Vou escrever sobre algo que aprendi
Em tenra adolescência, em meados de
99,
Sentei-me na janela contemplar a
tardinha que partia
De braços dados com o sol, a se pôr
no horizonte,
Ursinho do lado esquerdo, cabeça
recostada no batente,
Mas meus olhos estavam adiante, um
tanto, distantes,
Há instantes na vida em que a gente
fecha os olhos e pensa:
Que seja para todo o sempre,
E este possuía tudo para realmente
o ser,
O céu ganhou um colorido especial,
um misto de cores vibrantes,
O mato a minha frente estremecia,
encantado,
As folhas dançavam no ritmo mais
bonito,
Mas o sol disfarçava-se em forjada
indiferença,
Escondendo-se por detrás da sua
cortina de fagulhas,
Em dissimulado desleixo como se
dissesse “irei embora,
Mas, por favor, apenas agora, não
sinta minha falta”,
Pouco a pouco, se deitava para além
de algum lugar,
Tentativa vã de que o calor
oferecido de si mesmo
Se perdesse por entre as flores, a
terra, as árvores,
Restando para consolo pequenos
pontinhos no firmamento,
Queira Deus que colocasse uma
vírgula naquele céu de dezembro,
Desejei por profundo capricho, mas
o que estava perfeito,
Estendeu-se feito meia luz sobre a
terra, tocando-a,
Como se mãos febris afastassem o
véu da noite,
De forma sutil, em meu íntimo eu
soube: o sol sorria,
Então levantei os olhos um pouco
mais para o alto,
E pude avistar o motivo: a lua
brilhava em vírgula,
Com aquele seu meio sorriso de mãos
em concha,
“Estou aqui disse ela, não a
deixarei sozinha,
Haja vista necessitar que o sol me
observe a espera,
Eu me prontifico a desenhar uma
vírgula na linha do tempo,
Para que você possa seguir o
destino que te espera,
Não permita-se ficar por longo
espaço nos braços do medo,
Com seu sorriso sincero não haverá empecilhos
que te prenda”,
Senti ela me sussurrar na brisa
fresca que envolvia minha alma em êxtase,
E me inundava em profunda alegria,
nunca sentida e que desejei reviver
A cada dia, senti que tudo com que
sempre sonhei desde menina,
Estava ao alcance da minha mão,
conforme eu desejasse, acreditasse,
Se mesmo o escuro da noite se rende
em reverencia a lua,
Eu decidi que acreditaria em meus
sonhos e mais: lutaria por eles,
Decidi que caminhar olhando para o
chão seria um tanto inapropriado,
Se os ladrilhos da lua estavam no
céu eu andaria por seu brilho espelhado,
Olhos sempre adiante, sorriso nos
lábios, o coração a guiar-me feito amuleto,
Percebi que a realidade é criada
pelos olhos de quem a vê,
Porque, não existem pessoas iguais,
nem destinos imperfeitos,
Tudo está colocado de forma astuta,
desenlace através do qual tudo se resolve,
Não me permitiria caminhar de olhos
fechados, cega para o meu redor,
Se a lua me presenteava com seu
brilho, eu aceitaria de bom grado,
Eu sonhava alto, acreditava na
força que a vida em si possuía,
E mesmo vindo outros tempos, de guerra
disfarçada pela ganância,
Eu guardaria a certeza: continuaria
a acreditar e a buscar outros tempos,
Se a lua colocava uma virgula, eu
me comprometeria: seguiria...
É claro que diante da imensidão do
mundo, me senti trêmula,
Insegura, há tempos em que,
acredito, mesmo a lua estremeceria,
Me reservei, coração firme, mãos hábeis,
afastei as luvas e toquei,
De forma decida, entreguei em uma
carícia, no amor que exalava
Muito mais de mim do que cheguei a
acreditar que buscava,
Naquele instante, não desejei mais do
que ser retribuída,
A ninguém é dado perder-se para ser
encontrada,
E meu coração falava alto demais
para não ser ouvido;
Eu buscaria, percorreria a
distância que fosse necessária,
Diante de tudo que o céu irradiava
eu não me permitiria vagar feito objeto,
Se a própria lua se curvava, porque
eu me privaria de ser humana?
Eu amava de forma intensa demais
para me estagnar ao nada,
Entre percalços e tropeços eu me
permitia, a partir daquela hora,
Dez e trinta da noite até as horas
futuras,
Amar no volume máximo que podia,
nunca me calar para o que sentisse,
A certeza da lua refletia em minha
alma, e eu a reproduziria,
Se o mundo se calou para a sua voz
imaculada,
Eu a falaria, se a luz que fez o
mundo girar, agora o escondia,
Por que eu deveria me calar se
ainda o via, e mais, o sentia...
Não conseguiria negar-me ao impulso
de buscar uma saída,
Enquanto houvesse algo bom em que
acreditar,
Mesmo que absorto em certo lugar, eu
desvendaria,
Mas, por enquanto, me permitiria
mais algumas horas
De pura contemplação, afinal, a lua
estava a me olhar,
Olhei para o relógio de horas
adiante: lá estava ela...
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