Teste positivo entre seus dedos, longe do seu campo de visão,
Havia se entregado a um rapaz, acreditava ter sido levada
pela emoção,
Seus olhos mais fracos que o de costume, opacos e sem
destino,
Uma vantagem a seu favor, ele a amava, havia sussurrado isso
aos seus ouvidos,
É certo que pediu que mantivessem seu relacionamento em
segredo,
Mas, isso não passava de temor dos comentários maliciosos,
Ele, havia aberto um sorriso lindo quando lhe dissera
Que queria apenas o seu melhor e fazia isso para protege-la,
Ela assentiu, como se lhe dissesse um a zero,
Este seu aspecto desanuviou suas dúvidas, limpou seu
pensamento,
Ele era demasiado lindo, parecia um rapaz desenhado pelos
anjos,
E ainda lhe nutria sentimentos, isso era o mais prazeroso de
tudo,
Estava forçada por seu coração a entregar-se em um ato de
amor,
Seus braços fortes tinham uma capacidade de fazê-la
sentir-se bem,
Ele a amava e não cansava de repetir isso em cada segundo,
Provava isso em cada abraço, ela sentia que podia acreditar
nele,
Ela sorriu e lhe fez uma pausa breve, como se causasse expectativa,
Depois, jogou-se em seus braços como se não houvesse um
outro dia,
Agora, com um teste de gravidez em mãos, estava sendo difícil
processar tudo,
Ela tentara ligar para ele, pela milésima vez, mas o
telefone parecia desligado,
Seus dedos estavam doloridos e marcados pelo cansaço,
Já haviam adivinhado o teclado, sabiam cada espaço, cada
símbolo,
Os olhos dele, antes mansos ficaram tão arredios no último
encontro,
Como se ele não a amasse tanto, não a desejasse como nos
primórdios,
Já fazia alguns meses que estavam se relacionando, ninguém sabia
de nada,
Não da parte dela, apesar de ter percebido alguns boatos na
vizinhança,
Como se lhe apontassem o dedo sempre que passava na rua da
cidadela,
Um aperto no coração, provocou um profundo silêncio,
Depois, um romper de lágrimas que parecia não ter mais
controle,
Percebera que ele estava evasivo a algum tempo, mas ficara
quieta,
Seus pais a olhavam de soslaio, sussurravam pelos cantos,
Eventualmente, lhe indagavam sobre perguntas tolas,
As quais ela respondia com a mesma evasiva outrora reconhecida,
Trancava-se em seu quarto, música audível, não queria pensar
em nada,
Mas, não conseguia controlar, os pensamentos a dominavam por
completa,
Tivesse se apegado a eles noutro momento, talvez agora, seu
destino fosse outro,
A incredulidade do que via estava intragável, havia parado
na garganta,
E estava a sufoca-la, nunca um objeto lhe fora tão pesado,
Quanto aquele teste positivo, desenhado em vermelho
pulsante,
Justo a cor que ela mais gostava, se prostrava contra ela,
Sem erros, sem alternativa de voltar atrás, resultado
positivo nada a mais,
Não sabia como outras pessoas suportavam a situação
sozinhas,
Não entendia o porquê, mas acreditava que seus pais não
aceitariam,
Ela os ouvira cochichar com vizinhos que a poriam para fora de casa
Caso os boatos que lhes haviam insinuado se concretizassem,
A haviam definido, para eles, pior que uma garota de rua,
Isso iria de encontro com tudo que aprendera em casa,
Agora, as evasivas estavam concretas e formavam um rosto,
Algo se formava dentro dela e estava prestes a sair para
fora,
O amor que haviam lhe prometido voara pela janela,
A passos de vento, como um raio de sol que aquece e vai
embora,
A deixando fria, amedrontada com tantos dedos apontados
contra ela,
Talvez, as pessoas gostem de serem diferentes, apenas isso,
Nunca entendera, como poderiam julgar tanto e tão friamente,
Pareciam querer testar seu autocontrole, qual era o problema em amar alguém?
Se este alguém não cumpre com suas expectativas, de quem é a
culpa?
O ato de julgar os erros dos outros parece ocultar os deles,
Será que a falsa supremacia, os torna mais fortes? Não havia
sentido para ela,
Nunca tentara ser superior as pessoas, sempre fora
reservada,
Mas, nunca hesitara em ajudar a todos que precisassem, agora
estava reclusa,
Mas ela os vira falarem dela, os viras apontarem contra seu rosto,
Insatisfeitos criaram boatos falsos, denegriram sua imagem,
Agora, o jogo estava perdido, caíra em escanteio o ângulo foi
certeiro,
Fosse planejado, tudo não estaria tão bem colocado,
Até mesmo a janela do seu quarto que aparecera quebrada,
Agora parecia ter tido uma razão para estar daquela forma,
Não fora uma pedra proveniente de um carro que passara
rápido,
Não fora algum menino que passava brincando na calçada,
Ela tinha somente treze anos, como poderia reagir a tudo
isso?
Não era mais que uma menina com problemas adultos,
Adultizaram ela, sua infância se perdia em outros tempos,
Agora, ela teria uma nova face, ela não seria capaz de lhe negar isso,
Seria forte o suficiente para arcar com seus atos,
O fizera por amor e pelo mesmo amor o manteria, mesmo que
sozinha,
Lembrara o telefone de um amigo que tinha acessos restritos,
Olhara em sua carteira laranja, havia algum dinheiro
sobrando,
Ligara para ele, agora era apenas sair de soslaio com a mala
feita,
Tirar a foto e escolher nome novo, identidade e tudo o mais,
Seria uma nova pessoa, teria uma nova vida, sem contar com
apoio algum,
Se a sociedade escolhera julgá-la, iria embora, não
pertencia a aquele lugar,
Onde pessoas vazias desejavam esvaziar as demais para se
sustentarem,
Feito vermes sobreviventes de erros humanos,
Mais tarde, regressaria com o filho nos braços, mas então,
seria outra pessoa,
Que não quisessem seu perdão, que não lhe pedissem desculpas, seria outra,
Ela, agora se via de frente através de um novo rosto,
Uma nova chance, uma nova oportunidade de ser diferente,
Um caminho em que pudesse se posicionar melhor,
Porém, não era o seu reflexo que ela identificava ou contemplava, agora,
Admirava-se, através de uma outra pessoa, que embora não a pertencesse,
Lhe daria vida nova, sonhos novos em que acreditar, um novo coração para amar.