sexta-feira, 22 de abril de 2022

Lembranças

 

Não sustentava nada que não fossem as promessas,

As promessas não impedem que a solidão nos tome,

E nem que as lembranças façam o amor presente,

Pois o amor é maior e faz os céus tocar a terra,


Na flor que renasce rumo ao alvorecer,

Ou na chuva que cai até sentir-se perder em algum lugar,

Ela contempla no amanhecer o olhar azul celeste,

O sol começa a tocar-lhe com seus primeiros raios,


Feito uma luz de esperança que lhe fala algo,

Algo de que não se foge mas nem por isso,

Procura-se estar mais perto, apenas sente por dentro,

Lindos raios que erram as árvores como se a divagar,


Talvez, também esteja a procurar, quem é que pode dizer,

Avistou através da escuridão que sorrateira se afasta

Um pássaro, ele voa alheio a todo o seu entorno,

Ela sente-se insegura e tremula à brisa fresca,


Conclui que pensar nele só poderia piorar as coisas,

Mas nem por isso, consegue controlar tudo que sente,

E o quanto deseja senti-lo outra vez agarrado a ela,

O pássaro voa com toda a sua graça,


De repente despenca lá do alto e toca a margem do rio,

Depois levita com a mesma segurança de instantes,

Só que agora ele tem na boca um peixe – sua presa,

Faz-se a manhã da mesma forma que vai-se embora a noite,


Sem novidades, indistinta, o sol parece sorrir para a manhã,

Seus rios derramam-se até tocar seus pés,

Embora, tudo ao redor seja belo ela escolhe as lembranças,

Se agarra a cada uma delas como se nada mais importasse,


O calor do céu a invade e o gosto dele lhe vem a boca por herança,

Nenhum outro beijo seria sentido com a mesma graça,

Mesmo que todo o tempo passasse,

Tempo algum seria tempo o bastante para fazê-la esquecer,


Sentiu o sol como quem sente um abraço apertado,

Fecha os olhos como não fez durante a noite,

Com uma calma de quem busca algo distante,

Avistou, através das pálpebras fechadas,


Um beijo que repousa sobre a sua boca sedenta,

Ela aprecia-o, enquanto o sol a toca sorrateiro,

Um lamuriar sai de seus lábios desatento,

Uma frase move-se sobre a sua língua,


Se ela fala tão alto o que diz a si mesma, não sabe-se,

Vagarosamente, ela sente como se pudesse ouvi-lo,

O sol vem com ousadia e a toca ainda mais forte,

Algo nela estremece e chama um nome em tom baixo,


Não é como se seu amor estivesse indeciso,

Apenas teme não ser ouvido,

Que amor é este que enfrenta o tempo

E não deixa de buscar


Mesmo as custas daquela que ama?

Por que o sol insiste em nascer sempre tão devagar?

Por mais que tente o mundo não supre a sua falta,

A jovem que cada vez mais se certifica sobre seu amor,


Abre os olhos com uma observação concreta:

Passe o tempo, os sonhos ou o que for, o amor não se vai,

Não importa como se reaja ele chega e fica.


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