O adeus antes de bater a porta seria o bastante,
Disse apenas que o sentimento acabou,
Que não a amava a tempos, talvez nunca a tenha amado,
No pulso meu relógio marcava silenciosamente
As horas percorrendo o transcorrer do tempo,
Ela me olhava com aqueles olhos vazios e chorosos,
Parecia cheia de tudo, menos de amor,
O barulho sessou, o silêncio impregnou o lugar
Com um sentimento difícil de tolerar,
Melhor era seguir meu caminho, longe de tudo aquilo,
Inclusive dela, cansei dos seus joguinhos,
Não tinha certeza sobre o que fazer,
Mas sabia que meu futuro não estaria ao seu lado,
“Perdoe-me a sinceridade, mas nunca a amei de verdade,
Eu tentei, pelo menos acredito que sim,
Sei que é um assunto peculiar e preciso ser firme,
Mas esclarecer as coisas me parece, no mínimo, pertinente”,
Abri um sorriso complacente não desejava magoa-la,
Apenas queria que ela entendesse e desistisse do que nunca
houve,
Fugir do inevitável é como tentar colar cristal quebrado,
Alguém corre um sério risco de sair machucado,
De fato, nesta história ninguém sairia ileso,
Todo o fim é sempre dolorido, mesmo o daquele que foi utópico,
Com agrado fiquei feliz por ela ter evitado aquele conhecido
discurso,
De tentar inventar histórias e buscar desculpas para me
convencer a engolir o intragável,
Até mesmo o seu beijo eu evitava a todo custo,
Fechei a porta e sai, ela não me forçou a abraça-la e eu
fiquei grato por isso,
Por que iria querer sustentar uma história falsaria onde não
há margem para lucro?
Lucro? Esta sempre foi a questão, nunca foi o amor que
sustentou nossa relação,
Ainda podia lembrar dela com seu dedo levantado para o alto,
Como uma arma a apontar meus defeitos e definir suas
exigências,
Era como se ela me abrisse por dentro, me deixando vazio de
sentimentos,
Nunca foi amor e jamais seria;
Pela primeira vez larguei a malícia de lado e optei por ser
um pouco astuto,
Ela sempre fez tudo o que quis comigo, agora seria a minha
vez de virar o jogo,
Dar um passo rumo ao inesperado, reescrever meu próprio
destino,
Essa certeza estava tão saliente em minha alma que parecia
gritar,
Saltar aos olhos como se estivesse descrita em minha testa,
Tatuagem expressa em tinta que nunca iria se apagar,
Com letras negritadas, caixa alta, não aceitaria me prender
em armadilhas,
Enquanto houvesse alternativas eu as buscaria,
É certo que eu me importava com muita coisa, mas a partir
daquela hora,
Dez e quinze da noite, eu seria minha prioridade,
Nenhuma outra vez dividiria a mesma cama com ela,
Nem uma outra noite passaria naquela cidade,
Eu provavelmente acenei antes de dar partida, mas não olhei
para trás,
Não me importava mais com o que ela sentiria,
Já havia me importado em demasia, ela e suas perguntas
retóricas,
Me indago: quem é que se importaria?
Por mais que tentasse construir diálogo, ela nunca ouvia,
Era como gritar para paredes ensurdecidas,
Aquele seu humor negro, brincando com tudo que eu dizia,
Se tornou insustentável muito antes do que eu havia
previsto,
Aquela aliança havia se tornado minha condena,
Algema que prende e marca fingindo chamar de amor,
Eu a removi na primeira oportunidade,
Mas, em meu íntimo ainda a sentia ferir minha pele,
Enquanto o amor verdadeiro cura, o falso fere sem perdão,
Eu havia passado pela dor de inúmeras maneiras,
Mas tentar esconde-la a custo do próprio coração,
Realmente havia sido um erro o qual nunca mais iria repetir,
Tentei me enganar a prender-me a ideias românticas,
Mas o tempo soube me mostrar que prostrar-me de joelhos
Jogado aos seus pés nunca seria a atitude mais adequada,
As palavras que a tanto tempo entalei na garganta,
Agora estavam na ponta da língua, precisava cuspi-las,
Joga-las de qualquer maneira, a qualquer custo,
Não me renderia ao silêncio, me recusaria a ficar calado,
A ideia que me surgiu em poucos segundos,
Tomou consistência e me fez dono do próprio destino,
Eu tinha matado minha alma pelo custo de um casamento,
Tentado comprar o amor pelo preço de ideias vazias,
E isso nem era o mais importante, fiz do coração meu
cumplice,
Calei sua voz, selei meu destino em um cálice de martírio,
Alcancei um diploma de vencedor pelo custo de me agarrar ao
falso,
Não havia cabimento que me valesse o silêncio,
Falei, iniciei aos sussurros, de um jeito meio arrastado
E quando percebi estava a quilômetros de distância,
Calcando em coerência cada passo percorrido,
Meu mal era o vazio da alma não do pensamento,
Lágrimas caiam pelo meu rosto nem desejei seca-las,
Doía romper as barreiras que a tanto tempo me prendia,
O medo era uma marca difícil de remover, e o meu estava em
queda,
Um mergulho rumo ao vazio do qual nunca mais teria saída,
Eu não me sentia só, tinha um caminho vitorioso pela frente,
Me agarraria a esperança de um futuro sublime,
Em que eu conquistasse o direito de ser eu mesmo,
Aquele homem da fala mansa, que obedecia sem reclamar,
Tinha aberto espaço para o homem que atuava com atos
honrosos,
O desconcerto dos meus atos de outrora,
Cederam lugar aos cuidadosamente elaborados,
Não permitiria que os erros do passado construíssem monstros
no futuro,
Eu tinha forças para me opor a isso, então era o que eu
faria,
Não haviam razões suficientes para me prender a épocas passadas,
Decidi mudar desde a cor do cabelo até a brandura dos meus
atos,
Daria mais força a voz que sussurrava dentro de mim,
Não importava quais erros fossem desenterrados,
Mas, acreditei que talvez, alguns até fossem convenientes,
Se eu fosse obrigado a calar a verdade em que me adiantaria
ser homem?
Parei o carro no acostamento e levei as mãos a face...
Meus olhos estavam abertos para a verdade, não haveria mais
como calar-me...
E eu poderia apostar, que no final, tudo valeria a pena,
Só em me libertar das amarras (inclusive as) psicológicas já
seria o bastante,
Nunca pensei que abriria as portas da alma algum dia,
Muito menos que o faria dentro do próprio carro,
Ali sempre me vi forte, seguro, envolto por uma muralha de "ferro",
O fato de ela sentir dificuldade em dirigi-lo, me fazia vitorioso,
Era como se ele fosse um colete balístico no meu entorno,
Me despi do coldre velado, ali pude ser eu mesmo.