terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A Te Contemplar

Vou escrever sobre algo que aprendi

Em tenra adolescência, em meados de 99,

Sentei-me na janela contemplar a tardinha que partia

De braços dados com o sol, a se pôr no horizonte,

 

Ursinho do lado esquerdo, cabeça recostada no batente,

Mas meus olhos estavam adiante, um tanto, distantes,

Há instantes na vida em que a gente fecha os olhos e pensa:

Que seja para todo o sempre,

E este possuía tudo para realmente o ser,

O céu ganhou um colorido especial, um misto de cores vibrantes,

 

O mato a minha frente estremecia, encantado,

As folhas dançavam no ritmo mais bonito,

Mas o sol disfarçava-se em forjada indiferença,

Escondendo-se por detrás da sua cortina de fagulhas,

Em dissimulado desleixo como se dissesse “irei embora,

Mas, por favor, apenas agora, não sinta minha falta”,

 

Pouco a pouco, se deitava para além de algum lugar,

Tentativa vã de que o calor oferecido de si mesmo

Se perdesse por entre as flores, a terra, as árvores,

Restando para consolo pequenos pontinhos no firmamento,

Queira Deus que colocasse uma vírgula naquele céu de dezembro,

Desejei por profundo capricho, mas o que estava perfeito,

 

Estendeu-se feito meia luz sobre a terra, tocando-a,

Como se mãos febris afastassem o véu da noite,

De forma sutil, em meu íntimo eu soube: o sol sorria,

Então levantei os olhos um pouco mais para o alto,

E pude avistar o motivo: a lua brilhava em vírgula,

Com aquele seu meio sorriso de mãos em concha,

 

“Estou aqui disse ela, não a deixarei sozinha,

Haja vista necessitar que o sol me observe a espera,

Eu me prontifico a desenhar uma vírgula na linha do tempo,

Para que você possa seguir o destino que te espera,

Não permita-se ficar por longo espaço nos braços do medo,

Com seu sorriso sincero não haverá empecilhos que te prenda”,

 

Senti ela me sussurrar na brisa fresca que envolvia minha alma em êxtase,

E me inundava em profunda alegria, nunca sentida e que desejei reviver

A cada dia, senti que tudo com que sempre sonhei desde menina,

Estava ao alcance da minha mão, conforme eu desejasse, acreditasse,

Se mesmo o escuro da noite se rende em reverencia a lua,

Eu decidi que acreditaria em meus sonhos e mais: lutaria por eles,

 

Decidi que caminhar olhando para o chão seria um tanto inapropriado,

Se os ladrilhos da lua estavam no céu eu andaria por seu brilho espelhado,

Olhos sempre adiante, sorriso nos lábios, o coração a guiar-me feito amuleto,

Percebi que a realidade é criada pelos olhos de quem a vê,

Porque, não existem pessoas iguais, nem destinos imperfeitos,

Tudo está colocado de forma astuta, desenlace através do qual tudo se resolve,

 

Não me permitiria caminhar de olhos fechados, cega para o meu redor,

Se a lua me presenteava com seu brilho, eu aceitaria de bom grado,

Eu sonhava alto, acreditava na força que a vida em si possuía,

E mesmo vindo outros tempos, de guerra disfarçada pela ganância,

Eu guardaria a certeza: continuaria a acreditar e a buscar outros tempos,

Se a lua colocava uma virgula, eu me comprometeria: seguiria...

 

É claro que diante da imensidão do mundo, me senti trêmula,

Insegura, há tempos em que, acredito, mesmo a lua estremeceria,

Me reservei, coração firme, mãos hábeis, afastei as luvas e toquei,

De forma decida, entreguei em uma carícia, no amor que exalava

Muito mais de mim do que cheguei a acreditar que buscava,

Naquele instante, não desejei mais do que ser retribuída,

 

A ninguém é dado perder-se para ser encontrada,

E meu coração falava alto demais para não ser ouvido;

Eu buscaria, percorreria a distância que fosse necessária,

Diante de tudo que o céu irradiava eu não me permitiria vagar feito objeto,

Se a própria lua se curvava, porque eu me privaria de ser humana?

Eu amava de forma intensa demais para me estagnar ao nada,

 

Entre percalços e tropeços eu me permitia, a partir daquela hora,

Dez e trinta da noite até as horas futuras,

Amar no volume máximo que podia, nunca me calar para o que sentisse,

A certeza da lua refletia em minha alma, e eu a reproduziria,

Se o mundo se calou para a sua voz imaculada,

Eu a falaria, se a luz que fez o mundo girar, agora o escondia,

 

Por que eu deveria me calar se ainda o via, e mais, o sentia...

Não conseguiria negar-me ao impulso de buscar uma saída,

Enquanto houvesse algo bom em que acreditar,

Mesmo que absorto em certo lugar, eu desvendaria,

Mas, por enquanto, me permitiria mais algumas horas

De pura contemplação, afinal, a lua estava a me olhar,

Olhei para o relógio de horas adiante: lá estava ela...

 

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