quarta-feira, 10 de março de 2021

Um Outro Rosto, Mas Não Era Seu Reflexo.

Teste positivo entre seus dedos, longe do seu campo de visão,

Havia se entregado a um rapaz, acreditava ter sido levada pela emoção,

Seus olhos mais fracos que o de costume, opacos e sem destino,

Uma vantagem a seu favor, ele a amava, havia sussurrado isso aos seus ouvidos,

É certo que pediu que mantivessem seu relacionamento em segredo,

Mas, isso não passava de temor dos comentários maliciosos,

 

Ele, havia aberto um sorriso lindo quando lhe dissera

Que queria apenas o seu melhor e fazia isso para protege-la,

Ela assentiu, como se lhe dissesse um a zero,

Este seu aspecto desanuviou suas dúvidas, limpou seu pensamento,

Ele era demasiado lindo, parecia um rapaz desenhado pelos anjos,

E ainda lhe nutria sentimentos, isso era o mais prazeroso de tudo,

 

Estava forçada por seu coração a entregar-se em um ato de amor,

Seus braços fortes tinham uma capacidade de fazê-la sentir-se bem,

Ele a amava e não cansava de repetir isso em cada segundo,

Provava isso em cada abraço, ela sentia que podia acreditar nele,

Ela sorriu e lhe fez uma pausa breve, como se causasse expectativa,

Depois, jogou-se em seus braços como se não houvesse um outro dia,

 

Agora, com um teste de gravidez em mãos, estava sendo difícil processar tudo,

Ela tentara ligar para ele, pela milésima vez, mas o telefone parecia desligado,

Seus dedos estavam doloridos e marcados pelo cansaço,

Já haviam adivinhado o teclado, sabiam cada espaço, cada símbolo,

Os olhos dele, antes mansos ficaram tão arredios no último encontro,

Como se ele não a amasse tanto, não a desejasse como nos primórdios,

 

Já fazia alguns meses que estavam se relacionando, ninguém sabia de nada,

Não da parte dela, apesar de ter percebido alguns boatos na vizinhança,

Como se lhe apontassem o dedo sempre que passava na rua da cidadela,

Um aperto no coração, provocou um profundo silêncio,

Depois, um romper de lágrimas que parecia não ter mais controle,

Percebera que ele estava evasivo a algum tempo, mas ficara quieta,

 

Seus pais a olhavam de soslaio, sussurravam pelos cantos,

Eventualmente, lhe indagavam sobre perguntas tolas,

As quais ela respondia com a mesma evasiva outrora reconhecida,

Trancava-se em seu quarto, música audível, não queria pensar em nada,

Mas, não conseguia controlar, os pensamentos a dominavam por completa,

Tivesse se apegado a eles noutro momento, talvez agora, seu destino fosse outro,

 

A incredulidade do que via estava intragável, havia parado na garganta,

E estava a sufoca-la, nunca um objeto lhe fora tão pesado,

Quanto aquele teste positivo, desenhado em vermelho pulsante,

Justo a cor que ela mais gostava, se prostrava contra ela,

Sem erros, sem alternativa de voltar atrás, resultado positivo nada a mais,

Não sabia como outras pessoas suportavam a situação sozinhas,

 

Não entendia o porquê, mas acreditava que seus pais não aceitariam,

Ela os ouvira cochichar com vizinhos que a poriam para fora de casa

Caso os boatos que lhes haviam insinuado se concretizassem,

A haviam definido, para eles, pior que uma garota de rua,

Isso iria de encontro com tudo que aprendera em casa,

Agora, as evasivas estavam concretas e formavam um rosto,

 

Algo se formava dentro dela e estava prestes a sair para fora,

O amor que haviam lhe prometido voara pela janela,

A passos de vento, como um raio de sol que aquece e vai embora,

A deixando fria, amedrontada com tantos dedos apontados contra ela,

Talvez, as pessoas gostem de serem diferentes, apenas isso,

Nunca entendera, como poderiam julgar tanto e tão friamente,

 

Pareciam querer testar seu autocontrole, qual era o problema em amar alguém?

Se este alguém não cumpre com suas expectativas, de quem é a culpa?

O ato de julgar os erros dos outros parece ocultar os deles,

Será que a falsa supremacia, os torna mais fortes? Não havia sentido para ela,

Nunca tentara ser superior as pessoas, sempre fora reservada,

Mas, nunca hesitara em ajudar a todos que precisassem, agora estava reclusa,

 

Mas ela os vira falarem dela, os viras apontarem contra seu rosto,

Insatisfeitos criaram boatos falsos, denegriram sua imagem,

Agora, o jogo estava perdido, caíra em escanteio o ângulo foi certeiro,

Fosse planejado, tudo não estaria tão bem colocado,

Até mesmo a janela do seu quarto que aparecera quebrada,

Agora parecia ter tido uma razão para estar daquela forma,

 

Não fora uma pedra proveniente de um carro que passara rápido,

Não fora algum menino que passava brincando na calçada,

Ela tinha somente treze anos, como poderia reagir a tudo isso?

Não era mais que uma menina com problemas adultos,

Adultizaram ela, sua infância se perdia em outros tempos,

Agora, ela teria uma nova face, ela não seria capaz de lhe negar isso,

 

Seria forte o suficiente para arcar com seus atos,

O fizera por amor e pelo mesmo amor o manteria, mesmo que sozinha,

Lembrara o telefone de um amigo que tinha acessos restritos,

Olhara em sua carteira laranja, havia algum dinheiro sobrando,

Ligara para ele, agora era apenas sair de soslaio com a mala feita,

Tirar a foto e escolher nome novo, identidade e tudo o mais,

 

Seria uma nova pessoa, teria uma nova vida, sem contar com apoio algum,

Se a sociedade escolhera julgá-la, iria embora, não pertencia a aquele lugar,

Onde pessoas vazias desejavam esvaziar as demais para se sustentarem,

Feito vermes sobreviventes de erros humanos,

Mais tarde, regressaria com o filho nos braços, mas então, seria outra pessoa,

Que não quisessem seu perdão, que não lhe pedissem desculpas, seria outra,


Ela, agora se via de frente através de um novo rosto,

Uma nova chance, uma nova oportunidade de ser diferente,

Um caminho em que pudesse se posicionar melhor,

Porém, não era o seu reflexo que ela identificava ou contemplava, agora,

Admirava-se, através de uma outra pessoa, que embora não a pertencesse,

Lhe daria vida nova, sonhos novos em que acreditar, um novo coração para amar.

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