O véu do dia se abateu no horizonte,
Marcando o infinito num fogo
reluzente,
Depois disso, eu o vi sobre mim me
fitando,
Não desejei mais ver nada ao meu
entorno,
Somente os braços dele que se
mantinham fixos,
Em distância segura para se recostar
em meu peito,
Meu corpo agora continha o peso de
amar,
Era sereno, feito a brisa que vinha
trazer o luar,
Era intenso como o véu de estrelas
ao seu redor,
Quando ele me beijou meu teto deixou
as alturas
E caiu suavemente em seus lábios macios
e grossos,
Franzi as sobrancelhas indecisa
quanto a amar tanto,
Então beijar era assim mesmo, tocar
o firmamento,
Com a ponta dos dedos sabendo que
seu mundo
Agora estava sobre você e lhe beijava
com brandura,
Sentia meus lábios desenhando-se
entre os dele,
Meu corpo pedia abrigo no seu e o
mantinha,
Ergui meu dedo como se quisesse
tocar a montanha
Atrás de nós, num piscar de olhos tudo
mudou,
Ao senti-lo no meu peito, vi a terra
ficar plana,
O tapete que eu tinha sob meus pés
foi removido
Pelo doce suave em sua boca macia,
Eu pedia a ele e o mundo nos
respondia no espaço de um beijo,
Agora meu corpo era mantido por ele
e suas carícias,
O horizonte se jogava aos meus pés,
desorientado,
Nunca antes havia presenciado algo
como nós dois,
Tudo o que eu desejava estava ao meu
alcance, seu corpo,
Fechado entre o meu corpo e o
infinito ao nosso dispor,
Neste instante, acariciei seu rosto
e enchi-me de orgulho,
O negro do infinito se manchava num
dourado tênue,
Mas nada comparava-se ao azul
límpido do seu olhar,
Nem mesmo o rio de águas cristalinas
que fazia sua curva,
Esqueci o encanto anterior e não
medi esforços,
Beijei sua boca o mais que pude,
ouvia disparos ao longe,
Já não me assustava com isso, era
meu coração falando,
Mas rouco de desejo não podia-se
ouvir tanto dele,
Ao menos, naquela hora não foi nossa
prioridade,
Foram-se duas vidas e ficaram dois
corpos sedentos,
Entregues ao desejo incontido que corroía
seus medos,
Entre estímulos e sussurros ao
ouvido,
Carícias percorriam soltas caminho
outrora proibidos,
Buscando e entregando um amor
desconhecido,
Entre os suspiros soltos no ar da
noite enluarada,
Quem nos contemplasse ao longe diria:
seria um apenas?
Ora, teimaria o outro: são dois
amando-se em plena noite,
Tivesse um terceiro duvidaria, tal
era a intensidade dos beijos,
Que ao longe, não distinguia-se mais
que um vulto,
Estava as portas do ápice de um amor
pleno,
Querido, por favor, lhe rogo: não me
abandone,
Disse eu oportuna entre uma carícia
proibida e um beijo,
Denunciava que sua alma estava
saturada de uma pretensão,
Que quanto mais entregava mais sentia
– a pura redenção,
Mostrava minha face apaixonada, aquela
desconhecida,
As horas foram passando mais
depressa que as carícias,
Chegou o clarão do sol colocando um
véu alaranjado no céu da lua,
Pedia a ela para dormir que agora
vinha o dia,
Solicitava que se afastasse até o
ponto de ver as estrelas,
Pois ali, sozinha, ela não poderia
ficar,
Antes dos primeiros raios de sol os
pardais acordaram,
Fizeram uma sinfonia, acordaram o
orvalho,
Que escorreu por entre as folhas até
cair em nossos rostos,
Pingou na face esquerda dele e
percorreu-a até se achegar em mim,
Nossos corpos suados não distinguiam
tanto assim,
Parecia-me que era um carinho e não
outra coisa,
Esquecidos do nosso amor, os pássaros voavam ao amanhecer,
Pensei comigo que estava amando e
não queria parar,
O beija-flor, tocou uma flor ao meu
lado,
Nós ainda nos beijávamos,
Beijar sua boca esplêndida: meu
privilégio e armadilha,
Se pensava sair ilesa depois dos
seus afagos me enganei,
Apaixonei-me e não desejava outra
coisa senão sua boca,
O sol se aconchegava ao dia enquanto a lua se despedia.