domingo, 15 de janeiro de 2023

Essa Boca Beija?

 


Um sorrisinho brincava em seus lábios,

Posso dizer que minha relação com M.,

Está distante como não imaginei o ponto,

Queria não ter levado tanto tempo escrevendo,


Ter no coração tantas coisas para dizer,

Entender que o que começou em 83,

Não tardaria para eu desejar de volta,

Ainda agora sinto seus olhos repousarem em mim,


Nestas palavras que escrevo,

Eu não poderia definir suas carícias,

O modo de como tudo aconteceu,

E o que significou tanto para eu não esquecê-lo,


Bem sabes eu me irrito facilmente,

Mas também perdoo do mesmo modo,

Este silêncio me oprime em sua falta,

Seus lábios sobre minha pele morna,


A respiração percorrendo cada parte minha,

Contendo juras de amor ao pé do ouvido,

Sinto um grito se formar no fundo da garganta,

Hoje já não adianta gritar,


Só tenho o vazio e solidão a minha volta,

Inclino minha cabeça para trás,

E o imagino abrindo a porta até chegar a minha boca,

Posso sentir o gosto, o hálito fresco,


O suave de cada detalhe seu,

Sinto prazer em revê-lo,

Mas não me contenho,

Imaginar já não preenche os calafrios,


Já não dão a segurança de um retorno,

Minhas pernas abrem-se tremulas,

Quase desejo estar nua,

De repente tudo em mim vira demasia,


Eis que chega-se ao instante,

Em que adereços não bastam,

Porém, não tê-los não satisfaz,

Ou, no meu caso, não muda nada,


Lembro de tentar secar minhas lágrimas,

Todavia, não as sinto sobre meu rosto,

Inunda-se a dor por dentro,

Emudecem-se tudo o que não foi dito,


Passo a mão em suas cartas para recordar,

Solto a caneta e desisto do que escrevo,

Vejo as cartas com outros olhos,

O papel me fere pelo que diz,


Agora, tão distante parece que mente,

Junto poucas,

Mas, veja quando se fala de amor,

Poucas é o bastante,


Passo sobre minha pele,

O sangue escorre detrás dela,

A dor segue as palavras,

Mas o que foi vivido é silenciado,


De alguma forma,

Cai no vazio que deixa por onde passa,

Enrola estas cartas,

Junto as outras com minhas mãos tremulas,


Passo por meu pescoço,

Embora não saiba bem o porquê,

Ergo-a e alcanço o teto,

Sim, elas sabem me levar para longe,


Com elas me recordo das folhas de antigo jornal,

A data em que o escrevi tão sôfrega e apaixonada,

O instante em que implorei para que voltasse,

Porém, antes de todas estas palavras,


Lhe contei tudo que sua ausência me causou,

Toda a dor e ruína em que caí,

Falei de coisas, que juro, acho que não queria ouvir,

Quando folhei as notícias,


Lá estava: pendurado em tudo que escrevi,

Morto,

Confesso que o laço vermelho de fita que me deu,

Foi de valia,


Bem, penso ainda que foi,

Com estas cartas em mãos,

Agora vendo-as me parecem vazias,

Não fez sentido,


Nada fez sentido,

Nem a foto,

Pareceu-me mais uma imagem...

Não me apego a isso,


Hoje tenho um endereço onde encontra-lo,

Recoloco a carta que escrevia,

Recordo-o,

Lembro de passar por você despercebido,


Chegar até seu ombro,

Bem próximo ao seu ouvido,

Então, disse em tom claro e seguro:

- Essa boca beija


Ou então, pede beijo?

Segura eu fui do que dizia,

Porque falava com a pessoa certa,

Mas, não, eu não era tudo aquilo que você pensou,

Tive medo... mas, acho que você me entendeu.


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