-Você acha que pedir é o bastante?
Ela vira as costas e gesticula.
-Olha, nem suas promessas são capazes.
Tenta abrir a porta
E não consegue.
Outra vez emperrada,
Desfere chutes
E não possui êxito.
-Por favor, abre esta porta.
Coloca-se na porta,
Se recosta enquanto o olha.
Os olhos que ela encontra
Estão incrédulos
E isso,
Necessariamente
Nunca combinou com ele.
Por um instante,
Suas pernas ficam bambas
E o estômago parece se contrair,
Mas ela reúne todas as suas forças
E se mantém.
Já nem sabe mais o que a sustenta.
Até que ele se põe a sua frente,
A olha nos olhos,
Forte e imponente.
Abre a porta de uma vez,
Com um estender de braço,
E pronto.
Sem que ela perceba,
Ela é impulsionada para a frente,
Acompanhando o impulso da porta.
Tropeça no tapete.
E é segurada por seu braço forte.
-Ótimo, demonstração de força!
Ele sorri deixando dentes limpos,
Brancos e fortes a mostra.
Um sorriso impecável e seguro.
Contrastante com seus músculos contraídos
No rosto de ossos salientes,
E olhar gritante.
Por um instante ela se vê
Ainda mais trêmula.
O olhar que encontra parece um deserto,
Cor de areia turva,
Com uma imensidão nele
Que parece engoli-la,
E mante-la ali para sempre.
Num terreno onde,
Quanto mais areia possa percorrer
Nunca possa alcançar o fim.
Um deserto sem nada dentro,
E com tanto mistério a sua frente,
Uma espécie de encanto,
Que faz penetrar e querer percorrer.
Mais que um convite.
Olhar tórrido,
De chão seguro, macio e límpido.
-Não se convença de que tudo
entre nós,
Tem por dever encerrar em sexo!
Ela tenta se esquivar por entre as frases,
Buscar algum tipo de escape.
Aquele olhar profundo
E turvo de tão transparente
Nunca pareceu tão próximo,
De terreno tão seguro,
Muito menos disponível.
Tentou emitir emoção controlada,
Como se por dentro dela
Tudo estivesse exato.
Fingia possuir todas as respostas.
-Por quê não?
Você já foi muito tolerável
A esta espécie de fim.
A sua frente com maxilar elevado,
Estava o homem que já a beijou profundamente,
Que disse eu te amo.
Acariciou suas intimidades,
E conheceu cada palmo do seu corpo.
Agora, havia um deserto árido,
Arredio e frio percorrendo-a por dentro.
Seu olhar areia seca e solta.
Tão único,
Que parecia particulado,
De forma súbita
Se colocou sobre ela,
E soube reconhecer por inteira.
Desfragmentar e juntar.
Poder seu e exclusivo.
Uma íris escura e poderosa,
Como se fosse uma porta entreaberta,
A guiar por uma estrada de emoções
A serem reconhecidas.
Num calor enérgico
E acolhedor
Que lhe era
Tão peculiar.
Muito cuidadosamente,
Ela soube em seu íntimo,
Que gostaria de reconhecer seus mistérios,
Adentrar em seu interior,
E percorrer a passos felizes
O tom de areia daqueles olhos convidativos.
-Eu te amo.
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