quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Te Amo Meu Esposo

 


O véu do dia se abateu no horizonte,

Marcando o infinito num fogo reluzente,

Depois disso, eu o vi sobre mim me fitando,

Não desejei mais ver nada ao meu entorno,


Somente os braços dele que se mantinham fixos,

Em distância segura para se recostar em meu peito,

Meu corpo agora continha o peso de amar,

Era sereno, feito a brisa que vinha trazer o luar,


Era intenso como o véu de estrelas ao seu redor,

Quando ele me beijou meu teto deixou as alturas

E caiu suavemente em seus lábios macios e grossos,

Franzi as sobrancelhas indecisa quanto a amar tanto,


Então beijar era assim mesmo, tocar o firmamento,

Com a ponta dos dedos sabendo que seu mundo

Agora estava sobre você e lhe beijava com brandura,

Sentia meus lábios desenhando-se entre os dele,


Meu corpo pedia abrigo no seu e o mantinha,

Ergui meu dedo como se quisesse tocar a montanha

Atrás de nós, num piscar de olhos tudo mudou,

Ao senti-lo no meu peito, vi a terra ficar plana,


O tapete que eu tinha sob meus pés foi removido

Pelo doce suave em sua boca macia,

Eu pedia a ele e o mundo nos respondia no espaço de um beijo,

Agora meu corpo era mantido por ele e suas carícias,


O horizonte se jogava aos meus pés, desorientado,

Nunca antes havia presenciado algo como nós dois,

Tudo o que eu desejava estava ao meu alcance, seu corpo,

Fechado entre o meu corpo e o infinito ao nosso dispor,


Neste instante, acariciei seu rosto e enchi-me de orgulho,

O negro do infinito se manchava num dourado tênue,

Mas nada comparava-se ao azul límpido do seu olhar,

Nem mesmo o rio de águas cristalinas que fazia sua curva,


Esqueci o encanto anterior e não medi esforços,

Beijei sua boca o mais que pude, ouvia disparos ao longe,

Já não me assustava com isso, era meu coração falando,

Mas rouco de desejo não podia-se ouvir tanto dele,


Ao menos, naquela hora não foi nossa prioridade,

Foram-se duas vidas e ficaram dois corpos sedentos,

Entregues ao desejo incontido que corroía seus medos,

Entre estímulos e sussurros ao ouvido,


Carícias percorriam soltas caminho outrora proibidos,

Buscando e entregando um amor desconhecido,

Entre os suspiros soltos no ar da noite enluarada,

Quem nos contemplasse ao longe diria: seria um apenas?


Ora, teimaria o outro: são dois amando-se em plena noite,

Tivesse um terceiro duvidaria, tal era a intensidade dos beijos,

Que ao longe, não distinguia-se mais que um vulto,

Estava as portas do ápice de um amor pleno,


Querido, por favor, lhe rogo: não me abandone,

Disse eu oportuna entre uma carícia proibida e um beijo,

Denunciava que sua alma estava saturada de uma pretensão,

Que quanto mais entregava mais sentia – a pura redenção,


Mostrava minha face apaixonada, aquela desconhecida,

As horas foram passando mais depressa que as carícias,

Chegou o clarão do sol colocando um véu alaranjado no céu da lua,

Pedia a ela para dormir que agora vinha o dia,


Solicitava que se afastasse até o ponto de ver as estrelas,

Pois ali, sozinha, ela não poderia ficar,

Antes dos primeiros raios de sol os pardais acordaram,

Fizeram uma sinfonia, acordaram o orvalho,


Que escorreu por entre as folhas até cair em nossos rostos,

Pingou na face esquerda dele e percorreu-a até se achegar em mim,

Nossos corpos suados não distinguiam tanto assim,

Parecia-me que era um carinho e não outra coisa,


Esquecidos do nosso amor, os pássaros voavam ao amanhecer,

Pensei comigo que estava amando e não queria parar,

O beija-flor, tocou uma flor ao meu lado,

Nós ainda nos beijávamos,


Beijar sua boca esplêndida: meu privilégio e armadilha,

Se pensava sair ilesa depois dos seus afagos me enganei,

Apaixonei-me e não desejava outra coisa senão sua boca,

O sol se aconchegava ao dia enquanto a lua se despedia.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Depois do Quinto Beijo


Cinco é o número que repito comigo,

Cinco beijos ele me deu nem um a menos,

Usou de seus lábios como um escudo contra o que eu dizia,

A cada instante freava minhas palavras com sua boca,


Castigo aviltante agora me espera – sua ausência-,

Mal soube que aquele seria nosso último selo,

- Amor, espera, tenho algo a dizer-lhe, é que...-,

Palavras entrecortadas por lábios macios


Que se desenharam de encontro aos meus e por fim,

Refrearam-se sobre a minha face, calavam-me,

Um ponto antes do final que se iniciava e eu não sabia,

Ora, um homem sempre metódico com os outros


Como poderia agir consigo mesmo?

Ele deve ter me avisado, em algum instante, ele deve,

Agora em quê isso importa se não o tenho comigo?

O carinho dos seus dedos penetrava-me a pele,


E alcançava um lugar profundo em mim, entre meus seios,

No lugar vago entre eles, lá mesmo onde havia um vazio,

Esteve repleto este vazio, repleto dele, agora apenas ressoa,

A pulsar em desespero algo que meu coração tateia,


E que as lágrimas buscam acalmar quando minha visão se desfoca,

Carinhos que estão destinados ao fogo,

Lá será sempre sua morada - em mim, eu digo, em meu peito-,

Não seria de outro modo que o guardaria em busca de encontra-lo,


Em que se presta um endereço quando se guarda alguém na memória,

No lugar mais escondido da alma, e mais fluente,

Cada um que passa pode contemplar em mim uma parte dele,

Seja seu nome em erro ou uma parte do que vivemos,


Não faço da minha boca o santuário de uma única palavra

Que não possa contê-lo, é um pacto comigo mesma,

Não posso fugir disso, o amo e não escondo,

Alma, coração, um vazio cheio dele e as lembranças,


Tudo isso misturado estão a escrever os meus dias,

Penso em escrever uma nova história, mas já são cinco horas,

Dias depois, um nome voa ao sabor do vento e atinge minha boca,

Feito um beijo repousa no pé do ouvido, o seu nome em cheio,


Chegou a minha alma ali mesmo, no meio da rua,

Sem pedir licença ele entrou e o encontrou dentro de mim,

Sua morada, por entre as lembranças e mais alguma coisa,

Saudade uns diziam, amor eu teimava sem me importar,


O que eu senti naquela hora, veja bem, não era ainda cinco,

Mas perdi o fôlego atordoada, outro alguém o chamava?

Se seus beijos eram selos nossas cartas não estão lacradas,

Permanecem guardadas para que todos possam contemplá-las,


Juro agora, como jurei em outras horas: o amo, como nunca...-,

Mas antes que eu terminasse a frase que dizia para mim mesma,

Uma mão amiga repousa em meu ombro e me chama,

Paro um momento, suspiro aquele cheiro bom,


Suspiro porque não parece real, eu conheço demais esse gosto,

Digo gosto, porque já está entre os meus lábios,

Antes de estar entre os meus braços, no abraço que guardava,

Uma promessa selada não pode ser esquecida,


O beijo que não tinha sido dado agora vinha à tona,

Fazia estremecer meus lábios a suspirarem sem falar nada,

Havia uma poça de água rasa na minha frente,

Parei antes de desviar dela, em mim nada era raso,


O que eu sentia era tão profundo que poderia me perder

Dentro de mim mesma se não soubesse como mantê-lo,

Uma das promessas que repito sobre o homem que sigo

Faz referência a alguma coisa que esqueci entre seus beijos,


Ora, veja bem, sua mão no primeiro momento

Agiu feito uma lâmina presa em minha garganta,

Segurou-a com força segura, enquanto me puxava para perto,

Depois repousou seus lábios nos meus atônitos,


Estou com dois dedos sobre os lábios trêmulos

Então, mãos seguras abaixam-se para os meus braços

E me puxam para si, vejo-me de encontro ao seu peito,

E o beijo que selava estava ali, a postos, -me aguardava eu espero...-,

Iniciei a frase como de costume visando não chegar ao fim.

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Roupagem da Saudade


Ora, ele se sobrepunha aos corações abatidos,

Jurou nunca quedar ao amor sem sentido,

Aquela que adentrasse no seu coração,

Teria a chave com a qual libertaria sua paixão,


Andava pelas ruas cumprimentava a todos,

Sem medo do que lhe aguardava o destino,

E por que temeria, apenas por não ter se entregado?

Se a todos lhe incumbem um coração,


O dele haveria de vir a seguir no seu caminho,

A passos certos certeiro em sua emoção,

Adiante, teve quem pode vê-lo ajoelhado,

Consternado sob as rédeas de cruel paixão,


Houve quem contemplasse suas lágrimas sem fazer nada,

Assim, como teve também quem chorasse sua chaga,

Lembranças transitavam a passos largos a sua alma,

Ai de quem quisesse deletá-las, não conseguiria,


Eis que o passado não se apaga, apenas troca as vestes,

Muda o rosto, muda os lábios e até as palavras,

Mas o roteiro uma vez escrito permanecesse na alma,

É coisa bem estranha; no momento em que mais quer esquecer


É quando mais se lembra? Mais quer ver-se distante

E é quando mais se chama? Voltaria ele a amar?

É voltar bem de longe; Saber mudar-se o bastante;

Bem sabemos o que dele rói sua emoção até esvaí-la,


A saudade, triste roupagem de quem amou em demasia,

Esvai-se em lágrimas, em pranto que não quer calar,

Chora a dor mais sofrida que se possa falar,

Troca a saudade por um beijo e uma recordação,


Mãos hábeis tocam o seu corpo e corroem a emoção,

De que adianta provar novos lábios se não são os que se quer?

Veem-se os beijos vai-se a vontade de estar perto,

Fecha-se os olhos tentando manter segredo,


E a boca que beija? Esta, apaixonada, chama por outra,

As mãos que procuram tocar buscam outra superfície,

Toca-se a pele mas quer-se quem está longe,

No fundo da alma onde se busca, mas não vê nada,


Ele passa a mão em desespero pelo pescoço e a nuca,

Chega aos cabelos e puxa sem jeito, quer estar vivo,

Mas não tem certeza de como se encontra,

Sente um nó na garganta que desenlaça-se e chama,


O nome por quem ele implora não o ouve ou nota,

A sabedoria não está em buscar mudar o outro,

Quer-se respeitar as diferenças, mas e quando se trata de si mesmo?

Sabe que o amor não interessa mais que uma promoção,


Conquista o que se quer, usa até enjoar e ponto final,

Claro que nesta história existe um ponto ou outro de exclamação,

Em que ficaria preso aquele que amou e agora se vê sozinho?

Ele recordava de se julgar culto e experiente no assunto,


Mas quando suas pernas bambearam e os lábios estremeceram,

Só soube calar e aceitar o que era lhe posto,

Sal frágil coragem foi sequestrada, sua autossuficiência furtada,

Agora a cabeça que pedia para pensar era a mesma que traia,


Engolia em seco a saudade, debulhava em prantos as lembranças,

Pensava nela as escondidas apenas para procurar a culpa,

Há que se achar que em toda a história bonita houve um erro,

Existirá os que discordem; Ele ficou nu em público,


Assim que uma mão lhe foi estendida e o alcançou,

Naquele primeiro instante a saudade sumiu do seu lado.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Boca Gostosa

 


Minha especialidade é esconder-me,

Embora, as vezes, me sinta com o coração selado,

É como se eu me procurasse mas não me encontrasse,

Por mais que eu tente entender o que sinto, não entendo;


Sou uma caminhante no traçado do tempo,

Que perambula por dentro de si mesma sem saber o que faz,

Quando me vejo, nem sempre me agrado,

Estou sempre em busca de algo, caminhando sem parar,


Mas, quando eu falo e me ouço, as vezes, me reconheço,

Outrora acho que faço só para agradar,

Penso que tenho a mania de preencher espaços,

Procuro caprichar nas vestes mas esqueço quem sou,


Se estou bela por fora não importa por dentro?

Mas quando meu coração bebe da fonte dos seus beijos

Ele quer fazer morada em sua boca: - posso ficar nos seus braços? -,

Ensaio mil vezes dizer isso a ele, mas parece que falta algo,


O néctar da flor ganha o doce da sua língua e não há nada melhor,

O doce que me sacia penetra meu coração e conquista a alma,

Me sinto em mil pedaços, estou partida ao meio,

Desejo que ele me concerte, tem como fazer isso?


O doce da sua boca evapora do seu hálito e me toca,

Me sinto flutuar até as estrelas a segui-lo,

Dona dos seus beijos como poderia desejar algo maior?

Viajo por entre elas, feito ladrilhos, 

Mesmo minhas lágrimas em seus lábios ganham novo sabor, 


Seria isso uma mágica?

Ele estilhaça a minha dor e me faz ver em fragmentos,

Tão bom poder juntar os pedaços do que nunca esteve certo,

Quantas possibilidades ele me dá para que eu me concerte,


Vejo nisso um sonho bom, e sonho como não faria com outro,

Minha fala se dirige a ele, quero ser para ele sua melhor amiga,

Meus afagos o cuidam e protegem, o amam como eu não seria capaz,

Mas sou e me surpreendo! Quiçá seja sempre meu,


O amo sem medida, chegará este dia: em que serei mais que sua!

Sonhar me soa vago sempre que me vejo a perambular,

Mas, suas palavras quando ressoam em mim asfixiam a ideia,

A neblina que embala as suas palavras me direcionam,


Seu hálito fresco dá vida as minhas ideias e as valorizam,

É como o sorver de um líquido que elucida o que penso,

Não me vejo mais a vagar, me agarro a um objetivo,

É como se ele apagasse os meus medos e levasse os erros junto,


Já disse, sua boca tem um poder imenso!

Seus lábios são embebidos em uma vida doce e serena,

Não sou mais aquela que era antes, sou nova pessoa,

Como um vaso sendo esculpido,


Sua boca é maior que meus pecados,

Veja sua fala quando se declara, me faz voar,

Creio que seu pensamento não encontre eco na minha história,

Mas encontra um belo afago, único e generoso,


Os sonhos irrigam nosso caminho de flores a desabrocha-las,

Viro a cabeça e vejo a velha eu se retirar cheia de orgulho,

Dou uma olhada para trás e com um gesto vago, me despeço,

Não sinto falta da pessoa errante que eu era,


Porém, gosto dela, aprendi tanta coisa e hoje sou outra,

Por trás de alguém que falha há sempre um alguém machucado,

Mas quando há um outro alguém em quem confiar,

A coisa toda muda, hoje conto com seu abraço para me amparar,


Sorri para conter a lágrima que não foi contida igual,

Me empurrei com a ponta dos pés e depositei um beijo molhado na sua boca,

Seus braços me seguraram com mais força,

Meus lábios sedentos continham um salgado de dor,


Os deles eram embebidos em outra coisa,

Logo me esqueci que me sentia frágil e me vi mais forte que nunca,

O homem por quem me apaixonei pedia afago e eu correspondia,

As três e quinze da madrugada depois de acordar de um sonho louco,

As estrelas brilhavam no céu da sua boca,

Contavam nossos sonhos, lá fora eu não sei como estava.

domingo, 17 de outubro de 2021

O Estranho na Rua

 


Tentou depois amar, mas o coração falhou,

Não tentou duas vezes,

O colar em seu pescoço a impedia de olhar para os lados,

Os brincos na orelha, pesavam contra sua face,


Não se pode dizer que ouvia muito,

Maquiagem pesada sobre seus olhos,

Do que havia em sua frente pouco ou nada via,

Seguia a olhos altivos, mas baixo para o seu redor,


Havia um cadeado que refreava as suas emoções,

Uma barreira de orgulho a cercava por frente e atrás,

Seus olhos diziam que não gostava de desperdiçar,

Havia um véu sobre os seus olhos: o da ignorância,


O fato de não poder ver com o olhar dele,

Pode-se dizer que a deixava em desvantagem,

Se por um lado ela se dava um valor imensurável,

Por outro, não definia que valor lhe seria o bastante,


E seu coração se ajustava ao seu pensar como uma luva,

O colar que adornava o seu pescoço,

Também a impedia de agachar-se, - sem proximidade-,

Se alguém a atacava ela escondia as lágrimas,


Era vista, mas não via ninguém,

Que destino haveria de tocar esta mulher?

Ela podia ver por seus braceletes o que deixava para trás,

Sorria ligeiramente, e sim, seu sorriso era perfeito,


Mas aquela distância em seu coração era maior que ela,

E mais influente, não conseguia despir-se de suas vestes,

E sua alma continuava como sempre fora: distante,

Mas, um dia um homem a cumprimentou,


Tocou em sua mão com uma espécie de afago,

Neste dia, ninguém a protegeu dele,

Quando suas joias tilintaram e enroscaram-se nele,

Não ouve uma única alma a socorrê-la naquela hora,


As palavras dele a atingiram feito água fervente,

Viu-se diluída até restar-se de alma pura: desmaquiada,

Agora estava exposta, mas não sabia o que fazer,

O cadeado do seu coração foi rompido e sem chaves,


Estourado pela mão de quem ela não conhecia bem,

E se conhecesse será que saberia o que fazer?

Existe algum manual que encaminha alguém a outra pessoa?

O hálito dele lhe soava feito fogo – tocavam seus lábios,


E derretiam toda e qualquer palavra que lhe ocorria,

Descartadas sem ao menos serem pronunciadas,

O colar não a impediu de virar-se apenas um pouco,

Altiva como estava nem precisou descer do salto,


Ele lhe sorria e seu sorriso brilhava no rosto dela,

Um reflexo do desconhecido, presságio do que nunca sentiu,

Ele lhe disse, como você é linda em tom de gracejo,

Ela havia tentado se esquivar, não queria ouvir,


O efeito de suas graças poderia lhe ser devastador,

Mas, fez mais que ouvir, gostou e lhe sorriu,

A brisa dos lábios dele removeu o peso dos seus ouvidos,

Suas palavras penetravam-na e chegavam a alma,


A cortina dos seus olhos era removida - se apaixonava-,

Tudo o mais em si se tornava descartável,

Agia por extinto, tudo que havia aprendido desvaecia,

Ante o seu silêncio pode ver uma lágrima nos olhos dele,


Precisava de uma dica para saber o que fazer,

Perguntava-se que poder era aquele que a consumia?

As palavras que disparava eram fatais – revolver carregado,

Apontado em sua direção-, o que ela tinha não surtia efeito,


Agora havia uma dúvida no olhar dele e vestígio de medo,

Ela não tinha mais que suas joias a testemunhar em seu favor,

Eis que ao seu toque, ela se viu desalentada, desorientada,

Perdia a si mesma, no vão dos dedos daquele estranho,


Que poder lhe deu aquela que nunca dirigiu seu olhar a outro?

Naquele dia, não teve refúgio ou defesa,

Muito menos controle sobre o que sentia,

Levava tudo que fora ou pensara às ruinas,


- Ora querida, o que você usa e é, alegra o olhar! -,

Ele tentou outra vez, mas ela permanecera quieta,

Emudecida, ouvia muito bem o que dizia,

Mas algo dentro dela a impedia de reagir as suas palavras,


Tudo que conheceu estava nela,

Agora algo de fora tentava penetrá-la,

E ela queria isso, desejava como nunca havia desejado,

Porém, não sabia reagir ao que sentia,


O que ela sentia estava exposto, não estava?

Se ela dissesse Eu te amo, será que ele zombaria?

Entre as suas joias não havia um eu te amo disponível,

Como, então, poderia confidenciar algo assim, agora?


O tilintar que conhecia enfeitava o que era,

Mas não confidenciava o bastante agora que precisava?

Quando amanheceu a noite que se seguiu ela estava sozinha,

Uma nuvem prenunciava chuva por todo o redor,


Um vento que não seguia ordens soprava lá fora,

As cortinas do seu leito estavam fechadas,

Faltava um de seus anéis em seu dedo,

Quando se esquivou daquele homem sem olhar para trás,


O deixou cair no chão frio, desejava que o tivesse pego,

E que, no decorrer dos próximos dias, o viesse devolver,

O ponteiro do relógio se arrastava nos segundos, 

Ela não via quem desejava ver.

sábado, 16 de outubro de 2021

Ouvidos Pesados Para Ouvir

 


Levei a mão na orelha e removi o brinco,

Foi somente nesse momento que senti aquele que amo,

Ele estava postado a alguns metros atrás de mim,

Embora eu não tenha virado o rosto para vê-lo, podia sentir,


Ele escutava cada movimento meu, parecia me estudar,

Ousadia a minha, mas ele parecia preocupado comigo,

Minhas roupas finas estavam agora molhadas e eu tremia,

Lágrimas rompiam dos meus olhos e escorriam pelo rosto,


Traçavam um caminho por minha face e vagavam a esmo,

Tinha a impressão de que se perderiam no vazio do meu peito,

Talvez, lá pudessem afogar toda a dor e mágoa que eu sentia,

Ou quem sabe nem chegassem lá, estagnadas sobre minhas roupas,


O ouro pesava em meus dedos demais para tentar tocá-lo,

Foi assim que aconteceu quando eu saí batendo a porta,

Nem ao menos estendi a mão para um afago ou um adeus,

Saí pela porta deixando para trás as promessas e os sonhos,


Tive medo de que meus anéis pudessem se enroscar em seus dedos,

Tive medo de que houvesse algo a prender-nos,

Não quis ouvir nada, meus ouvidos estavam pesados e baixos,

A voz dele antes um afago, agora me soava feito veneno,


Entrasse pelos ouvidos poderiam embriagar minha mágoa,

Deixar nublado por nuvens densas da indecisão o meu coração,

Este, não queria mais amar, preferia sair por aquela porta e não voltar,

Assim é a paixão quando sofre em demasia, se irrita, entristece e sai,


Eu abri as janelas, troquei as cortinas, mas a paixão permanecia,

Em um ímpeto de ira abri a porta da saída e saí eu mesma,

Sua voz e suas juras pareciam conter um castigo doloroso,

De que me adiantava me prender em tudo que houve?


Em meus dedos anéis e unha bem-feita, nada mais a me prender,

Mas, quando respirei o ar puro da rua, não senti nada,

Ao contrário, me bateu uma ilusão repentina,

Algo como um calafrio percorrendo a espinha,


Mas não me permiti incomodar com o desconforto, eu estava certa,

Bastava escolher em suas frases as palavras corretas e repeti-las,

Feito um fio de faca em meu peito, ferindo cada uma das juras,

Eu poderia sofrer, tinha consciência disso, mas não queria voltar,


Em seus braços onde prometi permanecer para todo o sempre,

Havia um vazio frio e indesejado, nos meus os braceletes,

Havia em mim uma muralha visível para seus olhos negros,

Algo resistente o bastante para nos distanciar,


Ao menos foi o que eu acreditei até perder meu primeiro brinco

E me obrigar a me abaixar para juntá-lo do chão sujo,

Meus brincos nunca seriam postos num lugar como o que estava

Não tivesse saído a esmo da nossa casa, por estar incomodada,


Não teria perdido, como perdi, uma parte dele, estava caído e partido ao meio,

Como meu coração e aquela voz que agora chegava a mim entrecortada,

Minha maquiagem bem-feita agora estava borrada em lágrimas,

Pessoas passavam e me viam na rua agachada,


Tateando pelo chão a olhos cegos e desconcertada,

Não ousei levantar os olhos para quem passava,

Não desejei nem ao menos cumprimentar para evitar me ver,

Meu brinco estava em pedaços, meus olhos vermelhos e inchados,


A maquiagem escorregava pelo rosto por entre as lágrimas,

Da pessoa que eu era com quem amava/amo, não restava muito,

E mesmo assim, ele não havia desistido,

Quão pouco o agradeci por tudo que fez e faz por mim,


Quando toda a mágoa em que me apeguei me diluiu,

Outros esqueceram quem eu era, mas ele não,

Mesmo eu tendo descrido de nós dois, batido a porta na saída,

Nada disso o fez ficar distante demais de nós,


Não levei por assombro quando sua mão tocou em meus dedos,

Minha unha estava quebrada, a um ponto de ser roída,

Ele apertou-a com carinho, como se quisesse escondê-la,

Sabia o quanto significava, o brinco ficou do lado do pé dele,


Ele poderia ter pisado mas não o fez, apenas o ajuntou,

Com a mesma mão que juntou a minha e puxou-a para si,

Me fez levantar e ficar na mesma altura que ele,

Apertou-a, que agora segurava o brinco como última alternativa,


Contra o seu peito que estava em sobressalto,

Meus olhos não viam muito, mas o avistavam,

O viam o suficiente para deseja-lo para sempre por perto,

Meu ouvido, antes ensurdecido agora ouvia a mim mesma,


Eu te amo eu sussurrava enquanto o olhava em seus olhos,

Eu te amo, pude ouvir de quem amo, vamos voltar para a nossa casa?

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Entre a Saudade e o Amor: Uma Garota Deixada Para Trás e Que Espera


Há uma batalha dentro de mim em busca de palavras,

Não é questão de faltar mas de melhor escolha,

O amor discute com a saudade para ver quem escolhe,

A saudade deseja embeber em lágrimas e promessas,


O amor diz que as lágrimas apenas embaçam a conversa

Enquanto as promessas embora não estejam esquecidas,

Soam um tom de cobrança desaconselhável para a hora,

Eu estou buscando um meio de vencer este dilema,


Quando se ama demais nunca se sabe o que faz,

Não há um cronograma a seguir, mas julgo saber como agir,

Junto com minhas frases é certo que escapa todo o sentimento,

Quando se ama demais não há como refrear,


Gotas de amor seriam espalhadas pelo vento e o alcançariam,

Prefiro que sejam embebidas no doce de um beijo,

Um sussurro ao ouvido vale mais para ser correspondido,

Enquanto o vento se espalha aos quatro cantos,


A boca que grita ao mundo é a mesma que se cala

E ela sabe fazer isso no instante em que mais se precisa dela,

Sabe calar a garganta com um nó que ninguém desata,

Só mesmo os seus beijos para afrouxarem a sua gravata,


E entenderem e talvez até, sentir tudo que se quer dizer,

Só que a extremidade dos meus dedos não é feita de ouro,

Queira Deus eles ainda saibam fazer os carinhos como em outrora,

Na boca que se cala não há qualquer barulho, nem os estalos do beijo,


Aquele que se aproxima o suficiente de lábios feridos,

Apenas para pedirem perdão por um erro cometido através de um selinho,

Que é mais que um ato de carinho, é um selar de uma jura silenciosa,

As mesmas juras que não se sabe quando se deve mexer nelas,


São capazes de provocar lembranças com efeitos devastadores,

Quiçá suas recordações fossem boas como são as minhas,

Os olhos que o olham com amor não são os mesmos que me veem,

Por um momento, nada acontece, fico parada diante dele,


Estagnada como uma flor que recém desabrocha e não sabe o que fazer,

Exalo aquele perfume que só ele conhece e que o pertence,

Aquele que está reservado e não será de outro alguém,

Neste instante todos os músculos do meu corpo se contraem,


E meu coração balbucia muito através de pulsações escorregadias,

Não compreendo o que ele diz, não consigo dizer muito do que pensa,

Não é infantilidade, embora de perto soe desta forma,

Seu olhar está ferido, quando me fita parece que chora,


Suas mãos estão estreitas, parecem frias e distantes demais,

O homem a quem jurei amor quase me soa um desconhecido,

Sua barba está desfeita, o cabelo está esvoaçado pelo vento,

O mesmo vento que levou meu amor até ele surtiu efeito reverso,


Fez com que eu cruzasse com um homem destruído por dentro,

Ouso pensar, só para mim mesma, que ele tenha sofrido,

A distância que roubou meu sorriso fez muito pior em seu rosto,

Roupas desgrenhadas, repetia aquela em que nos conhecemos,


A saudade gritou dentro de mim com suas palavras

Que ele estava tentando reatar com nossas promessas,

O amor preferiu pensar que ele apenas ainda as recordava,

A saudade soluçou de amor, dizendo que era por ele que chorava,


Jurava por tudo que acreditava que ela não estava lá com ele,

Mas que servia de testemunha de que ele também buscava por ela,

O amor que se sentia menosprezado por jurar que agora era metade,

Percebia, então, que a saudade não desistiria tão fácil,


Ela trazia com ela aquela garota que havia sido deixada para trás,

Aquela que viveu de amor, lembranças e espera,

Bem sei que sofres amor, mas reconheço a promessa que habita nela,

Soluçou a saudade em um pranto falando do meu coração agora,


Eu embasbacada só olhava para ele, lábios trêmulos e sorriso gelado,

Buscava me aproximar mas as pernas estavam bambas e presas,

Me sentia fincava na terra, presa naquela explosão de sentimentos,

“Que salve-se o que sinto, mesmo que de mim não reste nada”,


Murmurei com o amor e a saudade sem dar tanta importância,

Os olhos negros dele brilharam e buscaram por mim,

Me penetravam de forma profunda, acho que me entenderam,

O amor me pegou, estremeci e joguei-me aos seus braços: prostrada,


Não sei se pareceu um tropeção ou um desleixo qualquer,

Também não sei o que ele pensou sobre isso,

Apenas o vi estender a mão e me segurar entre elas,

Me puxando para os seus braços até me sentir colada ao seu peito,


Cada um deles: amor e saudade, calaram suas vozes dentro de mim,

Se um tentava dizer ou pensar algo o outro pedia para não reagir,

Me senti tomada pelo medo, e uma lágrima penetrou meus lábios,

Entendi, então que chorava, e que eles moviam-se em silêncio,


Diziam a ele que o amavam através de movimentos trêmulos e desajeitados,

Engoli todo o medo ou o coloquei para fora, não sei dizer,

Tentei afogar meu medo no pranto até faze-lo desfalecer,

Mas não fui eu quem o reprimiu: foi ele e seus lábios quentes,


Assim que ele baixou o rosto e roçou em mim sua face,

A saudade gotejava em pranto como se fossem palavras,

Não sei ao certo o que fala mas, também, não refreei o que sinto,

O que sei é que me vejo abraçada a quem amo,

Sob um cenário de céu azul profundo e rostos assustados e úmidos.

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...