domingo, 17 de outubro de 2021

O Estranho na Rua

 


Tentou depois amar, mas o coração falhou,

Não tentou duas vezes,

O colar em seu pescoço a impedia de olhar para os lados,

Os brincos na orelha, pesavam contra sua face,


Não se pode dizer que ouvia muito,

Maquiagem pesada sobre seus olhos,

Do que havia em sua frente pouco ou nada via,

Seguia a olhos altivos, mas baixo para o seu redor,


Havia um cadeado que refreava as suas emoções,

Uma barreira de orgulho a cercava por frente e atrás,

Seus olhos diziam que não gostava de desperdiçar,

Havia um véu sobre os seus olhos: o da ignorância,


O fato de não poder ver com o olhar dele,

Pode-se dizer que a deixava em desvantagem,

Se por um lado ela se dava um valor imensurável,

Por outro, não definia que valor lhe seria o bastante,


E seu coração se ajustava ao seu pensar como uma luva,

O colar que adornava o seu pescoço,

Também a impedia de agachar-se, - sem proximidade-,

Se alguém a atacava ela escondia as lágrimas,


Era vista, mas não via ninguém,

Que destino haveria de tocar esta mulher?

Ela podia ver por seus braceletes o que deixava para trás,

Sorria ligeiramente, e sim, seu sorriso era perfeito,


Mas aquela distância em seu coração era maior que ela,

E mais influente, não conseguia despir-se de suas vestes,

E sua alma continuava como sempre fora: distante,

Mas, um dia um homem a cumprimentou,


Tocou em sua mão com uma espécie de afago,

Neste dia, ninguém a protegeu dele,

Quando suas joias tilintaram e enroscaram-se nele,

Não ouve uma única alma a socorrê-la naquela hora,


As palavras dele a atingiram feito água fervente,

Viu-se diluída até restar-se de alma pura: desmaquiada,

Agora estava exposta, mas não sabia o que fazer,

O cadeado do seu coração foi rompido e sem chaves,


Estourado pela mão de quem ela não conhecia bem,

E se conhecesse será que saberia o que fazer?

Existe algum manual que encaminha alguém a outra pessoa?

O hálito dele lhe soava feito fogo – tocavam seus lábios,


E derretiam toda e qualquer palavra que lhe ocorria,

Descartadas sem ao menos serem pronunciadas,

O colar não a impediu de virar-se apenas um pouco,

Altiva como estava nem precisou descer do salto,


Ele lhe sorria e seu sorriso brilhava no rosto dela,

Um reflexo do desconhecido, presságio do que nunca sentiu,

Ele lhe disse, como você é linda em tom de gracejo,

Ela havia tentado se esquivar, não queria ouvir,


O efeito de suas graças poderia lhe ser devastador,

Mas, fez mais que ouvir, gostou e lhe sorriu,

A brisa dos lábios dele removeu o peso dos seus ouvidos,

Suas palavras penetravam-na e chegavam a alma,


A cortina dos seus olhos era removida - se apaixonava-,

Tudo o mais em si se tornava descartável,

Agia por extinto, tudo que havia aprendido desvaecia,

Ante o seu silêncio pode ver uma lágrima nos olhos dele,


Precisava de uma dica para saber o que fazer,

Perguntava-se que poder era aquele que a consumia?

As palavras que disparava eram fatais – revolver carregado,

Apontado em sua direção-, o que ela tinha não surtia efeito,


Agora havia uma dúvida no olhar dele e vestígio de medo,

Ela não tinha mais que suas joias a testemunhar em seu favor,

Eis que ao seu toque, ela se viu desalentada, desorientada,

Perdia a si mesma, no vão dos dedos daquele estranho,


Que poder lhe deu aquela que nunca dirigiu seu olhar a outro?

Naquele dia, não teve refúgio ou defesa,

Muito menos controle sobre o que sentia,

Levava tudo que fora ou pensara às ruinas,


- Ora querida, o que você usa e é, alegra o olhar! -,

Ele tentou outra vez, mas ela permanecera quieta,

Emudecida, ouvia muito bem o que dizia,

Mas algo dentro dela a impedia de reagir as suas palavras,


Tudo que conheceu estava nela,

Agora algo de fora tentava penetrá-la,

E ela queria isso, desejava como nunca havia desejado,

Porém, não sabia reagir ao que sentia,


O que ela sentia estava exposto, não estava?

Se ela dissesse Eu te amo, será que ele zombaria?

Entre as suas joias não havia um eu te amo disponível,

Como, então, poderia confidenciar algo assim, agora?


O tilintar que conhecia enfeitava o que era,

Mas não confidenciava o bastante agora que precisava?

Quando amanheceu a noite que se seguiu ela estava sozinha,

Uma nuvem prenunciava chuva por todo o redor,


Um vento que não seguia ordens soprava lá fora,

As cortinas do seu leito estavam fechadas,

Faltava um de seus anéis em seu dedo,

Quando se esquivou daquele homem sem olhar para trás,


O deixou cair no chão frio, desejava que o tivesse pego,

E que, no decorrer dos próximos dias, o viesse devolver,

O ponteiro do relógio se arrastava nos segundos, 

Ela não via quem desejava ver.

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