Ela sentia-se muito só,
De braços esticados para a terra,
Coluna arqueada,
Olhos voltados ao que fazia.
Indigno.
Inapropriado.
De repente, estava em chamas.
Como se a visse fraca.
Chamou-a.
Ela recusou-se a ouvir.
Trabalhava.
Jamais estaria a mercê,
Feito garota patética.
Dinheiro é pouco.
Beleza é questão de escolha.
Era da roça,
O bronzeado que lhe tomava,
Vinha da terra,
Os músculos que a sustentavam.
E da terra,
De suas próprias terras,
Veio a pedra,
Que foi desferida contra a sua coluna,
A fez contorcer,
Quase gritar,
A forçou a olha-lo.
Ignorado.
Estúpido.
Agressor.
Se jogou feito um retardado
Contra uma noite de mato.
Gritava e esperneava,
Fingia que tinha sido atingido por algo,
Fazia-se ferido por mais que pelo ego.
-Veja, estou de pau duro,
Sente-se em minha vara.
Ele gritava escondido.
Falava de uma parte de seu corpo
Como se fosse um membro a parte,
Era como se não a tivesse,
Como se fosse um objeto.
Não o era.
Ele logo o soube,
Assim que uma vara o perfurou com força,
Assim que um pau duro,
Atingiu-o onde ele deveria ter um cérebro,
Assim que o facão da moça pobre
E trabalhadora,
Cortou lhe a face,
Para que se acostumasse
A olhar o próprio rosto
E constatar a sua falta de coragem,
A sua tendência a esconder-se,
Ele não veria mais a luz do dia,
Não da mesma forma.
-grite.
Ela disse.
Grite com o ímpeto e força de antes.
Apenas grite.
Sinta o prazer que teve
Ao ferir-me.
Ele correu.
Fugiu como jamais faria
Se estivesse a vê-la.
Fugiu com uma vara
Colada a sua cara.
Fugiu.
De si mesmo.
Do que fazia.
Do quê… era?!
Agora ela sabia.
Com conhecimento brutal.
Sabia.
Que todo homem porta um pênis.
E que teria que entender isso
Com força.
Com uma dor rasgando o íntimo.
Uma dor traiçoeira.
Dor que nunca deveria ter provado.
Que tentou quebrar suas defesas.
Obriga-la.
Força-la a entender sobre coisas
Que ainda não queria.
E que parecia não ser a hora adequada.
Uma forçada.
Ela escolheu não agir para companhia,
Se esquivar,
Olhar no fundo dos olhos
E buscar,
Quem é este cujo corpo divide-se
E comanda tanto
Como se nem o pertencesse?
Quem é este dominado por um pênis?
Sentia apenas nojo.
Odiava-a pelo ataque traiçoeiro.
Odiava a certeza que o movia.
Acreditar que poderia feri-la
A ponto de te-la?!
Feri-la a pedradas,
Com palavras,
Com amizade falsa...
Odiava ainda mais
Este que o levou a acreditar nisto.
Acreditar que alguma atitude sua
Por mais violenta que fosse
Seria o bastante para te-la.
Odiava.
Odiava com todas as suas forças.
Odiava esta certeza.
Ganha-la?
Odiava.
Odiava a ideia.
Preferia o esquecimento do sono.
Da terrível vivência de um pesadelo.
Mas foi real.
Por mais que fechasse os olhos.
Ou sentisse medo.
Foi real.
E ele não tardaria a voltar.
O medo não lhe trouxe paz.
Nem ele seria capaz.
Ela daria uma plantação
Para não viver tal pesadelo.
Ele rompeu uma linha de segurança,
Invadiu uma linha de confiança,
Sem aviso.
Sem que ela cresse que seria capaz.
Ele o foi.
Ferida por uma pedra.
Próximo a coluna.
Mas ela teria que levantar-se.
Se proteger.
Lutar.
Unir todas as suas forças.
Olhar para aquela cara imunda
De bandido.
Desgraçado, baixo, traiçoeiro.
Queria ve-lo inflamar.
Arder em labaredas.
Gritar até virar cinzas.
Queria cortar cada um de seus músculos,
Até que fosse impedido de esconder-se,
Até que nunca tivesse forças
Ou coragem para erguer uma pedra.
Maldito bandido
Com uma vara na cara.
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