quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Homem Triste

 

Parados na estação de ônibus,

Destinos cruzados pelo acaso,

Um beijo aconteceu sob a luz do ocaso,

Ao ritmo em que o sol se escondia no poente,

Eu me despedia de quem amaria para sempre,

Restou um beijo em um acenar, então apenas um olhar,

 

Segui meu caminho com o coração apertado,

Encontrei o amor em um acaso e em instantes

Me vi longe, distante, coração desesperado,

Não me permitiria chorar por tão pequeno entrave,

Estaria a apenas doze horas de distância,

Poderia voltar e encontra-la à minha espera,

 

Pensei nisso por duas horas seguidas,

De forma insistente, como se o amor pulsasse

Seu beijo e seu abraço em minha alma,

Com batidas insistentes em minha mente,

Sentia seu cheiro sobre minha camisa,

Seu olhar ainda me tocava a arrepiar a tez,

 

Naquele momento fui tomado por uma certeza,

Nada faria com que eu a pudesse esquecer,

Me permiti olhar para trás, apenas um piscar de olhos,

Sabia com alguma certeza que não entendia por que,

Que ela me retribuía da mesma forma, com o mesmo ardor,

Seria fácil retornar, seria bom toma-la em meu abraço,

 

Porém, algo me sugeria para seguir adiante,

Um doce sopro ao meu ouvido, pedia: siga,

Com um sorriso eu assenti e disse: me espere,

Minha mãe sempre me disse que o amor sabia

Retribuir a todos que provavam o seu gosto,

Tive certeza disso logo que cruzei com seus olhos,

Embora também soubesse, toda ação retrata uma reação,

 

Com um dar de ombros e um falso ignorar,

Eu senti que as lágrimas molhavam seu rosto,

Apenas uma ou outra, mas sabia que podia tê-la magoado,

Talvez, devesse fazer o retorno, por que teria que ir embora?

Tinha uma vida lá fora, uma vida que conheci antes dela,

Contudo seu beijo mudou minha forma de ver a vida,

 

Senti minhas certezas estremecerem ante a luz do seu olhar,

Tudo estava estrategicamente pragmático,

Tinha uma carreira, um trabalho a ser feito,

Deveria mudar tudo apenas por um amor romântico?

Sequei uma lágrima do meu rosto, surpreso,

O ônibus parou em uma estação, seria este o momento

Em que se larga tudo para viver um sonho?

 

Não conseguia pensar direito, ante a imagem dos seus olhos,

Quem iria conseguir? Sentia aquele amor me sufocar,

Seria saudade este sentimento que a procura por todos os lados?

Precisava resistir se eu quisesse seguir com a vida que tinha,

Se existisse mesmo amor, ela me esperaria pelo tempo

Que fosse necessário até que as coisas pudessem se ajeitar,

 

Se eu pudesse evitar a dor da partida, é certo que evitaria,

Ou estaria a fugir deste sentimento por medo do desconhecido?

Não saberia responder, quando senti que me pediria para ficar

Eu, simplesmente, baixei os olhos e os levantei para o infinito,

O ônibus deu partida, e eu senti que ela ainda estava lá,

Poderia jurar que estava a vê-la, ainda a me esperar,

Confesso que estranhei a convicção dela quanto a este sentimento,

Não queria admitir, mas também senti o mesmo,

 

No céu pontilhavam-se as estrelas, o luar havia fugido,

Deveria estar lá, ao seu lado, a ilumina-la,

Odiaria imagina-la sozinha, entregue ao acaso,

Eu possuía uma vida antes daquele beijo,

Precisava dar seguimento a ela, por que me contrapor?

Não seria um amor de verão que mudaria meu destino,

Tudo estava planejado, por que deveria negar-me a isso?

 

Mas algo dentro de mim soluçava, aos prantos,

Aquele verão ficaria marcado para sempre em minha vida,

E eu apenas pedia para que o universo

Também nos mantivesse juntos nas lembranças dela,

Não fosse o tempo ter dado prosseguimento aos seus segundos,

Eu ainda estaria lá, segurando-a apertado em meus braços,

 

...Enlaçamos nossas mãos, feito dois jovens enamorados,

Resisti com toda a força ao impulso de nunca a soltar,

Foi com lástima que vi nossos dedos a se desenlaçar,

Seu calor permaneceu, seu cheiro... ainda o sinto...

Levei a mão aos meus lábios a beijei com certa dor,

Senti como se ela ainda estivesse em meu íntimo,

 

E sabia que do meu peito nunca sairia,

Se nossos caminhos se desencontraram, seria por pouco tempo,

Eu voltaria, não lhe prometi isso com palavras,

Mas nossos gestos bastariam para mantermo-nos unidos,

O menino realista que nunca se entregou ao amor,


Permitia-se admitir, estava apaixonado pela menina que deixou a espera-lo,

O homem decidido de outrora, havia entrado naquele ônibus,

Sem porta alguma para bater, sentou-se e cruzou os braços,

Tentando levar consigo a lembrança daquela que amou tanto.

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