Querido diário, amigo de todas as horas,
Eu não teria conseguido reescrever esta história,
Sem contar com essas doces lembranças,
Que me buscam noite afora,
E é claro, sem contar com toda a sua displicência,
Da letra morta enterrada no cemitério
Das lembranças, tirei esse momento,
Reavivando nestas rasuradas escrituras,
Para que talvez, algum dia,
Eu possa reviver tudo que um dia
Sonhou, a tempos atrás, aquela doce menina,
Chegou agora ao meu rosto,
Um cheiro meigo de algum lugar distante,
Sim, a brisa me trouxe, também, o seu beijo,
Tremula, sinto arrepiar a pele,
Para esta estranha temporada de primavera,
O beijo do amor verdadeiro,
Aquele que vivenciei a muito tempo,
Voltou com gosto suave em meus lábios,
Não o sentia a tanto tempo...
Por que voltou agora que já parecia esquecido?
Os detalhes acerca de tudo o que senti,
E a experiência do seu abraço,
É coisa que guardarei para mim,
Espero que me perdoe pelo segredo,
De fato, é um caso que guardarei para os meus sonhos,
Escondido até mesmo de você, meu amigo inseparável,
Afinal, o que as suas folhas em branco
Fariam ao tomar conhecimento de algo tão profundo?
Acaso soltariam um breve suspiro?
Olhariam para as estrelas com aquele ar apaixonado?
Não, me perdoe: mas há coisas que merecem estar guardadas,
Porém, jamais esquecidas, além de que, como poderia?
Eu havia beijado a boca de um perfeito cavalheiro,
Mas isso não é coisa para o cinema?
Homens como estes não se acham em qualquer destino,
Que sorte a minha, ele ter me escolhido em meio a tantas
outras,
E eu o amava, tive certeza desde o primeiro dia,
Mas finais felizes, como você já tem conhecimento,
Não pertencem a meninas encantadas,
Ficam presos nas páginas de um livro velho, empoeirado,
Daqueles que nunca se tira da estante,
Mas agora, neste exato instante,
Me sinto perder o controle das minhas emoções,
Não há tempo para conter as lágrimas,
Me vejo soluçar aqui mesmo,
Sinto-me sangrar por dentro,
E por Deus: como dói este amor ausente,
Será que a minha alma poderia escapar por meus olhos
Em lágrimas embebidas no veneno da saudade?
Isso não é tão fácil responder,
Porém, algo aqui não se encontra inteiro...
Cada parte minha sangra a dor da saudade,
Bem, só pode ser psicológico,
Pois um beijo acontecido a tanto tempo
Porque reavivaria tanto assim meu coração adormecido,
A beira de deixar-me em um tormento?
Nas garras de algo letal como este amor que sinto,
Embora nunca tenha me considerado uma pessoa normal,
Estou certa de que agora que o amor me tomou,
Não quero, nem procurarei outra saída,
Me entregarei a ele como uma loba,
Ou algo selvagem, como se revive-lo fosse minha tabua da
salvação,
Um destroço arrancado de um navio com histórias de criança,
Naufragado em um tempo já esquecido em minha lembrança,
Feito histórias de pirata para assustar pessoas desavisadas,
Fechei meus os olhos, por um longo momento,
Pude assim, ouvir a masculinidade da sua voz,
Estava rouca, triste, seriam lágrimas
O que a trouxe de volta?
Por Deus, por um momento cogitei a palavra saudade...
Mas isso não são sentimentos para a minha idade,
É claro, você sabe: sempre gostei de brincar com as
palavras,
Mas acreditar que ele também me amava?
Aí já seria um exagero de um pobre coração apaixonado,
O mesmo que ainda bate acelerado a cada marcar do relógio,
Daquele horário marcado em que nos víamos,
Ah, como contava cada segundo para tê-lo aqui comigo...
Mas isso são planos que não merecem serem escritos,
Não por não serem esperados até hoje, em cada momento,
Mas por medo de que as mãos do destino,
Desejem contrariar os sonhos desta que ainda ama,
Com a mesma intensidade daquele tempo esquecido,
Apenas sonhos, assim se resumiriam aqueles doces beijos?
Eram sonhos então? Aceito a honra de me permitir sonhar um
amor verdadeiro,
Me pego desprevenida ao ser tomada por essas emoções
desconhecidas,
Essas lembranças me fazem imaginar coisas utópicas,
Pensando bem, querido amigo diário,
Vestirei minha alma e roupa de dignidade
E me dirigirei para um pouco mais adiante
Sentir o olhar daquele homem,
A quem amei perdidamente
Vale a distância... não vale?
Ficarei ali, a espreita,
Quem sabe ele não me dirija uma investida,
A chance única de reavivar aquilo tudo que as lembranças
Agora, com força desmedida, abraçam em minha alma,
Com a ousadia de quem acredita em sonhos, amor, filhos,
família?
Oh Deus, me sinto louca, só assim tudo se explicaria,
Ah se eu pudesse ser dona de um sorriso que fosse em seu
olhar,
Com toda a força da minha alma Eu te Amo poderia lhe falar.