sexta-feira, 19 de abril de 2024

Silêncio

Chego em casa,
Solto a bolsa sobre o sofá,
Ligo o chuveiro,
Deixo a água fazer barulho,
Há ali uma ausência,
Porém tudo está no lugar,
Silêncio constrangedor 
Que chega a expressar:
Lugar certo.

Tudo é silêncio 
E água que desce pelo ralo,
Calor e neblina do chuveiro,
Ele parece adormecido,
Prefiro deixar como está,
O cabelo negro 
Cai sobre o travesseiro,
Meu cão parece chorar 
Próximo da rua.

Eu lembro de fechar o portão,
Olhar todo o lugar,
E me voltar para dentro de casa,
Cuidando da parede ao chão,
Há na parede pequenos buracos,
Penso de me certificar 
Se fui alvo de tiros.
Me recolho.
Trago o cão comigo.

Meu pequeno guarda
Não está seguro,
A vigília armada,
Falhou feio.
Meu esposo permanece adormecido,
Um sossego lhe acoberta,
E agora um acolchoado macio.
Suas mãos ficam guardadas na coberta.
Eu vou para o chuveiro.

Gritos ao longe,
Nítidos e assustadores
Me tiram dos pensamentos,
E me dirigem para a rua próxima,
Eu permaneço onde estou,
Com a água percorrendo meu corpo,
Trêmulo, quente e molhado.

Acendo uma vela desnecessária 
No banheiro,
Apenas para vê-la sofrega
Pela neblina úmida,
Me dirijo a cama,
Sem sono,
Abraço o que amo
E fico.

Alguns barulhos se aproximam,
Telhas parecem ser quebradas 
E muros escalados,
Sujeira para limpar
No dia seguinte 
Eu penso comigo.
Nada mais que isso.
Estou segura.
Estamos seguros.
Busco a chuva 
E o sono.

Um rosto singular 
Parece ser reconhecido 
Em sua busca silenciosa,
Abro os olhos em espanto,
Vejo que era apenas um sonho,
Adormeci sem perceber,
E vi uma espécie de miragem,
Apenas isso.
Abraço meu esposo.
Não há agressor algum
Invisível ou visível.
Não há nada além dos barulhos,
Aliás há apenas silêncio,
Um silêncio constrangedor 
E provocativo.
Apenas isso.

Logo acima
Ouço falar de uma espécie de altar,
Onde queimam velas e incensos,
E fazem pedidos aos mortos,
Lá entram apenas os vivos,
Não sei nada sobre os que saem,
Mas os que entram são peculiares,
Com traços característicos,
Olham de lado,
Evitam contato...
Não sei de quê religião falam,
Que anjos ou santos crêem,
Ou que bíblia lêem.
Mas há ali um altar,
Neste altar rodeiam-no gente,
Pessoas de características peculiares...


quinta-feira, 18 de abril de 2024

Beleza

O sobrinho olhou,
Em vão,
A sobrinha olhou,
Sem emoção,
Ele atravessando a porta,
Rosto de pedra lapidada.

Feição para apaixonar,
Como noite escura,
Detalhada em estrelas,
Mistérios profundos,
E uma língua solta
E investigativa.

Língua opressiva,
Busca em meus lábios colados,
Uma abertura,
Busca dos montes quentes
Que possuo,
Torna-los domados,
Percorre-los até desmoronar,
Espalha-los
Para seu deleite.

Abrir um caminho
Por entre ambos
Para percorrer cada espaço,
Ganhar tempo
Em meu corpo,
Escorrer para dentro,
Língua felina e doce,
Que estimula,
Enrola,
Ganha,
Se estica
E aprofunda.

Remove o hábito da minha boca,
Raramente conta tudo que é capaz,
Tenta desruborecer minha cara,
Mover minhas defesas,
Domina cada hora,
Sabe onde por suas carícias,
Usar de sua fala
Para me aprisionar.
Faz-me sua.
Como se em sussurante estrada,
Margeada por meus lábios,
Pavimentada por dentes esbranquiçados
E pontiagudos
Ela disse me matar.

Não.
Não desejei feri-la,
Mesmo quando me faltou o ar,
Não quis nem mesmo o ar de volta,
Quase me enjoou respirar mesmo ar,
Sobre o gosto de doces de morango 
Em sua boca?
Eu odiei morangos,
E mais ainda a sua ideia
De que o desejaria mais que antes.

Se seus lábios estavam frios
E prestes a congelar,
Eu não dei importância,
Se sua roupa era fora de estação,
E não vencia o ar frio,
Eu não desejei te esquentar,
Mas você era lindo pra valer,
E eu nem assim quis te abraçar.

Eu sou chata,
Gosto por nada
E por menos eu fujo pra caramba,
Morro de medo da forma
Como você me olha,
O jeito como me busca.
Seu desejo me assusta.
Eu nem sei se sei me sentir atraída,
Posso contar nos dedos 
Quantas vezes quis ser beijada.
E conto com menos dificuldade 
Ou nenhuma,
Quantas vezes insesti em querer.

Desisto fácil,
Língua traiçoeira
Me quis muito,
Percorreu minha pele,
Marcou minha nuca,
Deixou gosto,
E um efeito sujeira,
Eu senti você passar
E depois disso,
Eu convivi com suas marcas.

Eu não tentei esconder
Ou quis apagar,
Mesmo ante o enjôo da comida,
Estava seu cheiro empregnado,
Mas vamos ao que interessa,
Você entra lindo e desenhado 
No ambiente onde estou,
Ganha o apelido “beleza”
Do qual não desacordo em nada,
Eu abro as pernas e lhe dou,
Faço sexo até cansar,
E no outro dia mando resposta:
“Foi bom”.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Meu Altar

Mais meses,
Totalizando bastante,
Se passaram angustiantes.
Saudade.
A saudade se define.
Numa lembrança,
Num beijo,
Num retrato guardado,
Num retrato exposto na parede.
Precisamente.

Não bastou você me deixar.
Não foi o bastante não me querer,
Juntei uma foto que catei de você 
E a reproduzi na parede.
Maior, muito maior que você.
Maior o bastante.
Para que nunca eu o fosse esquecer.
Nem um traço,
Nem ao menos o pincel que usei.
Menos ainda os sonhos que tive.
Lembranças doces e significativas,
Mas nem o bastante.

Juntei toda a minha grana,
E esbanjei,
Não medi esforços,
Coloquei tudo naquela estátua lá fora,
Veja se você reconhece,
Sim. Você.
Na época atual desatualizada,
Mas reconheça a sua face,
Veja o que sinto.
Há colado ao seu rosto
Uma boca,
Em formato de beijo.
Sim.
O amo.
Lá eu beijo você,
Exposta e desmedida,
Lá você não nega o bastante,
Lá você não faz promessas,
E eu o beijo.
Com toda a minha volúpia,
Você entende?

Não tente derrubar,
Fiz a ferro e fogo e mais:
Diamante.
Juntei tudo e mais.
Nem tente roubar,
Não há preço que retire,
E quanto ao beijo,
Nem lei que proíba,
São humanas condições,
Você é incapaz de reconhecer suas feições?

Está estátua é algo pequeno,
Te coloco no altar 
Onde me ajoelho,
Lhe cultuo.
Rezo seu nome,
E você não é capaz de ver?
Querido, 
Você passa os dias voando?
Está ferrado meu bem,
Te desenhei e coloquei lá fora.
Estou pensando em você.
Duas promessas.
Não há desfeitas.

Você não foi capaz de me permitir,
O beijo,
Lá eu o beijo e daí?
Meu amor próprio 
Está todo prostrado naquele altar,
Acredite,
Sou capaz de criar qualquer coisa,
Que alimente o que sinto por você,
Meu amor não é fraco,
Você merece mais do que faço,
Nunca lhe farei o bastante.
Te amo.

Lhe juro amor,
Sem nenhuma maldade,
Luto com todos os esforços,
Não lhe peço o impossível,
Sou toda você.
Entendo muito bem
Sobre esperanças,
Não busco outra espécie,
Me basta te amar.
Coração inocente,
Sabe sentir e crer,
Amo a um nome:
“Rahat”.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Saudade

Saudade.
A saudade move.
Faz o olhar buscar.
Faz se colocar em lugares diferentes.
Escolher a roupa.
Abandonar o rubor da face.

Nada importa.
A saudade faz desejar.
Esperanças de um sonho bom.
Abençoado abraço.
Esquecer não diz respeito.
Querer é o primeiro passo.

Cortar as ruas.
Mudar calçadas.
Estar.
Mesmo que a tarefa 
Signifique nunca mais.
Uma última vez não é pedir muito.
Esperanças de um sonho bom.

Escolher ficar estagnada,
Como se fosse a coisa mais perfeita.
Localizada a frente do antigo 
E alto prédio.
Jogar beijos pelo vento.
Sonhar ser vista,
Mesmo estando impedida.

 Ânsia louca de ser notada.
Medo absurdo de ser trocada.
Esperanças de um sonho bom.
Olhos ao alto.

Uma hora, duas horas, três horas,
Quatro horas diárias.
Contadas nos dedos.
Nas pétalas de cada flor.

Do primeiro ao último dia da semana.
Estar a espera.
Olhar para cima 
Sem nunca se cansar.
Esperar o sol baixar,
Para só então,
Baixar a cabeça,
E retornar contando os passos no chão.

Carregar uma flor,
Deixar um beijo.
Deixá-la.
Estar dia a dia.

Não é garantia,
Mas era o que a sorte permitia.
Escrever com dificuldade 
Poucas linhas,
Falar da saudade.
Abandonar o bilhete na calçada,
Esperar ser vista.
Sonhar em ser notada.
Esperanças de um sonho bom.

Dificuldade inconveniente,
Dividir espaços na calçada,
Com quem não queria,
Iminência da perda.
Sofrer.
Levar as mãos aos olhos.
Se manter.
Alheia e a espera.
Esperanças de um sonho bom.

Doce e querido amor.
Feito como se a mão,
De forma tão perfeita e querida,
Que sabe despertar e ser visto.
Sabe conquistar.
Querido,
Que não precisa esperar.
De repente saiba esquecer.
Esperanças de um sonho bom.
Feito serra afiada,
Faz de quem deseja
Grande mulher,
Faz de quem queira,
Destruída criatura.

Que visão cruel e maligna,
Ver transcorrer os meses,
Esperar os anos e não ser vista.
A saudade, por quê não desiste?
Esperanças de um sonho bom.
Chega seu pai e protege.
-Querida, estava com medo?
Consigo lhe trazer recado.
Ele está mais perto.
Chegou a janela.
Deseja vê-la.
Sopre a ele um beijo,
Grite que o ama.
Está satisfeita em vê-lo?

Ela sorri e reage a pedido.
Feliz como nunca por ser vista.
Joga todos os beijos,
Sorri e tem sonhos.
Saudosa,
Sente-o abraçado por suas mãos.
-Nao.
Nunca pude vê -lo.
Ela fala ao pai.
Ambos sorriem um para o outro.

Com o transcorrer das horas
Ela se afasta,
Chega a sua casa sombria,
Fria, vazia.
Contempla seu reflexo 
Cheia de esperanças,
-Entao, ele pôde, finalmente, me ver agora?
Abraça suas mãos.
Esperanças de um sonho bom.
-"Levado para longe,
Talvez, deseje, então, voltar".

Passado

Com tudo que não suportaria
Ele chegou em minha vida.
Com o ápice que me destruiria
Ele partiu para sempre da minha vida.
Como me sinto?
Péssima.
Pior que isso.
Em péssima companhia.

O problema é que minha
Maior companhia,
Sou eu própria,
E um reflexo desfocado no espelho.
Olho meu corpo,
Dobro e redobro.
Instante em que minha barriga,
Se assemelha a um embrulho.
Mais que angustiante.
Enjoativo.
Perdo a vontade de comer.

Pego antigas fotos
E tento guarda-las em meu peito.
Por Allah odeio meu passado,
E quase todos os segundos que vivemos.
Mais triste que isso,
É esmiuçar as horas 
Até alcançar os segundos.
Tempo entregue em desvalia.

Olho para mim melancólica,
Não sinto saudade de nada,
Apenas ódio,
E minha aparência 
Nunca esteve melhor,
Estou ganhando percalços 
Sobre meus ossos,
Saliências que falam alto
Mas eu não as entendo.

A cabeça pende em negativa,
Sempre reflexiva.
Que há tanto para pensar?
O tanto que há para modificar,
Modificar exige eu me mover.
Já não me sinto preparada.
Os anos retiram as forças,
E também as cartilagens.
Pareço um relógio de ponteiros,
Que movem- se e falham.
Não perco os segundos por nada.
Porém, há problemas entre as horas.

Muitos e muitos anos atrás,
Lá no Norte,
Eu tinha outras ideias.
Agora os passos se perdem,
Vagarosa e trêmula,
Amedrontada é meu nome.
Honra e outras coisas 
Não constroem expectativas.

Eu fui enganada.
Eu fui enganada.
Joguei todos os talheres,
Menti para o tempo que era prata,
Mas não afastei a tempestade,
Tanto não sou relógio 
Quanto o tempo não iria identificar materialidade.
Maldito vento,
Maldito raio,
Bendita chuva que remedia
Meu varal de roupas ensopadas.

Minhas mãos podiam
Suplicar unidas uma a outra
Na altura do peito,
Mas ali eu guardei fotos antigas,
Não quero ve-las,
E sequer recorda-las.
Sigo.
Dou a cara para açoite a chuva.
Nenhuma pedra.
Chuva fria e densa.

Beije-me.
Beije-me.
Eu imploro,
Mãos ao alto.
Não sinto medo
De perder memórias antigas.
Me vejo sozinha.
Oh, querido.
Mentira.
Mentira.
Quero que não só memórias antigas
Mas também o que vier com elas
Queimem.
Queimem.
Em brasa viva.
Odeio o que houve por lá.
Odiosos segundos
Que fragmentam as horas.
Odeio até o relógio que falha.

Chore.
Chore.
Quero te ver sofrer por ela.
Odioso o estúpido
Que me faz ver desta forma.
Morte.
Morte.
Ateiem fogo,
Degenerem.
Façam como puder.
Odeio.
Odeio.
Odiosos segundos
Que sempre me carregam
Devagar e ilusória.
Juntar o bastante 
E jogar por entre as horas.
De pronto.
Deposto.
Odioso desgosto.

O Senhor lá de cima
Toca meus cabelos,
Eu o vejo por meio da chuva,
De lá não distingue-se muita coisa,
Mas eu sou especial.
Especialmente burra
De tanto ódio.
Ódio me consome em loucura.
Lembranças doentias,
Quem me dera acaba-las.
Lembranças não são fotografias.

Procuro um peito livre,
Um desastre onde me recostar,
E construir a partir dele,
Memórias,
Fotos são feitas para reviver,
Direi:” reconstruir minha vida”.
Sugiro um lar para nós,
Lhe devoto obediência,
Recosto-me para ser embalada.
Odeio desfragmentar horas,
Para buscar vestígios,
Conforto,
Abrigo.
Ódio.
Eu lhe devoto fidelidade 
E respeito.
Não irei fazer o quê?
Devolver tudo que me fizer?
Odia-lo como a cada foto.
Destruí-lo para apagar passado?
Que ódio.
Que ódio!

O Assassinato no Domínio Público

A família Barbieri foi exposta, Por poucas motivações, Desvio de verba pública: O patriarca aproveitou-se De suas funções de...