quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

O Esperaria


Ela levou as mãos aos olhos,

Tentando afastar as lágrimas que ardiam,

Ora, não fazia sentido enganá-lo,

Ignorar ou fingir que não houve amor,


Ela não conseguiria.

Por mais que colocasse esforço,

Jamais conseguiria.

O que sentiu foi muito intenso.


Um cálice servido fresco aos seus lábios,

Alimento para seu ego inflamado,

Provar do gosto de um beijo

E não ser capaz de esquecê-lo...


Não tão completamente.

Mas era assim que aprecia ser.

Presença perturbadoramente irresistível,

Para qualquer uma que quisesse,


E ela sabia,

Desde antes de beijá-lo,

Sabia.

Apenas isso.


Nas palavras que ele disse:

-Bem, querida, vamos viver o hoje.

No que ela ouviu:

-Há uma chance para o que sente,


Aproveita e vamos viver.

Que grande inutilidade!

Agora mais nada faz sentido,

Antes valia o olhar, o querer...


Agora isso pertencia ao passado.

O que uma moça ganha com seu esforço em amar,

Em empregar tudo que for capaz por alguém?

Uma noite insone,


A esperar uma jura de amor que supra?

Amores vêm e amores vão,

Mas, este já era tão antigo,

Vinha do passado e não parecia desapegar,


Não assim, tão fácil,

Não antes muito menos agora.

Bem a terra sob seus pés permanece para sempre,

Mesmo que tenha sentido ganha estremecimento,


Mesmo após tê-la visto se entregar tanto,

O sol que se levanta é o mesmo que se põe,

Porém, ele sempre teima em retornar ao seu lugar,

Talvez, existe um lugar para alguém que ama,


Quem sabe um dia,

Até o homem mais perfeito pense nisso,

E neste dia:

Ela esperaria, não esperaria?


O vento sopra para o sul e vira para o norte,

Um cheiro gostoso lhe vem e parece preencher,

Ela reconheceria este cheiro em qualquer lugar,

Era ele, tão vívido e perfeito,


Parecia tão perto que poderia senti-lo,

Fechou os olhos e aproveitou cada segundo,

Sim, um dia o amor o traria,

É certo que um dia,


Um segundo neste curso,

E um beijo repousa em seus lábios,

Sem que precise olhar reconhecia-o,

Sabia que sim,


Sorriu com toda a alma e entrelaçou-se a ele,

Beijou-o sôfrega e apaixonadamente,

Porém, quando tornou a abrir os olhos,

A quem contempla a sua frente?


Outro.

Sim, outro não mais ele.


 

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