Bem, é certo que existem diversos modos de usar a boca,
Porém, nunca pensei que a usaria contra quem mais amei,
Assumir a postura do tudo ou nada é arriscado para quem ama,
Embora eu não tenha refletido sobre isso reagi a caráter,
Usei a mesma boca com a qual o conquistei através de
promessas,
Quando decidi afastar o sentimento para aquela lágrima em
minha face,
E gritei com toda a força e vigor do que eu acreditei ser
raiva,
Eu o odeio, não o quero mais em minha vida e a culpa é sua,
O desenvolvimento de um sentimento visto pelo ângulo de
privações,
Se limita por bem poucas coisas, se reduz ao teor das
ideias,
Quando mais se da abertura para ideias falsárias,
Mais se crê nisso e corre sério risco a reagir em acordo a
elas,
Mesmo sabendo disso, eu não consegui me conter a tempo,
Gritei com toda a força em meu peito: te odeio, não tem mais
jeito!
Não bastasse a sua expressão de espanto, virei a cara em
soberba,
Esperei altiva que entrasse em lágrimas, mas não ouvi nada,
Diante de tudo que ocorria entre nós ele não se redimia,
Permanecia inerte, por Deus que era como se ignorasse os
fatos,
Olhava com desdém, como se não soubesse do que eu estava
falando,
Olhei para dentro de mim, percebi que também não reconhecia
os motivos,
Mas eu os tinha e muitos, ora haviam tantas coisas a serem
valorizadas,
E ele não via a nenhuma delas, uma abordagem geral
enumeraria
Diversos motivos pelos quais este sentimento nem deveria ter
começado,
Mas eu havia apostado todo o meu sentimento nisso,
E agora, o via escorregadio, estaria ele a desviar das
nossas promessas?
Às vezes, o pegava a bambear entre um passo e outro pela casa,
Será que eu havia desenhado nossas juras no assoalho
encerado,
Em cada atitude em que organizava tudo conforme ficava
melhor,
E isso era pretensioso demais para o que ele havia se
disposto?
Quando é que o amor que salvaria passa a ferir o rosto de
quem ama?
Em que instante as promessas de amor sussurradas ao ouvido,
Passam a ensurdecer as atitudes de quem é o sujeito
destinado,
A ponto de que ele desista de ouvi-las e até as distorça em
seus atos?
Com um ufa, suspiro que vinha de dentro da alma através do meu
peito,
Lembro de jurar que, se ele me negasse o que havia um dia
sentido,
Eu sairia por aquela mesma porta e estaria tudo acabado,
Dependendo do contexto, esqueceria até que ele tivesse
existido,
Procurava em meus olhos e não havia nada além de lágrimas,
E nos dele, nem isso? O que existiria em nossos olhares a
ponto de esfriar-nos?
Que o amor de sua alma fizesse justiça a todas as juras
faladas,
Que algo emergisse dentro dele que me fizesse voltar atrás,
Da forma como ele se portava, sempre tão ausente e contumaz,
Não resistiriam maneiras que nos fizesse ficar juntos,
Não naquela ideia do para sempre, do amor por toda a vida,
É certo que eu, nesta hora, estava virada de costas para a
porta,
Procurava uma saída que nos fizesse ficar juntos
E não uma maneira de ir embora e nunca mais voltar,
Mas, ele, o que estaria a fazer agora? Seu silêncio feria,
Porém, as minhas palavras gritadas no vigor da raiva,
Me destruíam por dentro, não consegui suportar minhas
maneiras,
Havia ferido ele, talvez tivesse jogado nossas chances fora,
Ousara gritar tudo que sentia em triste hora desafortunada,
Abusara da minha fragilidade de mulher para tentar coagir,
Apenas porque não suportava sua maneira de ser e agir,
Havia olhado seus sentimentos de forma individual,
E agora, acreditava estar errada em tudo que fazia,
O beijo com o qual me conquistou agora estava residual,
Esparso, escolhendo os momentos em que beijar,
A penúria dos meus atos destruía as juras colocadas,
Visto deste ângulo, ele estaria certo em se desviar,
Ideia equivocada afastada, como poderia retomar?
Orgulho despido da minha alma, ousei arriscar um olhar,
Ele estava sentado na cadeira, mãos no rosto a cobrir a
face,
Estaria sofrendo e recusara-se a falar? Eu buscava uma base,
Um princípio em que me agarrar, identificava a dor nele,
E tinha conhecimento sobre a quem pertencia a culpa,
O amor poderia ser qualquer coisa, mas era diverso da ideia
de sujeição,
Se havia algo errado, por que o sentimento havia nos
distanciados?
Não deveríamos ter construído uma forma de se aproximar um
do outro?
Um alicerce que fosse forte o suficiente para manter-nos
juntos?
Na circunstância em que nos encontrávamos tudo parecia se
opor,
Até mesmo as manchas que surgiam nas roupas já pareciam
desconhecidas,
O amor não deveria ser forte o bastante para resistir a tudo
isso?
A amizade que havia entre nós dois não deveria manter-nos
unidos?
Me senti ferida e o ferira, agora que ele sangrava eu não
estava melhor,
A ideia de lágrimas no rosto de quem amo era feito facas em
meu peito,
Então, por que eu o havia sujeitado a tudo isso? Por que
gritei em furor?
Nem recordava sobre qual fora o motivo que me guiara a agir
desse modo,
Mas sabia que precisava recuperá-lo, o impacto de sua dor me
transtornava,
Levantei-me, mas dessa vez em silêncio, envolvi suas mãos em
um afago,
As retirei do contato do seu rosto, levantei seu queixo com minha
palma,
Sentei-me sobre suas pernas, e soltei suas mãos unidas em meu
peito,
Me recostei nele, em silêncio nos abraçamos com força,
Eu te amo, pareciam pulsar nossos corações em uníssono.