quinta-feira, 2 de março de 2023

Adeus, enfim


Você disse que não posso?

A moça gritou enquanto fechava a janela,

Decidiu esquecer aquele rosto,

Jogar as chaves do apartamento fora,


Por favor, má sorte fazer tudo outra vez?

Ela pareceu ouvir lá de dentro,

Sabendo que isso se tornou constante,

E não a fazia sentir-se em nada melhor:


Mandar embora logo após o passar da noite,

Com a consciência de que ele não se importava com isso,

E mais: parecia apreciar a ideia,

Ser a vítima de uma mulher de personalidade forte,


O fragilizado em busca de qualquer consolo,

"Está mentindo",

O ouviu dizer,

Queria chorar tanto até poder afogá-lo,


Queria que cada lágrima sua o tocasse na face,

E fosse para dentro até que ele sentisse,

A dor, o desespero, a vontade de querer “dar certo”,

O que parecia ainda mais humilhante,


Era vê-lo chorar cada vez que partia para a rua,

Enquanto ela não conseguia mais que esconder-se,

Da outra vez, ela bem que se esforçou,

Juntou cada lágrima e a pôs em sua mão,


E então, passou no rosto dele assim que retornou,

Ele gritou como se atingido por veneno,

Não era nada demais apenas lágrimas secas,

Ele disfarçou que iria ao banheiro lavar o rosto,


A tocou fingindo carinho e agilidade,

Assim, a atingiu com um soco nas costelas,

Ela caiu para o lado,

Segurou-se no batente,


Dor profunda e lancinante,

Não, não foi fácil entender o que houve,

Como doía tanto nele as lágrimas que havia provocado?

Cada uma delas ainda ardiam na face dela,


Ali havia apenas os vestígios,

Nada demais – dor comprovada.

As palavras se embasbacaram

Para depois saírem aos trancos,


Por que ela ainda se preocupava com ele?

Por que queria ser aceita tanto quanto o queria ver sofrer?

Havia a entrega intensa,

Mas não era suficiente,


Ela apenas pensava que um dia ele pudesse entender,

E se entregar as juras que ele mesmo fez.

Afogue-o até que possa sentir sua dor,

Uma voz dentro dela parecia falar em tom alto,


Odeie todos os homens a sua volta,

Entenda eles são todos iguais em forma e atitude,

Essas frases soltas não podiam ser evitadas,

Não quando ela se posicionava em frente ao espelho,


E se via sofrer e chorar descompassada,

Hoje não, hoje não chamarei seu nome,

E se ouvi-lo me chamar ao bater a porta,

Eu juro, serei forte por mim mesma, não irei atender,


Mesmo que grite e me faça passar vergonha,

Mesmo que jogue contra mim tudo que quiser,

Espero que ao menos do lado de fora,

Ele não possa me atingir de forma tão profunda,


Ela franze o cenho,

Ele saberia que ela não estava mentindo,

Perceberia que ela não iria sangrar por aquilo,

-"Ah, e sobre aquele cara?


Eu não me preocupei se ele era casado,

Nem um pouco".

Jogou contra o espelho a frase convencida.


 

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