sexta-feira, 24 de março de 2023

Do Lado de Dentro

 

Antes do porvir em dias difíceis,

Que se aproxime o dia em que você dirá:

-Querida, é certo que amei-a!

Com aquele seu sorriso singular,


E um brilho de encher de orgulho,

Mas antes de você terminar seu discurso,

Querido, já terei desistido.

Muito antes.


Bem, percorro o caminho até ele,

Com destino pronto,

Sei que não será mais que isso,

Beijo, abraço e aquele eu te amo em falso,


Apenas para ganhar um instante de companhia,

Uma foda do dia!

Essa frase não enche minha boca,

Como me torra o saco!


Bem ao meio – destruição.

Entregar-se a alguém apenas por momentos,

Um nada mais que sexo bom.

Mas quem precisaria mais que isso?


Eu o conheço bem, aliás muito bem,

Sei que nem bem viro as costas

E já bem próxima outra vem.

Mas, troco os canais da minha tv,


Procuro um programa que me preencha,

Ligo uma música,

Folheio um livro e nada preenche,

Infelizmente um encher de saco cai bem,


Melhor que a solidão de não ter ninguém.

É eu tenho satisfação com ele!

Ele é bonito, chama a atenção,

Faz-me sentir orgulhosa e bela,


Antes que se escureça o sol e caia a luz,

Espero que ele não perceba que por dentro eu choro,

Por trás de todo este brilho em meus olhos,

Eu queria um abraço mais apertado e demorado,


Queria poder ligar a qualquer hora,

Ser esperada e bem-vinda,

Quando os guardas lá de fora tremem,

Eu penso: será que ele me espera?


Vejo que eles mechem-se de seus lugares,

Contudo não dizem nada ou sorriem,

Quase me curvo a vontade de saber o que é.

Quando paro de me corroer pode dentro,


É apenas quando estamos fazendo sexo,

Naquele instante de auge,

Em que os pensamentos somem do nada,

E até mesmo as palavras,


Eu o ouço dizer eu te amo,

Mas isso não penetra minha alma,

De alguma forma sei que é mentira,

De alguma forma.


Olhos olham embaçado pelo suor,

Rostos se confundem e neles o sentimento,

Talvez ele ame,

Não é sobre isso que duvido,


Mas não sou este alguém,

Do contrário eu saberia.

Sei que sim.

Quando as portas se fecham os sons aumentam,


Quando se abrem a distância predomina,

O silêncio é rompido por gemidos,

Mas lá fora estes sons soam fracos e indistintos,

Quando se tem medo de altura,


E de perambular pelas ruas,

Aprende-se a reconhecer isso,

Sinto um florir do medronheiro,

Posso dele prever seus frutos,


Mas não do que estou vivendo,

E sei disso, então por que insisto?

Quando o desejo já não é despertar sozinha,

Se preenche com qualquer coisa...


Qualquer coisa?

Não, não com qualquer coisa,

Mas com bem pouca... bem pouca.

Então, adentra-se para um ambiente externo,


E lá vive-se tudo que é sonhado,

As juras, as carícias, os beijos correspondidos,

A portas fechadas sou profundamente amada,

Protegida como nenhuma outra seria,


Me vejo única, me sinto plena,

Mas do lado de fora pranteadores vagueiam pelas ruas.

 

 

                                     


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