Sem aviso, quase como um choque,
Pode-se dizer que o que se descobriu
Foi de todo inesperado,
Um rubor intenso e triste subiu a face,
Era o pior que se descobriria sobre ela,
Quando era perfeita parecia nem respirar,
Sempre com seu semblante intenso,
Sorria por nada, fazia sorrir por tudo,
Nunca foi o que se chamasse perfeita,
Mas havia algo a se admirar em tudo que fazia,
Mas, agora suas mãos estavam sedentas,
As carícias que já foram tão intensas fugiam,
Sim, suas mãos estavam abertas,
Mas não, não desejavam entregarem-se por nada,
Podiam tocar seu rosto ainda, podiam,
Mas não o fez, permaneceram como estavam,
Ali onde já esteve a dela protegidas,
Desejavam até desabrigar entristecidas,
Se dedos choram, aqueles sofriam a distância,
A distância de poucos passos que não existiam,
Mas que foram colocados entre eles a separá-los,
Se seus lábios se estendessem um pouco,
A beijariam feito loucos, sedentos e apaixonados,
Mas, não queriam tocá-la,
Não mais um gesto como este seria feito,
Existem atitudes que não podem ser desfeitas,
Então, as mãos continuaram abertas
E a boca distante e fechada como estava outrora,
Se existe um momento em que palavras são desnecessárias,
Pode ser que exista a pessoa para quem o seja,
E que não importa a hora ou lugar, sempre o seja,
Mas dizem que o todo não se julga por partes,
Não se joga fora o último beijo porque o batom chega
borrado,
Não se recusa a desculpa quando se há uma,
Não havia a chama a acender o amor e mantê-lo vivo,
Mas não é por um único erro que se põe fora o amor inteiro,
O olhar dela também está borrado e agora incerto,
Parecia procurar algo, insatisfeito com o que via,
Ela se aproxima, procura por um beijo,
Eu me esquivo, não aceito a visão que tenho,
Algo no perfume dela chega a cheirar diferente,
Aquele ar que a cerca conta mais do que se vê,
Quando preciso de um beijo dela mais que nunca,
É justamente quando me esquivo, quando o rejeito,
Eu confesso que tento segurar o fôlego,
Não quero entregar tudo o que sinto,
Meninas de papel não erram e também não existem,
Se esperei demais, agora sofria a distância,
Eu poderia fechar minha mão sem a dela,
Poderia beijar ela como se não houvesse nada,
Havia um vermelho na boca dela que a manchava,
Seus lábios inchados estavam arredios,
Pensei que deveria fazer algo rápido,
Mas por mais que insistisse a distância me consumia,
Meu coração tentava bater mas tudo era estranho,
Confesso que não esperava vê-la da forma que via,
Não estava preparado para tanto,
Tentei um movimento mais tudo era metódico,
Com outro gesto medido eu chegaria até ela,
E a queria, como antes, mas nunca tão pouco como agora,
Eu poderia manchar minha boca como a dela,
Mas não é do meu caráter certas atitudes,
Chorar, com certeza mudaria seu aspecto,
Não sabia ao certo se era isso que ela queria,
E se queria, se merecia qualquer lágrima minha,
Um beijo borrado sobre os lábios dela,
Nenhum sobre os meus, nem mesmo os nossos,
Ela tenta mais uma vez, eu tremo, mas me esquivo.