Um sorrisinho brincava em seus lábios,
Posso dizer que minha relação com M.,
Está distante como não imaginei o ponto,
Queria não ter levado tanto tempo escrevendo,
Ter no coração tantas coisas para dizer,
Entender que o que começou em 83,
Não tardaria para eu desejar de volta,
Ainda agora sinto seus olhos repousarem em mim,
Nestas palavras que escrevo,
Eu não poderia definir suas carícias,
O modo de como tudo aconteceu,
E o que significou tanto para eu não esquecê-lo,
Bem sabes eu me irrito facilmente,
Mas também perdoo do mesmo modo,
Este silêncio me oprime em sua falta,
Seus lábios sobre minha pele morna,
A respiração percorrendo cada parte minha,
Contendo juras de amor ao pé do ouvido,
Sinto um grito se formar no fundo da garganta,
Hoje já não adianta gritar,
Só tenho o vazio e solidão a minha volta,
Inclino minha cabeça para trás,
E o imagino abrindo a porta até chegar a minha boca,
Posso sentir o gosto, o hálito fresco,
O suave de cada detalhe seu,
Sinto prazer em revê-lo,
Mas não me contenho,
Imaginar já não preenche os calafrios,
Já não dão a segurança de um retorno,
Minhas pernas abrem-se tremulas,
Quase desejo estar nua,
De repente tudo em mim vira demasia,
Eis que chega-se ao instante,
Em que adereços não bastam,
Porém, não tê-los não satisfaz,
Ou, no meu caso, não muda nada,
Lembro de tentar secar minhas lágrimas,
Todavia, não as sinto sobre meu rosto,
Inunda-se a dor por dentro,
Emudecem-se tudo o que não foi dito,
Passo a mão em suas cartas para recordar,
Solto a caneta e desisto do que escrevo,
Vejo as cartas com outros olhos,
O papel me fere pelo que diz,
Agora, tão distante parece que mente,
Junto poucas,
Mas, veja quando se fala de amor,
Poucas é o bastante,
Passo sobre minha pele,
O sangue escorre detrás dela,
A dor segue as palavras,
Mas o que foi vivido é silenciado,
De alguma forma,
Cai no vazio que deixa por onde passa,
Enrola estas cartas,
Junto as outras com minhas mãos tremulas,
Passo por meu pescoço,
Embora não saiba bem o porquê,
Ergo-a e alcanço o teto,
Sim, elas sabem me levar para longe,
Com elas me recordo das folhas de antigo jornal,
A data em que o escrevi tão sôfrega e apaixonada,
O instante em que implorei para que voltasse,
Porém, antes de todas estas palavras,
Lhe contei tudo que sua ausência me causou,
Toda a dor e ruína em que caí,
Falei de coisas, que juro, acho que não queria ouvir,
Quando folhei as notícias,
Lá estava: pendurado em tudo que escrevi,
Morto,
Confesso que o laço vermelho de fita que me deu,
Foi de valia,
Bem, penso ainda que foi,
Com estas cartas em mãos,
Agora vendo-as me parecem vazias,
Não fez sentido,
Nada fez sentido,
Nem a foto,
Pareceu-me mais uma imagem...
Não me apego a isso,
Hoje tenho um endereço onde encontra-lo,
Recoloco a carta que escrevia,
Recordo-o,
Lembro de passar por você despercebido,
Chegar até seu ombro,
Bem próximo ao seu ouvido,
Então, disse em tom claro e seguro:
- Essa boca beija
Ou então, pede beijo?
Segura eu fui do que dizia,
Porque falava com a pessoa certa,
Mas, não, eu não era tudo aquilo que você pensou,
Tive medo... mas, acho que você me entendeu.
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