Te ligo, te espero e te busco,
Você sabe quantas vezes penso nisso?
Milhares, mas tento fugir disso,
Disfarçar tudo que sinto,
Tenho medo que passe a me definir,
Mais ainda de que seja pejorativo,
Deus me livre do “grudenta”,
Sedenta por seus lábios?
Você sabe que sim,
Me faz bem tê-lo comigo,
Saber que se der saudade eu posso te buscar
E que irei te encontrar,
Gosto de acreditar que “em qualquer momento”,
Mas é certo que tenho medo de me decepcionar,
Tento controlar os medos e os segundos,
As vezes, acho que busco regular o sentimento.
Então, em meu íntimo eu o defino:
Ah, ele não é tão perfeito,
Com certeza não seria o melhor de todos.
Mas não, também não está com outra,
Me apego nestes pensamentos fracos,
E sinto forças para te buscar de novo,
Mas não os identifico,
Escondo-os de você e lhe defino: o perfeito,
Busco elogios, disfarçar segredos,
Mas no fundo sinto que você sabe de algo,
Será que vê em meu íntimo?
Acho que meu íntimo é feio,
Tenho medo que se assuste ao chegar lá,
Então busco uma nova fuga,
Você se demora,
As vezes, demora menos,
Eu também não sei como se sente,
O que faz, ou até em que acredita.
Você, as vezes diz sonha comigo.
Mas, será que se esforça para estar perto?
O quanto de você, você me entrega?
Com o que se identifica ou como me gosta?
O que sou é o bastante,
Cheguei aos trinta e tenho esta dúvida,
Antes eu disfarçava melhor ou não me importava,
Mas o vejo e isso importa.
Preciso descansar,
Lhe entrego em resposta,
Com um sorriso de “você está desnudo agora”,
Voz suave em tom pastoso e fragilizada,
Talvez, carregada de desejo,
Embargada de sentimento,
-Por mim ficaria esperando você ligar,
Ou me chamar para conversar,
Mas o cansaço me carrega para a cama,
Podia ser você a me levar,
Mas, ao certo: onde está você agora?
Retiro o corpo da câmera,
Deixo o rosto e vou me retirando,
Finjo, que não estava te vendo,
Finjo que era mensagem de voz
E que não desejo tanto continuar falando,
Aproveitando os segundos,
Coloco uma distância falsa entre nós,
Busco suas reações, e o chamo...
Já não estou mais no alcance da câmera,
Não vejo o que você faz,
Mas o espero com o mesmo entusiasmo,
Segundos depois já não ouço sua fala,
Mordo uma fatia de pão,
Digo: hum, que delícia, está muito bom...
Ouço um riso nervoso,
Uma fala balbuciada,
Quase um esmurrar de tela,
Este pão que fiz, está muito bom,
Bem, mas você não me tem,
Está distante, mora longe,
Então, também não tem este pão.
Me jogo próximo ao celular,
Pego-o com uma mão,
E o vejo, enquanto mordo outra vez o pão,
Você sorri ainda mais nervoso,
Um riso feliz que desejo ao meu lado...
Ofereço-te,
Quase sinto que posso te alcançar,
Mordo com a boca cheia de saliva e vontade...
Podia ser seu cheiro e hum... sua boca?
Mas, bem, morder não é tanto o que eu faria.