Não houve beijo algum,
Nem ao menos abraço ou aperto de mão,
Sonhos quebrados pelo chão,
Também não.
De forma que me deixou com a mão no peito,
E alma aos pedaços,
O que não é adequado a alguém que ama,
Poderia ter concluído que ele não sentia nada,
Mas não fiz isso,
Fiquei, simplesmente, a olhá-lo,
Só rastejando se alcança alguns caminhos,
Eu não desejei ou me submeti a isso,
Ele me cedeu sua mão esquerda e convidou-me a seguir,
Concluí com isso que preferia que o caminho
Fosse traçado de forma solitária – sorri,
Ofereci a ele minha mão direita,
Jamais o colocaria em lugar inferior,
Não teria motivações para julgar desta forma,
Lembro de ter lhe perguntado:
-Quantas mulheres mais você desejou ter?
E penso, por vezes, ouvir ele responder:
-Somente as melhores, querida, apenas as mais belas.
Realmente, querido, mulher bela há em qualquer lugar,
Foi assim que lhe desferi o grande golpe,
“o de lhe estender a mão direita sobre sua cara”.
Doeu mais em mim, no mesmo instante,
Recolhi a mão mas nunca pude recolher a vergonha,
Sujeitar-me a tocar num homem,
O homem que um dia amei com toda a alma,
É certo para defender-me,
Mas me rebaixei a sua vagueza de pessoa,
Olhei para as tais que ele queira,
Vi que uma mulher bonita vestia-se de uma outra forma,
No mínimo comportar-se-ia de forma diferente,
Sentia-me vestida de homem
E não me era motivo de nobreza,
Será que existe uma providência de diferentes ordens,
Uma em que eu acredite estar fazendo o melhor
E ao final só me depare com meus próprios demônios?
Que fardo para os ombros de uma mulher que ama,
A mão direita estendida sobre a sua cara,
Depois de acalmada a dor,
Uma histeria hipócrita por querer se livrar,
Alguém poderia deixar minha mão gravada ali para
sempre,
Feito uma máscara petrificada nele,
Como um sinal do que me fora capaz,
Sujeitar-me, diminuir-me para se promover homem,
Entregar-me juras e um olhar vazio,
Até em seus olhos o mundo está ausente,
Que difícil infortúnio,
Ter o universo ao alcance e não poder se ver,
Perdido na imensidão de sonhos vazios,
Tinha na face promessas falsas,
Na sua boca cada sonho de desvanecia,
Mas, então, me vejo indagar o porquê de agora,
Me olho e me vejo disponível,
-Sim, eu quero ser sua e sinto isso em minha alma.
Não me lembro de tê-lo visto mais distante,
Banida de sua vida e condenada a não esquecer,
Quanto isso me faz sofrer!
Um observador me ouviria chorar até mesmo na escuridão,
Um conhecedor dos meus sonhos,
Me veria mesmo sem luz alguma,
Mas, de alguma forma, ele não,
Certamente não passava de um desesperançado,
Havia um paraíso onde não estávamos juntos,
Decidi, apenas por algum tempo aceitar sua mão
esquerda,
Então, seguimos pela rua,
Muitos nos observavam e nos reconheciam juntos,
Penso que isto seja questão de escolha.