vida, que enquanto me percorria,

Também me feria, salgava a pele como se eu já não me pertencesse,

 

Desejei fugir, mas minhas forças haviam se esvaído,

Desejei gritar, mas não sabia o que falar, com que palavras poderia expressar?

Parecia que algo dentro de mim estava perdido em algum lugar,

Eu queria buscar, senti que me faria falta, mas aonde estaria?


Nem sabia do que se tratava, que nome era aquele que ecoava para se pronunciar,

Quem ou o quê, desejava com tanta urgência me tomar de mim mesma?

Eu não saberia precisar, mas poderia afirmar com certeza aquela dor era desmedida,

Eu me sentia ferida, sangrava uma dor infinita, insone e atormentadora,

 

Como explicar algo que não se entende? Como externar o vazio que cresce

Dentro da gente, e mesmo sem ter forma nos toma por inteira,

Nos consome, sem nome ou forma, todas as maneiras que eu usava

Para externar aquela dor profunda, dolorida, apenas pareciam me sugar

 

Daquele lugar, externando um vazio que me consumia ali fora,

Eu não conseguia entender o vazio que havia em mim,

Agora, mesmo externo e sem forma estaria a me consumir?

Existiria alguma forma para fugir? Fugir do que nem se sabe identificar,

 

Gritos dentro de mim ensurdeciam minha voz, a voz que me feria a alma, me castigava,

Não havia perdão, ela gritava em mim, ecoava por dentro, mas não tomava forma,

Como algo poderia ferir sem distinguir-se? Como eu poderia me defender

Se nem ao menos entender o por quê? Eu teria rezado, implorado a algo maior

 

Que eu, Deus, anjos ou coisas assim, mas o que poderia dizer?

Que estava a sofrer sem motivos aparentes?

Que mesmo o meu sorriso de felicidade parecia inconsequente?

Sorte a minha estar com a janela aberta, pude contemplar a escuridão da noite,

 

Ela parecia me entender, dentro dela tudo que o dia brindava com a vida,

Se perdia, não havia nada a sua frente, e no céu pequenos estiletes brilhavam,

As estrelas, fossem elas lágrimas estariam a derramar-se pelo chão,

Mas eram frias, acredito eu, sem vida, apenas refletiam o que podia ser um coração,

 

Talvez sentissem alguma pena das pessoas que como eu estariam a vagar sem rumo certo,

Como se demarcassem um destino ou um caminho que pudesse ser seguido,

Quem sabe, acreditavam os românticos poderiam escrever destinos,

Encontros entre corações vazios como se quisessem preenche-los,

 

Mas para qualquer destino ou para acalentar qualquer forma de convicção,

Ainda havia a lua, as vezes perdida, as vezes pela metade, as vezes plena,

Dizem as más línguas que ela é gelada, e que se derrete pela terra,

Mas isso somente quando o sol a toca, há quem acredite que esteja apaixonada,

 

Eu prefiro acreditar que ela gosta de refletir a esperança,

Mostrar para a escuridão da noite que ela também pode afastá-la,

Que mesmo na ausência do dia, a vida ainda brilha serena pela madrugada,

Mas isso é uma outra história, deixo aqui um ponto e vírgula para quem quiser termina-la.

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