terça-feira, 9 de março de 2021

O Silêncio de Um Lugar Ermo

Haja vista, a necessidade de um progresso equilibrado da vida,

Em suas mais variadas formas expressas,

Pode-se dizer que a vida é regida por uma unidade de fatores,

A qual, permite, abriga e rege as circunstâncias a nossa frente,

Essa visão, corrobora com o que consta nas linhas do caderno constitucional,

Mas, quanto ao viver preceitua mais que constituir uma face idealista,

 

Com a promulgação das leis em minha mente, tudo parecia ideal,

Tive a certeza de que as coisas se direcionariam para algo bom,

A qualidade de vida recebia um tratamento inovador, eu acreditava nisso,

As frases se definiam de forma precisas e atualizadas, a constituição cidadã,

Aquela que erguera-se pelo bem e para o bem do povo, eu estava segura agora,

Emergia ao meu alcance diversas disposições de mecanismos de proteção,

 

Tudo o que me vitimizava, seria contido, estava entre os meus dedos,

Os mais diversos fatores atuantes e indispensáveis a vida do ser humano,

Uma ameaça a um ser humano, agora atingira o patamar de um todo,

O medo havia sido espalhado, havia pânico em todos os lados,

Era respeitar a vida humana atinando-se aos seus deveres como cidadão,

Ou tolerar-se a ser sujeitado as penas da lei, uma pluma afagava meu coração,

 

Minha autonomia, minha liberdade, estava descrita a ferro em cláusulas pétreas,

Não teria como ser removida dali nunca, a árvore do direito se ramificava,

E, suas sombras estavam a postos para me permitir descansar,

Segura, com a lei a reger meus passos e distanciar-me dos fantasmas do inseguro,

Sendo seu dever o respeito, todos haveriam de preserva-lo,

Estavam vedadas as formas de crueldade, de tratamento sub-humano,

 

Haviam sanções em que eu poderia acreditar, estava segura agora,

Já não andava a esmo pelas ruas tortuosas, tinha uma diretriz a frente,

A proteção se descentralizava e abrangia a todas as pessoas de forma indistinta,

Uma responsabilidade além da idade, do tempo, da classe social,

Ações conjuntas seriam concretizadas conforme a realidade local,

As ilicitudes ganhavam nome, roupagem e evidência,

 

É claro que este fato preceitua competência,

Mas, não haveriam lacunas em que pudessem esconder-se,

A proteção dos interesses econômicos já não vigia como outrora,

Haveria um agente regulador que atenderia a critérios específicos,

Atitudes nocivas seriam afastadas, a liberdade estava embasada em letra viva,

Via suas letras crescerem em minha cabeça, estava guarnecida do inseguro,

 

Mesmo que mínima a proteção tomava forma, a legislação me convencia,

Bastava apenas um empurrão para viabilizar e incentivar a sociedade nesse processo,

O direito é muito mais que normas escritas, é a efetivação destas,

Resta esclarecida a predisposição normativa na qual me apregoara,

No entanto, o fato de eu estar caída agora sobre este chão frio,

Vendo-me sangrar em ferida aberta, traída e amordaçada não me alcança,

 

Meu caderno de leis se apaga em minha cabeça, as letras escorrem da minha visão,

Não tenho um nome para informar a polícia, nem ao menos meios de chegar a ela,

Resta uma calça rasgada e uma calcinha perdida em algum lugar,

Talvez, seja o bastante ante a ausência de um rosto para apresentar,

Foram previstas e instituídas normas, eu me agarrara a elas com força,

Mas toda lesão, é capaz de causar danos, a minha também cicatrizaria,

 

No entanto, dos seus danos, não sei se conseguiria fugir com maestria,

O dano recaiu sobre a minha face e escureceu meu semblante,

Com um vestígio de nitidez o vejo escorreito por meu corpo e alma,

O certo é que o dano ricocheteava por todas as minhas crenças e ideias,

Apagava as certezas, confundia a minha memória, me via esvaída,

Nem mesmo o som das minhas lágrimas ganhava guarida,

 

É certo que eu fizera o que pude para evita-lo, mas agora estava amordaçada,

Sozinha em lugar ermo, a soltura parecia estar ao meu alcance,

Mas o medo me impedia de me utilizar dela, o evento que se seguiria,

Poderia ser irreparável, um tiro certeiro calaria meus lábios,

Morta seria destino traiçoeiro para quem crera tanto na vida, não seria?

A previsão contida em minha cabeça se alicerçava e tomava força,

 

Lá fora, eu acreditava que a luz se escondia, um dia se passava,

Sujeitos de direitos que se negavam as obrigações me feriam,

Seriam mais de um? Me sentia fraca, incapaz de compreender-me,

Enquadrada por acreditar em tudo que admirava e me apoiava,

Não seriam palavras bonitas que me salvariam agora, nem a eles,

Em que pese, o risco iminente de morte, eu poderia me arriscar a salvar-me,

 

A criminalidade estava sendo praticada sob o resguardo de algum escudo,

Eu era forte o bastante para não cair por qualquer descuido,

Havia algo premeditado, um sistema se operava em contrário,

Caberia a mim a decisão de acatar a decisão superior ou lutar,

Embora não recordasse das últimas horas com exatidão concreta,

Me recordava de estar me direcionando a uma palestra jurídica,

 

Lágrimas molharam as chagas da minha alma, eu teria responsabilidade subsidiária?

Havia esquecido as chaves do carro e aceitara um táxi para me levar ao destino,

Recordo ter sentido um sono exaustivo, depois disso, mais nada se via,

A primeira amarra se escapava, me apegaria a segunda corrente doutrinária,

Me sentia culpada, pelo fatídico erro de memória, estava vitimizada agora,

Embora haja objeção a ideia, ela me ocorrera a tempo para me dar guarida,

 

Tivesse me apegado a culpa não sairia de lá com vida,

Não estaria aqui, agora, pendendo sobre estas folhas em branco,

A descrever minha história, a leis nem sempre produzem e efetuam efeitos práticos,

Mas a criminalidade não perdoa suas lacunas, ao contrário,

A sinto como se estivesse viva percorrendo a chagas do meu corpo,

Mesmo não tendo restado feridas abertas, mesmo tudo ainda sendo vago,

 

Minha história é um marco inicial acerca da violência doméstica,

Datas passadas relatam de forma superficial minha vivência,

Ato contínuo, relato de forma sucinta que confiara em demasia,

Peço a quem me ouvir, ou se prender a leitura destes versos,

Que tenha um olhar abrangente, esculpido em minha dor sofrida,

Não obstante a ocorrência do impacto negativo, o resultado:

 

É que cumpria de forma escorreita com meus deveres de trabalhador,

Acrescente-se a este cenário, que preferi me definir como mulher,

Fora, demasiado intenso, aceitar o fato de ter sido estuprado por alguém,

O tema poderia ser breve, não tivesse a relevância de ter sido intimado,

Recebera hoje, através do correio um pedido de alimentos,

Estou sendo acusado de ser pai, de um filho fruto de um delito,

 

Esta mulher, embora eu me negue as lembranças,

Fora a que dissecou sobre leis pátrias, amor e outras falácias,

Me direcionara até um lugar ermo, jogara algo sobre a minha cara,

E ao acordar, estava sozinho em meio ao nada, sem o carro, sem roupa,

Prevendo a preservação no estribo das normas insculpidas,

Ante o medo, a ausência de provas a meu favor, calara-me, hoje pago o silêncio.

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