quarta-feira, 15 de maio de 2024

Saudade

Aquele seu único beijo,

Arrastou-se sobre minha espinha,

Efeito de fogo abrasador,

Agora, 

Vertente em saudade,

Se assemelha a gelo.


Não posso gostar de outro.

Me recuso.

A qualquer custo.

Sua.

Doce boca escorregadia,

Não sou capaz de esquecer,

Desejar outro,

Ou acalmar a saudade.


Sinto-me aborrecida por dentro,

Ser incapaz de esquecer,

Beira ao doentio,

Quem me dera fazer-te o outro.

Poder beija-lo feito louca,

E esquecê-lo na mesma medida.


Não sou capaz de ignorar,

Olhar fulminante,

Castigo de suas formas,

Definidas e perfeitas.

Por que me importo tanto?

Morro de medo de ser alvo

De seu olhar sombrio,

Aquele que olha de esguelha 

E diz que "não sou única.

Sou tão seu,

Quanto seria de qualquer outra."


Lindo olhar taciturno,

Perigoso tanto quanto atraente,

Olhar que castiga até o sexo,

Olhar que remorsa por querer tanto.

Que me faz liquidada,

Tão caloroso que refresca,

Seca até me ver na poeira,

Oh, olhar que queima,

Que saiba me olhar o quanto preciso,

Que tire de mim a medida,

Mas não tente me congelar,

Fazer da minha líbido 

Cálice de seus atributos,

Objeto de seu calor intenso,

Poeira por entre seus dedos...

Sacanagem de sua parte,

Desejar que eu me contente em saudade.


Não ainda.

Ser sua...

Deixar de ser da mesma forma?

Olhar que corrompe,

Quando pousa capta,

Não fuja agora,

Olhar que se distante deforma.



Me faz inacreditável 

Quando em mim repousa,

Por este instante 

Sou única,

Das mulheres 

A mais perfeita.

Sua.

Unicamente,

Sua.


Estar distante de você me intimida,

Não poder ver seus músculos 

A definirem-se sob meus dedos,

Enrijecidos e quentes,

Pulsantes sobre minha pele,

Tão intensos quanto brasa,

Calorosos, delicados, febris…

Moldados aos meus quadris,

Com força desmedida,

Por uma noite inteira ao menos,

Quem dera toda a vida.

É quase como se escorressem

Por meu sangue,

Respondessem a minha vontade,

A sua e exclusivamente.


Gostaria de ser mais intensa,

Saber responder a cada expectativa,

Ser resistente ao poder do seu olhar,

Não me ver trêmula 

E caída aos seus pés.

A que sonho seria

Que o vento que toca meu corpo,

Tivesse mesma resposta 

Que aquele intenso beijo

Onde você percorreu minha espinha.


Pudesse separar da mesma maneira

Meus cabelos,

Soubesse enrola-los por seus dedos

E prende-los,

Ah, por que o próprio vento 

Não é capaz de puxar-me para ele,

Prender-me e me reter ao seu alcance,

Posicionar-se por minha pele,

Saborear cada curva que se abre,

Meter-se por inteiro em minhas cavidades,

Se inteirar de minhas vontades,

Cavar-se em minha superfície,

Tocar de pele a pele,

De monte a monte,

Saciar-se de apertada ansiedade,

Apossar-se de meus cheiros e sabores,

Acalorar-se por entre suavidades,

Eu então, poderia ser resistente a você.


Juro que me negaria ao seu olhar,

Que por única vez,

Roubaria seus beijos

Sem medo nenhum de perder,

Sugaria seus doces,

Beberia cada néctar de você,

Tomaria banho no seu suor,

Percorreria seus pêlos,

E não seria dependente do seu calor.


Não!

De modo abrupto e decidido.

Não!

Não responder as suas vontades,

Não ser inteira sua,

É castigo dos grandes,

Suplício de maiores pecadores,

Dirijo-me para dentro de você,

Não sou dada a olhares,

Quero muito mais,

Sempre que me deito, insone,

O sinto percorrer meu corpo,

Preciso que você esteja em mim,

Até que eu contemple o teto do quarto,

Seios fartos e farfalhantes,

E me veja saciada,

E o tenha ainda por entre minhas pernas.



sábado, 11 de maio de 2024

Adeus Tremendo

Ele era força nova na polícia,
Chegou com rosto bonito.
-Quero sexo!
Me disse por trás,
Enquanto eu varia o terreno.
-Querido, compra na cantina!
Ele me desferiu um golpe traiçoeiro.
Não olhou para meu rosto.
De alguma forma me conhecia.
Atirou com uma arma estranha,
Me prendeu.
E se aproximou por minhas costas.
Eu não sabia o que era.
Não passava de uma menina.
Tentei lhe meter a vassoura.
Arranhei seu braço.
Ele me deu um soco na cara.
Eu lhe desferi um golpe.
A esquerda em suas costelas.
Ele gemeu.
Me olhou com olhos vermelhos.
Tentou me estrangular em seguida.
Eu lhe golpeei de novo,
Desta vez, no ombro direito.
Sob a vigia e guarda da minha avó.
Ela chorava.
Uma velhinha de pele enrugada.
Quase cega.
Sofria.
Por minha causa.
Minha inocência sendo retirada.
Ela sem poder fazer nada.
Apenas deixava de lado a costura.
Lhe desferi um golpe no estômago.
Com toda força.
Ela disse.
-Filhinha mate-o agora.
Ele não lhe dará outra oportunidade.

Um único golpe por minha avó.
Só este.
E nenhum outro.
Golpeei-o de jeito.
E seu coração foi arrancado.
De engasgo.
Ele levou a mão esquerda no peito.
A direita soltou para o lado.
Engasgado.
Por três vezes.
Na terceira seu coração caiu no chão limpo.
O chão que eu varia a terra.
Seu corpo ficou ereto
E estagnado.
Os olhos azuis vidrados.
A boca aberta se suavizava.
O rosto lívido.
Morto.
Eu porém,
Nunca esqueci-o.

Eu não lhe dei uma flor.
Ele jamais a mereceria.
Lhe dei a terra suja.
Ciscos, pedras e outras sujeiras.
Tudo que lhe permitisse a vala.

Tá Grampeado

As vezes uma lenda que dura 
Muitos séculos
Possui um motivo para durar.
Sem saber o motivo
A frase a tantos anos
Dita por meu irmão,
Ecoa em meus ouvidos.
Como uma direção.
A mostra de um caminho.

Eu deixei meu livro,
Me levantei do sofá,
Abri a porta e olhei a rua.
Havia tanto lá fora,
Mas por algum motivo,
Havia muito mais ali dentro.
Algo que não conseguia explicar,
Não por hora.

Sentia vontade de proteger,
Queria tomar conhecimento,
Mas tinha medo,
E o medo me levava a me esconder.
Busquei nos livros
E até em filmes antigos…
Não, não consigo acreditar 
que seja real.
Nem mesmo o barulho do livro fechado,
Parecia me fazer acordar.

Nem ao menos a porta que fechei 
A toda força,
Até que simplesmente não abriu mais.
Trancada a chaves
Era como se não estivesse,
Um simples irromper de força 
E ela nunca mais reabriria…
As vezes uma lenda não passa disso….

Por quê tantas vozes 
Repetiam tantas coisas,
Por que um filme 
Contava uma história
E para outras pessoas
Contava outra?
Havia um único roteiro…
Não,
Eu não podia acreditar.

Sem motivo algum
Me prenderam dentro de casa 
Para me fazer de algum tipo de cobaia?
Então, por quê estavam ainda
Em minha vizinha?
Qual o interesse em saber da minha
História pessoal,
Ou mesmo da sua?

Como foi doentio ouvir tudo
E não poder fazer nada!
A polícia invadiu minha vida
E manipulou-me com toda força?
Há ainda técnicas para isso?
Não basta ter munições contra minha cara,
Homens armados e com a lei a sua causa.
Me mandaram transar.
Caramba,
Queriam me ver fazer sexo?!
Queriam me ver transar até perder o rosto,
Não ter contornos em meu corpo.
Estupro!

Não.
Isso é coisa de filmes.
Não pode ser real o que conto.
Eu não acredito no que ouço!
Que valor eu tenho,
E estes outros?
Por quê invadir minha vida,
Burlar minhas notas,
Manipular minhas provas?
Eu estou proibida de me defender,
E meu marido,
Minha família,
Como posso lutar por nós?

Obrigaram minha vizinha me bater,
Deram a ela desculpa
E a obrigaram fazer?!
Como posso reagir,
Fugir disso agora?
Socorro,
Preciso dormir.
Peçam para não falar,
Meu Deus,
Como me defendo destes barulhos?
Meus ouvidos vão explodir!
Cancelem este remédio,
Meu Deus,
Estou dopada e agora?

Não lembro de mais nada.
Estou fria,
Estou impedida de sentir,
Como posso amar
Se a própria polícia,
Força pública,
Tenta me proibir?
Eu os vi me vigiar,
Eu os ouço
Com voz nítida agora.
-Ouçam.
Eles falam.
Eu digo pra vizinha e rio.
“Será que me mato”?!
Eu penso comigo.
-O que você acha disso?
Eu peço a ela.

-Nao sei. Eu não entendo.
Obtenho por resposta.
Meu pai adoentado.
Minha mãe fugiu adoidada.
Meu irmão, aonde está agora?
Estou me esquecendo.
Estou me esquecendo.
O que faço agora?
Um cara se aproxima,
Tenta ficar ao meu lado,
Eu fujo descompassada.
-O coronel lhe mandou fazer sexo.
Ele diz que você sabe pouco.

Eu olho abismada.
Fujo amedrontada.
-Ele sente ciúmes.
Ele sente ciúmes!
Ela fala.
Doente.
Maldita vadia demente!
Com tecnologia avançada 
Contra eu,
Uma pobre criatura inocente!
Meu Deus, por quê?

Eu vejo o cara de que gosto,
Já nem sei como me aproximar,
Você acha que eu gostaria de
Torna-lo alvo?
Devo morrer sozinha.
Devo morrer sozinha.
Me entorpeço e durmo.
Não quero acordar.
Por Deus, 
Só queria motivação para isso.
Por quê invadir minha casa?
Esmiuçar minha vida,
Estragar minhas fotos.
Aquela da rede social nem sou eu.
Aquela que está junto com meu pai,
Abraçada a minha mãe,
Não sou eu.
Ela disse que meu rosto estava muito bonito,
Então, ela estragou a foto.
Eu nunca mais terei aquele 
Momento com meus pais de novo.
E a chance que tive
Ela destruiu por ser vadia.

Não possui limites,
Tentou roubar meu namorado,
Nos fazer chantagem,
Roubar dinheiro,
Tirar todo tipo de vantagem
Sobre nós dois.
Por quê?
Há homens e mulheres
Que fazem deste tipo de sistema tecnológico 
Seu trabalho,
Sua maneira de ganhar a vida.
Coitada de mim,
Cuidada daquele que amo.
Coitado até mesmo do estranho.
Por quê nos violentar?
Puro prazer!
Por quê nos roubar?
Pura felicidade!
Estupro sobre nossos cérebros,
Caramba, eu sou uma garota feia.
Sou pobre,
Como posso me defender?
Coitado do meu namorado,
Como poderemos fugir disso?

Fazer tramas sujas contra nossas vidas,
Simular situações,
Formular planos de ações 
Apenas para escárnio público 
E diversões?
Esta mentalidade está além da minha,
Eu não consigo acreditar no que ouço,
Não consigo acreditar no que vivo.
Me deixem em paz,
Preciso me libertar disso!
Comprar câmara de vigilância?
Eles corrompem imagens gravadas.
Como posso ir contra esta espécie de força?
Meu Deus, como eu fujo disso?!

Grampo no telefone,
Grampo no meu ouvido,
Grampo na minha vagina,
Grampo no meu mamilo.
Tá grampeado.
Você está sendo vigiada 
Tá grampeado.
Você está sendo estuprada.
Tá grampeado.
Você é objeto de escárnio.
Tá grampeado.
Prazer e mais nada.
Tá grampeado.
Me passe seu dinheiro.
Tá grampeado.
Sofra é isso que quero.
Tá grampeado.
Entenda que sou a melhor.
Tá grampeado.
Ele a interrompe.
Eles brigam na minha frente,
Eu ouço tudo sem ter o que fazer.
Tá grampeado.
É tudo que eu queria dizer.
(ELES QUEREM QUE EU DIGA
QUE MEU IRMÃO 
MORREU SEM FALAR MUITO).

-Ta grampeado!
Eu digo.
Me jogo no chão e choro.
Sinto medo.
Mas digo 
-Ta grampeado!
Digo com uma faca no pescoço.
-Ta grampeado.
Eu digo entre soluços.
-Ta grampeado.
Eu digo e durmo
Sem nunca ter certeza
Se terei outro dia.
Eles gostam que eu saiba disso.
Eu gosto de falar que sei disso.
-Ta grampeado.
Eles exercem poder sobre eu
Através de suas vozes.
-Ta grampeado.
Eu digo e lembro do supermercado 
E eles lá gritando 
E usando artimanhas.
-Ta grampeado.
Mas me grampear nunca foi o bastante.
-Ta grampeado.
Estou grampeada,
Eu que sou pobre,
Destruída,
Mas você é o riquinho que nem sabe disso.
-Grampeado!
Acho que agora, ele riem juntos.

Eu me molho em meu choro.
Uso a cerveja para conforto.
Meto cerveja na buceta,
E mando me meter o pênis,
Se é para o gosto.
Sexo a cerveja.
E pronto.
Não sei por quê ele não busca no supermercado.
-Idiota grampeado!
Eu digo jogada na cama.
Depois de ve-lo gozar sobre cerveja.
Eu embriaga, grampeada.
"A molhada de merda!"

Puta Cara!

Bem.
Gosto de olha-lho.
Me faz bem.
Claro que odeio ser pega desprevenida.
Olhar de forma desmedida.
Me importar muito.

Mas quanto importa?
Olha-se pouco ou o bastante,
Qual é a medida
Quando tudo que você quer é ver.
Saber reagir,
Despertar seu sorrir.

É fato.
Tem efeito.
Não quero ser a boba da corte,
A que se joga feito doida,
Apenas para acalorar a face.
Que sorriso,
Uau baby.
Neste instante é tudo de que preciso.

Gosto de te ver olhar direto,
Levantar o rosto.
Romper o obscuro.
Sorrir a grosso modo.
De forma radiante
E forte.

Gosto dos seus olhos esbugalhados 
Ao olhar tão próximo 
E também tão adiante.
Admiro seus dentes perfeitos,
O branco que se irradia deles,
Por Allah,
Seu sorriso é a luz do dia.
O sol lá de fora se irrompeu
Para dentro de você,
Se acomodou de tal forma,
Que seu sorrir contagia.
Encanta,
Leva adiante.

Seus traços perfeitos,
Um rosto emoldurado feito monumento.
Perfeitamente, agradeço.
Agradeço Allah por ter-lhe feito.
Sua cor levemente,
Levemente me faz parar horas
E mais horas para te admirar.
Por Allah,
Tanta admiração assim é pecado
Ou estou completamente louca?
É difícil pensar quando você está perto.
Me perdoa.

Suas sobrancelhas fartas,
Fio a fio em perfeita harmonia.
Seus cabelos lindos e negros,
Devem ter um bom cheiro,
Calor e aconchego 
Gostaria de lhe dar um beijo de carinho,
Mas me perdoa,
Meus pensamentos caem em desalinho,
Quero muito te beijar,
Tirar a roupa,
E fazer coisas das quais nem sou capaz.

Você leva realmente longe.
Vou te punhetear,
Me desculpa,
Você me leva para distante,
E te ver me deixa puta,
Com uma puta vontade de te chamar 
E você nem me disse seu nome,
Passou por mim,
Ou quis cumprimentar,
Mas é um puta homem,
Caramba,
Vale umazinha para homenagear!


quinta-feira, 9 de maio de 2024

Talento

Nunca fui de me dar por inteira,
Muito menos de dar tudo que tenho
De mãos beijadas
E rosto orgulhoso.
Do contrário.
Costumo cobrar 
E cobro caro.

Então, foi o primeiro beijo.
Uma recusa sua.
E outro beijo.
Nova recusa.
Sair de casa foi difícil 
Depois disso.
Queria me ver livre da ameaça
De te encontrar por aí.

Certo.
Correto.
Nem discuto.
Você não me quis.
Eu não sou obrigada
A ser o alvo do seu sorriso,
A presa de suas artimanhas,
O motivo de te fazer feliz.
Ria de outra.
Aprenda a se expressar.
Busque outra vagina.
Não quero ser seu passatempo.
Não sou garota de plástico
Para virar seu brinquedo.

Uma voz sexy e segura
Vem da porta ao me ver entrar.
Pânico e medo generalizado.
Me vejo parar.
Fechar os olhos 
E quase rezar.
Peço a Deus que não me reconheça 
Que ninguém me perceba.
Desejo sumir de vista.
Existir sem ser tão notada.

Te olho de soslaio.
Meio encoberta pela noite.
Você se destaca por onde esteja.
Não tem como não te ver.
Eu não entendo porque cisma comigo.
O que há em mim de tão especial,
Qual o motivo de sua busca.
E o de após isso.
Sua fuga.
Parece um neurótico,
Quase veste as roupas que visto.
Será que me vê como uma espécie de alvo?
Ponto de apoio.
Objeto a seu gosto?

Seu olhar possui efeito calmante.
Além de todo o meu medo,
Há um quê em específico 
Que me leva a te querer.
Ser sua outra vez.
Embora, está seja a última coisa que esperaria,
A última para a qual eu estaria preparada.
Estar com você no mesmo ambiente,
Me recostar em seu colo,
Tomar o mesmo drinque,
Dividir um beijo…

O que você faz?
Parece que me procura.
Depois outra coisa reverbera,
E você liga o motor de partida.
Essa aceleração de respiração,
Do pulso,
Este olhar sereno para você,
É o que me deixa intransigente,
Me vejo consciente demais de sua presença.
Quero que não me veja
E imploro para que esteja comigo.
Sentimentos controversos,
Que me deixam incomodada.

Não sei se você nota.
Mas é como se todos os outros
Tomassem um chá de sumiço,
Num mesmo copo sujo,
De gole a gole,
Até a última gota,
Sem dividir nenhum pouco comigo.
Quase desejo que se afoguem,
Que nunca mais voltem.
Insegura e sem ter o que fazer.
Não vejo mais ninguém.

Tudo que consigo fazer é te olhar.
Andar até certo ponto
Contando os passos feito idiota,
Como se você estivesse comigo na mira,
Um erro e eu abatida!
Destruída por dentro.
Você me deixou e eu lembro.
O chá de sumiço foi todo bebido.
Será que há algum para esquecimento?
Bebo um gole e chego,
Esqueço o fora que levei
E peço um beijo.
O básico de noites escuras.

Você levanta a mão e cumprimenta,
Eu respondo,
Mas nem sei se é comigo.
Faz um comentário 
E joga um sorriso,
De pronto fui abatida,
Destruída,
Nem preciso de bebida,
Corro para o seu lado
E me jogo ali feito idiota.
Depois finjo que saio
Para ver se faz diferença,
Levar um fora é uma merda,
Mas não beijar é uma desgraça!

Insistente e avassalador,
Depois do beijo pode haver sexo,
Nada mais tentador,
Horas e horas de divertimento,
Que se dane o ódio,
Os remorsos por todos os erros,
Calmaria e alento.
Sexo é coisa de talento!

domingo, 5 de maio de 2024

Pois é

Bem.
Este, então, foi meu pai.
Agora, outro homem
Que eu nunca irei querer decepcionar 
É aquele que no espaço de segundos
Me faz perder o autocontrole,
E me faz a pessoa mais segura.
Mexe comigo por inteira.

Dois homens dos quais me orgulho.
Bem, meu pai me deu boa educação,
Bons alicerces e valores.
Me ensinou a escolher.
Porque homem por homem
Existem muitos.
Mas, eu tive boa base.

Imponente.
Antes de tudo isso.
Me vi imponente.
Completamente insegura,
A não ser sobre os efeitos da sedução dele.
Homem do tipo que não se esquece.
Sujeito bom de se conhecer.
Cara que se quer por mais que noites.

Aquele cara que te faz ficar
A beira do rio vendo o pôr do sol
E imaginar que poderia ser melhor,
Estar com ele neste lugar,
Conversar ao invés de silenciar,
Beijar, de repente, ao invés de 
Apenas olhar.
Concordamos que o pôr do sol é lindo!

Instante tão breve que pareceu nem existir,
Logo depois,
Não o quis.
Me reprimi.
O impeli.
Evitei contato com seu olhar.
Evitei até mesmo estar no mesmo lugar.
E o pôr do sol ficou,
Mas o evitei da mesma forma.
Tudo foi-se.
Pai, cara legal, pôr do sol.
Tudo distante.

Havia uma única lâmpada fraca acesa,
Troquei por duas.
Havia um cobertor feminino sobre a cama,
Estendi todos os outros juntos.
Na luz fraca,
O rosto dele parecia surgir a noite,
Silencioso me cuidando,
Quase me amando.
Seu rosto parecia exigir planos.
As sombras por suas feições
Pareciam falar de amor.

Isso espera por nós desde a praia.
Eu nem lembro sobre o episódio,
Eu evito areia e água salgada.
Não tento resistir a sua presença,
Mas não sei se será constante.
Sinto um dever de me afastar,
Logo depois de ouvi-lo falar de seus valores,
E neles os seus planos,
E nisto não me incluo.
Ele disse isso com todas as letras.
Então, me lembro de afasta-lo.
E de nunca quere-lo perto.

De início,
Pareço fazer esforço para êxito,
Após pouco tempo,
Tudo é muito espontâneo.
Ele não me quer por perto.
E eu me certifico de retribuir.
Foi este homem que lembrei
No instante em que puxei outro para mim.
Foi este,
Que me fez olhar no fundo dos olhos do outro
E me perguntar se seria igual ao primeiro.
Foi este que me fez duvidar,
Me fez mais exigente,
E me fez desistir rapidamente.

Eu lembro de abraços
Que não fazem falta.
De conversas que feriam.
De planos obsoletos 
Onde eu não me encaixava.
Fico rígida e sigo adiante.
Curvo um sorriso lento,
Casual e sensual e sigo.

Não tenho direitos sobre seus costumes,
Não posso interferir em questão de gostos
E falsos valores,
Não me apego.
Recordo seus contornos,
Busco falar mal deles,
Confesso,
Eu não o ajudo.
Que resista,
Seja tão capaz quanto o sou,
Que seja impecável 
Ao beijar outra boca,
Seja tão melhor que posso ser.

Eu já evito reencontro.
Não quero mesmos ambientes,
Desisto de lembrar beijos,
E tudo fica ofuscado,
Distorcido.
Indesejado.
Bem, mas é um bom homem.
E o mais, ele que prove!

sábado, 4 de maio de 2024

Bandido

Ela sentia-se muito só,
De braços esticados para a terra,
Coluna arqueada,
Olhos voltados ao que fazia.
Indigno.
Inapropriado.
De repente, estava em chamas.
Como se a visse fraca.

Chamou-a.
Ela recusou-se a ouvir.
Trabalhava.
Jamais estaria a mercê,
Feito garota patética.
Dinheiro é pouco.
Beleza é questão de escolha.
Era da roça,
O bronzeado que lhe tomava,
Vinha da terra,
Os músculos que a sustentavam.

E da terra, 
De suas próprias terras,
Veio a pedra,
Que foi desferida contra a sua coluna,
A fez contorcer,
Quase gritar,
A forçou a olha-lo.
Ignorado.
Estúpido.
Agressor.
Se jogou feito um retardado
Contra uma noite de mato.

Gritava e esperneava,
Fingia que tinha sido atingido por algo,
Fazia-se ferido por mais que pelo ego.
-Veja, estou de pau duro,
Sente-se em minha vara.
Ele gritava escondido.
Falava de uma parte de seu corpo 
Como se fosse um membro a parte,
Era como se não a tivesse,
Como se fosse um objeto.

Não o era.
Ele logo o soube,
Assim que uma vara o perfurou com força,
Assim que um pau duro,
Atingiu-o onde ele deveria ter um cérebro,
Assim que o facão da moça pobre
E trabalhadora,
Cortou lhe a face,
Para que se acostumasse
A olhar o próprio rosto 
E constatar a sua falta de coragem,
A sua tendência a esconder-se,
Ele não veria mais a luz do dia,
Não da mesma forma.

-grite.
Ela disse.
Grite com o ímpeto e força de antes.
Apenas grite.
Sinta o prazer que teve
Ao ferir-me.
Ele correu.
Fugiu como jamais faria
Se estivesse a vê-la.
Fugiu com uma vara
Colada a sua cara.
Fugiu.
De si mesmo.
Do que fazia.
Do quê… era?!

Agora ela sabia.
Com conhecimento brutal.
Sabia.
Que todo homem porta um pênis.
E que teria que entender isso
Com força.
Com uma dor rasgando o íntimo.
Uma dor traiçoeira.
Dor que nunca deveria ter provado.
Que tentou quebrar suas defesas.
Obriga-la.
Força-la a entender sobre coisas
Que ainda não queria.
E que parecia não ser a hora adequada.

Uma forçada.
Ela escolheu não agir para companhia,
Se esquivar,
Olhar no fundo dos olhos
E buscar,
Quem é este cujo corpo divide-se
E comanda tanto
Como se nem o pertencesse?
Quem é este dominado por um pênis?

Sentia apenas nojo.
Odiava-a pelo ataque traiçoeiro.
Odiava a certeza que o movia.
Acreditar que poderia feri-la
A ponto de te-la?!
Feri-la a pedradas,
Com palavras,
Com amizade falsa...
Odiava ainda mais
Este que o levou a acreditar nisto.
Acreditar que alguma atitude sua
Por mais violenta que fosse
Seria o bastante para te-la.
Odiava.
Odiava com todas as suas forças.
Odiava esta certeza.
Ganha-la?
Odiava.
Odiava a ideia.

Preferia o esquecimento do sono.
Da terrível vivência de um pesadelo.
Mas foi real.
Por mais que fechasse os olhos.
Ou sentisse medo.
Foi real.
E ele não tardaria a voltar.
O medo não lhe trouxe paz.
Nem ele seria capaz.
Ela daria uma plantação 
Para não viver tal pesadelo.
Ele rompeu uma linha de segurança,
Invadiu uma linha de confiança,
Sem aviso.
Sem que ela cresse que seria capaz.
Ele o foi.
Ferida por uma pedra.
Próximo a coluna.

Mas ela teria que levantar-se.
Se proteger.
Lutar.
Unir todas as suas forças.
Olhar para aquela cara imunda
De bandido.
Desgraçado, baixo, traiçoeiro.
Queria ve-lo inflamar.
Arder em labaredas.
Gritar até virar cinzas.
Queria cortar cada um de seus músculos,
Até que fosse impedido de esconder-se,
Até que nunca tivesse forças 
Ou coragem para erguer uma pedra.
Maldito bandido
Com uma vara na cara.

Torrentes de Água

Choveu por toda parte, A chuva embaçou o para-brisa, Deixou cega a toda vista, E retirou-a de seus devaneios, Assim que lama...