Confesso que me olho no espelho e
pigarreio,
-Sim, estou agora a me enganar.
Acredito que estou no caminho
certo,
E sigo adiante, o que faria
diferente?
É será uma pena caso eu não esteja,
Eu entendo e acredito assumir o
risco,
Embora aos vinte e poucos anos,
Não se possa dizer ter certeza de
alguma coisa,
Por quê?
Uma brisa fria sopra contra o meu
rosto quando saio,
-Sim, amor. Estou chorando.
Imagino que onde ele estiver ele
saiba disso.
Ignoro o pensamento e persisto,
Não há lágrimas fora de mim,
Guardo todas comigo,
Talvez, algum ele tome
conhecimento,
Quem sabe isso nunca interesse.
Esse perigo é grande,
Mas o risco de recuar sempre se fez
maior,
Será que se eu voltar atrás eu o
encontro?
Lá atrás deixei o vazio de uma casa
oca,
Não há nada além de momentos,
Continuei avançando.
Em pensamento escrevo algo,
Erro as letras e distorço as
palavras,
Eu gosto de como o seu nome se
forma de diversas formas,
Continuei, veja bem, tem seu
feitio,
Seu feitio não está nos rostos que
vejo,
Espero que você possa entender,
algum dia,
Eu olho para os lados,
Busco rir e disfarço,
Você acredita que estou a procura-lo?
Pois é, os outros tem certeza
disso.
Então, por que não estamos juntos,
Eu não saberia dizer o motivo,
Bem, o sete vem em mente e vira
oito,
Infinito – o eterno de um beijo...
Felizmente há dentro de mim uma
lanterna,
Movida a bateria e outras coisas
recarregáveis,
Eu não diria que esta luz tem vida
inteira,
Tudo um dia se acaba,
Se o vejo, me perdoa, agora o vejo
mal,
A janela esta embaçada, mas meu
coração acelera
-Não, morena, não é ele...
-Quem?
-Não aquele que você finge: o
outro.
Abro a boca para dizer então você
sabe,
Ele simplesmente me olha sério e
arredio,
É como se perguntasse: por favor,
tem como isso?
Então, engulo o choro no riso,
Me engasgo e busco o assunto,
Acredito que estou falando,
Mas percebo muito tempo depois que
não,
Até a música do rádio é desligada.
Levo um susto quando percebo ele
ri,
Percebe isso,
Chego a pensar que sabe o que faz.
Me sinto longe, mesclada as trevas
de algum lugar,
Não vivo o novo apenas repito,
Ele percebe isso,
Eu vejo na forma como dirige pelas
ruas,
Deus me livre cruzar por você,
Ou Jesus me ajude que cruze,
Quando percebo estou com as mãos em
prece,
Ele se irrita e muda totalmente o
trajeto,
-Vamos para outro lugar!
Eu não pergunto para onde já não
sabia de antemão a rota,
Talvez, agora estejamos mais
distantes,
Ele para o carro em meio a rua,
Pessoas se assustam e buzinam,
Ele vira para trás,
Sinto medo: será que irá pegar uma
arma,
Eu disfarço e busco o assunto,
-Será que ele te perseguiria?
-Como, quem e por quê?
... É como se ele dissesse:
É hoje você é minha... e segue,
Eu não, nem sei mesmo aonde estou.
Encosto-me na parede do carro,
A porta abre-se,
Tento me jogar eu acho,
Mas ele é mais rápido, um carro
passa,
Eu rio, imagino que fosse você,
Ele me segura,
Retornamos a algum trajeto ou algo
do tipo...
-O que é isso?
Me pergunto em tom alto,
Não tenho resposta,
Talvez ninguém a tenha.
Não compreendo – me respondo,
Ele ri, gosta deste jogo,
Os homens em ronda poderiam
ouvir-nos,
Mas este que está comigo não,
Olho e não vejo nada,
Consultamo-nos um ao outro com o
olhar...
-Então, eu to metendo na buceta
dele agora,
Meus olhos embaçam de lágrimas
Eu já não vejo nada,
Nem sei se estou ali,
Preferia mesmo não estar,
-Você gosta tanto dele tanto assim?
Os olhos dele que estavam
marejados,
Agora escorrem,
O queixo treme e a boca cai,
Mas não, não fala nada.
E eu, ainda tenho que beijar sua
boca.
Fecho os olhos desejo morrer,
Finjo que estou noutro lugar,
Em outra coisa,
Em minha cabeça formo uma imagem,
Eu sei me perdoa, você não está.
-Você é de comer chorando eu digo,
Mais para mim que para qualquer
outra pessoa.
-Você é uma buceta que vale um
homem,
Ele fala com orgulho eu acho,
Eu entendo e entendo bem,
Talvez, em algum lugar você me
espere...
(Com este será mais fácil)
Eu digo para mim de olhos fechados,
Não quero abrir, mas olho, preciso
ver que... existo?
-Então, me traga ele.
Eu digo e levo um tapa no rosto,
Me defendo.
Embora não revide.