sábado, 15 de maio de 2021

Beijo Numa Noite de Lua




Ela não podia mais conter o sorriso que bendizia as notícias,

Ao admitir a intensidade de todas as juras de amor que ouvira,

Entre as 3 e as 4 horas da madrugada, muito perde a importância,

Mas ouvir um eu te amo sussurrado por uma noite inteira,

Vale cada minuto colado no abraço de quem decidira amar,

Por aquele momento e a partir dali, por toda a vida,

 

Havia naqueles olhos amor maior que tudo que conhecera,

Ela indagava-se: que havia com o amor para despertá-la desta forma,

E quando sentia seus lábios nos dele, a doçura dos seus beijos a respondia,

O surreal, que identifica que cada segundo importante valia a pena,

Mas, todos eles juntos não se bastavam para o teor de serventia,

Juntando de hora a hora, até o eterno não alcançaria tal noite de lua,

 

Pouco ou nada se questiona sobre as atitudes inusitadas,

Que nem se sabe o porquê de toma-las como ponto de partida,

Mas, o destino que a colocou naquele lugar, agiu de tal forma,

Que fez de uma única noite o início de um amor que não se acabaria,

Pondo fim, a tantas outras noites de tormenta que iniciavam em carícias,

Entrelaçadas por fagulhas por entre as densas sombras e findavam num vendaval,

 

Aquele que destrói tudo que toca, que faz olhar-se no espelho,

E não reconhecer o próprio rosto, muito menos faz desejar recordar

Tudo que houve na noite anterior ao temporal que fez lama

Onde deveriam existir dois corpos nus entregues um ao outro,

 Algo que não se sustenta por si próprio, insuficiente e vazio,

Acerca deste tipo de amor e do outro que acabava de iniciar,

 

Havia tanto o que dizer quanto o que provar, via-se no seu olhar,

No semblante apaixonado que distribuía sorrisos por onde passava,

Nas mãos que cumprimentavam a todos em felicidade incontida,

Órfã de sentimento por outro alguém, não havia nela justiça alguma,

Mas, tudo mudara de foco ao cruzar com ele, havia uma recompensa afinal,

Para aquela que nunca quis se entregar até serem supridas as incertezas,

 

Ela chegou até o portão da sua casa, recostou o rosto entre as grades,

Sentindo o frescor invadir o rosto quente, suavizando os traços,

Agora, havia uma divisória entre aquela lá de fora e a outra que entraria,

Não seria difícil forçar a entrada por cima dele, nem necessário,

Ela tinha a chave o tempo todo com ela, não teria que esperar na antessala,

Estaria em casa, mas agora sentindo algo muito diferente nela,

 

Todavia não precisar tirar as sandálias, tirou-as, entraria descalça,

Queria fazer surpresa para disfarçar um pouco tudo que sentia,

Precisaria de um banho quente, um café e uma boa conversa,

Tinha tanto para falar, um beijo em noite de lua remenda a alma,

Remove os estragos com tão pouco tempo que chega a estranhar,

O encontro não demorou muito, para quê existe a distância?

 

A saudade nunca fizera tanta diferença como fazia agora,

A voz branda do rapaz assumia um tom trocista em sua alma,

A levava para outro lugar, mantendo-a presa em seu abraço,

Fazia ela sorrir sem motivo, busca-lo por todos os cantos,

Viera sozinha para casa, diferente das outras vezes,

Mas guardava com ela uma certeza, sutil e suficiente,

 

Ao recostar a mão no trinco da porta viu que chegou o momento,

Olhou para os vãos dos seus dedos e decidiu por algo ali,

Eles ainda guardavam o contato do rapaz e os desejavam de volta,

Mesmo ela não se sentindo sozinha, o queria mais perto,

Ele a olhara de uma forma tão terna quanto a noite de lua,

Com olhos tão vivos e calorosos como as carícias que sentia,

 

Nem mesmo a mais bela noite de primavera se igualaria

À sua noite de inverno em que mesmo que estivesse sob a neve,

Seria tomada pelo frio, pois os braços quentes que a protegiam,

Eram capazes de resguardá-la de tudo, assim como ela fez com ele,

Dois corpos nus que não sentiam a temperatura do seu redor,

Duas almas que se entregavam sem medir as razões do tempo,

 

Não importava como estava o seu exterior, ela não era a mesma,

Por dentro dela, ela contemplava o inverno mais tranquila,

O orvalho da solidão que caia lá fora a tocava, mas não feria,

Ninguém negaria o amor que acontecera na noite passada,

Era tão nítido quanto o sol que oscilava entre esconder-se e brilhar,

Seu futuro agora se diferenciava, as promessas tinham voz própria,

 

E ela ficava radiante por saber que tinha um alguém para amar,

Uma pessoa para quem recorrer e um abraço para onde voltar,

Dependia deles a atitude a tomar, havia uma escolha segura,

O receio fugira em meados dos beijos da madrugada acolhedora,

Se o amor bater à porta, bem, entrara sem bater em sua alma,

O convite foi tácito e o beijo fez barulho, a acordara de suas utopias,

 

Ela usava seu novo sorriso, nem notara quando trocara o calçado,

Mesmo o dele sendo maior ela o trouxe, deve tê-lo deixado descalço,

A sandália não lhe serviria, ela adiantou-se em vestir-se, não por pressa,

Só recorda de abrir os olhos e se deparar com a razão de seus sonhos,

O homem para quem decidira se entregar e viver o amor,

Notou que ele ficava para trás conforme ela seguia para casa,

 

E desejou nunca ter saído do seu lado, a sensação era de que nunca chegaria,

Nunca se jogaria em sua cama, refletiria sobre cada promessa,

Nem esperaria o transcorrer das horas para chama-lo de volta,

A notícia de que ela estava amando, chegaria cedo a sua família,

Seria vista com a mesma alegria que ela sentia, a mesma freima pelas horas,

Ela via o amor nos olhos dele e o retribuiu em cada sorriso,

 

O amor adormece em seu peito e mesmo quando você desacredita,

Ela acorda sob a luz de um olhar sem data ou hora para acordar,

Nesse instante duas almas se buscam, quase que em desespero,

Um tropeço pelo destino, uma nova vida, um novo sonho se faz,

Ela parou a caminho do quarto, com o sorriso agora melancólico,

Ah, “pronunciou mentalmente o seu nome”, como eu o amo!

 

Conquanto o nome fora reservado por e apenas para ela,

O restante da promessa ecoara pela sala, dando-lhe ouvidos,

Um sorriso ecoara do outro lado, sem surpresa alguma,

Ela sabia que no momento em que se apaixonasse, não seria surpresa,

O nome dele é que permaneceria escuso por algum tempo,

Só para ela se alimentar do suspense que aplacaria a família,

- antes do nome: o rosto viria – quase pode ouvir alguém falar.



quarta-feira, 12 de maio de 2021

Destino de Amor


Ele dirigiu o carro até um lugar afastado,

Queria absorver cada carinho dela sem ser observado,

Não esperou quedar a oportunidade de ficar com ela a sós,

Chegou ao parque estendeu uma toalha sobre a grama,

E convidou-a a ficar com ele, para conversarem e outras coisas,

Abriu um refrigerante, um sorvete e um salgadinho,

 

Um homem alto, bonito e de boa aparência cruzou por eles,

Cumprimentando-os com um gesto protocolar,

Um orgulho imponente se apoderara dele,

Estava na companhia da moça mais bonita e apaixonável,

Isso valia muitas horas do seu tempo, muitas de suas frases silenciadas,

Seus sorrisos mais gentis despindo o semblante comedido,

 

Suas mãos seguiam o destino estabelecido por sua alma,

Desprendiam-se entre carinhos e afagos discretos sob a pele suave,

Sua intenção era ir além do agradar, afagar se tornava sua característica declarada,

Isso até escondia o pequeno tropeço no início do parque,

O riso contido naquele instante se dispersava entre inúmeros outros mais amainados,

Soava engraçado o quanto o amor era capaz de ser poderoso e sábio,

 

Anunciava o seu coração que o amor viria escondido por entre as sombras,

Percorrendo nuvens de um céu indeciso através de anjos programados,

Como se o destino realmente pudesse ser determinado, este porém, não era,

Ela caminhava pela rua, fazia exercícios, bebia água na garrafa,

A forma como ela se comportava chamou sua atenção, ele se aproximou,

A conversa circundou de forma boa e transparente, então encerraram o dia ali,

 

Ele desejou, enquanto comia sorvete e olhava diretamente nos olhos dela,

Indagar a Deus se todos os assuntos realmente eram por ele direcionados,

Pois naquele instante, lhe pareceu que sim, fosse um desígnio de outro lugar,

Era mais que bem-vindo, era recebido com candura e algo de equilíbrio,

O rosto antes frio e impassível agora tomava uma forma peculiar,

“Eu vou com você”, ele ainda podia ouvir do sorriso dela, “gostaria de ser sua amiga”,

 

Ele se via sorrir, um sorriso desconhecido, perdido a muitos anos,

É fato que todo homem precisa de alguém ao seu lado,

Principalmente, alguém como ele, que vivera sozinho por tanto tempo,

Que, frente a ela, se via como um estranho para si mesmo,

Ele procurava por entre os arbustos uma flor ou algo incitador,

Ao fundo, talvez não muito distante, uma música ressoava em tom baixo,

 

Deus dá sem medida para quem lhe apraz, ele se certificou disso,

Desde o primeiro instante que a viu caminhando por aquela calçada,

Dois corpos sozinhos agora uniam suas almas em um coração,

Que pulsariam juntos a partir daquele momento na mesma emoção,

Deus enviou seus anjos em seus destinos e eles foram ouvidos,

Profetas anunciaram seus sonhos para que fossem elevados,

 

Um coração se rebelou e discutiu, no exato instante em que,

O beijo iria acontecer em improviso, o sonho que lhe fora destinado,

Parecia intenso demais, perfeito o bastante para ser questionado,

Apenas o suficiente para fazer aquela carinha de desdém forçado,

Criar uma expectativa para gerar um impasse, um pequeno deslize,

Um falsear de rosto para o lado, para que fosse buscado,

 

O beijo para ser gostoso tem que ser roubado, mas com carinho,

Seus atos de amor ainda requeriam provas, eram recentes,

A menos de uma hora haviam se conhecido, a pouco estavam juntos,

Movidos por um sentimento maior que a cautela, eles se buscavam,

Guiados por um amor desconhecido, eles se encontravam,

O amor sempre guia aqueles que são tocados e nele acreditam,

 

Esperar encontrar o amor sem que haja obstáculo, parece inocente,

Houve os que os precederam, estes também padeceram um pouco,

Mas, seus corações unidos, seriam capazes de açoitar a adversidade,

Foram abordados pelo amor, e nele creram, agora em sussurros,

Pediam pelo unir dos seus corpos que contava seus desígnios,

Estava próximo, o amor que une, transforma e é mais forte que tudo,

 

Todo o amor que entrega, Deus vê, e quem o sente, também o retribui,

A angústia que um dia foi prescrita, agora era rejeitada, e eles a detestam,

Mas, quanto do que houve de ruim em certo momento se torna benéfico?

E quantas mais que iniciaram boas encerram por destruir todo o seu redor?

Se tudo que acontece tem valor conforme o prisma em que se posiciona,

Aquele era o momento mais adequado para que ocorresse o beijo, ele sabia,

 

Murmurou próximo da sua boca rosada e tremula, com sorvete em um canto,

"Eu te amo" e com seus lábios sorveu o sorvete e absorveu sua boca num beijo,

Do refrescante ao sentir se intensificar entre as carícias retribuídas,

O amor tudo entende, tudo suporta com o alicerce necessário para os dois,

Interrogam-se, sobre o sentimento sagrado que os une em carinho e afeto,

Respondem-se: "eu te amo, e te esperava desde sempre, te buscava" – "acredito"-,

 

Pois o erro que fere sem o pedido de desculpas é a pior matança,

É ferir com palavras por ignorar a dor que o outro suporta,

Ora, não param de ferirem-se até que olhem-se e não se sintam mais,

Naquele instante, prometeram renegar seus corações, - uniram-se-,

Não viveriam em metades o amor que poderia ser inteiro,

Aqueles que renegam o sentimento e quedam na descrença,

 

Esses serão os herdeiros do Fogo, onde permanecerão para todo o sempre,

No lapso de tempo em que seus olhos permaneceram fechados,

Enquanto o beijo acontecia e antevia alguns de seus carinhos,

Mil coisas passaram por suas cabeças e foram afastadas em nome do amor,

O beijo acontecia em suas almas, sob sua pele até encontrar um ao outro,

Não haviam duas pessoas em separado, agora seriam uma – por amor.

 

terça-feira, 11 de maio de 2021

Noite de Luar Perto de Algum Lugar


Um prodigioso cenário de filme romântico pintado a luz do luar,

Ao fundo peixes saltitavam em um rio de águas mornas,

Sob o sereno de uma noite calma o gramado se estendia,

Neste quadro de amor um casal se declarava com um beijo,

Admitir que se espera por um amor em cada um de seus dias,

Fica fácil quando se olha nos olhos da pessoa amada e se sente inteiro,

 

Apaixonado, encantado? Um algo muito além do imaginário,

Ele guarda o cabelo dela que cai sobre os lábios com dois dedos,

Roça a superfície da mão desde a orelha até a boca dela –sente-a-,

Ela não consegue desviar dos seus olhos, uma coruja revoa,

Um espasmo de susto e seus corpos se juntam adiantando o itinerário,

Sem forças para conter a intensidade do desejo que os junta,

 

Um sussurro escapa de lábios apaixonados e o Eu te amo se faz,

Como se esta frase desgastada pelo uso de oportunistas,

Passasse a ganhar novo sentido, um que seja capaz de se guardar,

No pulsar de dois corações descompassados para se reavivar,

Me faz suspirar, me faz sonhar, me faz querer escapar,

Fugir daquele lugar em que estou até provar o mesmo beijo,

 

Dura insensatez de um coração que busca outro...

Querer buscar um alguém que preencha um lugar que tem dono,

Sendo incapaz de amar a si mesmo poderá se permitir sentir amor?

Mas, dali onde estava, admirando aqueles dois que se abraçavam,

Ela sentia que eles se completavam, já não havia busca ou perda,

Havia um quê de conforto e segurança em cada olhar,

 

Seus corações recebiam o carinho merecido e sonhado algum dia,

É engraçado como todo o casal que se busca, se encontra...

O amor é rápido em prestar contas, seu anjo nunca erra a flecha,

Traz na alma aquele beijo que conquista, que faz sorrir de alegria,

Que faz nascer o afago onde nunca ouve, antecede o beijo do final da trama,

Adia aquele adeus que faria a torcida chorar, deixa o coração em chamas,

 

Mesmo o mais gelado, aquele que prometeu resistir a todo o estímulo,

Evitar o impacto do confronto com o outro que se apaixonou e não desistiu,

O rosto deles continuava ruborescido e desatento ao seu redor,

Ela desviou o olhar com cuidado, baixou o rosto e colou ao seu peito,

Seus braços apertaram-se contra os seus corpos, feito um sonho de amor,

Um complemento àquela promessa de eu te amo, que selada com um beijo,

 

Jurava que seu amor nunca teria fim, dedicados um ao outro,

Marcados por carinhos que nunca seriam desfeitos,

Parecia haver uma espécie de ritual entre eles – promessas caladas-,

Não precisou mais que seus murmúrios apaixonados para uni-los,

Um vagalume passava por eles, repousando nos cabelos dela,

Parecia haver mais que a luz do luar sobre eles, - algo mágico-,

 

As estrelas desciam do céu para tocá-los, o luar estremecia,

Ele culminou afagando seus cabelos e antes de alcançar,

O vagalume voou na direção da brisa fresca da primavera,

Que se iniciava com poucas flores, mas muitos sonhos no ar,

Toda jura de amor antecede a recompensa do beijo,

Mas aquela soava diferente, buscava muito mais que isso,

 

O olhar contristado que chegou não seria mais visto naqueles olhos,

Há quem diga que grandes emoções dão uma guinada na vida,

Há outros que não as medem apenas vivem cada dia como o último,

Se ambas as ideias estavam certas ou erradas, não vinha à baila,

Mesmo o amor que se demora não é censurado – o inesperado-,

Sonhos congregados valem mais que planejados – por ora-,

 

A sedução se fez a luz noturna, tendo por testemunha a natureza,

Não buscava certezas ou sutilezas, queria apenas a entrega,

Encontrar aquele ponto em que se vislumbra a alma do outro,

Naquele instante, havia uma pergunta em seus pensamentos,

Uma que foi calada, evitada, embora buscasse resposta,

Dormiriam no carro ou no gramado observando o luar?

 

Sem que houvessem controvérsias, preferiam ficar juntos,

Poderia ser em qualquer lugar, não queriam apagar o momento,

A promessa de amor se fez naquele instante e não buscava outro,

Existem pequenos momentos que valem para sempre e pronto,

Eles conseguiram ir além do que estava no roteiro, pularam o filme todo,

Fizeram de uma mentira, a história de amor ideal – destino disposto-,

 

O mais implacável amor não escolhe a hora certa, -ele acontece-,

É aquele que na realidade, não vira as costas, não esquece o que fez,

Não questiona o que é sagrado, ele promete porque sente,

Em um certo sentido, ajudar alguém em que se acredita não é errado,

Mesmo que atrapalhe um pouco a áurea do beijo, a promessa no ouvido,

Ela se aproximou deles com passos barulhentos e desajeitados,

 

Ofereceu um colchão de dormir e uma barraca que tinha sobrando,

Às vezes, o planejado perde a essência e o que não se planeja ganha vida,

Existem pessoas que buscam viver seus próprios sonhos,

E existem as outras, que vivem os seus e não esquecem de ajudar,

Embora ela sonhasse em encontrar um amor do tipo: verdadeiro amor,

E aquele fosse, o tipo: “cara ideal”, ela preferiu ser aquela que apoiaria,

 

Não é nada desonesto ser fiel a si mesmo, sem precisar ferir o outro,

Sonhar em viver uma história não induz objetivar viver a do vizinho,

Ela dirigiu o seu carro para o outro lado, ligou o rádio e ouviu uma música,

Logo pegaria no sono, vendo as estrelas, o luar, a magia que ali havia,

Naquela noite não precisava de companhia, na outra ela analisaria,

Reclinou o banco do automóvel e ficou imaginando como seria ser beijada.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Altas Horas da Madrugada

 


A maioria dos bons momentos exigem um pouco de cautela,

É como se toda a felicidade merecesse ficar sob suspeita,

Com isso, ela se desmotivou ao ler a carta apaixonada,

Preferiu recordar o quanto era triste estar sozinha,

A forma como ele achava que podia sumir e depois voltar,

E exigir ser recebido como se não houvesse nada a especular,

 

Às vezes, ele parecia possuir a chave da casa - a invadia -,

Forçava a sua vida, o sentimento e se evadia para fora,

Partia em direção ao sol acreditando em qualquer desculpa,

Esta carta a entorpeceu e entristeceu ainda mais que a anterior,

Abriu a gaveta para guarda-la, encontrou as outras – olhou-as-,

Pensou em rasga-las, mas tinha medo de apenas rasgar o conteúdo,

 

Tudo soava tão falso que merecia ser consumido por chamas,

Por aquele mesmo fogo que ele ofereceu para acender o seu cigarro,

A ideia fez os músculos do seu corpo retornarem a vida,

Um dia, conseguiria dar um fim a aquilo tudo – sem arrependimento-,

Trocaria a fechadura, tomaria qualquer medida necessária,

O deixaria do lado de fora, por uma noite fria e mais um dia,

 

Talvez, por uma vida inteira, deitado sob a calçada íngreme,

A mesma em que um dia ele disse: “querida, por favor, me entende...”,

Com um gesto vago virou as costas e partiu, sem dizer mais nada,

Como se ela fosse algum tipo de vidente que pudesse ler as entrelinhas,

Diria o quê? Calou-se, engoliu a atitude a seco, a ferir a garganta,

Jurou nunca mais vê-lo, mas ele nunca respeitou-a – voltava, sempre voltava -,

 

Ele parecia sentir prazer com a dor que a feria por dentro,

Todavia, quem a olhava dizia que seu semblante estava emudecido,

Não entregava nem um pingo da sua dor – lágrimas engolidas-,

Talvez, tentassem amenizar a dor em sua garganta

Deixada pelas palavras duras engolidas antes de sua partida,

Aquele teor de algo mais que ele evitou dizer, estava preso nela,

 

Até ali, ela posicionou-se com o mínimo de interesse sobre a carta,

O conteúdo, não importava em nada, nem aquelas palavras rabiscadas,

Entregava a alma a um papel, mas aos seus olhos ele não dizia coisa alguma,

Sua atitude estava presa em sua alma, prisão perpetua para o amor do passado,

Daquele amor que engoliu em seco, existia só mesmo a dor e lembranças,

Não guardava interesse por sua vida longe dela, de tudo que viveram,

 

Só subsistiu a raiva, saudade à espreita, e algum teor de lembranças,

As quais pretendia queimar no fogo em que apagaria cada palavra,

Agora, a escuridão do quarto em que estava, era iluminada por chamas,

O clarão não dizia nada que a luz não pudesse falar –adeus e mais nada-,

As sombras ao seu redor não significavam nada, invadir sua vida?

Ninguém lhe roubaria seu direito sobre si mesma, nem a trariam de volta,

 

Disse adeus, emudecida, assim que o viu ir embora, porque retroagiria?

Enquanto as cicatrizes dos presentes saravam de suas mãos machucadas,

Agora partiam para longe as cartas, abriam-lhe uma leve ferida, mais nada,

Da mesma forma – rasgadas, arruinadas, queimadas -, passado apagado,

Dos seus olhos não merecera nenhuma lágrima, então porque o arrepender?

Dentro de si algo fermentava, sentia por fora novos contornos – um amor perdido-,

 

Deixava o fogo explorar as formas da carta, consumir de uma a uma as suas letras,

Suas palavras, queimando as lembranças, ferida por quem jurou amar,

Cicatrizaria, logo poderia dizer que não sentia mais nada, mais tarde, talvez...

Eventualmente, as cinzas voavam pelo quarto escuro, ela não se importava,

Nem as via, agora as promessas não estavam mais estagnadas – livres, outra vez -,

Podia sentir no ar algo de dor, talvez o cheiro do que antes fosse o seu perfume,

 

Agora, pertencia as chamas, futuro incerto para um amor deixado para trás,

Mas não descobriu qualquer promessa que a fizesse acordar daquele transe,

Nada que a fizesse acreditar que seus sonhos foram mais que flor de primavera,

Estava aborrecida pelo transcorrer do tempo não tê-lo feito esquecer,

Isso dificultava as coisas para ela; Sentia falta do abraço pelo qual viveu e morreu,

A mulher que ele buscava, já não existia, aquela na penumbra era uma estranha,

 

Sabia que não iria esquecê-lo tão fácil, embora, se recusasse a voltar atrás,

Chegou finalmente o dia em que, ela se considerava liberta, -o apagara-,

Queimara tudo que lhe pertencera, até mesmo o sol do dia –  a esquecida-,

A lua fazia sombra sobre o seu quarto, escondida atrás da neblina,

Conforme dizia a sua alma, tinha mais para pensar e fazer- esquecer apenas-,

Aquele endereço era tudo que restou de sua vida anterior – mudou tudo,

 

Móveis, cor e planta-, o que despertou algum interesse dos vizinhos,

Ela soube disfarçar com um sorriso e sua vida seguiu como outrora,

É certo que houveram alguns soluços que soaram um pouco mais alto,

Mas, isso ocorreu apenas na madrugada, certificado de que todos dormiam,

A saudade e as lembranças deixavam suas noites mais geladas,

Não há lealdade alguma que faz valer as promessas feitas por amor?

 

Um dedo sobre os lábios e um cálice embebido em ódio à seco pela garganta,

Um qualquer coisa balbuciado antes de ir embora e uma carta de saudade,

É certo que algumas movimentações lhe tomaram de surpresa, - últimos meses-,

Não se sentia segura para perdoar, não agora, buscou algo na parede escura,

Temia encontrar o seu reflexo no espelho sem moldura preso a parede,

Tinha um pequeno no bolso, mas a escuridão lhe fazia bem, -melhor evitar-,

 

E então, sussurrou ela – é hoje que você nos deixa, acenou ao amor,

Levantou-se do assoalho em que estava sentada, com um espasmo de dor,

Abriu a janela, a lua estava pálida, parece que dormia,

Enquanto as cinzas partiam, levando as lembranças de uma vida perdida,

O cheiro impregnava o ambiente, não fazia mais diferença,

Um acabou ganhava forma em sua boca, mas permanecia nela... silencioso, acho que dormia.

domingo, 9 de maio de 2021

O Amor; Num Gesto: Flores; Numa Palavra: Sorte

 

Nunca se sabe o que o futuro pode reservar,

O presente deveria ser nosso maior interesse,

Aquele que conquistar o amor e o conservar,

Que faça uma oferenda dentro dos seus instantes,

Pensou ela afável, enquanto comprava flores,

Preparando-se para sofrer a vaidade de amar alguém,

 

A chuva limpou suas lágrimas do seu rosto triste,

Logo que ela pôs o pé fora da floricultura,

Respirou o ar quente que levantava no horizonte,

Desejou não precisar estar ali, sozinha como estava,

A água gelada recuperava o sabor de sua juventude,

Lhe brindava um aspecto de quem sabe o que faz,

 

Ela olhou para as flores, eram feitas uma carícia sobre ela,

Um afago que embora estivesse em suas mãos, não a pertenciam,

Seria destinado a uma outra pessoa, ela apenas desejava

Que ele soubesse retribuir o carinho, que devolvesse em algo bom,

As flores tinham vida curta, diferente dos afagos que receberia,

A chuva soava em desespero, ela esforçava-se para entende-la,

 

Das suas mãos sairiam os afagos que ela desejava para si mesma?

Isso parecia dizer muito para ela, não que ela fosse capaz de entender,

Com um gemido sôfrego recebeu um pingo no olho -  a lágrima negada -,

Aquela que ela nunca quis chorar no meio da rua, a denunciava – insensatez-,

Aquele que pudesse jurar amor, que ao menos fizesse por vontade própria,

Castigo severo deveria cair sobre aqueles que se distanciavam do que diziam,

 

O choro descia por sua garganta em seco, precisava de uma bebida,

Qualquer coisa que amenizasse o efeito sobre a sua alma solitária,

Ouviu-se engolindo as palavras, a chuva as tornava macias,

Ou era ela que de tão vazia, já se satisfazia por qualquer coisa?

O buquê tomava seus braços como um abraço, inundava-a,

Se fazia pequena por traz do gesto, abrigava a si mesma nas flores,

 

Por certo ao entrega-lo, elas seriam substituídas, por um bom tempo,

Pelo abraço que ela necessitava e esperava ficar restabelecida nele,

Por tempo o bastante a ser chamada de amor ou algo bonito,

Em que pudesse acreditar e do qual não pudesse se soltar nunca,

Quando o que mais queria era soar decidida, ter autoridade sobre seus atos,

Se via boquiaberta engolindo a chuva para esconder o pranto,

 

Ouvia-se engrolando-se entre as palavras, "já chega por ora", pensava,

A roupa encharcou-se, o tecido branco juntou-se aos seus contornos,

Agora se via de alma nua e um corpo esbelto a mostra – absorta -,

Olhos a acompanhavam, mas ela já conhecia a técnica: ignorar a todos,

Limpou os lábios com a língua, ignorou os assobios sedentos por ela,

Voltou-se para o outro lado, como se a chuva sussurrasse em seus ouvidos,

 

Um sorriso brilhou em seu rosto, gotas de água pairavam sobre sua boca,

Entrou no carro, repousou as flores – suas companheiras, agora -,

A parceria que ela precisava para completar sua promessa apaixonada,

Seguiu o roteiro, vencido o trajeto ao som de rock, saiu do carro,

Calçou o salto alto, dirigiu-se até ele, antes de entrar, abriu três botões da blusa,

Seios fartos e redondos abriam o caminho, olhos apaixonados a buscavam,

 

Visita inesperada e bem-vinda, uma boca se abria para dizer algo,

Algo que não era pronunciado, olhos transeuntes observavam com sorrisos,

Ela mordeu o lado do lábio inferior molhado, sentiu a água quente dele,

Colocou um dedo de sobreaviso sobre a boca, sugeriu silêncio,

Um arfar no peito dele concordava, um piscar de olhos descria da imagem,

Um pedido de casamento pulsava em seu peito – pulsante e taciturno -,

 

"Não diga nada, eu sei que não me esperava, mas o dia estava propício,

Acordei com seu gosto, e sua lembrança parecia me chamar para perto,

Peguei as chaves do carro e dei partida, então, lembrei do seu sorriso,

Bem, não preciso dizer mais nada, precisava de um gesto mais confirmativo..."

Ela emudeceu quando ele começou a vir ao seu encontro, as flores tremiam,

Algumas gotas de chuva percorriam a ambas, flores e ela,

 

Sorrisos congelados tomavam bocas quentes e sedentas por contato,

As mãos dele descreveram uma forma no ar, e, com vida própria,

Suspeita-se que por trás de todo bom-humor há um motivo sinistro,

Mas, naquele instante poderia cair o mundo e não haveria nada melhor,

Nada que estragasse aquele instante ou que ferisse o que sentia por ela,

A felicidade sempre se projetou em algum momento do seu futuro,

 

E esse instante chegou na hora certa, através da pessoa certa, como deveria ser,

Eu te amo ele se ouviu mover os lábios como se quisesse falar e não pudesse,

Então repetiu, talvez por mil vezes, até que próximo a ela ganhou força suficiente,

Tornou a declarar: "doçura, eu te amo, nunca saberia dizer o quanto você é importante,

Você me faz sentir melhor, me faz sentir orgulho do que sou, você me faz bem",

As frases soavam jogadas por sua alma, como se cada flor merecesse uma diferente,

 

Como se ela inteira, merecesse todas as palavras bonitas, assim como ele recebia agora,

Sem ouvir muito, pois tudo que ele precisava estava em pé na sua frente,

Dizia que o amava e isso era o bastante para durar por toda a sua vida,

A razão é óbvia: tudo que viveu no passado era recompensado por sua mulher,

Cada momento de dor, ganhava outra cor e outro sentimento mais intenso,

Substituía seus passos em falso, por algo melhor do que em qualquer sonho seu,

 

O que mais o presente poderia oferecer a alguém?

A partir deste instante, nada mais seria como antes... felicidade radiante!

Olhava para a mulher a sua frente de outra forma, agora a via como mãe,

A esposa que esperou em cada dia da sua vida, um beijo se fez naquele instante,

Com a mesma intensidade que seria dali para frente, até o sempre,

Ficou entorpecido de felicidade, e pela primeira vez conheceu o significado da sorte!

sábado, 8 de maio de 2021

Amor de Sonho


A moça entregou seu coração ao rapaz,

Que o guardou entre suas mãos e foi embora,

“Que ele possa responder por este amor como mereço,

Quiça, encontre em mim tudo que precisa para ser feliz,”

Seria mesmo um ilícito se ele desperdiçasse seu amor,

Jogasse fora a oportunidade de permitir-se sentir,

 

Enquanto ela se inclinava para remover a sujeira do jardim,

Ele a abordou por trás, acariciando seus seios com desejo,

Repousou um beijo entre seus cabelos até tocar o pescoço,

Apertou-a contra si, como se ela fosse tudo de mais importante,

Colados um ao outro, o calor do sol soava feito carícia entre eles,

Ele a pegou no colo, levou até a escada, virou-a de frente,

 

Sorveu um pouco de sua doçura com um sorriso encantador,

Tocou seu queixo e a trouxe para os seus lábios ávidos,

Desabotoou os três primeiros botões do seu vestido,

Deixando seus seios à mostra, desceu até eles, sugando-os – faminto -,

Ficou pensando se havia maneira de sentir amor maior,

Enquanto a sentia acariciar os seus cabelos com um sorriso,

 

Devolvendo com ardor cada afago, puxando-o para sua boca,

É de se admirar que alguns desacreditem de seus sonhos,

Quando o sentia em seus braços era como se tudo fosse próximo,

Não há equivoco maior que desacreditar do seu destino,

Procurava-o em suas carícias e o sentia mais seguro que nunca,

Aprendia através de suas mãos a delícia de provar o que Deus reserva,

 

Queria entregar-se ali mesmo, até que a luz das estrelas

Pudesse se distinguir da luz da aurora, com os céus para testemunha,

Pois tudo que mais desejava em sua vida, estava ali agora -  com ela - ,

Beijaram-se, até que a noite os tocou através da sua neblina,

Embora, seus corpos não sentissem o frio que tocava a pele,

Ele previu o estremecer e a levou nos braços para dentro de casa,

 

Sem deixar de beijá-la, conhecia o caminho, do seu corpo, da casa,

Da sua alma, com seu coração em suas mãos tinha tudo que precisava,

Aos beijos tentava remover as marcas das carícias e seus segredos,

Se algum dia, algo os pudesse distanciar, nunca saberia – amava-a - ,

Suspirou e entregou-se ao ato de amor como se nada mais importasse,

Seus beijos eram piedosos removiam toda a dor que sentiu no passado,

 

Deitou-se com ela, delineando limites com a ponta dos seus dedos,

Traçou cada linha do corpo dela, desenhando o seu próprio caminho,

Transcendia o desenhar da sua devoção, interrogava-se: seriam os sonhos,

Tão intensos quanto as fases da lua, que se transformam a cada noite,

E mesmo quando não se faz visível ainda assim se faz presente?

Respondia-se: são os passos em uma mulher que fazem de um rapaz um homem!

 

Não cabem equívocos em entrar na casa de uma moça pelos fundos,

Com as botas sujas de lama e os seus braços carregados com ela,

A moça abre os belos olhos em seus braços e você entende o motivo,

De você ser você mesmo, e não desejar ser outro ou ser mais que isso,

Sentir o controle dos seus atos se descontrolar sob suas formas bonitas,

Vagar meio ao acaso por entre os cômodos por só ter olhos e boca nela,

 

Sentia-se como se estivesse sido dividido ao meio, um algo a ser definido,

- O antes de tê-la conhecido -  e o depois de tê-la fremente em seus braços,

A névoa da noite o distanciava do seu passado e as carícias dela o traziam para ela,

Começava a se indagar, como diabos, demorou tanto para conhece-la?

Os beijos e afagos dela surtiam um efeito devastador sobre ele, - atônitos de amor -,

Seus carinhos lhe proporcionaram deliciosas duas horas de um sono povoado de sonhos,

 

Entrou em sua vida através do seu coração, e agora o tinha junto ao seu,

Ela não oferecia resistência, numa prova de como a alma ajuda a si mesma,

Ele enxergava seu rosto adormecido como um aconchego para o seu peito,

Mantinha ela firme, tudo o mais que ferisse-a lhe soaria de todo injusto,

Lembrou-se do quanto sonhou em ter alguém por quem viver ou morrer,

Uma pessoa que valesse a pena sua força de vontade, seu desejo de ser,

 

O primeiro acordar dela, foi seguro e consolador, estava suada em seus braços,

Moveu suas mãos para senti-lo mais um pouco, queria-o de volta,

Ele entendeu o recado, ainda modorro, estava disposto a ser dela por inteiro,

Ela acomodou-se sorrindo em seus sonhos, dormira segura do que sentia,

Era como se seus corpos tivessem vida própria, procuravam-se obstinados,

Um alívio ganhava suas almas atuando de forma generosa sobre suas carícias,

 

Eles deixavam para trás, alguns desentendimentos de discórdia forçada,

Um beijo da pessoa que se ama é capaz de qualquer coisa!

Amavam-se, sem se ater aos erros, pois a estes pertencem a matança,

Dessa vez, deixavam que suas almas percorressem o caminho do amor,

Esquecessem tudo o mais até encontrarem o que estavam procurando,

Mais que a satisfação dos seus desejos, o contento de duas vidas unidas...

 

Ele acordara pela terceira vez, e ela ainda estava lá, da mesma forma,

Abriu os olhos lento, acariciou seu rosto, sem resistir buscou sua boca,

O amanhecer a trouxe de volta pela segunda vez, estava em suas carícias,

Ele sorria com ela nos braços como se tudo de mais importante estivesse ali,

Ela respondia com a mesma intensidade correspondia ao que ele sentia,

Seus olhos piscavam tentando aclarar a visão, aquilo tudo só podia ser sonho,

 

Mas as mãos que acariciavam seus seios cheinhos, garantiam que não sonhava,

O que tinham feito da mulher que chorava sozinha pelos cantos?

Dela, não queria nem ao menos notícias, esta era amada, feliz e acolhida,

Seu corpo encolhia-se cabendo dentro dele, na segurança do seu abraço,

Tentou se jogar sobre o seu corpo, mas tudo que conseguiu foi apertá-lo,

Remexendo-se nele, para cair de volta, nunca ficar imóvel foi tão bom!


 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Dessa Vez, O Adeus


Ela pegou a rosa vermelha e repousou nos lábios,

Sorveu o cheiro como se sentisse invadir seu peito,

Ali onde tantas vezes o amor repousou,

Hoje não havia nada além de lembranças e quem sabe,

Não fosse exagero definir lamento,

Sem saber precisar quais eram as consequências disso,

 

Ela permitiu-se chorar tudo o que um dia foi felicidade,

Hoje teria outro nome, distância, ou outra coisa parecida,

"Mas há entre eles, aqueles que escondem a verdade,"

Ela o ouvira dizer assim que lhe disse: "querido, jurar amor,

Todos juram..." não conseguia esquivar-se da frase,

E sem saber porque motivo decidira acreditar no que ouvia,

 

Deitada em sua cama, deprimida, se julgava arrependida,

Lágrimas de tristeza fugiam do seu olhar, sentiam medo,

Acreditavam que ao permanecerem dentro dela, morreriam,

De dor, tédio e mais alguma coisa triste que não sabia definir,

Fora dela, poderiam perceber que também não teriam vida,

Triste destino de quem muito amou apenas para ser esquecida,

 

Saudade era o preço por amar a quem não merecia,

Fim prematuro para a desventura de nunca ter amado,

Entre o texto e o contexto, a dor era quase desejada,

Antes quedar por um sonho que nunca ter acreditado,

Todavia a dor feria, palpável feito a carícia que tardava,

E quando vinha através de lembranças feria de novo,

 

De outra forma, poderia vir, mas quem a desejaria?

O amor vem de quem merece recebe-lo de volta,

Não adianta estar entre aqueles que duvidam

E chamar por aquele que só vem para momentos,

Embora sonhos possam ser construídos a partir de pedaços,

Um amor não sobrevive quando parte de apenas um lado,

 

Ela tentou imitar um dos seus gestos, queria apaga-lo,

A esperança que iniciara a tentativa terminara em piada,

Porém, vinha embebida em lágrimas - o abandono -,

Quem iria pensar nele antes de embarcar na estação amor?

Quando até suas palavras balbuciavam um até logo,

A frieza do adeus era quase insuportável, doía em demasia,

 

"Apenas peça desculpas, dê meia volta e deixe o escritório",

Ela pensou consigo mesma, cada qual tem um sonho que o guia,

Ela tentou sorrir ao ver que acreditara no amor daquele homem,

O amor de tudo atento, não a soube dirigir neste destino,

Tentava voltar a face para algum lugar em busca do que não sabia,

Tudo estava exato, até que a solidão batera a porta: não a reconheceu,

 

Ela trazia flores, falava de amor, bem, isso acontecera apenas no início,

Com o tempo foi caindo no acaso, até ele não atender mais o telefone,

Ele não quis escutar o que ela tinha a dizer, até que tudo se distanciou,

Bem, tudo que ele fez foi baixar o zíper e embalar-se,

Não tentou controlar-se para agradá-la, só gemeu aquelas promessas,

Gentileza premeditada para um fim individualista, amor de um apenas,

 

" - Amai a mim como eu a amei desde o primeiro instante querida,

Acredite em meus sonhos e junto a ti, não irei querer mais nada",

Ela recordara com um sorriso molhado de tristeza e um toque de amargura,

Ele não mentia, não quis mais nada... com ela; quanto ao resto ela não sabia,

Quanto as suas desculpas da época terem sido aceitas, isso era outra história,

Quando se percebia estava nua, parecia não importar tanto o que ela sentia,

 

"- Não irei querer mais nada”, isso ecoava em sua alma naquela voz melodiosa,

Final que deveria ter antecedido o início, bem, se ele não quer contato: o esqueça!

Quando se trata de amar a si mesma, nada que se faça termina em vão,

Mas quando o amor se torna a base da sua vida, seu esquivar faz fraquejar a emoção,

"Do amor emergi: a ele, um dia, irei retornar", - um brinde de lágrimas- ,

Ela poderia ir até ele, devolver os presentes, isso soava a peregrinar,

 

Indagava-se sobre o que poderia fazer para aplacar o erro de tê-lo amado,

Mas achava que deveria ser íntegra ao que havia sentido,

Pensamentos trêmulos, queria que ele ao menos soubesse o quanto o amou,

Doloroso castigo destinado aos que mentem: fingir nunca ter sentido...

É certo que palavras não sustentam atos, não por muito tempo...

Algumas horas, um veículo desgovernado a caminho, muito choro no trânsito...

 

E um rosto vermelho pede permissão para entrar em um escritório,

Encontra quem busca, calmamente sentado sorvendo um café,

O outro se surpreende, solta um sorriso com teor forçado,

Ela tem uma rosa vermelha em uma mão e na outra uma sacola de antigos presentes,

Nem um sorriso antipático, falta uma mentira ou verdade para contar,

Olhar para ele, embrulha o estomago, ela sente não ter o que dizer,

 

As circunstancias favoreciam as injustiças, ele usava o relógio que ela dera,

Presunçoso, altivo e resistente, o contrário dela com suas lágrimas irrefreadas,

Na roupa dele parecia ainda ter o cheiro dela, ela sentia medo das últimas horas,

Fechara a porta atrás de si, ninguém os incomodaria, ele a olhava e gemia - em sua cabeça-,

Ela não sabia se o que via em seu rosto era saudade ou algum tipo de tristeza,

Mas não gostava, algo gritava sua dor impiedosa, não pronunciou uma palavra,

 

Ele parecia saber o que fazer, também, não disse nada, mantinha o olhar firme,

A infelicidade parecia ter virado rotina e ela não conseguia negar-se a ela,

Sua mente sombria, via a noite de lua depois do poente, lá não tinha ele,

Ela estaria sozinha, dentro de algumas horas, contemplando o luar,

Em um gesto instintivo ele estendeu a mão aberta sobre a mesa – convidativo -,

Ela segurou firme a rosa e a cravou nele - nunca soube resistir aos seus convites -,

 

O gesto o surpreendeu, ele manteve-se inerte vendo o sangue verter,

O sorriso congelou nos lábios, algo de lágrimas parecia ser visto,

Ela não esperou o resultado, deixou a sacola, abriu a porta e saiu para a rua,

Um espasmo de dor a movia, mas dessa vez a mandava para outro caminho,

O destino que deixava para trás, parecia estar estagnado olhando-a apático,

A injustiça vinha embriagada em algumas cervejas a luz do luar – sozinha,

 

Pela primeira vez desde que se apaixonara e fora abandonada,

Seus olhos sentiam-se vingados por todas as suas lágrimas,

Agradeceu aos céus com um acenar através de uma garrafa de cerveja,

Em passadas trôpegas ela tentava deixar toda a tristeza para trás,

Enquanto enfiara a haste da rosa tomara cuidado de não o tocar,

Mas fora como um roçar em sua mão, não dissera adeus: fora embora...


 

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Um Papel Amassado


Deus abençoe o suco de coco no frescor do outono,

Ela levantou um sorriso enquanto levava o copo aos lábios,

Você aprecia meus brincos novos? Ela indaga descontraída,

Um elogio eleva o ânimo, mais ainda quando parte de quem se gosta,

Ela trazia as folhas para perto do rosto, indecisa sobre o teor,

Há quem prefira o remorso do que a sinceridade de confessar sua dor,

 

Provavelmente, naquele papel reciclado estivesse o resumo da sua vida,

Pedindo-lhe com uma singela assinatura que desse fim aos anos de casada,

Jogando ao acaso, como se cada sonho não significasse mais nada,

O nome que ele pediu para abdicar outrora agora fazia a diferença,

Daria um passo para trás no tempo, porém não nos anos que passaram,

Obteria sua vida de solteira de volta mas com o status de divorciada,

 

Não houve resposta sobre a sua pergunta por ela estar sozinha,

Sem ninguém para desabafar além de si mesma,

Ainda assim ela tagarelava, como se tudo o mais caísse, sem importância,

Em um gesto de descuido, amassou o documento,

Ele resolveu dar um fim as promessas desfeitas em que a prendera,

Demorara um ano preparando a data da cerimônia,

 

E pedia, no mesmo dia, 06 de maio para dar um fim ao que viveram,

Nem mesmo o vestido de noiva ela havia jogado fora,

Pergunta-se, quem tem o dom de decidir um futuro,

O amor que jurara o para sempre, ou uma briga de meses?

A tudo o amor é atento, com o mesmo zelo do início ao fim do beijo,

Por que a pressa ou a demora em procurar por ela?

 

Aquele homem que amara já se foi, ou estava arrumando uma desculpa?

Desabafar, talvez fosse uma ideia boa, podia telefonar para alguém,

Confidenciar o que sentia, correr o risco de ser traída,

Ela aconchegou-se na cadeira de balanço, sorveu o consolo em um gole,

O beijo que merecia estava distante agora, fugira do seu contato,

Repetir promessas não faz tanto bem, acaba aprisionando ao passado,

 

De forma insensata, ela se indagava: quem mudou a direção do amor?

O amor lhe virava as costas, havia nisso uma dura prova?

Tentou levantar-se num salto, perdeu a direção dos seus modos,

Derrubou o copo sobre o celular, perdeu a oportunidade de companhia,

De tudo que podia pensar, a culpa era a que menos teria efeito,

Já havia desperdiçado seu tempo o suficiente com essa história,

 

Levantou o rosto para o horizonte, as estrelas lhe dariam a direção,

Seu rosto que ganhara uma expressão descontente, estava sem emoção,

Todavia, seu punho se contraia em um sentimento que poderia definir-se: ódio,

Sua voz, se tivesse com quem conversar teria o tom estridente do rancor,

Tornou a encolher os ombros sob um sol amarelo que parecia se por,

Auto piedade não cura ou conforta quem você tenha magoado,

 

Esteja onde estiver o seu amor, ele saberá direcioná-la,

Como sempre fez antes de acreditar estar apaixonada,

E se entregar a quem agora, não lhe dava sombra de vida,

Ela agarrou-se sedenta a aquele tênue fio de esperança,

Enquanto pedia outro suco de acerola com manga e menta,

Qual foi o motivo que desencadeou em tudo isso, ela não sabia,

 

Parecia estar rodando em uma rua sem saída sempre em equívoco,

Ela recorda de ter sido xingada e ter devolvido a fúria com a mesma voz,

Quando se pegou estacionada para refletir sobre que direção trafegar,

Se viu em uma rua sem saída, um beco que não levava para nenhum lugar,

Mas, dessa vez o homem que a protegia a assustava,

Ela empreitava em fuga, mas não tinha para onde ir ou ficar,

 

O mais difícil nisso tudo, era estabelecer um diálogo com aquele,

Com quem você repete a anos a mesma coisa e ele não ouve ou entende,

O ataque precisava ser resolvido ou poderia terminar em sangue,

Sua vizinha caiu da janela do prédio numa noite escura de inverno,

Em certa vez, ela errara o pé do freio, noutra o confundiu com a marcha a ré,

Mas o amor estava atento, a dirigiu para aquele chalé de outono,

 

Ela abriu as mãos e suspirou com sua característica melancolia,

Não sentia dor, embora por dentro estivesse vazia,

O amor perdia a sua utilidade para virar penitência,

Não importava o que sentia, seu sentimento volta-se contra ela,

Inquieta ela sacara uma arma na bolsa, a pôs sobre a sua perna,

Uma mulher abandonada ao acaso, depois de crer em tantas promessas!

 

Todavia, a três dias atrás via assinada a sua sentença,

Quando foi buscar as crianças na escola e o pegou com outra,

Agora sua intenção era esquecer o embaraço de ter trocado o dia de ir busca-las,

Simples e direta: ponto de impacto isolado, só queria dormir agora,

Os dois meninos se aproximaram dela com um menear de cabeça,

Pareciam não gostar de contemplar a situação em que a mãe estava,

 

Pensara em indagar a eles sobre tudo o que vira, mas rejeitaria as respostas,

Arrependimento, um pedido de desculpas, não: um divórcio calculado,

Sua cabeça pesava com as lembranças deixavam as ideias desnorteadas,

Entre tantas juras, ele se perdera no caminho do tempo,

Ela não soube conduzir sua dor, fugira desolada para longe de tudo,

Pegara as crianças, sussurrava coisas desconexas com beijos ao ouvido,

 

Tudo parecia um absurdo erro que condenava ao fracasso a sua vida,

Ele deixara quedar em caprichos todo o amor que lhe foi revelado,

Com um suspiro ela não esperou o suco, pôs a arma na bolsa,

Pegou as crianças e foi caminhar na água tranquila do riacho,

Sentara-se na água com elas ao lado, então ouvira uma voz sonora,

Antes de ter tempo de virar-se, sentiu um projetil lhe ferir por trás,

 

Depois disso, ouviu um grito masculino e outra arma ser disparada,

Antes de ter tempo para qualquer coisa, ouviu um grito feminino,

Que agoniava a dor de ser perfurada três vezes antes de cair nas pedras,

Ela reconhecia a voz masculina, era a do seu esposo um tanto raivoso,

Não pode dizer ou fazer nada até sentir a água penetrar suas narinas,

E ver as crianças em pânico enquanto tudo escurecia aos seus olhos.


Torrentes de Água

Choveu por toda parte, A chuva embaçou o para-brisa, Deixou cega a toda vista, E retirou-a de seus devaneios, Assim que lama...