Você disse que não posso?
A moça gritou enquanto fechava a janela,
Decidiu esquecer aquele rosto,
Jogar as chaves do apartamento fora,
Por favor, má sorte fazer tudo outra vez?
Ela pareceu ouvir lá de dentro,
Sabendo que isso se tornou constante,
E não a fazia sentir-se em nada melhor:
Mandar embora logo após o passar da noite,
Com a consciência de que ele não se importava com isso,
E mais: parecia apreciar a ideia,
Ser a vítima de uma mulher de personalidade forte,
O fragilizado em busca de qualquer consolo,
"Está mentindo",
O ouviu dizer,
Queria chorar tanto até poder afogá-lo,
Queria que cada lágrima sua o tocasse na face,
E fosse para dentro até que ele sentisse,
A dor, o desespero, a vontade de querer “dar certo”,
O que parecia ainda mais humilhante,
Era vê-lo chorar cada vez que partia para a rua,
Enquanto ela não conseguia mais que esconder-se,
Da outra vez, ela bem que se esforçou,
Juntou cada lágrima e a pôs em sua mão,
E então, passou no rosto dele assim que retornou,
Ele gritou como se atingido por veneno,
Não era nada demais apenas lágrimas secas,
Ele disfarçou que iria ao banheiro lavar o rosto,
A tocou fingindo carinho e agilidade,
Assim, a atingiu com um soco nas costelas,
Ela caiu para o lado,
Segurou-se no batente,
Dor profunda e lancinante,
Não, não foi fácil entender o que houve,
Como doía tanto nele as lágrimas que havia provocado?
Cada uma delas ainda ardiam na face dela,
Ali havia apenas os vestígios,
Nada demais – dor comprovada.
As palavras se embasbacaram
Para depois saírem aos trancos,
Por que ela ainda se preocupava com ele?
Por que queria ser aceita tanto quanto o queria ver sofrer?
Havia a entrega intensa,
Mas não era suficiente,
Ela apenas pensava que um dia ele pudesse entender,
E se entregar as juras que ele mesmo fez.
Afogue-o até que possa sentir sua dor,
Uma voz dentro dela parecia falar em tom alto,
Odeie todos os homens a sua volta,
Entenda eles são todos iguais em forma e atitude,
Essas frases soltas não podiam ser evitadas,
Não quando ela se posicionava em frente ao espelho,
E se via sofrer e chorar descompassada,
Hoje não, hoje não chamarei seu nome,
E se ouvi-lo me chamar ao bater a porta,
Eu juro, serei forte por mim mesma, não irei atender,
Mesmo que grite e me faça passar vergonha,
Mesmo que jogue contra mim tudo que quiser,
Espero que ao menos do lado de fora,
Ele não possa me atingir de forma tão profunda,
Ela franze o cenho,
Ele saberia que ela não estava mentindo,
Perceberia que ela não iria sangrar por aquilo,
-"Ah, e sobre aquele cara?
Eu não me preocupei se ele era casado,
Nem um pouco".
Jogou contra o espelho a frase convencida.
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