quarta-feira, 22 de março de 2023

O Sinto

 

O que espera,

Seja amor ou ódio,

Ninguém sabe,

Diz-se o amo – a entrega,


Após isso, o beijo- sonho,

Vida de adolescente.

Mas, há nisso destino comum,

O que ama e o que não,


O justo e o injusto – a perda.

Ninguém sabe o que há no final da linha,

Quando acaba a emoção,

O que resta.


O que acontece com aquele que ama,

Acontece também com o outro,

A vida quase sempre se assemelha,

Mas quanto aos juramentos,


Há sempre quem tema fazê-los,

Você sabia disso,

Entendia o quanto eu sentia,

Minhas dificuldades em me expressar,


Sabia que no fundo, não havia amor.

Mas ainda assim insistiu,

Teimou em me olhar com violência,

Não tardou a alterar o tom de voz,


Até que enfim, certo dia – o tapa,

Na cara e em minha dignidade.

-Sim, pai. Eu errei em minha escolha.

Acabou tudo? Será que ele diria,


Não sei, porque nunca fiz mais que pensar.

Quando ele buscou o cinto,

Retirou-o sem dificuldade da calça,

E avançou em minha direção,


Eu corri, me recolhi sobre a coberta,

Ele então, retirou-a – a facilidade.

Nisso, rolei para fora e despi-me,

Retirei com pressa cada peça,


Exibi meu corpo – desnudo.

Ele olha, sorri e se acha grande,

O pênis acompanha o raciocínio,

Ele avança e solta o cinto sobre a cama,


Ao meu lado,

Encosta em meu rosto,

O sinto.

Passa sua mão áspera sobre minha pele,


Eu a sinto.

Recolho o rosto e repouso sobre o sinto.

Eu o sinto.

Ele se sobressai e me pressiona,


Esmaga meu rosto com carícias – será que brinca?

Minha boca se fere – o sangue,

Jorra um fio pelos meus lábios,

Ele se eleva e percorre meu corpo,


Roça minha barriga – desejo.

Eu me recolho – odeio a ideia de filho.

Penso que ele não é mais que isso,

O filhinho, o protegido,


Aquele que corre para o colo da mamãe,

Imagino, se alguém invadiria a porta,

E me protegeria,

Elevo o rosto e está marcado.


Mas não, ele não me agrediu, não ainda.

Saio para fora de casa,

Um dia ou dois após isso,

Assim que ganho forças para reunir a coragem,


Uma mulher sai roxa e manca.

-Não, eu não sofri violência.

Agora quando ele encaminha-se para o meu lado,

Eu já sei o que fazer de antemão,


Tiro a roupa – fico nua,

Enquanto me observa ele perde sua força,

Ganha em estatura – elevação.

Perde em tudo o mais que foi um dia.


É certo que junto ao cinto passou uma unha,

Isso eu só consigo observar muito tarde,

Nada a se fazer,

Dispo-me,


Agora, o me observar no espelho ganha forma,

O remover a calcinha ganha novo alcance,

Já não traço cada linha do meu corpo,

Tenho medo de reconhecer-me – a perdida.


Na medida- a pedida.

Só que ele já não pede mais – exige,

Chega o terceiro dia,

Alega cansaço, e já olha com jeito reconhecido,


Retira o cinto e o eleva para o alto,

Eu esqueço de dar o passo incerto para trás,

Desta vez não dispo-me – a fuga,

Me recolho e tranco a porta,


Penso em pular a janela,

Correr pela rua a fora... (nua).

Lá da rua vejo mais fácil a vizinha,

Procuro saber se ela ainda está viva,


Indago-a – por quê você não tira a roupa?

Ela fecha a janela com toda a força,

Ouço gritos, pranto e amargura,

Logo após ela bate a minha porta,


-Há aqui comida, e nela uma receita.

Não se alimente dela – a desconhecida.

Quase me reconheço nela,

Mas, me vejo no espelho,

Fico tão bem nua...


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