-Olá, estou crucialmente apaixonada.
Disse a amiga por suas costas.
-Que bom, sou feliz por você, amiga.
Respondeu a ela com um olhar sobre o ombro.
-Ah, não. Nada bom. Ele tem outra.
Ela fala em tom tristonho.
-Ah, refere-se a vagina?
Disse a ela com um sorriso.
-Ah, que é isso, vagina a outra?
Fala em tom espasmódico.
-Mas é claro. Seja você então, a mente.
Responde rápida.
-A mente eu?
Com minha cabeça linda e meu cabelo loiro,
Já estava prestes a pintá-lo de negro
E mostrar a ele que sou melhor que ela.
Fala a outra organizando agenda para o horário de salão.
-Pintar o cabelo?
Ser melhor que ela?
Ora amiga, você vê tudo errado,
Tenta desta vez, então, ver pelo avesso.
Agora ela responde e vira a cadeira,
A olha e demonstra sinceridade.
-Do avesso?
Como posso ver alguém desta forma?
Ela fala arrumando uma mecha de cabelo.
-Pensa numa calça e o imagina nela.
Ela fala enquanto a toca na perna.
-Hã. Como assim uma calça?
Existem tantos tipos de calça.
-Não, veja uma calça agora pelo avesso.
A outra vira o rosto para o lado e se esforça.
-Do avesso? E o que tem a ver com ele?
A outra a interroga,
Parece intrigada.
-Querida, numa calça pelo avesso só sobra os bolsos,
Aproveita e fica com eles.
Existem homens mais bons pagadores que amantes,
Acredita,
Se ele escolheu a vagina que queria,
Veja nele apenas o que o resta a oferecer.
A outra ri alto.
-Ah bom, pensei que você tinha interesse nele.
E retorna ao seu lugar da sala.
Ainda com o horário marcado,
Ela foge da aula e vai para o salão,
Troca cor do cabelo,
Inicia uma maquiagem.
Tudo isso por um cara que perde a carteira em qualquer lugar,
Um sujeito desleixado.
De bolsos furados e jeans resgados,
Não diz não para a que se esforça.
Também não deixa a anterior,
Ambas veem ameaça em todas que passam,
Não entendem que nem todas são cegas.
Algumas preferem não investir em caras que não valem a pena.