sábado, 11 de março de 2023

Não, NÃO QUERO TE VER


Senhor, me desculpa se ofende meu modo,

Me desculpa se meu aperto de mão é forte,

E meu olhar é determinado,

Me perdoe se minhas mãos rígidas ferem as suas,


Isto que tenho, são calos,

As suas possuem cremes específicos,

Saiba: não os uso!

Posso imaginar o que sejam,


Porém, você não gosta de como sou,

Não me reconhece como ser humano,

Não frequento os ambientes em que você esteja,

Claro, você não convive com outras como eu.


Agora, você me olha e diz: vire-se,

Tudo bem, estou de costas para a sua cara,

Você já não é capaz de me encarar agora,

Coloca as suas algemas em meus pulsos,


Sobre os meus calos as suas algemas fechadas,

Você não pode ver se choro,

Eu agradeço,

Para esta que me tornei desde os cinco anos trabalhando,


É vergonhoso chorar por tão pouco,

Me desculpa, eu não entendo um homem,

Não entendo dois homens,

Hoje não entendo três homens,


Vocês pensam da mesma forma,

Foram criados as suas maneiras,

O que é a semana toda com uma máquina de veneno sobre suas costas?

Talvez você saiba, talvez nunca,


O que são carregar dez quilos enquanto trabalho,

Em minha cabeça?

Estão minhas escolhas e agora,

Meus atos apertam meus pulsos,


Eu lhe diria: obrigada!

Mas, estou de cara virada... (de costas),

Você chega e leva o que eu tenho,

Que bom, sabe quantos anos demoram para eu resgatar?


Talvez, uma vida,

Talvez nunca mais volte a ter aquele objeto,

Que de você é menos que seu salário,

Mas que ótimo a vida foi boa com você,


Mas veja você se aproximou do meu terço,

Levou-o até o chão,

Também não foi capaz de encarar ele?

Bem, eu ainda rezo todas as noites,


Mas até hoje você não estava lá,

Pois eu não te conhecia, conhecia?

Mas veja você como você reage?

Me definiu “demônio enjaulado”,


Reclamou da minha cara...

Eu digo, senhor me perdoe se lhe chegam deturpados ao fatos,

Aqui não pega sinal de celular,

Eu não tenho mais que ao dispor um app,


Lá eles veem uma foto e já acreditam saber quem é,

Você ignoram meu filho se jogar embaixo da cama,

Ele vê que a mãe dele chora,

Ele não tem pai – só ela,


E você ameaça retirá-la da presença deles,

Querido, eles entendem.

Ele é gordo e bem cuidado,

Quem vê não diria que se enfiou lá,


Por um descuido seria fácil matá-lo,

Veja a vida como é,

Mas, disso você não entende,

Por quê deveria?


Eu sou obrigada a conviver com quem não me gosta,

E você ainda imagina que só me fariam bem...

Mas, tudo bem, em mim cabe o seu estereótipo,

Me desculpe, se crio o meu também.


Eu peço a você, você me chama de criminosa

Porque me recuso a olhá-lo,

Eu lhe peço com sinceridade:

-Você, realmente acha que eu deveria olhá-lo,


Você se apresenta aéreo olhando o seu celular,

Buscando sinal de internet e diz: “eu não”!

Se você concorda que não sou obrigada a vê-lo,

Por que me obriga?


Então, foi este o motivo do uso da algema?

Você já sabia que não seria capaz de me ver,

Olhar em meus olhos e saber quem sou,

Foi pior para mim, acredito!


Olho, te vejo e nunca quis ser você.

Esta certeza me reforça e sigo adiante,

E você, depois de mim o que fez?

Foi descansar eu era apenas um delito...


Eu digo: obrigada (por concordar em não vê-lo)

Você diz, “ah, então eu posso tirar suas algemas?”

Eu penso se usar as algemas fazem de mim cega,

Então, respondo de ímpeto:


Não, continuo não querendo vê-lo.

Ele encerra tudo que pretendia,

Embora, no decorrer vá mudando de opinião,

Quer me conduzir para outro lugar,


Sou perigosa,

A lazer na minha cara,

A arma bem municiada,

Depois decide remover a algema e sair,


Por conta própria decide que não sou mais perigosa,

Eu penso, olhando para ele em detalhes:

Em que eu mudei?

Se eu era antes como pude deixar de ser?


Ele havia pulado a janela para entrar,

Agora permito que mexa nas chaves da porta,

Reconheça os pequenos cômodos da minha casa,

Não, com isso, não sou mais perigosa,


Mas, como eu estava antes continuo agora:

NÃO, NÃO AS REMOVA, EU CONTINUO NÃO QUERENDO VÊ-LO!

Ele havia iniciado: você ofereceu resistência,

Não queria me ver,


Isso o remete a algemas,

Mas então, o por quê do remover?

Eu não acho que algum dia irei querer vê-lo,

Espero que me perdoe.


 

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