quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Amor do Colarinho Branco

 

Depois daquele beijo, ele teve certeza que sua vida

Nunca mais seria a mesma, e ela também pensou dessa forma,

Embora não tivesse muito dinheiro o amor falou mais alto,

Meses após se conhecerem, ele a pediu em casamento,

Em um encontro romântico sentados na areia a oeste de algum lugar,

Foi preferível, devido as circunstâncias deixar o endereço em suspense,

Ele foi gentil, ajoelhou-se, tocou o rosto da moça,

Disse que a amava pelo menos um milhão de vezes,

 

Com a brisa do mar a embalar seus cabelos molhados de chuva,

A areia a aquecer seus corpos deitados na penumbra noturna,

As borbulhas do champanhe a acariciar o céu de suas bocas,

A singela rosa vermelha a qual ele encaixou por detrás da sua orelha,

Entre seus cabelos, aproveitando a deixa para acaricia-la até os lábios,

Instante em que ele pressionou o lábio inferior com o dedo indicador,

 

Com um desejo incontido de abri-lo, provar o seu sabor,

Cedendo aos seus desejos ele percorreu até o seu queixo,

Pressionando e trazendo-a para perto onde pousou seu beijo,

Fechou os olhos para saborear o gosto e ao abri-los contemplou-a com seu melhor sorriso,

Mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e aquele brilho nos olhos

Que seria demasiado difícil conseguir expressar com poucas palavras,

 

De fato, com um suspiro incontido ela foi tomada pela certeza

De que jamais alguém seria capaz de resistir ao encanto daquele momento,

Disse sim, sem hesito algum nos atos que se seguiram ou nas juras feitas um ao outro,

Poucos meses depois, juntaram as toalhas, os sabonetes e as escovas de dentes,

Decidiram casar-se como ocorre com todos os amantes que se amam ardentemente,

As juras de amor nunca foram silenciadas, porém, ela como esposa dedicada,

Largou o trabalho e decidiu colaborar no recanto do lar, cuidar da família,

Ele, como servidor público ganhava o suficiente para os dois, acreditavam,

 

No entanto, alguns meses depois de noites de amor desmedido,

A notícia que chegou ás mãos da moça relatava que estava grávida,

Ela nunca se sentiu mais feliz, agora sua família finalmente estaria completa,

O cachorro teria mais companhia, ela não se sentiria sozinha,

Nada mais seria como antes, vestiu seu melhor vestido, a melhor maquiagem,

Sem esquecer daquele salto 15 que sempre a elevava até o alto,

Transmitindo uma sensação de segurança, de poder, com um ar de supremacia,

Sensação a qual apenas os braços dele a sobrepunham, vez que a erguiam bem mais alto,

 

Fez um jantar caprichado, comprou um buquê de flores diversificadas do campo,

Pôs o vinho no gelo, colocou sua toalha predileta,

Elaborou tudo com delicada atenção aos menores detalhes,

Ele chegou cansado, abraçou-a, beijou-a rapidamente,

Banho tomado, jantar servido e a notícia repousou em suas mãos,

Com a tonalidade do vinho que balançava em seu coração,

Doce, espesso e gelado, ele sorriu sem entender a situação,

 

Havia um filho a caminho? A primeira ideia que ocorreu foram as dívidas

Contraídas em decorrência do casamento, além das anteriores,

As roupas cujas quais adorava manter o gosto da sua esposa,

O extrato do cartão de crédito, o aluguel no final do mês,

Sorriu a contento, beijou-a sôfrego e lento, a ideia parecia intragável,

Mas como diria algo deste teor a quem amava tanto?

 

Lembrou com certo desespero, ouvindo-a retratar sobre os planos relacionados ao bebê,

Que em decorrência do seu cargo público tinha acesso a um grande teor em dinheiro,

Lembrou consternado da carta que recebeu dias atrás sobre o parcelamento em atraso

Do empréstimo que contraiu junto ao único banco da cidade,

Estava com o nome sujo e agora teria um filho para partilhar da situação,

Todos os reconheceriam na cidade, iriam aponta-lo para onde fosse,

 

Seu nome estava escrito na pedra da vergonha e agora poria lá sua família,

Já havia diminuído seu ritmo de vida em tudo que pode,

Mais que isso seria considerado pobre,

Ele que sempre se orgulhou do seu padrão de vida elevado,

Pediu a esposa que fizesse as malas naquele mesmo instante,

Avisou que teria que se ausentar por algumas horas, mas logo retornaria,

Disse que não poderia detalhar mais, que assim agisse sem perguntas,

Ela o fez conforme o plano, três horas depois ele retornou com uma mala,

 

Ela o esperava deitada no sofá, desacordada, acordou em um ímpeto,

Assim que se sobressaltou em decorrência da porta ter sido arrombada,

Com os olhos arregalados pode ver seu esposo posto junto ao que sobrou da porta,

Ele apenas gesticulou para que ela o seguisse, ela pegou as malas e o fez,


Apesar de estranhar o carro estacionado na calçada, não disse nada,

Na pressa ao percorrer o caminho ele atropelou o cachorro do vizinho,

Agora seu carro estava sujo de sangue, precisaria limpá-lo,

O cheiro chamaria muito a atenção por onde seguisse, e o pneu furou,

Não haveria tempo para concertar até a luz da manhã,

 

Chegou no final da cidade, arrombou a garagem de um vizinho,

Ao não encontrar as chaves do carro, arrombou a porta da saída,

Entrou e intimou-o que passasse as chaves, ao qual o vizinho foi prestativo,

Sentado com a chave na ignição, olhou para sua esposa e seus olhos arregalados,

E percebeu que havia deixado pistas, retornou e ceifou a vida da testemunha,

Com a tesoura que pertencia a avó do vizinho e estava posta sobre a mesa da sala,

Talvez, houvesse mais de uma pessoa lá dentro, sua lembrança ficou turva,

 

Algumas horas depois acordou algemado, olhar consternado,

Sua esposa havia sumido, carregando seu filho no ventre,

Teve certeza que algo deveria ter ocorrido em erro no plano,

Então, ela deveria ter fugido e depois voltaria para busca-lo,

Uma garrota sozinha e bonita, andando pelas redondezas chamaria a atenção dos tiras,

Este fato explicaria a demora em vir ao seu encontro,


Ele lembrou do último beijo que tiveram soube que era amor,

E o filho seria apenas a consumação de tudo que sentiam um pelo outro,

Foram suas palavras não foram? Porém, havia uma acusação a pesar contra ele,

Preferiu então, no momento de elaborar sua defesa

Omitir esses detalhes, por qual motivo iria envolver

A futura mãe do seu filho em uma investigação desta espécie?

 

O caminho de erros feito por ele havia começado muito antes dela,

Algo parecia sussurrar aos seus ouvidos que ela estaria em algum lugar, a salvo,

Ele nunca duvidou de que o sangue que apareceu naquele carro jogado as margens,

Fosse do cachorro que havia sumido, conforme lhe inquiriram,

Não havia nada que o comprometesse, nem ao menos sinais de que ela estivesse

Estado naquele carro em algum momento, sentia-se feito um joguete do destino,

 

Mas tinha certeza absoluta de que seria inocentado, não havia feito nada,

Aquele dinheiro pertencia ao povo e ele fazia parte disso através dos seus impostos,

Quem mais que ele havia contribuído em razão do seu padrão elevado?

Ele nunca mereceu a miséria, porém, sua conta havia sido confiscada a algum tempo,

Lembrou que suas roupas ainda estavam no armário, e estes eram seus únicos bens,


Seria inocentado, tinha certeza que ao final seria feita a justiça,

Elaborou seu breve relato, camisa branca, gravata clássica,

Relatou com esmero o fato de como, de repente, foi encontrado inconsciente,

Preso dentro de quatro paredes frias da delegacia da cidade...

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Um Bilhete

 

Acho que ela ficou com o bilhete,

Eu sabia que local ela frequentava

Escrevi algumas palavras e deixei ordens,

Para que quando ela chegasse lá, a entregassem o bilhete,

Dobrado em duas partes iguais, como faria minha vida,

O antes e o depois após tê-la conhecido,

Deixei pago um chocolate da sua escolha,

 

Eram quatorze da tarde, o sol estava recoberto por nuvens densas,

Um vento soprava e parecia brincar com as coisas,

A esta hora ela deveria estar lendo o bilhete,

Refletindo sobre o que eu havia escrito a ela,

Me indaguei sobre ter ou não deixado o número do telefone,

Torci para que tivesse rabiscado ao final da linha,

 

Eu li e reli tudo que escrevi, mas quando se trata do amor,

Toda a segurança se torna nula, resta somente o coração a pulsar,

E é claro, nem mesmo ele ajuda, insiste a ficar descompassado,

A cada instante em que me pego a pensar nela,

Lembro pelo menos da caligrafia bonita, e de ter descrito o quanto a amava,

Tivesse escrito um poema quem sabe minhas chances de êxito seriam maiores,

 

Mas, ela parecia ser alguém tão lógica e meticulosa,

Fiquei com medo que pudesse não gostar,

Existem muitas palavras lindas, mas é necessário saber coloca-las no papel,

E eu não queria copiar algo feito, o que eu sentia era tão único

Que merecia ser descrito por mim mesmo,

Por minhas mãos, minha letra, meus pensamentos,

 

Ela sabe onde me encontrar, lá no café todos tem meu endereço,

Nas horas vagas costumo frequentar este lugar,

Onde tive o prazer de cruzar com ela e a observar,

Eu costumava ir ler um livro, descansar nas horas vagas do trabalho,

E nossas horas se cruzaram, jamais esqueceria o vermelho do seu vestido,

A forma como ele se movia a adorna-la, o fulgor dos seus lábios,

 

O encanto que ela tinha ao sorrir e a maneira linda de se expressar,

Eu me pergunto se ela levaria a sério o que eu sentia,

Ela me pareceu tão independente e atarefada que aparentava

Estar distante de sentimentos como o amor,

Há mulheres que preferem dedicar-se exclusivamente a uma careira,

Ouvia ela repetir por diversas vezes em suas conversas ao telefone,

Eu a entendia muito bem, até conhece-la havia sido assim comigo também,

Talvez, eu devesse mandar flores, pensaria nisso em outro instante.

Ponto Final

 

...E nunca mais irei procura-la, mesmo que a ame para sempre,

Mesmo que as lembranças venham me acordar no meio da noite,

Lembrando seu toque, seu cheiro, trazendo a minha memória,

Os mais lindos momentos que vivemos, mesmo assim, nunca,

Meu coração ansiava por sua volta, eu não teria como negar,

Porém, minha alma ecoava palavra por palavra sua,

 

Todas as que me disse antes de ir embora, de uma a uma,

Eu me recusava a repeti-las, para que reviver angustias antigas,

Mas, isso foi o suficiente para me convencer a acatar sua vontade

E por mais que arda a dor da saudade, disse a mim mesmo, não iria ceder,

Nem uma ligação, nem um olhar, nem notícias suas gostaria de ter,

Disse aos amigos que evitem falar sobre ela, que esqueçam seu nome,

 

O que acabou, acabou, não haveria motivos para se apegar ao passado,

Quando estávamos juntos nem faziam questão de que estivéssemos,

Por que agora iriam me atormentar tocando em assuntos

Que já haviam acabado, o que vivemos foi bom mas chegou ao fim,

A vida tem dessas coisas, as vezes se desenrola assim,

E o amor continua a pulsar em mim,

 

Se não foi com ela, será com outra pessoa,

Nesta hora não é tanto importante o que os outros pensam,

Por mais que doa, eu preciso pensar em mim,

Eu me entreguei por completo, fiz tudo que fui capaz de fazer por alguém,

Mas acabou, não foi o bastante para mantê-la comigo e daí? A vida segue,

Irei me entregar a dor e viver de saudade?

 

Me jogar aos seus pés e entregar a ela algo que ela já disse não querer?

O amor só é amor quando é espontâneo, quando é forçado se torna outra coisa,

Não que eu entenda muito sobre isso, mas para que sofrer?

É certo que as vezes é inevitável lembrar, sentir saudade, talvez até chorar,

Mas ter que ser lembrado sobre nós por tudo e por todos

Em todo lugar e a qualquer momento?

 

Para que isso? Que maneira de prender-se as coisas e querer fixa-las,

Sei lá de que forma, talvez até manipula-las,

Ainda lembro que quando a apresentei aos amigos,

Todos quiseram opinar sobre ela, falar sobre as coisas que teria a perder

Por adentrar em um relacionamento sério,

Lembrei ainda de como fui abandonado pelos mesmos amigos

 

Por me entregar a este sentimento que nutria por ela,

Houve inclusive aqueles que ousaram tentar seduzi-la,

Em total desrespeito a nós e mais ainda a ela, que sozinha

E estranha ao círculo de amizades se sentiu indefesa,

Indecisa sobre me contar ou não por medo de estragar a amizade,

E agora, estes mesmos amigos vinham a me lembrar toda hora

 

Que ela havia partido, que não estava mais comigo,

Ainda ousavam se sentir no direito de indagar

Sobre quais os motivos que levaram ao fim do relacionamento?

Por Deus, não há sentido nessa mania de intrometer-se na vida dos outros,

Eu ainda a amava, é claro, mas guardaria este sentimento comigo,

Havia acabado, ponto final aos sonhos que sonhamos juntos.

Maio de 2002

 

Ela pressionou os lábios frios em minha boca,

Pegou as chaves do seu carro e deu partida,

Foi embora após um mero adeus por despedida,

Na linguagem do amor isso é saudade premeditada,

Eu prometi a mim mesmo que ficaria em casa,

Não me permitiria sofrer, mas refletiria

Sobre tudo que vivemos, os possíveis erros e afins,

 

Porém, a lua ressoou meia-noite e eu me direcionei para a balada,

Contudo ir sozinho me pareceu uma ideia ruim naquela hora...

Ao chegar lá, qual não foi minha surpresa me deparei com ela,

Achegada em conversinhas com outro rapaz,

Embora eu também estivesse acompanhado me senti usado,

No entanto, não recai, peguei a mão da minha acompanhante

E direcionamo-nos para a pista de dança, e o que eu senti foi único,

 

Percebi no ritmo contagiante daquela dança que

No outro relacionamento eu apenas havia perdido meu tempo,

Desperdiçado minhas horas em sonhos que eram só meus,

Os quais ela nunca acreditou nem ao menos se esforçou,

Na primeira oportunidade virou as costas e foi embora,

Seria forçoso admitir, mas talvez, mesmo antes do fim,

 

Ela já tivesse entrado em outro relacionamento,

Me senti traído, eu entreguei meu amor, minha vida

A quem nunca soube dar valor, a quem apenas usou de mim,

Abusou do que eu sentia, me forçou a acreditar no que não existia,

Mas agora tudo estava esclarecido e o fim chegou ao que nem deveria ter iniciado,

Digo isso com certo orgulho, para que me apegar ao passado?

 

É certo que o fato de encontra-la acompanhada por outro na balada,

Havia sido um tanto quanto provocativo, confesso que mexeu comigo,

Mas o que eu faria se foi ela quem decidiu dar fim ao que tínhamos?

Assumo que posso não ter sido perfeito, aceito que possa ter havido erros,

Mas desistir de tudo tão facilmente me soa um tanto intransigente,

Nós mantínhamos um diálogo singelo, falávamos de tudo um pouco,

 

Confesso que as vezes ela me fazia pedidos para os quais eu não me sentia preparado,

Mas por um fim em tudo por tão pouco, isso me soou um tanto apressado,

No meio da pista, virei o rosto para contempla-la, não por interesse,

Mas por respeito ao que vivemos, senti curiosidade,

Qual não foi minha surpresa, ela estava aos beijos com o outro cara,

Aquilo me feriu de morte a alma, percebi que nunca deveria ter investido nela,

 

Continuei a dançar, com passos desconcertados, um pouco nervoso,

Parece que quando a gente fala de sentimentos para outro coração,

Por termo-nos aberto de modo tão íntimo desejamos no mínimo respeito,

Mas o fato é que cada momento responde de modo diferente no que tange a emoção,

E assim havia sido conosco, eu amei com toda a alma, mas ela não,

Ela simplesmente se recusou a entregar-se a nossa paixão,

 

E agora remava em outro barco, direcionada por outra maré,

Não seria eu que a perseguiria como se quisesse obriga-la a viver o que não quer,

Todos possuímos direito de escolha e o meu era o de não ser humilhado,

Deste modo, peguei a mão da moça com um leve aperto,

Me aproximei e nem esperei o final da dança, cheguei ao seu ouvido,

E a convidei para irmos a outro lugar arejar o pensamento,

 

Talvez um bar tomar um chopp, mas não ficaria a contemplar

A mulher a quem tanto amei se entregando de forma

Que julguei tão fútil e voraz a outro rapaz,

Talvez ela nunca tenha agido daquela forma comigo,

Mas não me deixaria abater por isso, na saída, me aproximei dela,

Com toda a educação e respeito conquistado em nosso relacionamento,

 

Sorri e cumprimentei a ambos, com um aceno desejei a ela sorte,

Voltei-me a minha acompanhante e nos dirigimos a um café,

No caminho contei que se tratava da minha ex,

Ela sorriu e me elogiou por minha atitude,

Seu sorriso mexeu com minha alma de uma forma inusitada,

Então olhei para ela, eu estava a dirigir o carro, mas mesmo assim,

 

Estendi uma mão a acariciar seu rosto e provei o gosto da sua boca,

Algo em mim me avisou que este relacionamento poderia ser diferente,

E não haveria motivos para não o ser,

Não foi necessária investigação muito profunda,

Seu beijo era algo que me envolvia e contagiava,

Aquele maio de 2002, ficaria marcado para sempre em minha vida,

 

Ela tocou o vestido de uma forma urgente e provocadora,

Eu sorri, “estou encrencado como é possível notar”,

Disse a ela, com um sorriso e um brilho especulativo no olhar,

Ela também sorriu, disse que se estivesse no meu lugar,

Talvez não tivesse agido com o mesmo respeito e cautela,

E que no decorrer da sua vida, ela procurava alguém assim,

 

Já havia se sentido perseguida por outros rapazes por bem menos,

Então achava que minha atitude havia sido louvável e digna,

Disse ainda que minha beleza já havia conquistado sua estima,

Porém com minha atitude conquistei sua alma,

“Para você ver o quanto estou encantada,

Poderia parar um instante para me dar um beijo na boca?

Este beijo apressado foi ótimo, mas eu gostaria de um bem demorado...”

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Carta ao Amor

 

Olhei-me no espelho, maquiagem bem-feita,

Olhos brilhantes, sentia uma alegria vívida,

Você deve estar se perguntando de onde veio

O sorriso que tomou conta do meu rosto,

 

Mordi os lábios, olhei um pouco para o lado,

Lembrei da doçura daquele beijo roubado,

Que aconteceu a alguns dias atrás,

Com um sobressalto no coração,

Fui certeira ao admitir: nunca esqueceria,

Um suspiro saiu dos meus lábios em admiração,

 

Sentia saudade, queria vê-lo de novo,

As lembranças se confundem com a distância

Deveria haver algum tipo de acordo com o amor

Para que aos casais fosse negada a lonjura,

No instante em que o gosto começasse a se dissipar dos lábios,

Logo que a gente levasse um dedo sobre a boca com o desejo de senti-lo,

Que este anseio fosse ouvido, é pedir muito?

 

Acho incomodo ter que se apegar a fotos, mensagens apagadas,

Momentos guardados apenas na memória,

Este trabalho de lembrar a toda é hora é cansativo, sem dúvida,

Mas quedar ao esquecimento, manter distante quem se ama,

Traz satisfação momentânea apenas a quem nunca amou,

A sensação do seu beijo em minha boca,

Confirmou o que eu sabia desde que nos entreolhamos na esquina do café,

Eu o amaria por toda a vida, guardaria comigo o gosto do para sempre,

 

Digo momentânea a satisfação da saudade, pois é certo que quem ama,

Sempre encontra uma forma de se fazer presente, de estar perto,

Tudo que a mim é permitido é reiterar esta declaração de amor,

Fossem estas as minhas últimas palavras eu gostaria de guardar em sua lembrança,

Que eu o amei como nunca achei que fosse capaz, dei tudo que tinha,

Fiz tudo o que podia e teria feito mais, nunca irei esquecê-lo,

Talvez pareça inconsistente o que eu esteja dizendo,

 

Afinal nos conhecemos a tão pouco tempo, mas eu o amei muito,

Sei que minha sinceridade transpareceu no gosto doce do beijo,

No afago que fiz em vários gestos de carinho sobre o seu rosto,

Não pediria a você para não me esquecer, apenas que guarde consigo:

Que eu o amo para sempre e um passo além do meu destino,

No começo minha intenção era falar sem áquilo,

Depois, sentei-me e desejei falar a esmo, traçar palavras em um rascunho,

Que embora mal escrito, o vejo agora com outros olhos,

Gostaria que chegasse até você e que fosse lido,

 

Ouvi um rangido na porta, olhei para trás, desejei que fosse aberta,

Incialmente, senti que ela tremeu um pouco,

Então, olhei para a caligrafia borrada e percebi que foram minhas lágrimas,

Não havia ninguém, eu estava sozinha em meu quarto,

Depois pensei que ela poderia estar chaveada, desta forma, eu precisaria abri-la,

Prestei atenção por um minuto, mas não ouvi nenhum barulho,

 

Foi coisa do vento, pensei comigo, voltei ao papel em que escrevia,

Ao terminar a frase Eu Te Amo em caixa alta, escrita preta,

Ergui o papel e levei-o aos lábios para depositar-lhe meu beijo de batom,

Foi quando ouvi outro rangido, desta vez com mais clareza,

Alguém batia a porta, mas antes que eu me levantasse para abri-la,

Ele entrou com flores coloridas, sorri, soltei o papel e a caneta,

 

E corri para abraça-lo, ele havia sentido minha falta e agora estava comigo,

A tarde foi pequena para o tanto que conversamos,

Falamos sobre tudo um pouco, contamos em detalhes para trazer a sensação de participação,

Agora, todo o tempo em que passamos separados ele esteve comigo,

Senão de forma física, da maneira mais importante: com o coração,

Quando ele me olhou com seu jeito apaixonado,

Eu senti que cada segundo de espera foi passageiro,

 

Eu engoli em seco: meu Deus, será que agora ele ouvia meus pensamentos?

Será que adivinhou o quanto eu o queria ao meu lado,

Sabia de todas as vezes em que arrumei o quarto a espera-lo,

Das roupas íntimas que comprei com a exclusiva intensão de vê-lo?

De cada detalhe na casa organizado com a intensão de agrada-lo,

Os jantares feitos sempre a cada noite a espera de satisfaze-lo,

A maquiagem que refazia a cada momento, sempre a espera-lo,

Se ele não sabia até então, agora saberia, pois, tudo que eu queria

Era dizer a ele o quanto o amei e o amaria por toda a vida,

 

Como se atendesse aos meus desejos, ou tivesse os mesmos sonhos,

Ele me pegou no colo, me beijou com seu jeito avassalador,

Eu o agarrei com toda a força, só desejei mantê-lo perto,

Me senti morrer a cada momento de angustia e saudade,

Mas meu amor nunca deixou de pulsar, nenhuma vez,

 

Seu rosto encostado ao meu, seu cheiro impregnado em meu corpo,

Seus carinhos em meu cabelo, seus olhos fechados,

Como se soubesse de cor cada traço meu,

Ele se permitiu guiar pelo calor exalado do meu desejo,

E encontrou meus lábios com um beijo melhor ainda que o já provado,

 

De um jeito delicado, provocador e arrebatador,

De um jeito lento que me senti derreter,

Sorte minha estar amparada por seus braços fortes,

Amanhã sairíamos passear com nosso cachorro,

Juntos, como eu sempre havia imaginado.

Luz da Manhã

 

Eu estava bêbado demais para achar estranho,

Foram garrafas de uísque com gelo,

Ela havia surgido com seu jeito manso,

Usava um vestido bonito, tinha gestos delicados,

De longe parecia a miragem de alguém que eu tinha perdido,

De perto alguém que me pareceu interessante ter ao lado,

 

A conversa transcorreu de forma convidativa,

Aumentamos a dose da bebida,

Gostei da forma como ela derramou-a nos lábios,

E depois tracejou o caminho da bebida com um dedo,

Depositando-o na boca depois, com um sorriso

E um brilho enigmático nos olhos, eu sorri daquilo,

Depois ela, de forma descuidada derramou no vestido

A bebida, que eu gentilmente, ajudei-a a limpa-lo,

 

Em altas horas da madrugada, no calor da lua,

Decidi que deveria voltar para a casa,

A moça me pediu uma carona,

Achei deselegante não conduzi-la,

Ao estacionar, ela me envolveu com um beijo mordiscado,

O efeito da bebida, o sabor dos seus lábios, aquele algo em mim

 

Que parecia clamar por uma sensação diferente,

Me fez envolve-la em meus braços e beija-la sôfrego e prestamente,

Ela foi tirando a roupa, me tocando, parecia exigir-me algo,

Que eu nem pensei se estaria ou não preparado,

Me deixei envolver pela delicia dos seus lábios,

E aquela sensação de quem está distante mesmo estando perto,

 

Suas mãos eram como faíscas sobre a minha pele,

Naquele instante senti que não teria forças para resistir,

Me entreguei a ela, sem medidas, sem pensar, na verdade,

Minutos depois, vestimos as roupas com um beijo no rosto de despedida,

E cada um rumou para a sua casa, mesmo trôpego pelo efeito da bebida,

Eu não tinha dificuldade alguma para seguir meu caminho,

No entanto, desejei ir para um lugar mais tranquilo,

Em que pudesse reavivar meus pensamentos,

Quem sabe até acreditar em sonhos,

 

Neste ínterim, parei nas margens da praia, queria ver o mar,

Sai para fora do carro, me encostei no capo e fiquei a contemplar,

O sol em instantes iria afastar as estrelas, e brilhar,

Mesmo a escuridão profunda do mar seria afastada,

Feito a nuvem de areia que a brisa da manhã levantou,

Tão logo desanuviasse dos meus olhos, também faria com o meu redor,

 Iluminando com a clareza de quem conhece todos os segredos,

 

Desejei que este momento me tocasse,

Que reavivasse cada um dos meus sonhos,

Feito as fagulhas que vi no olhar daquela moça,

Que de alguma forma, mexeram comigo,

E reacenderam em mim algo que eu não esqueceria,

Com um gosto diferente, talvez nunca provado,

 

O sol me pegou acordado, mais uma vez,

Mas desta vez, meu sorriso estava mais resplandecente,

Eu senti um arrepio que me envolvia liquefeito,

Fazendo meu coração acelerar descompassado,

Naquele instante, o frio do mar tornou-se fogo,

Como se sua superfície refletisse meus sentimentos,

 

Senti muita vontade de toca-la, pés descalços

Molhei a ponta dos dedos, e caminhei um pouco,

Eu era apenas um homem simples desejando despertar,

Desejando viver algo além do que eu conhecia,

Algumas horas depois dirigi para a minha casa,

Consegui chegar no quarto, cair na cama

E permiti-me dormir até as 10 horas,

 

Acordei com o sol a bater na janela, convite silencioso para acordar,

O dia estava lindo e iluminado, o sol parecia sorrir em todos os cantos,

Nem uma nuvem ousava encabular o céu azulado,

Olhei para o celular, desejei ouvir uma voz a muito tempo esquecida,

Queria dizer que a amava e que nunca a deixaria,

Porém, havíamos perdido contato, nos desligado um do outro,

 

Mas em minha boca podia sentir a lembrança do seu beijo,

No entanto, mesmo com meus lábios entorpecidos,

Eu sentia que havia acontecido algo que mexia comigo,

Algo que eu poderia definir como bom, que talvez eu quisesse de novo?

Não saberia responder, minha cabeça latejava,

Poderia apostar que nem ao menos meu cérebro funcionava,

 

Esperei em vão pelo toque do telefone,

Tudo estava silencioso, como de costume,

Dias se passaram, e o telefone me chamou a atenção,

A moça que havia conhecido naquela noite fatídica,

Me transmitiu uma notícia de assaltar o coração,


Estava grávida, fruto da nossa noite de aventura,

Isso mudava um pouco as coisas não mudava?

Eu não havia ligado a ela nenhuma vez,

Mas, havia pensado nisso, na verdade...

domingo, 27 de dezembro de 2020

A Chuva

O tempo passou a esconder-se por trás do sol,

Marcando cada segundo em um ritmo inespecífico

Aos que amam, exato aos que sonham,

Como se fosse soprado pelo vento em pequenos pontos

Espelhou-se a brilhar pelo céu estrelado,

Alguns o chamam esperança, outros estrelas,

 

A lua solícita gosta de fazer suspense, por vezes brinca de esconder-se,

Apenas para forjar indiferença, quando na verdade está a contemplar,

Tanto os que amam quanto os que sonham se sentem arrebatar,

Em um fascínio que os envolve sem força alguma que os atraia,

Ao contrário, dizem os céticos que exista força que os repila,

Mas há quem ainda acredita em verdades incertas? Sim, há;

 

Quando chovia no outono, eu gostava de molhar os pés na goteira,

Quando chovia no verão eu gostava de nadar no rio de água morna,

Porém, quando a chuva se ausentava eu sentava para atirar pedras,

E ver a água abrir-se para recebe-las apenas para abriga-las em algum lugar,

O fato é que a chuva adorava perturbar minha alma,

Estivesse eu triste ela se derramava só porque sabia que eu não a resistiria,

 

Fazia os pássaros sobrevoarem a cantar na sinfonia da natureza,

As flores abrirem-se para receberem seus desígnios,

Por vezes, acompanhada pelo vento, pela brisa fria,

Outrora, trazia o sol para aquecer a terra envolvendo-a em um arco-celeste,

Fazendo todos moverem-se a sua volta, em perfeita sintonia,

Como um pedido de que se voltem para os céus e vejam que a vida é maior,

 

Tentei descrever os fatos, mas as palavras careciam de sentido,

Existem coisas na vida que só mesmo a contemplação é capaz de mostrar,

Há quem saiba disso, mas sempre há quem se negue aos fatos,

Embora de vez em quando, algo pareça se modificar,

Como se gritasse aos ventos da mudança que havia chegado a hora,

Há quem acredite que tudo esteja descrito nas estrelas,

Há quem prefira percorrer seu próprio caminho em coerência,

 

Durante o decorrer do meu dia eu gostava de ficar na varanda,

Ler um livro bem escrito, marcar uma página com minha empatia,

Brincar com os bichos ao meu entorno, sussurrar aos ventos

Um eu te amo para que ele o eleve ao firmamento,

E possa ser ouvido a quem necessite de gestos de carinho,

E de preferência possa traduzi-los em vínculos de afeto,

 

Durante a noite eu amava ouvir a chuva no telhado a embalar meu sono,

Cheguei a me indagar se algum dia existiria sinfonia mais perfeita,

É claro que há, repetia aos meus pensamentos no sereno noturno,

Uma noite, enquanto eu estava absorta em pensamentos,

Uma chuva de estrelas rompeu o horizonte, como se sonhos,

Despendessem-se dos céus e viessem ao nosso encontro,

 

Acreditei que cada sonho que eu havia pedido as estrelas,

Desde tenra infância até nos silêncios das minhas orações noturnas,

Haviam caído ao meu encontro, porém, pensei comigo mesma,

Fossem eles anjos, teriam flutuado, mas foi inesquecível eu repetia,

Naquele momento perfeito e intuitivo,

Meu cão se aproximou por trás das minhas costas,

Com um suspiro ao meu ouvido, pedido silencioso de ser ouvido,

E eu o abracei como teria feito ao meu melhor amigo,

 

Como se me sorrisse com seu jeito ingênuo e protetor,

Ele recostou seu nariz quente e úmido na ponta do meu nariz,

Naquele instante dividíamos o mesmo ar, os mesmos sonhos,

Ele poderia não se expressar com palavras, mas nunca foi necessário,

Havia muito amor envolvido em cada fato, em cada movimento calculado,

Me permiti acreditar que Deus havia me ouvido, e quem sabe a alguém mais,

Então ficamos abraçados, a contemplar o desenvolver dos astros,

 

Que tal me dar atenção agora, ele parecia me falar com seu olhar castanho,

Com aqueles olhos grandes que pareciam ver muito a sua frente,

Muito mais que confessasse, de um jeito astuto que parecia mero reflexo,

Só para fingir ignorar tudo que percebia descrevendo-se no horizonte,

Eu o olhava e sorria, ele fechava os olhos como se estivesse dormindo,

Mas nunca se permitia baixar a guarda, sempre atento, seguro sobre nós,

 

Um desenho de sobrancelhas castanhas se desenhava sobre sua fonte,

Como se mesmo enquanto dormisse, ele se mantivesse acordado,

Estratégico, gostava de se camuflar nas sombras,

Protegido por seu manto de pelos negros, sempre alerta,

Eu poderia apostar que ele ouvia a quilômetros de distância,

E que tudo se desenhava em seu pensamento antes mesmo de tomar forma,

Inteligência espantosa, força sobre-humana, desenhado pelo amor,

 

A água da chuva pingava nas folhas, escorria a percorre-las,

Como se concedesse voz as suas fantasias,

Momento perfeito em que céus e terra se juntavam,

Formando a vida em todas as suas formas,

Por mais que Deus não tenha especificado línguas,

Ele concedeu a todos o dom da fala, de conseguir se expressar,

Em um pacto natural de convivência humana.

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...