terça-feira, 16 de novembro de 2021

Boca Manchada

 


Sem aviso, quase como um choque,

Pode-se dizer que o que se descobriu

Foi de todo inesperado,

Um rubor intenso e triste subiu a face,


Era o pior que se descobriria sobre ela,

Quando era perfeita parecia nem respirar,

Sempre com seu semblante intenso,

Sorria por nada, fazia sorrir por tudo,


Nunca foi o que se chamasse perfeita,

Mas havia algo a se admirar em tudo que fazia,

Mas, agora suas mãos estavam sedentas,

As carícias que já foram tão intensas fugiam,


Sim, suas mãos estavam abertas,

Mas não, não desejavam entregarem-se por nada,

Podiam tocar seu rosto ainda, podiam,

Mas não o fez, permaneceram como estavam,


Ali onde já esteve a dela protegidas,

Desejavam até desabrigar entristecidas,

Se dedos choram, aqueles sofriam a distância,

A distância de poucos passos que não existiam,


Mas que foram colocados entre eles a separá-los,

Se seus lábios se estendessem um pouco,

A beijariam feito loucos, sedentos e apaixonados,

Mas, não queriam tocá-la,


Não mais um gesto como este seria feito,

Existem atitudes que não podem ser desfeitas,

Então, as mãos continuaram abertas

E a boca distante e fechada como estava outrora,


Se existe um momento em que palavras são desnecessárias,

Pode ser que exista a pessoa para quem o seja,

E que não importa a hora ou lugar, sempre o seja,

Mas dizem que o todo não se julga por partes,


Não se joga fora o último beijo porque o batom chega borrado,

Não se recusa a desculpa quando se há uma,

Não havia a chama a acender o amor e mantê-lo vivo,

Mas não é por um único erro que se põe fora o amor inteiro,


O olhar dela também está borrado e agora incerto,

Parecia procurar algo, insatisfeito com o que via,

Ela se aproxima, procura por um beijo,

Eu me esquivo, não aceito a visão que tenho,


Algo no perfume dela chega a cheirar diferente,

Aquele ar que a cerca conta mais do que se vê,

Quando preciso de um beijo dela mais que nunca,

É justamente quando me esquivo, quando o rejeito,


Eu confesso que tento segurar o fôlego,

Não quero entregar tudo o que sinto,

Meninas de papel não erram e também não existem,

Se esperei demais, agora sofria a distância,


Eu poderia fechar minha mão sem a dela,

Poderia beijar ela como se não houvesse nada,

Havia um vermelho na boca dela que a manchava,

Seus lábios inchados estavam arredios,


Pensei que deveria fazer algo rápido,

Mas por mais que insistisse a distância me consumia,

Meu coração tentava bater mas tudo era estranho,

Confesso que não esperava vê-la da forma que via,


Não estava preparado para tanto,

Tentei um movimento mais tudo era metódico,

Com outro gesto medido eu chegaria até ela,

E a queria, como antes, mas nunca tão pouco como agora,


Eu poderia manchar minha boca como a dela,

Mas não é do meu caráter certas atitudes,

Chorar, com certeza mudaria seu aspecto,

Não sabia ao certo se era isso que ela queria,


E se queria, se merecia qualquer lágrima minha,

Um beijo borrado sobre os lábios dela,

Nenhum sobre os meus, nem mesmo os nossos,

Ela tenta mais uma vez, eu tremo, mas me esquivo.


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